Editora: Lua de papel
ISBN: 978-85-6306-609-1
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 588
Sinopse: Quem
vê uma Copa do Mundo hoje, com a riqueza de detalhes que temos atualmente, não
imagina como seria a cobertura de um Mundial nos remotos anos 30. Afinal,
naquela época não existia a TV digital, que só entrou em cena para o Mundial de
2006; nem a rapidez da internet, que apareceu neste cenário apenas a partir de
1998.
Pensando bem, não havia nem a transmissão ao vivo pela
TV, que começou em 1954 (e no Brasil só em 1970. Ou sequer a transmissão por
rádio, que surgiu em 1938.
Assim, o grande objetivo dessa obra é oferecer a mesma
riqueza de informações sobre todas as copas, e da forma mais completa possível.
São mais de 700 jogos, cada um deles com sua própria história, o que o torna
uma obra única.
Em 80 anos de histórias, é fácil verificar por que a Copa
do Mundo se tornou o maior espetáculo da Terra. O livro ainda conta com
curiosidades, como: Quem são os melhores goleiros da história? E os maiores
artilheiros? Quais são as 10 maiores séries invictas? E as 10 maiores viradas?
Quais pênaltis perdidos mudaram o rumo das Copas? E os gols contras? Aliás, como
surgiram os cartões amarelo e vermelho no futebol? Qual a verdade sobre Ronaldo
na Copa de 1998?
Nesta obra, de quase dois quilos de pura informação sobre
futebol, Lycio elaborou um conteúdo jamais descrito com tantos detalhes em
livros do gênero. Foram 6 anos de pesquisas, análises e compilação de dados,
cujo resultado pode ser visto agora numa obra ricamente ilustrada.
O belo livro “O mundo das Copas”, de Lycio Vellozo
Ribas, traz curiosidades e histórias deliciosas a respeito do maior torneio do esporte
mais popular do mundo.
Diferentemente de outras obras, nesta faço
uma compilação das melhores histórias sem citação direta.
1930 – Local: Uruguai – Campeão: Uruguai
– O esquema tático utilizado pelos times era o 2-3-5, bem
mais ofensivo do que o utilizado hoje.
– Os árbitros podiam expulsar os jogadores, mas não havia
cartões.
– Não havia substituições. Os jogadores que se machucavam,
ou permaneciam em campo, ou saíam e não eram substituídos, deixando os times com
um jogador a menos.
– A bola era de couro, costurada à mão, com uma abertura atada
com tiras de couro cru. Dentro dela havia uma câmara de borracha com bico. Quando
não era utilizado para encher a bola, o bico ficava dobrado entre a câmara e a parte
externa, e era fechado com as tiras de couro cru. Isto gerava um calombo na bola,
influía na trajetória e causava ferimentos nos jogadores. Alguns atletas utilizavam
gorros forrados com jornal para poderem cabecear a bola sem abrirem lanhos em sua
cabeça.
– Diversas seleções europeias boicotaram a Copa. A Inglaterra,
por se julgar a melhor do mundo de antemão, não carecendo de torneio para comprová-lo.
Por causa de seu boicote, também não participaram a Escócia, País de Gales e a Irlanda.
A Itália (que desejava sediar a Copa e foi preterida) também boicotou o evento.
– Devido à uma briga entre dirigentes cariocas e paulistas,
o Brasil só enviou jogadores cariocas para o mundial (deixando de fora craques como
Feitiço e Friedenreich), levando um time bem menos competitivo.
– Não havia local indicado no campo para a cobrança de pênalti.
O juiz contava os 11 metros através de passos.
– Os bolivianos queriam conquistar a torcida uruguaia no jogo
contra a Iugoslávia, e os 11 jogadores entraram cada um com uma letra na camisa,
para compor a frase: “Viva Uruguay”. Porém, um jogador se atrasou e na foto oficial
o que se lê é: “Viva Urugay”. Na época não houve problema, mas hoje poderia causar
controvérsia homossexual.
– A despeito de mesmo atualmente os Estados Unidos não terem
tradição em Copas, na verdade eles participaram da primeira edição do torneio –
e ainda foram até as semifinais. Porém, depois de terem um jogador machucado (ou
seja, um a menos em campo), tomaram de 6 a 1 da Argentina.
