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segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

As crônicas de Nárnia: A cadeira de prata, de C. S. Lewis

Editora: Martins Fontes

ISBN: 978-85-7827-069-8

Tradução: Paulo Mendes Campos

Opinião: ★★★

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Páginas: 112

Sinopse: Ver Parte I


 

“– Ei, Jill, o que há com você?

Jill só fez uma careta, a careta que a gente faz quando quer dizer alguma coisa, mas sente que vai acabar chorando se falar.”

 

 

“Chorar funciona mais ou menos enquanto dura.”

 

 

“Levantou-se e olhou em torno, atenta. Nenhum sinal do Leão, mas, com tantas árvores por ali, podia ser que ele estivesse por perto. A sede era intolerável e ela juntou coragem para localizar a água. Na ponta dos pés, escondendo-se de árvore em árvore, espreitando por todos os cantos, avançou. A floresta estava tão quieta que não era difícil descobrir de onde vinha o ruído. Numa clareira corria o riacho, brilhante como um espelho. Apesar da visão da água multiplicar sua sede, não correu logo para beber. Ficou paradinha, como se fosse de pedra, boquiaberta. Motivo: o Leão estava postado exatamente à beira do riacho, cabeça erguida, patas dianteiras esticadas. Não havia dúvida de que a vira, pois olhou dentro dos olhos dela por um instante e virou-se para o lado, como se a conhecesse há muito tempo e não precisasse dar-lhe muita atenção.

Ela pensou: “Se eu correr, ele me pega; se eu ficar, ele me come.”

De qualquer forma, mesmo que tivesse tentado, não teria saído do lugar. Não tirava os olhos de cima do Leão. Quanto tempo durou isso não saberia dizer. Pareciam horas. A sede era tão forte que chegou a pensar que pouco se importaria em ser comida pelo animal, desde que desse tempo de beber um bom gole.

– Se está com sede, beba.

Eram as primeiras palavras que ouvia desde que Eustáquio falara com ela à beira do abismo. Por um segundo procurou descobrir quem falara. A voz voltou:

– Se está com sede, venha e beba.

Lembrou-se naturalmente do que dissera Eustáquio sobre os animais falantes daquele outro mundo e percebeu que era a voz do Leão. Não se parecia com a voz humana: era mais profunda, mais selvagem, mais forte. Não ficou mais amedrontada do que antes, mas ficou amedrontada de um modo diferente.

– Não está com sede? – perguntou o Leão.

– Estou morrendo de sede.

– Então, beba.

– Será que eu posso... você podia... podia arredar um pouquinho para lá enquanto eu mato a sede?

A resposta do Leão não passou de um olhar e um rosnado baixo. Era (Jill se deu conta disso ao defrontar o corpanzil) como pedir a uma montanha que saísse do seu caminho.

O delicioso murmúrio do riacho era de enlouquecer.

– Você promete não fazer... nada comigo... se eu for?

– Não prometo nada – respondeu o Leão.

A sede era tão cruel que Jill deu um passo sem querer.

– Você come meninas? – perguntou ela.

– Já devorei meninos e meninas, homens e mulheres, reis e imperadores, cidades e reinos – respondeu o Leão, sem orgulho, sem remorso, sem raiva, com a maior naturalidade.

– Perdi a coragem – suspirou Jill.

– Então vai morrer de sede.

– Oh, que coisa mais horrível! – disse Jill dando um passo à frente. – Acho que vou ver se encontro outro riacho.

– Não há outro – disse o Leão.

Jamais passou pela cabeça de Jill duvidar do Leão; bastava olhar para a gravidade de sua expressão. De repente, tomou uma resolução. Foi a coisa mais difícil que fez na vida, mas caminhou até o riacho, ajoelhou-se e começou a apanhar água na concha da mão. A água mais fresca e pura que já havia bebido. E não era preciso beber muito para matar a sede. Antes de beber, havia imaginado sair em disparada logo depois de saciada. Percebia agora que seria a coisa mais perigosa. Ergueu-se de lábios ainda molhados.

– Venha cá – disse o Leão.

E ela foi. Estava agora quase entre as patas dianteiras do Leão, olhando-o diretamente nos olhos.

Mas não aguentou isso por muito tempo e desviou o olhar.”

 

 

“– Fique quieta. Daqui a pouco soprarei. Antes de tudo, lembre-se dos sinais! Repita-os ao amanhecer, antes de dormir e, caso acordar, durante a noite. Por mais estranhos que sejam os acontecimentos, de maneira alguma deixe de obedecer aos sinais. Em segundo lugar, aviso-a de que falei, aqui na montanha, com a maior clareza: não o farei sempre em Nárnia. O ar aqui na montanha é limpo, e aqui o seu espírito também é limpo; em Nárnia, o ar será mais pesado. Cuidado para que o ar pesado não confunda seu espírito. Os sinais que aprendeu aqui surgirão sob formas bem diferentes ao depará-los lá. É importantíssimo conhecê-los de cor e desconfiar das aparências. Lembre-se dos sinais, acredite nos sinais. Nada mais importa. Agora, Filha de Eva, adeus...”

 

 

“– Amigos – disse o príncipe –, quando um homem se lança numa aventura como esta, deve dar adeus à esperança e ao medo; do contrário, tanto a morte quanto a libertação podem não chegar a tempo de salvar-lhe a honra e a razão.”

 

 

“– Coragem, meus amigos – ouviu-se a voz do príncipe Rilian. – Vivos ou mortos, Aslam será nosso guia.

– Perfeitamente, Alteza – era a voz de – Brejeiro. E sempre se pode lembrar que há uma vantagem em morrer aqui: não se gasta dinheiro com enterro.

Jill mordeu a língua. (Quem não quer mostrar o medo que está sentindo, deve ficar em silêncio; é a voz que nos denuncia.)”

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