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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Aléxandros: Os confins do mundo, de Valerio Massimo Manfredi

Editora: Rocco

ISBN: 978-85-3251-058-7

Tradução: Mario Fondelli

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 416

Opinião: Nesse último volume da trilogia sobre Alexandre, o Grande, chegamos à apoteose definitiva e à morte precoce, aos 33 anos, do jovem rei fundador do maior império que já existiu. Depois de O sonho de Olympias e de As areias de Amon, Os confins do mundo retoma a formidável galeria de personagens, eventos e emoções responsável pelo enorme sucesso dessa saga, perfeitamente equilibrada entre a rigorosa documentação histórica e um vibrante ritmo de romance. Figuras de valorosos soldados ao lado de políticos pusilânimes, heroísmo e traição, amizade, lealdade e violência desfilam ao longo de páginas densas e movimentadas, em tensão constante, das quais emergem os sentimentos mais nobres e também os mais repugnantes da alma humana. O inesquecível cavalo Bucéfalo, o cão Péritas, o médico Filipe, a belíssima Roxana e muitos outros são os personagens descritos com vigor e nitidez que acompanham a definitiva vitória sobre o império persa, a viagem aos extremos confins do mundo e a morte de Alexandre, em um final grandioso e comovente. O autor reconhece que esta última parte das aventuras do rei macedônio talvez tenha sido a mais complexa e difícil de interpretar. Há vários trechos obscuros, mesmo nas fontes originais. O conquistador, no entanto, é sempre representado de forma fiel, mesmo nos momentos mais escabrosos e menos honrosos da sua história. Aos personagens femininos, que nas fontes antigas mal chegam a ser mencionados, o autor deu consistência e reconstruiu, na base de considerações lógicas, a presença dessas mulheres e a influência que tiveram sobre os acontecimentos da história. De batalha em batalha, os três volumes chegam até a morte de Alexandre. Esta também foi uma morte misteriosa. Falou-se de um envenenamento por arsênico, se bem que um artigo publicado no New England Journal of Medicine atribui a morte a uma febre tifoide. O corpo de Alexandre foi transportado para o Egito, como queria o oráculo de Amon. Mas ninguém sabe onde está sua tumba. Em 1850, um funcionário do consulado russo em Alexandria disse ter visto, nos subterrâneos de uma mesquita, um esqueleto no trono, cercado por armas e papiros. O que é bem provável é que Alexandre ainda reine em alguma parte do universo, sobre uma legião de anjos ou demônios.


 

“Uma mulher com filhos talvez não possa ser uma verdadeira amante: o seu coração nunca deixa de pensar em outros afetos.”

 

 

“Alexandre acariciou-lhe novamente a mão com delicadeza:

– És bonita, Estatira, e muito amável. O teu pai, Dario III, devia ter muito orgulho de ti.

Os olhos dela ficaram úmidos.

– Tinha sim, pobre do meu pai. Hoje mesmo ia completar cinquenta anos. Mas obrigada, de qualquer maneira, pelas tuas boas palavras.

– São sinceras – replicou Alexandre.

Estatira baixou a cabeça.

– É estranho ouvi-las do jovem que recusou a minha mão.

– Eu não te conhecia.

– Iria mudar alguma coisa?

– Talvez. Um olhar pode mudar o destino de um homem.

– Ou de uma mulher – respondeu fitando-o intensamente com os olhos lustrosos de lágrimas. – Por que vieste? Por que deixaste o teu país? Não é bonito o teu país? (...)

– É difícil responder. (...) Sempre tive o sonho de ir além do horizonte que podia alcançar com o olhar, de chegar aos extremos confins do mundo, às ondas do Oceano...

– E aí? O que farás depois de conquistar o mundo inteiro? Achas que realmente serás feliz? Que terás conseguido aquilo que de verdade desejas? Ou quem sabe poderás ser tomado por uma ansiedade ainda mais forte e profunda, desta vez invencível?