– O Uruguai bancou as passagens e hospedagens de todas as
seleções que foram à Copa.
– O árbitro belga Jan Langenus exigiu um seguro de vida antes
da partida final entre Uruguai e Argentina, mas a arbitragem acabou sendo tranquila.
Um dos problemas que ocorreram foi o fato de os dois times quererem jogar com a
sua bola (a dos uruguaios era mais pesada). O juiz decidiu a contenda jogando o
primeiro tempo com a bola dos argentinos e o segundo com a dos uruguaios.
– O governo uruguaio decretou feriado nacional depois da conquista
do título e deu uma casa a cada jogador. Além disso, os titulares ganharam uma medalha
de ouro desenhada por Abel Laflour, o mesmo que desenhou a taça Jules Rimet (que
na época ainda se chamava “Vitória das Asas de Ouro”, só vindo a ter o nome do presidente
da Fifa anos depois).
– O jogador mais velho do time uruguaio era Hector Carone,
com 32 anos. Sua idade não era muito avançada, mas o que chama atenção é o fato
dele ser o único titular campeão mundial a ter nascido no século 19, em 08/10/1897.
– Como não havia preparação para a entrega da taça no campo,
esta foi entregue por Jules Rimet no vestiário ao presidente da Associação Uruguaia
de Futebol, Raúl Jude.
1934 – Local: Itália – Campeã: Itália
– O Uruguai – então atual campeão – se recusou a ir, em represália
ao boicote promovido por times europeus (incluindo a Itália) ao mundial realizado
no país sul americano quatro anos antes. Foi o único campeão do mundo a não defender
o título. A Inglaterra e seus satélites seguiram boicotando o evento.
– O país sede, organizador da Copa, a Itália, teve de disputar
as eliminatórias. Poderia ter ficado de fora do próprio mundial.
– Logo depois do término da Copa de 1930, com jogadores de
São Paulo e Rio de Janeiro jogando juntos, o Brasil ganhou das principais seleções
do torneio, inclusive do campeão Uruguai, repetidas vezes. O Brasil não havia levado
os jogadores paulistas à Copa devido à briga entre dirigentes cariocas e paulistas.
Quatro anos depois, novamente houve brigas entre dirigentes, desta vez da FBF e
CBD (Federação Brasileira de Futebol e Confederação Brasileira de Desportos, respectivamente).
À FBF estavam filiados os times profissionais (onde estavam os melhores jogadores),
já a CBD era a organização que a Fifa reconhecia, e desprezava a FBF. Possivelmente,
a CBD só convocaria jogadores amadores, deixando os melhores para trás. O técnico
brasileiro, então, resolveu oferecer dinheiro aos melhores jogadores dos clubes
para que eles fossem a Copa, porém, os clubes não gostaram disto. O Palestra Itália
(hoje Palmeiras), que tinha o craque Romeu Pelliciari, chegou a esconder os jogadores
em uma fazenda longe de São Paulo, contratando capangas armados que tinham ordem
de atirar em quem aparecesse. A FBF ameaçou banir quem fosse a Copa. Diversos jogadores
se recusaram a ir, mesmo com somas financeiras significativas lhes sendo oferecidas.
Novamente o grupo brasileiro levado para a Copa foi mutilado,
deixando para trás o próprio Romeu, além de Preguinho, Fausto, Moderato, dentre
outros craques.
– O Nacional de Uruguai exigiu 45 contos de Réis para que
liberasse Domingos da Guia ir à Copa, uma fortuna na época. Ele acabou não sendo
levado.
– O sanguinário ditador fascista italiano Benito Mussolini
ameaçou de morte o time e a comissão técnica italiana caso eles não fossem campeões.
– No jogo Itália 1 X 1 Espanha, pelas quartas de final, o
gol da Itália só ocorreu devido à uma cotovelada que Schiavio deu no goleiro espanhol
Zamora (um dos melhores arqueiros de todos os tempos).
