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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Bíblia Sagrada – Livros Sapienciais: Salmos

Editora: Paulus

ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém (BJ) – 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) – 978-85-349-0228-1

Tradução, introdução e notas (BPa): Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin

Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini

Notas (BPe): Luís Alonso Schökel

Opinião: N/A

Páginas: BPe – 262 / BJ – 161 / BPa – 156

Sinopse: Ver aqui

 


“Meu Deus, meu Deus,

por que me abandonaste?

Apesar de meus gritos, minha prece não te alcança!

Meus Deus, eu grito de dia, e não me respondes,

de noite, e nunca tenho descanso.

E tu habitas no santuário, onde Israel te louva!

 

Nossos antepassados confiavam em ti;

confiavam, e tu os salvavas;

gritavam a ti, e ficavam livres,

confiavam em ti, e não se desapontaram.

 

Quanto a mim, eu sou verme1, e não homem,

riso dos homens e desprezo do povo.

Todos os que me veem zombam de mim,

abrem a boca e balançam a cabeça:

“Ele recorreu a Javé... Pois que Javé o salve!

Que o liberte, se é que o ama de fato!”

 

És tu quem me tirou do ventre

e me confiou aos peitos da minha mãe.

Fui entregue a ti desde o nascimento,

desde o ventre materno tu és o meu Deus.

Não fiques longe de mim, que a angústia está perto,

e não há ninguém para me socorrer.

 

Cercam-me touros numerosos,

touros fortes de Basã me rodeiam.

Contra mim escancaram a boca

os leões que dilaceram e rugem.

 

Estou como água derramada,

e meus ossos todos se desconjuntam.

Meu coração está como cera,

derretendo-se dentro de mim.

Minha força secou como argila,

e minha língua colou-se ao maxilar.

Tu me colocas na poeira da morte.

Cães numerosos me rodeiam,

e um bando de malfeitores me envolve,

como para retalhar minhas mãos e meus pés.

Posso contar todos os meus ossos.

As pessoas me observam e me encaram,

entre si repartem minhas vestes,

e sorteiam a minha túnica.2

 

Tu, porém, Javé, não fiques longe!

Força minha, vem socorrer-me depressa!

Salva meu pescoço da espada,

e a minha pessoa, das patas do cão!

Arranca-me da goela do leão,

faze-me triunfar dos chifres do búfalo!

 

Vou contar tua fama aos meus irmãos,

vou louvar-te no meio da assembleia:

“Vocês que temem a Javé, louvem a Javé!

Glorifique-o, descendência toda de Jacó!

Tema-o, descendência toda de Israel!”

Sim, porque ele não desprezou,

não desdenhou a desgraça do pobre,

nem lhe ocultou a sua face:

quando gritou por socorro, ele o escutou.

 

De ti vem o meu louvor na grande assembleia.

Cumprirei meus votos na presença dos que o temem.

Os pobres comerão e ficarão saciados,

e os que buscam o Senhor o louvarão:

“Que o coração de vocês viva para sempre!”

Todos os confins da terra se lembrarão,

e voltarão para Javé.

Todas as famílias das nações

se prostrarão na presença dele.

Pois a realeza pertence a Javé,

é ele quem governa as nações.

Sim, só diante dele

todos os poderosos da terra se prostrarão,

perante ele se curvarão todos os que descem ao pó.

 

Javé me fará viver para ele,

minha descendência o servirá,

falará do Senhor para a geração futura,

contará a justiça dele ao povo que vai nascer:

tudo o que o Senhor realizou!”

(Sl 22 – BPa / BJ / BPe)

1: “Verme”: não pela condição humana (Jó 25,6) ou pela conjuntura política (Is 41,14), mas por sua situação social. “Desprezado”: como o servo de Is 49,7; 52,14; 53,3. (BPe)

2: Tomam posse até da roupa do condenado. Mantos e vestes podiam fazer parte dos despojos de guerra: Jz 5,30; Js 7,21; 2Rs 7,15. (BPe)

 

 

“Eu te exalto, Javé, porque me livraste,

não deixaste que os inimigos se rissem de mim.

