Editora: Nova Fronteira
ISBN: 978-65-564-0015-0
Tradução: Maria Helena Rouanet
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 458
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Sinopse: Ver Parte I
“O gozo do amor é excessivamente breve e extremamente
longo o sofrimento que ele provoca.”
“De nada valem as qualidades de um homem se não vierem
acompanhadas de sabedoria.”
“Quisera
Deus que eu tivesse parte de suas características, e foi uma desventura eu
estar enferma por ocasião desse torneio. Suponho que, em toda minha vida, nunca
verei tal reunião de cavaleiros e damas como haveis visto.
Então, os dois
cavaleiros contaram como Sir Palamedes foi o vencedor do primeiro dia com
grande nobreza. No segundo dia, a vitória foi atribuída a Sir Tristão e, no
terceiro, a Sir Lancelote. E, indagou ainda a rainha, quem se saiu melhor nos
três dias de competição? Valha-me Deus!, disseram ambos. Sir Lancelote e Sir
Tristão foram os que menos sofreram desonra, mas sabei que Sir Palamedes foi
poderoso e se saiu muito bem, porém voltou-se contra a companhia com que havia
começado e, com isso, perdeu boa parte de seu mérito, pois parece que é
bastante invejoso. Então, jamais conquistará qualquer honra, observou a Rainha
Guinevere, já que, se um invejoso adquire honra uma vez, se vê desonrado duas
vezes. Por isso, todos os homens valorosos desgostam dos invejosos e não
desejam demonstrar nenhuma boa vontade para com eles, ao passo que aquele que é
cortês, amável e gentil só encontra boa vontade em toda parte.”
“Foi-se
embora a pé, adentrou uma floresta e, por volta da hora de prima, chegou a um
morro onde havia um eremitério e um ermitão que ia celebrar uma missa. Então,
Sir Lancelote se ajoelhou e implorou misericórdia a Nosso Senhor pelos seus
maus atos. Terminada a missa, chamou o eremita e lhe rogou que, por caridade,
ouvisse o relato de sua vida. De bom grado o farei, disse o bom homem. Sois da
corte do Rei Arthur, senhor? Da companhia da Távola Redonda? Em verdade, sim.
Meu nome é Sir Lancelote do Lago, de quem se fala muito bem, mas, agora, minha
boa fortuna mudou, pois sou o homem mais desditoso do mundo. O ermitão o fitou
longamente e se surpreendeu ao vê-lo assim, transtornado. Senhor, disse ele
então, mais que ninguém, deveríeis dar graças a Deus, pois Ele vos fez ter mais
honra mundana do que qualquer outro cavaleiro que hoje vive. Foi por vossa
presunção, ao se pôr em Sua presença, no local onde se encontravam Sua carne e
Seu sangue apesar de estar em pecado mortal, que não pudestes vê-Lo com olhos
mundanos, pois Ele não quer aparecer onde estão tais pecadores, a menos que seja
para lhes causar sofrimento e vergonha. Mais que qualquer outro cavaleiro,
devíeis dar graças a Deus, já que Ele vos concedeu beleza, galhardia e uma
grande força como a ninguém mais. Por isso, mais do que qualquer outro homem,
estais obrigado a amá-Lo e a temê-Lo, uma vez que de nada vos servem vossa
força e vossa valentia se Deus estiver contra vós.”
“Cuidai
para que vosso coração e vossa boca estejam sempre de acordo, disse o bom
homem, e eu vos asseguro que tereis mais honra do que jamais tivestes na vida.”
“Merlin
também fez a Távola Redonda como representação da forma do mundo, pois ela
representa este mundo de forma completa, já que todos, cristãos e pagãos, são
por ela acolhidos e, quando são escolhidos para integrar a companhia da Távola
Redonda, consideram-se mais felizes e com mais honra do que se houvessem
ganhado metade da terra. Vistes que perderam seus pais e toda sua linhagem, e
também esposas e filhos para fazerem parte de vossa companhia. Pudestes vê-lo
por vós mesmo, uma vez que, desde que deixastes vossa mãe, não quis voltar a
vê-la, por vos encontrardes entre os cavaleiros da Távola Redonda. Quando
Merlin fez a Távola Redonda, disse que, por serem seus membros quem eram,
através dela seria conhecida a verdade do Santo Graal. Perguntaram-lhe como
poderiam saber quem se sairia melhor e levaria a cabo a demanda do Santo Graal.
Ele respondeu então que havia três touros brancos que realizariam tal tarefa,
dois dos quais seriam virgens, e o terceiro, casto. Disse ainda que um dos três
sobrepujaria o próprio pai como o leão supera o leopardo em força e ousadia.