Houve outro jogo, de desempate (as partidas empatadas eram
definidas assim), no dia seguinte, e ainda aos 25 minutos do primeiro tempo o atacante
espanhol Bosch levou uma entrada desleal e ficou mancando o resto do jogo. O juiz
não expulsou o agressor italiano. Depois disto, a Espanha teve dois gols legítimos
anulados. No primeiro, o juiz marcou impedimento de Regueiro, que não participou
da jogada do gol. No segundo, com muito atraso o juiz marcou uma falta a favor
da Espanha depois que o atacante espanhol Regueiro havia levado vantagem
e marcado o gol. Resultado final: Itália 1 X 0 Espanha.
– Na semifinal, novamente com alguma ajuda da arbitragem,
a Itália fez um gol na Áustria quando o ponta italiano Guaita fez o gol depois de
trombar com o goleiro. A Áustria tinha o melhor time da competição, porém, a chuva
deixou o campo de Milão pesado demais para se tocar a bola. A Itália distribuiu
chutões para todos os lados e garantiu sua vaga na final.
– Os jogadores italianos faziam a saudação fascista a Mussolini
antes de todos os jogos começarem. Na final, até mesmo o árbitro sueco Ivan Eklind
(que havia apitado a semifinal Itália e Áustria) e os dois auxiliares, o húngaro
Mihaly Ivancsis e o belga Louis Baert (que havia apitado o primeiro jogo de Itália
X Espanha), também a fizeram.
– A partida final foi entre Itália e Tchecoslováquia, e esta
última ganhava o jogo até os 36 minutos do segundo tempo, quando a Itália empatou,
e os húngaros reclamaram que Ferrari teria dominado a bola com a mão antes de dar
o passe para Orsi marcar. O juiz consultou o bandeira e validou o gol italiano,
o jogo terminou empatado e foi para a prorrogação. Nela, a Itália virou o jogo,
sagrando-se campeã, salvando a vida dos jogadores e da comissão técnica da vingança
mortal de Mussolini.
1938 – Local: França – Campeã: Itália
– A Argentina queria ser a anfitriã a Copa, acreditando num
revezamento de continentes para sediá-la. Mas a França acabou prevalecendo e a Argentina
boicotou-a, bem como o Uruguai (ainda por causa do boicote europeu em 1930). A Inglaterra
e seus satélites também não foram, ainda julgando a Copa um torneio de segunda categoria.
A Espanha também não participou, envolvida em sua sangrenta guerra civil.
– Novamente o ditador fascista italiano Benito Mussolini ameaçou
seus conterrâneos. Mandou um telegrama ao técnico campeão mundial em 1934, Vittorio
Peozzo, com os dizeres: “Vencer ou morrer”.
– A Áustria, que tinha garantido vaga na Copa, foi anexada
pela Alemanha em 11 de março de 1938, e os jogadores austríacos foram utilizados
pela Alemanha nazista. A vaga ficou em aberto. Porém, o maior craque do belo time
austríaco, Mathias Sindelar, se recusou a jogar a favor da Alemanha. Este acabou
morrendo em 1939, logo depois da esposa. Alguns creem que se matou, outros que foi
“suicidado” pelo regime nazista, já que ele era judeu.
– Na seleção brasileira de 1930 houve a briga entre paulistas
e cariocas, em 1934 entre amadores e profissionais. A seleção de 1938, pela primeira
vez, ia completa, levando seus dois principais craques, o atacante Leônidas da Silva
(que nos 4 jogos que disputou na Copa fez 7 gols) e o zagueiro Domingos da Guia.
Depois de duas batalhas campais contra a Tchecoslováquia, (o primeiro jogo empatou
e teve de ser realizado outro no dia seguinte de desempate), onde diversos jogadores
saíram machucados, Leônidas da Silva não pôde jogar a semifinal. Nesta, contra a
Itália, o outro principal craque do time brasileiro, Domingos da Guia, deu um pontapé
no italiano Piola. Segundo as palavras do craque brasileiro, apenas revidou outro
pontapé que havia acabado de levar. A bola estava no meio de campo, mas o juiz viu
somente o gesto de Domingos e assinalou pênalti para a Itália, que converteu e derrotou
o Brasil por 2 a 1. Depois disso, “domingada” passou a ser sinônimo de algum erro
burlesco no futebol.