Javé, meu Deus, eu gritei para ti,

e tu me curaste.

Javé, tiraste do túmulo a minha vida,

fizeste-me reviver dentre os que baixam à cova.

 

Toquem para Javé, fiéis seus,

celebrem sua memória sagrada.1

Sua ira dura um momento,

e seu favor pela vida inteira.

Pela tarde vem o pranto,

e pela manhã, gritos de alegria.

Quanto a mim, eu dizia tranquilo:

“Nada, jamais, me fará tropeçar!”

Javé, o teu favor

me firmara sobre fortes montanhas

mas escondeste a tua face,

e eu fiquei abalado.

Para ti, Javé, eu gritei,

ao meu Deus eu supliquei:

“O que ganhas com minha morte,

com minha descida à cova?

Acaso te louva o pó,

ou proclama tua fidelidade?

Javé, escuta-me, e tem piedade de mim!

Sê meu socorro, Javé!”

Transformaste o meu luto em dança,

e minha roupa de luto em roupa de festa.

Por isso, o meu ser canta para ti,

e jamais se calará.

Javé, meu Deus,

eu te louvarei para sempre.”2

(Sl 30 BPa / BJ)

1: O agradecimento é feito em público, e a comunidade é convidada a participar. A alegria da cura relativiza a doença e faz experimentar o amor de Deus. A “memória sagrada” relembra a libertação do êxodo. (BPa)

2: O salmista conta para a comunidade a sua experiência. Certamente era uma pessoa de posição que, diante da doença, ficou completamente abalada e acabou descobrindo que o sentido da vida é louvar a Deus, proclamando e vivendo o seu projeto, que é liberdade e vida. (BPa)

 

“Mostra-me o meu fim, Iahweh,

e qual é a medida dos meus dias,

para eu saber quão frágil sou.

 

Vê: um palmo são os dias que me deste,

minha duração é um nada diante de ti;

todo homem que se levanta é apenas um sopro,

apenas uma sombra o homem que caminha,

apenas sopro as riquezas que amontoa,

e ele não sabe quem vai recolhê-las".

E agora, Senhor, o que posso esperar?

Minha esperança está em ti!

Livra-me de minhas transgressões todas,

não me tornes ultraje do insensato!

Eu me calo, não abro a boca,

pois quem age és tu.

Afasta a tua praga de mim,

eu sucumbo ao ataque de tua mão!

Castigando o erro tu educas o homem

e róis os seus tesouros como a traça.

Os homens todos são apenas um sopro!”

(Sl 39,5-12 – BJ)

 

 

“Javé meu Deus, de dia eu te peço auxílio,

e de noite eu grito em tua presença.

Que minha prece chegue a ti,

inclina teu ouvido ao meu clamor.

Porque minha alma está cheia de males,

e minha vida está à beira do túmulo.

Sou visto como quem baixa para a cova,

tornei-me homem sem forças,

despedido1 entre os mortos,

como as vítimas que jazem no sepulcro,

das quais já não te lembras,

porque foram arrancadas de tua mão.

Jogaste-me no fundo da cova,

em meio às trevas do abismo.

Tua cólera pesa sobre mim,

derramas sobre mim tuas ondas todas.

Afastaste de mim meus conhecidos,

e me tornaste repugnante para eles:

Trancado, já não posso sair,

e meus olhos se nublam de pesar.

Eu te invoco o dia todo,

estendendo as mãos para ti:

“Farás maravilhas pelos mortos?

As sombras se levantarão para te louvar?

Falarão do teu amor nas sepulturas,

e da tua fidelidade no reino da morte?

Conhecem tuas maravilhas na treva,

e a tua justiça na terra do esquecimento?”

