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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Bíblia Sagrada – O Evangelho Segundo São Mateus

Editora: Paulus

ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém (BJ) – 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) – 978-85-349-0228-1

Tradução, introdução e notas (BPa): Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin

Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini

Notas (BPe): Luís Alonso Schökel

Opinião: N/A

Páginas: BPe – 77 / BJ – 73 / BPa – 47

Sinopse: Ver aqui

 


“Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos se aproximaram, e Jesus começou a ensiná-los:

Felizes os pobres em espírito,

porque deles é o Reino do Céu.

Felizes os afligidos,

porque serão consolados.

Felizes os despossuídos,

porque herdarão a terra.

Felizes os que têm fome e sede de justiça,

porque serão saciados.

Felizes os que são misericordiosos,

porque encontrarão misericórdia.

Felizes os puros de coração,

porque verão a Deus.

Felizes os que promovem a paz,

porque serão chamados filhos de Deus.

Felizes os que são perseguidos por causa da justiça,

porque deles é o Reino do Céu.

Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês.”

(Mt 5,1-121 – BPa / BPe).

1: Cf. Lc 6,20-23.

 

 

“Pois eu vos digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês! Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos. Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam, que recompensa vocês merecerão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.”

(Mt 5,44-48 – BPa/BPe)

 

 

“Quando vocês rezarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam sua recompensa. Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você1. Quando vocês rezarem, não usem muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por causa do seu palavreado. Não sejam como eles, pois o Pai de vocês sabe do que é que vocês precisam, ainda antes que vocês façam o pedido. Vocês devem rezar assim:

Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação2, mas livra-nos do mal.

De fato, se vocês perdoarem aos homens os males que eles fizeram, o Pai de vocês que está no céu também perdoará a vocês. Mas, se vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também não perdoará os males que vocês tiverem feito.”

(Mt 6,5-15 – BPa / BJ)

1: Na oração, o homem se volta para Deus, reconhecendo-o como único absoluto, e reconhecendo a si mesmo como criatura, relativizando a autossuficiência. Por isso, rezar para ser elogiado é colocar-se como centro, falsificando a oração. (BPa)

2: Cf. Lc 11,2-4.

 

 

“Não acumulem riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem, onde os ladrões assaltam e roubam. Acumulem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração. Ninguém pode servir a dois senhores1. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro2.”

(Mt 6,19-21.24 – BPa / BPe / BJ)

1: Todo homem, consciente ou inconscientemente, tem na vida um valor fundamental, um absoluto que determina toda a sua forma de ser e viver. Qual é o absoluto: Deus ou as riquezas? Deus leva o homem à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a fraternidade. As riquezas são resultado da opressão e da exploração, levando o homem à escravidão e à morte. É preciso escolher a qual dos dois queremos servir. (BPa)

2: Mamom é o deus do dinheiro, da cobiça: rival inconciliável do Deus verdadeiro, que ´doador generoso (Sl 21,5; 37,4; 136,25 etc.) e ensina a dar. A cobiça é idolatria, diz Cl 3,5. O cobiçoso não possui, mas é possuído por seus bens e suas ânsias. Quevedo sentenciava: Poderoso cavaleiro é Dom Dinheiro. (BPe)

 

 

“Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal.”

(Mt 6,34 – BJ)

 

 

““Não julguem, e vocês não serão julgados1. De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem.

Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho? Ou, como você se atreve a dizer ao irmão: ‘deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando você mesmo tem uma trave no seu? Hipócrita, tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem para tirar o cisco do olho do seu irmão.

Não deem aos cães o que é sagrado2, nem atirem pérolas aos porcos; eles poderiam pisá-las com os pés e, virando-se, estraçalhar vocês.

Peçam, e lhes será dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta. Quem de vocês dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe? Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas a seus filhos, quanto mais o Pai de vocês que está no céu dará coisas boas aos que lhe pedirem.

Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas.3

Entrem pela porta estreita, porque é larga a porta e espaçoso o caminho que levam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! Como é estreita a porta e apertado o caminho que levam para a vida, e são poucos os que a encontram!

Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes4. Vocês os conhecerão pelos frutos deles: por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz maus frutos. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e uma árvore má não pode dar bons frutos. Toda árvore que não der bons frutos, será cortada e jogada no fogo. Pelos frutos deles é que vocês os conhecerão.5

“Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que está no céu.

Naquele dia muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres?’ Então, eu vou declarar a eles: Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores!6

“Portanto, quem ouve essas minhas palavras e as põe em prática, é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, mas a casa não caiu, porque fora construída sobre a rocha.

Por outro lado, quem ouve essas minhas palavras e não as põe em prática, é como o homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, e a casa caiu, e a sua ruína foi completa!”

Quando Jesus acabou de dizer essas palavras, as multidões ficaram admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os doutores da Lei.”

(Mt 7 – BPa)

1: Não julguei os outros, para não serdes julgados por Deus. Do mesmo modo se entenda o v. seguinte (cf. Tg 4,12). (BJ)

2: Porções de carne consagrada, alimentos santificados por terem sido oferecidos no Templo (cf. Ex 22, 30; Lv 22,14). — Do mesmo modo, não se deve propor uma doutrina preciosa e santa a pessoas incapazes de recebê-las bem e que poderiam fazer mau uso delas. O texto não especifica que tipo de pessoas se trata: seriam os judeus hostis? Ou os pagãos (cf. 15-16)?” (BJ)

3: A regra de ouro, síntese de toda a Escritura, se encontra, na sua formulação negativa, em outras culturas, também em Tb 4,15. Sua aplicação abrange desde o cotidiano até o heroico. É outra formulação do amor ao próximo: “como a si mesmo” em sua vertente ativa. (BPe)

4: Os falsos profetas foram o pesadelo dos autênticos (cf. Jr 23 e Ez 13 entre outros). Elogiam e não denunciam (Is 30,10); prometem falsamente a paz (Jr 6,14; 8,11). Não faltarão falsos profetas nas comunidades cristãs (Mt 24,1 2 fala de anticristos), nem mestres que “elogiem os ouvidos” (2Tm 4,3). (BPe)

5: “Nada se parece tanto com um verdadeiro profeta, como um falso profeta.” As ideologias que nos afastam da opção fundamental pelo Reino e sua justiça são cheias de fascínio, e sempre trazem a aparência de humanidade e até mesmo de fé. Só poderemos perceber a sua falsidade através daquilo que elas produzem na sociedade: a cobiça e a sede de poder, que levam à exploração e opressão. (BPa)

6: Nem mesmo o ato de fé mais profundo da comunidade, que é o reconhecimento de Jesus como o Senhor, faz que alguém entre no Reino. Se o ato de fé pela palavra não for acompanhado de ações, é vazio e sem sentido. A expressão “naquele dia” indica o Juízo final e nos remete a Mt 25,31-46, onde são mostradas as ações que qualificam o autêntico reconhecimento de Jesus como Senhor. (BPa)

 

 

“Estando Jesus à mesa em casa de Mateus, muitos cobradores de impostos e pecadores foram e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos. Alguns fariseus viram isso, e perguntaram aos discípulos: “Por que o mestre de vocês come com os cobradores de impostos e os pecadores?” Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes. Aprendam, pois, o que significa: ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’1. Porque eu não vim para chamar justos, e sim pecadores”.”

(Mt 9,10-132 – BPa)

1: À prática rigorista e exterior da Lei, Deus prefere os sentimentos íntimos do coração sincero e compassivo. Eis um tema frequente dos profetas (Am 5,21+). (BJ)

2: Cf. Mc 2,15-17 e Lc 5,29-32.

 

 

“Nessa ocasião Jesus tomou a palavra e disse:

— Dou-te graças, Pai Senhor do céu e da terra! Porque, ocultando estas coisas aos entendidos, tu as revelaste aos ignorantes1.