– Na partida final entre Itália e Hungria, os italianos venceram
por 4 a 2. O goleiro húngaro Szabo disse que não se importava de ter levado quatro
gols, pois havia salvado a vida dos jogadores italianos.
– Em atitude única na história, os campeões foram vaiados
pelos torcedores franceses, inimigos do regime fascista italiano. No ano seguinte,
eclodiria a 2ª guerra mundial, que duraria até 1945. Devido a ela, as Copas do mundo
de 1942 e 1946 não foram realizadas.
1950 – Local: Brasil – Campeão: Uruguai
– Por motivos políticos os países socialistas não participaram
do torneio: União Soviética, Tchecoslováquia (vice em 1934), Hungria (vice em 1938),
Iugoslávia e Romênia (um dos quatro a ter disputado todas as Copas de 1930 até então).
– Nas outras Copas, quem perdia um jogo estava eliminado,
o que era terrível para seleções que viajavam semanas e perdiam logo a primeira
partida, pois tinham de imediato que voltar pra casa. O Brasil reclamou e fez valer
suas ideias. A primeira ideia, mais coerente, estabeleceu grupos de quatro seleções,
onde todos jogavam contra todos e os dois mais bem classificados passavam de fase.
A segunda ideia, polêmica, a de que os 4 semifinalistas também jogassem entre si,
todos contra todos. O time que fizesse mais pontos sagrar-se-ia campeão. Em outros
termos: não houve final neste torneio.
– Como punição pela segunda guerra mundial, Alemanha e Japão
foram eliminados pela Fifa (entretanto, os EUA não foram punidos pelas bombas
atômicas lançadas contra este último). A Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de
Gales participaram do torneio pela primeira vez. A Inglaterra, que por ter inventado
o futebol julgava ter o melhor time, além de ter desprezado os outros torneios por
ter a certeza de que era a melhor seleção, não passou sequer da primeira fase, vencendo
apenas um jogo e perdendo os outros dois.
– A Itália, que compunha o Eixo, não foi banida do
torneio. Isto porque, quando a guerra eclodiu, o dirigente italiano Ottorino Barassi
escondeu a taça, que estava em poder da bicampeã mundial. Segundo as lendas, ela
ficava escondida numa caixa de sapatos embaixo de sua cama. Mas na realidade ela
foi para um cofre na sempre neutra Suíça – para onde a própria sede da Fifa também
acabou mudando. Devido a este dirigente italiano a taça não se perdeu na guerra,
não se tornando um troféu para Hitler, ou sendo derretida na confusão do conflito.
Por causa dele a Itália também não foi banida deste torneio – diferentemente dos
outros países que compuseram o Eixo.
– Foi a primeira Copa em que houve números estampados nas
costas dos jogadores, seguindo prática adotada em clubes nacionais já há muitos
anos.
– Um avião com todo o time do Torino, pentacampeão italiano
e base da seleção se chocou contra a basílica de Superga, matando todos os seus
ocupantes. A seleção italiana foi ao mundial, mas com um time bem menos competitivo.
– A Índia, que havia se classificado por conta das desistências
de Birmânia, Filipinas e Indonésia, acabou desistindo também de vir devido à um
insólito motivo: a Fifa não permitiu que seus jogadores jogassem descalços, hábito
comum no país.
– Os craques brasileiros eram Jair, Ademir e Zizinho, todos
atacantes. Ainda se adotava o ofensivo esquema tático 2-3-5.
– Na partida contra o Brasil a Iugoslávia entrou com apenas
10 jogadores, devido ao fato do centromédio Mitic ter batido a cabeça em uma barra
de ferro na escada de acesso ao Maracanã, abrindo um corte na testa. A barra era
um resto da construção do estádio, ainda não totalmente acabada. O jogador entrou
em campo com 10 minutos já jogados – e a cabeça toda enfaixada.