Quanto a mim, Javé, eu grito a ti,

minha prece chega a ti pela manhã.

Javé, por que me rejeitas

e escondes de mim a tua face?

Fui infeliz e moribundo desde a infância,

sofri teus horrores, estou esgotado.

Teus furores passaram sobre mim,

teus terrores me deixaram consumido.

Eles me cercam como água o dia todo,

e todos juntos me envolvem de uma vez.

Tu afastas de mim meus parentes e amigos,

e as trevas são a minha companhia.”

(Sl 88 – BPa / BPe / BJ)

1: Ou “liberto” (grego); no túmulo, o servo está liberto do seu senhor (cf. Jó 3,19). O mesmo acontece com o pobre afligido: ele não tem mais relações com Deus. (BJ)

 

 

“Senhor, tu foste o nosso refúgio

de geração em geração.

Antes que os montes nascessem

e a terra e o mundo fossem gerados,

desde sempre e para sempre tu és Deus.

Tu reduzes o homem ao pó, dizendo:

“Voltem, filhos de Adão!”

Mil anos são aos teus olhos

como o dia de ontem, que passou,

uma vigília dentro da noite.

Tu os semeias ano por ano,

como erva que se renova:

de manhã ela germina e brota,

de tarde a cortam, e ela seca.

 

Sim, tua ira nos consumiu,

e teu furor nos transtornou.

Colocaste nossas faltas à tua frente,

nossos segredos sob a luz da tua face.

Nossos dias passaram sob a tua cólera,

e como suspiro nossos anos se acabaram.

Setenta anos é o tempo da nossa vida,

oitenta anos, se ela for vigorosa.

E a maior parte deles é fadiga inútil,

pois passam depressa, e nós voamos.

Quem conhece a força da tua ira,

e quem sentiu o peso do teu furor?

Ensina-nos a contar os nossos anos,

para que tenhamos coração sensato!1

Volta-te, Javé! Até quando?

Tem compaixão dos teus servos!

Sacia-nos com o teu amor pela manhã,

e nossa vida será júbilo e alegria.

Alegra-nos, pelos dias em que nos castigaste,

pelos anos em que sofremos desgraças.

Que os teus servos vejam a tua obra,

e os filhos deles o teu esplendor.

Que a bondade do Senhor venha sobre nós

e confirme a obra de nossas mãos.”

(Sl 90 – BPa)

1: Do conhecimento da fragilidade humana provém a sabedoria, que é o temor de Deus (Pr 1,7+). (BJ)

A vida humana torna-se ainda mais curta por causa do pecado e suas consequências: além de breve, ela se transforma em fadiga inútil. O homem é tão frágil que não pode sequer suportar a força e o peso da ira de Deus, que é castigo pelo pecado. O que fazer? O v. mostra que, diante dessa realidade, só resta pedir que Deus nos dê um coração sábio, para vivermos bem o tempo de que dispomos. (BPa)

 


“Bendiga a Javé, ó minha alma,

e todo o meu ser ao seu nome santo!

Bendiga a Javé, ó minha alma,

e não esqueça nenhum dos seus benefícios.

Ele perdoa suas culpas todas,

e cura todos os seus males.

Ele redime tua vida da cova,

e te coroa de amor e compaixão.1

Ele sacia seus anos de bens

e sua juventude se renova, como a da águia.

 

Javé faz justiça

e defende todos os oprimidos.

Revelou seus caminhos a Moisés,

e suas façanhas aos filhos de Israel.

Javé é compaixão e piedade,

lento para a cólera e cheio de amor.2

Ele não vai disputar perpetuamente,

e seu rancor não dura para sempre.

Nunca nos trata conforme os nossos erros,

nem nos devolve segundo as nossas culpas.

Como o céu se ergue por sobre a terra,

seu amor se levanta por aqueles que o temem.

Como o oriente está longe do ocidente,

assim ele afasta de nós as nossas transgressões.