Sim, foi tua escolha2. Meu Pai me confiou tudo: ninguém conhece o Filho, senão o Pai; ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e a quem o Filho decidir revelá-lo. Vinde a mim, vós que andais cansados e curvados, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo e aprendei de mim, que sou tolerante e humilde, e vos sentireis aliviados. Pois meu jugo é suave e minha carga é leve.2

(Mt 11,25-303 – BPe)

1: Diante da soberba e arrogância das cidades amaldiçoadas desprende-se no contexto essa exaltação do humilde e simples. “Deus revela seus segredos aos humildes” (Eclo 3.20). Destaca-se como um pico, estreito e altíssimo, esta efusão da espiritualidade íntima de Jesus; testemunho da predileção do Pai, do seu sentimento filial e da missão soberana que recebeu. Como em Is 29,14, os prodígios de Deus confundem a sabedoria dos sábios: “Eu continuarei prodigiando prodígios... a sabedoria dos sábios fracassará”. O prodígio presente é o envio e presença de seu Filho, mistério que os “ignorantes” humildes compreendem, pois não vivem satisfeitos com seus preconceitos; ao passo que os doutores que se creem suficientes olhando não veem (cf. Is 42,20). A fé pascal dos cristãos acolhe e proclama essa revelação. A relação filial de Jesus com seu Pai, o Deus criador do universo, é única. Do Pai recebe, como mediador único, a missão de revelar e salvar. O evangelho e a primeira carta de João são o melhor comentário a essa breve e densa perícope. (BPe)

2: Não só os animais, também os homens carregam o jugo como sinal e exercício de escravidão. Era um jugo curvo de madeira, apoiado com almofadas sobre os ombros, que servia para transportar cargas equilibradas. A imagem é frequente no AT: pode referir-se à lei (Jr 2,20; 5,5 etc.), à tirania estrangeira (Is 10,27; Jr 27,8 etc.) e também à sabedoria, em princípio jugo, no fim joia (Eclo 6,24.30 no contexto 18-31). A escravidão no Egito se definia pelas “cargas” (Ex 6,6). O jugo que Jesus impõe, aceito com amor e levado com sua ajuda, é leve, particularmente se comparado com as cargas dos fariseus (23,4). (BPe)

3: Cf. Lc 20,21.

 


“Se soubésseis o que significa: Misericórdia é que eu quero e não sacrifício, não condenaríeis os que não têm culpa.”

(Mt 12,7 – BJ)

 

 

“Jesus contou outra parábola à multidão: “O Reino do Céu é como um homem que semeou boa semente no seu campo. Uma noite, quando todos dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. Quando o trigo cresceu, e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. Os empregados foram procurar o dono, e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’ O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: ‘Queres que arranquemos o joio?’ O dono respondeu: ‘Não. Pode acontecer que, arrancando o joio, vocês arranquem também o trigo. Deixem crescer um e outro até à colheita. E no tempo da colheita direi aos ceifadores: arranquem primeiro o joio, e o amarrem em feixes para ser queimado. Depois recolham o trigo no meu celeiro.”1

(Mt 13,24-30 – BPa)

1: A imagem do joio no meio do trigo tornou-se proverbial em nossos tempos, a tal ponto que a parábola evangélica nos é transparente. Duas coisas não se tornaram proverbiais e temos de destacá-las. Que há poderes empenhados em malograr a boa colheita, que se aproveitam dos momentos de descuido ou descanso legítimo (cf. Sl 127,2). Que é preciso levar em conta o joio com paciência e lucidez. Isso se deve entender no contexto social da Igreja, de sorte que é lido como um capítulo de eclesiologia em germe. “Saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos” (1 Jo 2,19). O final alude ao julgamento escatológico (cf. Is 27,11). (BPe)

 

 

“Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família.”

(Mt 13,57b – BPa)

 

 

“Alguns fariseus e diversos doutores da Lei, de Jerusalém, se aproximaram de Jesus, e perguntaram:

– Por que os teus discípulos desobedecem à tradição dos antigos?1 De fato, comem pão sem lavar as mãos!”