– No quadrangular final haveria três jogos. Nos dois primeiros
o Brasil passeou, ganhando de 7 a1 da Suécia e 6 a 1 da Espanha (seleção que, por
ter ganhado todos os jogos até então daquela Copa, e ter sido o melhor time da primeira
fase, ganhou o apelido de “Fúria”). O Uruguai havia apenas empatado com a Espanha
em 2 a 2, e perdia até os 30 do segundo tempo contra a Suécia, quando conseguiu
virar para 3 a 2. Pelos pontos acumulados, o Brasil precisava somente do empate.
Tudo isto somado, o retrospecto de goleadas contra o aperto do adversário, além
do fato de jogar em casa, dava amplo favoritismo ao Brasil. Porém, o Uruguai ganhou
por 2 a 1 no famoso Maracanazo, a pior derrota da história da seleção brasileira.
– A seleção da Copa da Fifa contou basicamente com os jogadores
da “final”: dos onze, cinco eram uruguaios e quatro brasileiros (Bauer, Zizinho,
Jair e Ademir). Ghiggia, o carrasco do Brasil, além de estar nesta seleção foi eleito
o craque da Copa.
1954 – Local: Suíça – Campeã: Alemanha
– A Argentina novamente não jogou, devido ao fato de seus
principais jogadores – como o meia-atacante Di Stéfano – jogarem numa liga colombiana
não associada à Fifa, e que por isso não poderiam disputar a Copa do mundo.
– As regras do torneio foram estranhas. Os times foram divididos
em grupos de quatro seleções, porém, havia duas cabeças de chave por grupo. E estes
não jogavam entre si. Também não jogavam entre si os mais fracos, para acertar o
número de jogos dentro de cada grupo.
– A Alemanha, ainda em represália a segunda guerra, não foi
escolhida como cabeça de chave.
– A Espanha disputava a vaga na Copa do mundo com a Turquia.
Cada seleção venceu um jogo (o saldo de gols que beneficiava a Espanha não era critério
de desempate). Marcou-se um jogo de desempate na Itália, que terminou também empatado,
em 2 a 2. A vaga foi definida, então, através de sorteio. O garoto Luigi Gemana,
de 13 anos, sorteou numa cumbuca o nome da Turquia, que foi a Copa e levou o garoto
ao evento, como mascote.
– Os craques brasileiros eram Nílton Santos, Julinho e Didi.
O maior craque brasileiro em atividade, Zizinho, não foi convocado, por motivos
controversos. Alguns alegavam até que o motivo era o fato de o jogador ser comunista.
– Nas eliminatórias desta Copa o Brasil estreou sua camisa
amarela. Até então ela era branca, cor que foi alterada por supostamente trazer
azar – traumas do Maracanazo de 50.
– No último jogo do seu grupo, o Brasil precisava somente
empatar com a Iugoslávia, o que classificaria as duas seleções. Mas os dirigentes
não entenderam o regulamento confuso, e os jogadores muito menos. Durante a prorrogação
(no tempo regulamentar a partida terminou 1 a 1), os iugoslavos tentaram explicar
através de mímica que o resultado beneficiava ambas as equipes. Mas os brasileiros
tomaram os gestos como provocações e os usaram como estímulo para atacá-los. Como
o jogo terminou 1 a 1 mesmo, os jogadores saíram do campo cabisbaixos, alguns chegaram
mesmo a chorar em campo – até porque viam o adversário comemorar. O engano foi desfeito
nos vestiários.
– Para cortar custos, a Escócia só levou 13 dos 22 jogadores
inscritos. Ainda assim, só perdeu o primeiro jogo contra a poderosa Áustria porque
o juiz não deu um gol legítimo da Escócia no último minuto de jogo. Descontente
com as limitações do elenco e os palpites dos dirigentes, o técnico Andy Beattie
pediu demissão – único a fazê-lo em toda a história das Copas – e voltou para casa.
Insatisfeitos com a saída do técnico e confusos com muita gente mandando, os escoceses
viraram presa fácil: tomaram de 7 a 0 do Uruguai no jogo seguinte.
– Disputavam-se duas partidas na primeira fase. No primeiro
jogo, a Coreia do Sul levou de 9 a 0 da poderosa Hungria. Já no segundo melhorou:
tomou de 7 a 0 da nem tão forte Turquia.