Como um pai é compassivo com seus filhos,

Javé é compassivo com aqueles que o temem:

Porque ele conhece a nossa estrutura,

ele se lembra do pó que somos nós.3

 

Os dias do homem são como a relva,

ele floresce como a flor do campo.

Roça-lhe um vento, e já não existe,4

e ninguém mais reconhece o seu lugar.5

Mas o amor de Javé existe desde sempre,

e para sempre existirá para aqueles que o temem.6

Sua justiça é para os filhos dos filhos,

para os que observam a sua aliança

e se lembram de cumprir as suas ordens.

 

Javé pôs no céu o seu trono,

e sua realeza governa o universo.

Bendigam a Javé, anjos seus,

executores poderosos de suas ordens,

obedientes ao som de sua palavra.

Bendigam a Javé, seus exércitos todos,

ministros que cumprem a sua vontade.

Bendigam a Javé, todas as suas obras,

nos lugares todos onde ele governa.

Bendiga a Javé, ó minha alma!”

(Sl 103 – BPa)

1: A experiência fundamental do amor de Deus vem através do perdão, que liberta do mal e refaz a vida. (BPa)

2: O amor de Deus, porém, se expressa através da justiça que defende os que não têm defesa, realizando uma história nova, a partir deles. Estes vv. mostram a dimensão infinita desse amor, que se compara ao de um pai para com seus filhos. Voltado para o homem, esse amor de Deus se realiza na compaixão, que é sofrer junto com os que participam da condição humana. (BPa)

3: Termos de olaria. Ninguém mais que o oleiro conhece o material empregado e o modelo impresso (Gn 65). Nossa fragilidade de cerâmica é nossa maior vantagem, porque nosso oleiro é nosso pai. Ler o desenvolvimento paralelo de Eclo 18,8-14. (BPe)

4: A essa fragilidade da condição humana contrapõem-se o amor e a justiça de Deus para com seus aliados, que se comprometem com o projeto dele. (BPa)

5: O homem de barro tem vida vegetal, de humilde erva e de beleza efêmera e indefesa. Tem um lugar no solo, no mundo; quando parte não volta, e o lugar costumeiro o espera em vão. (BPe)

6: “Temer a Iahweh” torna-se expressão típica da fidelidade à Aliança. Doravante o temor (Ex 20,20+) comporta por sua vez o amor que responde ao amor de Deus (4,37) e obediência absoluta a tudo o que Deus ordena (6,2-5; 10,12-15; cf. Gn 22,12). O conteúdo religioso e moral desse temor vai se purificando sem cessar (Js 24,14; 1Rs 18,3.12; 2Rs 4,1; Pr 1,7+; Is 11,2; Jr 32,39 etc.). (BJ)

O temor de Javé (Dt 8,6) é o conceito básico de todo o livro do Deuteronômio. Insistindo em não esquecer Javé (Dt 8,11.14.19) e lembrar-se de Javé (Dt 8,18), o texto critica a autossuficiência de quem se esquece que Javé é o Senhor da liberdade e da vida e de que é ele quem concede os dons da vida. Quem se esquece disso, acaba transformando a liberdade em poder que gera a opressão, e os bens da vida em posse que, pela exploração e acumulação, gera a riqueza. Temer a Javé é lembrar-se sempre de que o homem não é Deus e nem pode usurpar o lugar de Deus. É estar sempre consciente de que é Javé quem concede a liberdade e os dons da vida a todos, para uma relação livre na partilha e na fraternidade. Esquecê-lo é perverter a consciência (Dt 8,14), tornando-se autossuficiente e absoluto, isto é, fechado em si mesmo. Isso acaba gerando a soberba e o orgulho, que transformam a relação social em ganância pelo poder e cobiça pela posse. (BPa)

 

 

“Bendiga a Javé, ó minha alma!1

Javé, meu Deus, como és grande!