Jesus respondeu:

– Por que é que vocês também desobedecem ao mandamento de Deus em nome da tradição de vocês? Pois Deus disse: ‘Honre seu pai e sua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer’. E no entanto vocês ensinam que alguém pode dizer ao seu pai e à sua mãe: ‘O sustento que vocês poderiam receber de mim é consagrado a Deus’. E essa pessoa fica dispensada de honrar seu pai ou sua mãe2. Assim vocês esvaziaram a palavra de Deus com a tradição de vocês. Hipócritas! Isaías profetizou muito bem sobre vocês, quando disse: ‘Esse povo me honra com os lábios, mas o coração deles está longe de mim. Não adianta nada eles me prestarem culto, porque ensinam preceitos humanos.’

Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto dele, e disse: “Escutem e compreendam. Não é o que entra na boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isso torna o homem impuro”.”

(Mt 15, 1-103 – BPa)

1: Tradição oral que, sob pretexto de assegurar a observância da Lei escrita, ia mais longe do que ela. Os rabinos faziam-na remontar, através dos “antigos”, a Moisés. (BJ)

2: Porque os bens assim votados (korbân) passaram a revestir caráter “sagrado”, que interditava aos pais pretenderem para si qualquer parte deles. Esse voto, aliás, fictício, não obrigando a nenhuma doação real, era meio odioso de livrar-se de dever sagrado. Os rabinos, embora reconhecendo o seu caráter imoral, consideravam válidos tais votos. (BJ)

3: Cf. Mc 7,1-16.

 

 

“Quando Jesus chegou à região de Cesareia de Filipe, interrogou os discípulos:

— Quem dizem os homens que é este Homem?

Responderam:

— Uns que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou algum outro profeta.

Disse-lhes:

— E vós, quem dizeis que eu sou?

Respondeu Simão Pedro:

— Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.

Jesus lhe replicou:

— Feliz és tu, Simão, filho de Jonas! Porque não foi alguém de carne e sangue que te revelou isso, e sim meu Pai do céu. Pois eu te digo que tu és Pedro e sobre esta Pedra construirei minha igreja, e o império da morte não a vencerá1. A ti darei as chaves do reino de Deus: o que atares na terra ficará atado no céu; o que desatares na terra ficará desatado no céu.2

(Mt 16,13-19 – BPe)

1: (...) O povo não hostil, que presenciou a atividade de Jesus, considera-o algum enviado especialíssimo de Deus para preparar a era messiânica; inclusive alguém poupado da morte (Eclo 48,1) ou morto e redivivo para ter maior autoridade (LC 16,30). Simão, que pela carne e sangue é filho de Jonas, declara que Jesus é o Messias esperado; e Jesus o ratifica, declarando que a confissão procede de uma revelação do Pai (cf. II ,27), pela qual Pedro tem uma bem-aventurança particular.

Dito isso, prossegue estabelecendo e declarando a função específica de Simão. Jesus se propõe "construir" um templo, que é uma comunidade nova, na qual Pedro será uma "pedra" fundamental. O grego petros designa uma pedra ou pedregulho, algo que se pode pegar e lançar. Ao passo que petra designa um silhar ou penha ou rocha onde se assenta um edifício. O edifício ou comunidade é obra e domínio de Jesus, "minha igreja", que substitui a comunidade sagrada qahal Yhwh ou qahal Yisrael (Dt 23,2; 1Rs 8,22 etc.). Pedro terá nela uma função medianeira central: por sua adesão ou aderência a Cristo, participará da solidez da rocha. Contra a igreja de Jesus nada poderá o poder da morte, que abre suas portas para prender e fecha para não soltar. A obra de Jesus é imortal (talvez sugira a ressurreição e a vida eterna dos seus membros). (BPe)

Pedro terá as chaves de acesso ao reino de Deus (de acordo com as bem-aventuranças, 5,310) e terá o poder de julgar, perdoar e condenar, ratificado por Deus. Diante de doutores e fariseus que "amarram fardos pesados" (23,4) e fecham o acesso ao reino de Deus (23,13) (...). (BPe)