– No jogo Suíça 2 X 1 Itália, o árbitro brasileiro Mário Vianna
contribuiu decisivamente para a vitória suíça. Foi conivente com as botinadas distribuídas
pelos anfitriões e coibiu as tentativas italianas de descontá-las. Além disso, anulou
um gol legítimo do italiano Lorenzi quando o jogo estava 1 a 1. Ele foi rodeado
dentro do gol pelos italianos e trocou empurrões com eles. No fim do jogo, os italianos
o perseguiram até os vestiários.
– Devido aos resultados do grupo, houve a necessidade de um
jogo de desempate entre a Itália e a Suíça. A arbitragem foi limpa, mas os italianos
perderam de 4 a 1, e foram recebidos com uma chuva de tomates podres quando desembarcaram
em seu país.
– No jogo Áustria X Suíça pelas quartas-de-final, o defensivo
time suíço marcou três gols nos primeiros 23 minutos de jogo. Porém, viu a Áustria
fazer 5 gols em dez minutos. A Suíça ainda fez mais um e o placar só terminou com
incríveis 5 a 4 no primeiro tempo porque um jogador austríaco ainda perdeu um pênalti.
O jogo acabou terminando 7 a 5 para a Áustria, com o maior número de gols em jogos
de Copa do mundo. Outra curiosidade é que o jogo ocorreu na gélida Suíça, porém,
a temperatura foi de 35ºC.
– Um jogador brasileiro teve medo de enfrentar a Hungria nas
quartas-de-final e tentou de tudo para fugir do jogo, chegando a comer pasta de
dente para ter disenteria e não ser obrigado a entrar em campo.
– O Brasil foi desclassificado numa batalha contra os húngaros
onde sobraram botinadas e houve até uma voadora (do brasileiro Humberto em Loran)
dentro de campo. Diversos jogadores saíram machucados e, quando o jogo terminou,
houve mais confusão. Maurinho cuspiu em Czibor, o craque húngaro Puskas (que não
jogou por estar machucado) abriu a testa de Pinheiro com uma garrafada, e o técnico
brasileiro Zezé Moreira entrou no vestiário húngaro e acertou o técnico húngaro
Gustav Sebes com uma chuteira. A Fifa não puniu ninguém.
– A Hungria, seguindo um imperioso ritmo de treinamentos,
com aquecimento antes das partidas (só ela o fazia), estava invicta desde a Copa
de 1950, tendo jogado 31 vezes, sendo 27 vitórias (20 por goleada), e era a grande
favorita. Já havia goleado na primeira fase da Copa sua adversária da final, a Alemanha,
por 8 a 3. E como sempre, devido ao aquecimento, na final abriu logo o placar: aos
nove minutos do 1º tempo já ganhava por 2 a 0. Porém, a chuva ajudava o time alemão,
mais pesado. A Alemanha não havia escalado todos os seus jogadores titulares contra
os magiares na primeira fase. Utilizando chuteiras apropriadas para a chuva enquanto
os húngaros escorregavam, aos 18 minutos do primeiro tempo os alemães já haviam
empatado a partida. Além disso, a Hungria havia enfrentado uma batalha campal nas
quartas-de-final contra o Brasil, e penado para derrotar o fortíssimo time uruguaio
na semifinal, indo muito mais desgastada para a final que a Alemanha, que enfrentou
adversários mais fracos e acabou derrotando a Hungria com um gol no fim do jogo.
Pelo time que a Hungria possuía, esta é considerada a maior virada de todos os tempos.
1958 – Local: Suécia – Campeão: Brasil
– Dos cinco títulos até então disputados, quatro estavam nas
mãos dos bicampeões Uruguai e Itália. Porém, estes dois não conseguiram sequer passar
das eliminatórias e não foram à Copa.
– 28 anos depois da primeira Copa do mundo, uma partida terminou
em 0 a 0: Brasil X Inglaterra. Alguns jogadores chegaram a pensar que haveria prorrogação.