Vestido de esplendor e majestade,2

envolto em luz como num manto,3

estendendo os céus como tenda,

construindo sobre as águas tuas altas moradas;

Tomando as nuvens como teu carro,

caminhando sobre as asas do vento.

Tu fazes dos ventos os teus mensageiros,

e das chamas de fogo os teus ministros!

 

Assentaste a terra sobre suas bases,

inabalável para sempre e eternamente.

Cobriste a terra com o manto do oceano,

e as águas pousaram por cima das montanhas.

Diante da tua ameaça, porém, elas fugiram,

precipitaram-se, ao fragor do teu trovão.

Subiram pelos montes, desceram pelos vales,

para o lugar que tinhas fixado para elas.

Marcaste um limite que elas não podem transpor,

e não voltarão a cobrir a terra.4

 

Tu fazes brotar fontes de água pelos vales,

e elas correm por entre as montanhas.

Dão de beber a todas as feras do campo,

e os asnos selvagens aí matam a sede.

Junto a elas se abrigam as aves do céu,

desferindo seu canto por entre a folhagem.

De tuas altas moradas regas os montes,

e a terra se sacia com tua obra fecunda.

Tu fazes brotar relva para o rebanho,

e plantas úteis para o homem.

Dos campos ele tira o pão,

e o vinho que alegra seu coração;

o azeite, que dá brilho ao seu rosto,

e o alimento, que lhe dá forças.

As árvores de Javé se saciam,

os cedros do Líbano que ele plantou.

Aí se aninham os pássaros,

no seu topo a cegonha tem sua casa.

As altas montanhas são para as cabras,

e os rochedos um refúgio para as ratazanas.

 

Tu fizeste a lua para marcar os tempos,

o sol conhece o seu próprio ocaso.

Mandas as trevas e vem a noite,

e nela rondam as feras da selva;

rugem os leõezinhos em busca da presa,

pedindo a Deus o sustento.

Ao nascer do sol se retiram

e se entocam nos seus covis.

O homem sai para sua faina,

para seu trabalho até o entardecer.

Como são numerosas as tuas obras, Javé!

A todas fizeste com sabedoria.

A terra está repleta das tuas criaturas.

Eis o vasto mar, com braços imensos,

onde se movem, inumeráveis,

animais pequenos e grandes.

Aí circulam os navios, e o Leviatã,

que formaste para com ele brincares.

 

Todos eles esperam de ti

que a seu tempo lhes atires o alimento:

tu o atiras e eles o recolhem,

abres tua mão, e se saciam de bens.

Escondes tua face e eles se apavoram,

retiras deles a respiração, e expiram,

voltando a ser pó.

Envias o teu sopro e eles são criados,

e assim renovas a face da terra.5

 

Que a glória de Javé seja para sempre;

que ele se alegre com suas obras!

Ele olha a terra e ela estremece,

toca as montanhas e elas fumegam.

Vou cantar para Javé enquanto eu viver,

louvarei o meu Deus enquanto existir.

Que o meu poema lhe seja agradável,

e eu me alegrarei com Javé.

 

Que os pecadores desapareçam da terra,

e os injustos nunca mais existam.

Bendiga a Javé, ó minha alma! Aleluia!”

(Sl 104 – BPa / BPe)

1: Hino de louvor, cantando a grandeza de Deus, testemunhada no ciclo da natureza. É uma cópia adaptada do hino egípcio ao deus Sol. (BPa)

2: O Deus criador de Gn está fora da sua criação; o desse salmo está presente nela como soberano. Apresenta-se com vestes régias e construiu para si um palácio nas alturas. Quando sai para percorrer seus domínios, tem uma carruagem de nuvens ou de cavalgaduras aladas de ventos. Envia seus servidores com mensagens e tarefas. Alicerça solidamente a terra. E se uma de suas criaturas, lá embaixo, se rebela ou tenta assaltar outra (o oceano contra a terra), a reprime com um sopro, impõe sua ordem distribuindo regiões e traçando fronteiras. Não há outros deuses em sua corte; não há batalha dramática. (BPe)