E aqueles que o
ouviam disseram: Já que virá tal cavaleiro, deves usar tuas artes para fazer
uma cadeira na qual não se sente nenhum outro homem a não ser aquele que há de
sobrepujar todos os demais cavaleiros. E Merlin respondeu que assim o faria.
Por isso, fez a Cadeira Perigosa, na qual Sir Galahad (filho de Lancelote) se
sentou para cear no último domingo de Pentecostes.”
“Um filho não deve carregar os pecados do pai, nem o pai
os pecados do filho, pois cada qual tem que levar sua própria carga.”
“Quando
viram a quantidade de gente que tinham matado, consideraram-se grandes
pecadores. Em verdade, observou Bors, creio que, se Deus os amasse, não
teríamos conseguido matá-los assim. Esses homens tanto fizeram contra Nosso
Senhor que Ele não quis permitir que continuassem a reinar. Não digais isso,
retrucou Galahad, pois, se agiram contra Deus, a vingança não é nossa, mas Daquele
que tem poder para tanto.”
“Como
diz o velho refrão, é dura a batalha em que parentes e amigos se enfrentam uns
aos outros, pois aí não pode haver compaixão, apenas guerra mortal.”
“Senhora, não quero
ser obrigado a amar, já que o amor deve nascer do coração e não por qualquer
forma de imposição. Isso é verdade, observou o rei. E o amor de muitos
cavaleiros é livre em si mesmo e nunca estará vinculado ao que quer que seja,
pois ali onde o amor é amarrado ele próprio consegue se desatar.”
“Passaram-se, assim,
a festa da Candelária e a Páscoa. Em seguida, chegou o mês de maio, quando
todos os corações vigorosos começam a florescer e a frutificar, pois, assim
como as plantas e as árvores frutificam e florescem em maio, assim também o
coração vigoroso, que ama de alguma forma, desabrocha e floresce em atos
amorosos. Esse alegre mês de maio, mais do que qualquer outro, traz alento para
todos os amantes, levando-os a se esforçar em algum sentido e por diversas
causas. Nessa ocasião, as plantas e as árvores renovam o homem e a mulher, e,
do mesmo modo, os amantes voltam a se lembrar de antigas doçuras, de antigas
delicadezas e de muitos atos afáveis esquecidos por displicência. Pois, assim
como o desvanecimento do inverno apaga e desfigura o verde verão, assim também
age o amor inconstante no homem e na mulher, porque, em muitas pessoas, a
constância inexiste. Vemos, diariamente, como, por um pequeno sopro desse
desvanecimento do inverno, logo apagamos e afastamos o verdadeiro amor, tão
valioso, por pouca coisa ou por nada. Isso não é sabedoria nem constância, mas
sim fraqueza de natureza e grande desonra para quem quer que tenha semelhante
atitude. Portanto, assim como o mês de maio germina e floresce em muitos
jardins, do mesmo modo também ele faz florescer o coração de cada homem de
mérito neste mundo, primeiro para Deus, depois para a felicidade daqueles a
quem prometeu sua fé, pois nunca houve homem nem mulher de mérito que não
amasse alguém mais que a todos os outros; a honra em armas jamais pode ser
menosprezada, mas, em primeiro lugar, vem a honra a Deus e, em segundo, vossa
dama, e, a esse amor, chamo de amor virtuoso.
Hoje
em dia, porém, os homens não podem amar por sete noites seguidas, pois devem
alcançar todos os seus desejos. Tal amor não tem condições de durar, pois, mal
se encontram juntos e ardentes, o calor esfria. É assim que o amor se apresenta
nos dias de hoje: logo se inflama e logo esfria. Isso não é constância. Mas o
amor de outrora era diferente: os homens e as mulheres podiam amar-se por sete
anos sem que houvesse entre eles nenhum prazer voluptuoso. Esse era o amor
verdadeiro e sincero, e sabei que o amor nos tempos do Rei Arthur era dessa
mesma natureza. É por esta razão que comparo o amor de hoje ao verão e ao
inverno, pois um deles é quente e o outro, frio, exatamente como acontece com o
amor em nossos dias. Assim, pois, todos vós que amais deveis lembrar do mês de
maio, como fez a Rainha Guinevere, que menciono apenas brevemente: enquanto
viveu, foi amante verdadeira e, por isso, teve um bom fim.”
“Feliz é aquele que
tem um amigo fiel.”
“Para mim, o despeito
é injúria maior do que qualquer dano.”
“Ai, este é o maior defeito que nós, os ingleses, possuímos: nada nos satisfaz, nem mesmo por um curto espaço de tempo.”