– Diz a lenda que houve uma pequena rebelião dentro do grupo
da seleção brasileira onde se exigiu a entrada de Zito, Pelé e Garrincha no time
titular. Porém, Pelé só não havia jogado antes porque chegou à Copa machucado, E
Zito e Garrincha entraram no lugar de Dino Santi e Joel não apenas porque o
time não ia bem, mas também porque estes sentiam dores musculares.
– Na semifinal Suécia X Alemanha, o árbitro húngaro Istvan
Szolt foi decisivo. Não marcou um pênalti a favor dos alemães, não invalidou o gol
ilegítimo dos suecos, ao ignorar um toque de mão no lance que gerou o gol de empate.
No 2º tempo, dois jogadores trocaram agressões, mas apenas o alemão foi expulso.
E logo depois, não puniu um jogador sueco Parling que deu uma entrada dura em Fritz
Walter. Este, apesar de ter voltado a campo, não conseguia correr e só pôde fazer
número. Com dois jogadores a mais, a Alemanha não resistiu e os suecos marcaram
dois gols nos últimos 10 minutos de jogo.
– “Ninguém os conteria. Se você marcasse o Pelé, Garrincha
escapava e vice-versa. Se você marcasse os dois, o Vavá entraria e faria o gol.
Eles eram endemoniados, infernais”. Palavras do craque francês Just Fontaine, artilheiro
da Copa com incríveis 13 gols, o maior número já marcado até hoje – algo que provavelmente
nunca será superado. E o número de gols que Fontaine marcou em Copas poderia ser
maior, se duas fraturas seguidas na tíbia não o tivessem obrigado a se aposentar,
com apenas 27 anos de idade. O maior artilheiro em Copas, o alemão Miroslav Klose,
marcou 16 gols, tendo participado de 4 torneios. Fontaine participou de apenas uma
Copa e marcou 13.
– Como os finalistas Brasil e Suécia utilizavam uniformes
de cores similares, a Fifa realizou um sorteio para decidir quem utilizaria o primeiro
uniforme e o Brasil perdeu. No sábado (um dia antes do jogo) o roupeiro Francisco
de Assis comprou no comércio sueco um jogo de camisas azuis, e passou a noite costurando
números e distintivos no uniforme improvisado. Porém, o problema maior era a superstição,
que abalava decisivamente a confiança dos jogadores. Como o Brasil chegou à final
usando amarelo, mudar de cor no último momento não parecia bom presságio. Então,
o chefe da delegação Paulo Machado de Carvalho disse ao grupo de jogadores: “A cor
azul vai dar sorte, pois é a mesma do manto de Nossa Senhora de Aparecida, a padroeira
do Brasil”, disse ele, ressaltando que foi sua a decisão do Brasil jogar de azul.
O dirigente mostrou o manto de Nossa Senhora e com isto neutralizou todas as superstições
negativas. O Brasil foi campão ganhando o jogo por 5 a 2.
– A seleção brasileira possuía os craques Nilton Santos, Garrincha,
Pelé, Vavá, mas o principal jogador da seleção era Didi. Este era apelidado de “Príncipe
Etíope”, dada a elegância com que corria em campo. Didi inventou a “folha seca”,
chute em que a bola subia e caía repentinamente. O jogador tinha um jeito diferente
de tratar a bola, fruto de uma contusão sofrida em 1952. Como ficou um bom tempo
sem poder chutá-la, desenvolveu um jeito de bater com as pontas dos dedos, dando
efeito em sua trajetória. O príncipe etíope quase teve uma perna amputada aos 15
anos devido a uma grave e mal curada lesão. Recuperado depois de uma cirurgia, a
perna direita ficou 1cm menor que a esquerda, e a chuteira do pé direito também
era maior, 41, contra 40 do pé esquerdo. Antes da Copa, a imprensa afirmava que
o meia Joacir do Flamengo vinha treinando melhor que Didi, e que este, por sua vez,
não se esforçava nos treinos. Questionado a respeito, o craque saiu-se com uma frase
que se tornou famosa: “Treino é treino, jogo é jogo”. Foi eleito craque da Copa,
deixando Vavá, Nilton Santos, Pelé e Garrincha para trás.