3: Como em Gn 1, a primeira criatura mencionada é a luz; mas como é diferente a função! Aqui é um manto que revela a majestade. (BPe)

4: Os hebreus eram fascinados pela misteriosa, branda e segura fronteira entre terra e mar, e os poetas expressaram espanto de formas diversas; um bom exemplo é Jó 38,10s. (BPe)

5: O mistério da vida é visto como o mistério da respiração: sopro de Deus que cria, vivifica e renova. (BPa)

 

 

“Iahweh, tu me sondas e conheces:

conheces meu sentar e meu levantar,

de longe penetras o meu pensamento;

examinas meu andar e meu deitar,

meus caminhos todos são familiares a ti.

 

A palavra ainda não me chegou à língua,

e tu, Iahweh, já a conheces inteira.

Tu me envolves por trás e pela frente,

e sobre mim colocas a tua mão.

É um saber maravilhoso, e me ultrapassa,

é alto demais: não posso atingi-lo!1

 

Para onde irei, longe do teu sopro?

Para onde fugirei, longe da tua presença?

Se subo aos céus, tu lá estás;

Se me deito no Xeol, aí te encontro.2

 

Se tomo as asas da alvorada

para habitar nos limites do mar,

mesmo lá é tua mão que me conduz,

e tua mão direita me sustenta.

 

Se eu digo: “Ao menos as trevas me cubram,

e a luz se transforme em noite ao meu redor”,

mesmo as trevas não são trevas para ti,

tanto a noite como o dia iluminam.

 

Sim! Pois tu formaste os meus rins,3

tu me teceste no seio materno.

Eu te celebro por tanto prodígio,

e me maravilho com as tuas maravilhas!

 

Conhecias até o fundo de minha alma:

meus ossos não te foram escondidos

quando eu era modelado, em segredo,

tecido na terra mais profunda.

 

Teus olhos viam o meu embrião.

No teu livro estão todos inscritos

os meus dias que já estavam calculados

antes mesmo que chegasse o primeiro.

 

Mas a mim, como são difíceis teus projetos!

Meu Deus , como é grande a soma deles!

Se os conto... são mais numerosos que areia!

E, ao despertar, ainda estou contigo!4

 

Ah! Deus, se matasses o ímpio...

Se os assassinos se apartassem de mim!

Eles falam de ti com ironia,

e em vão se rebelam contra ti!

 

Não odiaria os que te odeiam, Iahweh?

Não detestaria os que se revoltam contra ti?

Eu os odeio com ódio implacável!

Eu os tenho como meus inimigos!

 

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração!

Prova-me, e conhece minhas preocupações!

Vê se não ando por um caminho fatal

e conduze-me pelo caminho eterno.”

(Sl 139 – BJ / BPa)

1: Examinado por Deus, o salmista descobre que Deus o conhece melhor do que ele próprio. (BPa)

2: Céu e Abismo são dois lugares extremos, nos quais se acha a pura presença invariável de Deus: Am 9,2s. Imagina o Xeol como imenso dormitório onde o homem estende seu leito: Jó 17,13; 21,26. A presença do Senhor no Xeol contradiz as crenças da Mesopotâmia e algumas concepções bíblicas que declaram Yhwh estranho ao mundo dos mortos: ver Eclo 16,18s. (BPe)

Sobre Xeol – cf. também nota 1Sm 22,1-18 em Livros Históricos.

3: “Rins”: sede de paixões, com frequência unidos a coração. (BPe)

4: É o centro do salmo: Deus conhece e está presente ao homem mais do que este a si próprio. Afinal, Deus é o mistério que está na fonte e no fundo de toda a vida; ele forma, não só o corpo, mas também o interior e até a história pessoal, que ultrapassa a compreensão do próprio homem. E nessa meditação, o acusado adormece, chega a manhã e ele é absolvido. (BPa)

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