– Talvez, mas nunca poderei saber sem, antes, alcançar os limites que os deuses concedem ao ser humano.”

 

 

“– Sua irmã Cleópatra sempre te quis bem, sempre quis ser o teu escudo contra a cólera do teu pai. Não sentes a falta dela?

– Sinto demais, respondeu Alexandre – assim como sinto falta daquele tempo. Mas não me é concedido entregar-me às lembranças: a tarefa que escolhi para mim volta implacavelmente à tona, como um imperativo ao qual tudo devo sacrificar e do qual não posso fugir.

– Do qual não queres fugir – replicou Eumênio.

– Achas que poderia, mesmo se quisesse? Às vezes os deuses colocam no coração dos homens sonhos, aspirações e desejos maiores do que eles. A grandeza de um homem corresponde à dolorosa defasagem entre a meta que ele quer alcançar e as forças que a natureza lhe deu quando o botou no mundo.”

 

 

“Alexandre tinha os olhos brilhantes de comoção quando abraçou Roxana e sentiu o contato da sua pele nua, quando procurou os seus lábios inexperientes, quando beijou-lhe o seio, o ventre, as coxas. Amou-a com uma intensidade quase dolorosa, numa entrega total que nunca experimentara antes, e quando os seus corpos se enrijeceram no espasmo supremo, sentiu que vertia nela a vida, o segredo daquela energia selvagem que desbaratara cidades e exércitos, que suportara os mais pavorosos ferimentos, que pisoteara os mais sagrados sentimentos e que matara a piedade e a compaixão. E quando deixou-se cair ao seu lado para entregar-se ao sono, sonhou caminhar ao longo de uma íngreme estrada, sob um céu negro, até às margens de um oceano imóvel, plano e frio como uma chapa de ferro polido. Mas não ficou com medo pois o calor de Roxana envolvia-o como uma roupa macia, como a felicidade misteriosa de uma lembrança infantil.”

 

 

“– Nunca se pode ter certeza de coisa alguma no mar.”

 

 

“Não há conquista que faça sentido, não há guerra que valha a pena de ser combatida. No fim, a única terra que nos sobra é aquela em que seremos sepultados.”

 

 

“– Muitos dos meus soldados – replicou Alexandre – já vivem com garotas persas ou medas, e também têm filhos. É justo que se casem com elas, e para alguns outros eu mesmo estou escolhendo noivas persas. Calculei que no fim das contas os casamento serão mais ou menos dez mil.

A idosa rainha arregalou os olhos entre a maranha de rugas.

– Dez mil, pai? Oh, grande Ahura Mazda, isto é algo que nunca se viu no mundo! – Sorriu com uma expressão de inocente malícia. – Mas, afinal acho que estejas certo: a cama é o lugar certo para lançar as bases de uma paz duradoura.”

 

 

 “Naquele momento pensou na mãe, pensou na sua espera amarga e inútil. Teve a impressão de vê-la, numa torre do palácio. Enquanto gritava chorando e chamava com desespero: “Alexandre, não vás, volta para mim, eu te peço!”. E, por um instante, aquele grito pareceu realmente chamá-lo de volta, mas só foi um momento. Aquele grito, aquelas palavras e aquele rosto desapareceriam agora ao longe, perdiam-se no vento.... Diante de si podia ver agora uma planície sem fim, uma pradaria coberta de flores, e ouvia um cão que latia, mas não era o ladrar sombrio de Cérbero: era Péritas! Vinha correndo louco de felicidade como no dia em que voltara do desterro, e logo a seguir, no infinito daquelas terras, trovejava um galope, ressoava um relincho. Era ele, lá estava Bucéfalo que vinha ao seu encontro com a crina ao vento, e o deixava subir na garupa, como naquele dia em Mésia, e ele gritava: “Em frente, Bucéfalo!”. E como um fogoso Pégaso o corcel lançava-se à disparada rumo ao derradeiro horizonte, rumo à luz infinita.”

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