2: Exatamente como a Cidade da morte, a Cidade de Deus tem portas, que não deixam entrar senão os que são dignos; comparar Mt 23,13p. Pedro recebe as suas chaves. Caberá a ele, pois, abrir ou fechar o acesso ao Reino dos Céus, por meio da Igreja. – “Ligar” e “desligar” são dois termos técnicos da linguagem rabínica que se aplicam primeiro ao domínio disciplinar da excomunhão com que se “condena” (ligar) ou “absolve” (desligar) alguém, e mais tarde às decisões doutrinais ou jurídicas, com o sentido de “proibir” (ligar) ou “permitir” (desligar). Pedro como mordomo (cuja insígnia são as chaves, cf. Is 22,22) da casa de Deus, exercerá o poder disciplinar de admitir ou excluir quem ele bem julgar, e administrará a comunidade através de todas as decisões cabíveis em matéria de doutrina e de moral. As sentenças e decisões serão ratificadas por Deus do alto dos céus. – Essas promessas eternas valem não só para a pessoa de Pedro, mas também para os seus sucessores. Embora essa consequência não seja explicitamente indicada no texto, é legítima, entretanto, em virtude da intenção clara que Jesus tem de prover o futuro de sua Igreja como instituição que a morte de Pedro não podia tornar caduca. – Dois outros textos, Lc 22,31s e Jo 21,15s, deixarão claro que o primado de Pedro deve exercer-se particularmente na ordem da fé e que ele o torna chefe não só da Igreja futura, mas já dos demais Apóstolos. (BJ)

 


“Pedro aproximou-se de Jesus, e perguntou:

– Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?”

Jesus respondeu:

– Não lhe digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. Quando começou o acerto, levaram a ele um que devia dez mil talentos1. Como o empregado não tinha com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés do patrão e, ajoelhado, suplicava: ‘Dá-me um prazo. E eu te pagarei tudo’. Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado, e lhe perdoou a dívida. Ao sair daí, esse empregado encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem denários2. Ele o agarrou, e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague logo o que me deve’. O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ‘Dê-me um prazo, e eu pagarei a você’. Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão, e lhe contaram tudo. O patrão mandou chamar o empregado, e lhe disse: ‘Empregado miserável! Eu lhe perdoei toda a sua dívida, porque você me suplicou. E você, não devia também ter compaixão do seu companheiro, como eu tive de você?’ O patrão indignou-se, e mandou entregar esse empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. É assim que fará com vocês o meu Pai que está no céu, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão.3

(Mt 18,21-35 – BPa / BJ)

1: Mais de trezentas e quarenta toneladas de ouro: quantia exorbitante, escolhida intencionalmente. (BJ)

2: Menos de trinta gramas de ouro. (BJ)

3: Na comunidade de Jesus não existem limites para o perdão (setenta vezes sete). Ao entrar na comunidade, cada pessoa já recebeu do Pai um perdão sem limites (dez mil talentos). A vida na comunidade precisa, portanto, basear-se no amor e na misericórdia, compartilhando entre todos esse perdão que cada um recebeu. (BPa)

 

 

“Jesus disse aos seus discípulos:

– Eu vos asseguro: um rico dificilmente entrará no reino de Deus. Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus.”

(Mt 19,23-241 – BPe)

1: Cf. Mc 10,23-25 e Lc 18,24-25.