– A pedido do dirigente Paulo Machado de Carvalho, o massagista
Mário Américo roubou a bola da final que estava entre os braços do árbitro Maurice
Guige dando um soco nela, pegando-a e fugindo correndo. O árbitro foi ao vestiário
pedir a bola de volta, mas acabou levando uma outra bola qualquer.
– Alguns diziam que Djalma Santos precisou de apenas um jogo
para ser eleito o melhor lateral direito do Mundial, mas a Fifa elegeu o sueco Niels
Liedholm como o melhor da posição.
– Pelé fez nesta Copa um gol quando tinha 17 anos e 239 dias,
sendo o mais jovem a fazê-lo, e também se tornou o mais jovem a ser campeão do mundo,
título que detém até hoje.
– Depois da desorganização de outros mundiais, o dirigente
Paulo Machado de Carvalho, o Manga (apelido que os jogadores o davam sem que ele
soubesse) arquitetou o planejamento da campanha do título, contribuindo também para
contagiar o grupo com sua confiança na vitória. Hoje, dá nome ao estádio do Pacaembu.
– Pela primeira vez o esquema tático padrão mudou do 2-3-5
para o 4-2-4.
– Os jogadores argentinos foram recebidos com paus, pedras
e moedas dos torcedores quando retornaram do mundial, sendo acusados pela imprensa
local de se empenharem mais em noitadas do que nas partidas.
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Outras partes desta publicação:
Parte II:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-ii-de-lycio.html
Parte III: https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-iii-de-lycio.html
Parte IV:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2021/01/o-mundo-das-copas-parte-iv-de-lycio.html
Abro alas para um comentário. Muitos reclamam da derrota de 1982, mas, para mim, que só acompanho desde 1994, a maior derrota brasileira foi em 2006. E tem um culpado específico: Parreira.
ResponderExcluirCom uma soberba do tamanho do mundo (talvez porque soubesse que tinha os melhores jogadores em sua seleção), o técnico errou tudo em que poderia errar e mais um pouco. Não treinava (só dava espetáculos para a torcida), deixou os melhores no banco, escalou jogadores fora de forma, não escutava críticas justas, etc.
Parreira demonstrava grande soberba e empáfia nas respostas, porém, deixou que Roberto Carlos e Cafu, veteranos com a carreira em franco declínio se auto-escalassem. No ataque sacou Robinho – que estava voando – para escalar dois centro-avantes simultaneamente: Adriano e Ronaldo. Adriano já não atravessava sua melhor fase, e Ronaldo estava totalmente fora de forma, sem pique e com um severo problema de peso – que jamais conseguiria reverter novamente.
Julio César no gol, os laterais Cicinho e Zé Roberto, os zagueiros Lúcio e Juan, os volantes Emerson e Gilberto Silva, os meias Ronaldinho Gaúcho e Juninho Pernambucano e os atacantes Robinho e Fred, constituíam, a meu ver, uma seleção imbatível.
Paciência.
Outra coisa: o livro é realmente muito bom, porém, a quantidade de erros de português é impressionante, chega a incomodar.
ResponderExcluirFaltou uma revisão mais caprichada por parte da editora.
Aproveito o ensejo para inserir mais um comentário, este bem polêmico, escolhendo os melhores jogadores brasileiros que já vi jogar.
ResponderExcluirMinha escalação seria a seguinte:
Goleiro: Zetti.
Reservas: Velloso e Júlio César.
Laterais direito e esquerdo: Jorginho e Zé Roberto.
Reservas: Belletti e Roberto Carlos.
Zagueiros: Lúcio e Juan.
Reservas: Aldair e Mauro Galvão.
Volantes: Leandro Ávila e Dunga.
Reservas: Mauro Silva e Emerson.
Meias: Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo.
Reservas: Juninho Pernambucano e Robinho (recuando-o um pouco).
Segundo atacante: Neymar.
Reserva: Bebeto.
Centroavante: Romário
Reserva: Ronaldo.
Ainda mais um comentário: esta postagem tinha um tamanho excessivo, por isto foi dividida em 4 partes.
ResponderExcluirDe todo modo, destaque-se que a postagem original (que agora vira Parte I) foi esta aqui, de outubro de 2010.