 

 

“Mas Jesus os chamou e lhes disse:

– Sabeis que entre os pagãos os governantes submetem os súditos, e os poderosos impõem sua autoridade. Não será assim entre vós; pelo contrário, quem quiser ser grande entre vós, que se torne vosso servidor; e quem quiser ser o primeiro que se torne o vosso escravo. Da mesma forma que este Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate por todos.1

(Mt 20,25-282 – BPa)

1: Os pecados humanos determinam uma dívida do homem para com a justiça divina, a pena de morte exigida pela Lei (cf. 1Cor 15,56; 2Cor 3,7.9; Gl 3,13; Rm 8,3-4 e as notas). A fim de libertá-los dessa servidão do pecado e da morte (Rm 3,24+), Jesus pagará o resgate e satisfará a dívida com o preço do seu sangue (1Cor 6,20; 7,23; Gl 3,13; 4,5 e as notas), isto é, morrendo em lugar dos culposos, como fora predito a respeito do “Servo de Iahweh” (Is 53). (BJ)

2: Cf. Mc 10,42-45.

 

 

“Jesus entrou no Templo e expulsou todos os vendedores e compradores que lá estavam. Virou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes:

– Está escrito: Minha casa será chamada casa de oração. Vós, porém, a convertestes em um covil de ladrões!”

(Mt 21,12-131 – BJ / BPe)

1: Cf. Mc 11,15-17; Lc 19-45-46; Jo 2,14-16.

 

 

“– Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?"

Ele respondeu:

Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.”

(Mt 22,36-401 – BJ)

1: Cf. Mc 12,28-31.

 

 

O juízo final1 – Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra2 serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita, e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar’3. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.’

Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastem-se de mim, malditos. Vão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque eu estava com fome, e vocês não me deram de comer; eu estava com sede, e não me deram de beber; eu era estrangeiro, e vocês não me receberam em casa; eu estava sem roupa, e não me vestiram; eu estava doente e na prisão, e vocês não me foram visitar’. Também estes responderão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou sem roupa, doente ou preso, e não te servimos?’ Então o Rei responderá a esses: ‘Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram’. Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna.4

(Mt 25,31-46 – BPa)

1: Esta é a única cena dos Evangelhos que mostra qual será o conteúdo do juízo final. Os homens vão ser julgados pela fé que tiveram em Jesus. Fé que significa reconhecimento e compromisso com a pessoa concreta de Jesus. Porém, onde está Jesus? Está identificado com os pobres e oprimidos, marginalizados por uma sociedade baseada na riqueza e no poder. Por isso, o julgamento será sobre a realização ou não de uma prática de justiça em favor da libertação dos pobres e oprimidos. Esta é a prática central da fé, desde o início apresentado por Mateus como o cerne de toda a atividade de Jesus: “cumprir toda a justiça” (3,15). É a condição para participar da vida do Reino. (BPa)

2: Todos os homens de todos os tempos. A ressurreição dos mortos não é mencionada, mas deve ser subentendida (cf. 10,15; 11 22-24; 12.41s). (BJ)

3: Os homens são julgados segundo suas obras de misericórdia (descritas de forma bíblica, cf. Is 58,7; Jó 22,6s; Eclo 7.32s etc.), não segundo suas ações excepcionais (cf. 7,22s). (BJ)

4: A expressão "os mais pequeninos dos irmãos" (v. 40) designa todos aqueles que estão em necessidade, pois o termo "irmão" não parece ter aqui o sentido restritivo segundo o qual designaria apenas os missionários cristãos (cf. Henoc 61 ,8; 62,25; 69,27). Esta poderosa cena dramática inclui elementos parabólicos (o pastor, as ovelhas e os bodes), mas não se pode minimizar a importância deste texto transformando-o em simples parábola; também não devemos tomá-lo como uma descrição "cinematográfica" do julgamento. O acento do texto recai sobre o amor ao próximo, valor moral supremo (cf. 22,34-40); contrariamente ao costume do autor, é o Filho que é apresentado como juiz e não Deus Pai. (BJ)

 

 

“Jesus ainda falava, quando chegou Judas, um dos Doze, com uma grande multidão armada de espadas e paus. Iam da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. O traidor tinha combinado com eles uma senha: “Aquele que eu beijar é Jesus. Prendam-no.” Judas logo se aproximou de Jesus, e disse:

– “Salve, Mestre.”

E o beijou.

Jesus lhe disse:

– “Amigo, faça logo o que tem a fazer.”

Então os outros avançaram, lançaram as mãos sobre Jesus, e o prenderam. Nesse momento, um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou da espada, e feriu o empregado do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha. Jesus, porém, lhe disse: “Guarde a espada na bainha. Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão. Ou você pensa que eu não poderia pedir socorro ao meu Pai? Ele me mandaria logo mais de doze legiões de anjos. E, então, como se cumpririam as Escrituras, que dizem que isso deve acontecer?” 1

E nessa hora, Jesus disse às multidões: “Vocês saíram com espadas e paus para me prender, como se eu fosse um bandido. Todos os dias, no Templo, eu me sentava para ensinar, e vocês não me prenderam.” Porém, tudo isso aconteceu para se cumprir o que os profetas escreveram. Então todos os discípulos, abandonando a Jesus, fugiram.”

(Mt 26,47-562 – BPa / BPe)

1: O episódio serve de admoestação para a Igreja em tempo de perseguição. Morrer por Cristo, não matar por Cristo, é seu heroísmo (cf. 5,10-11.39-41). Jesus concentra três argumentos: Primeiro, o provérbio que penetrou como refrão: nele ressoa a lei do talião ou a dialética da violência; que a provoca tornam-se vítima dela. Segundo, o auxílio celeste milagroso. Terceiro, a vontade do Pai. (BPe)

2: Cf. Mc 14,43-52; Lc 22,47-53; Jo 18,3-12.

 

 

“Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado1. Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Ainda assim, alguns duvidaram. Então Jesus se aproximou, e falou: “Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra. Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo.”

(Mt 28,16-20)

1: 28,16-20 Para concluir, Mateus compõe uma cena magistral. No espaço de cinco vv. condensa o substancial da sua cristologia e eclesiologia.

Vão à Galileia, como que voltando ao começo e abandonando Jerusalém, aonde foi só para morrer. Sobe a um monte, em ascensão simbólica, como quando lançou seu manifesto (5-7) ou se transfigurou (17). Os onze daquele momento representam toda a Igreja; por isso não falta quem duvide, como no lago (8,26; 14,30-41). Veem o ressuscitado e hão de ser suas testemunhas.

Jesus toma a palavra, afirmando sua plena autoridade recebida de Deus (aludindo a Dn 7,14; Mt 9,6). Em virtude desta, envia seus discípulos para a missão universal, não mais limitada aos judeus (10.6; 15.24). Não hão de ensinar para serem mestres de muitos discípulos (23,8), mas para "fazer discípulos" de Jesus. Como rito de consagração administrarão o batismo, com a invocação trinitária explícita (compare-se com a fórmula de At 2,38; 8,16; ICor 1,13; Gl 3,27). Como consequência, a vida de acordo com o ensinamento de Jesus.

Inaugura-se o tempo da Igreja, cujo fim não é iminente. É preciso viver e agir nesse tempo com a certeza de que Jesus, não obstante ir-se embora, fica com eles. Emanuel era Deus conosco na história do povo eleito. Agora é Jesus glorificado com sua Igreja para sempre. (BPe)

2: Nessas últimas instruções de Jesus, com a promessa que as acompanha está condensada a missão da Igreja apostólica. Cristo glorificado exerce tanto na terra como no céu (6,10; cf. Jo 17,2, Fl 2,10; Ap 12,10) o poder sem limite (Mt 7,29; 9,6; 21,23 etc) que recebeu de seu Pai (cf. Jo 3,35+). “Portanto” os seus discípulos exercerão esse poder em seu nome pelo batismo e pela formação dos cristãos. Sua missão é universal: depois de ter sido anunciada primeiro ao povo de Israel (10,5s+;15,24), como exigia o plano divino, a salvação doravante devia ser oferecida a todas as nações (8,11; 21,41; 24,14-30s; 25,32; 26,13; cf. At 1,8+; 13,5+; Rm 1,16+). Nessa obra de conversão universal, por mais demorada e laboriosa que seja, o Ressuscitado, estará vivo e ativo com os seus. (BJ)

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