Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-7164-451-9
Opinião: ★★★★★
Páginas: 476
Sinopse: Ver Parte
I
“É preciso viver num engenho, numa fazenda,
num seringal, para sentir a profundidade da distância com que um patrão ou seu
capataz trata os serviçais, no seu descaso pelo destino destes, como pessoas,
sua insciência de que possam ter aspirações, seu desconhecimento de que
estejam, eles também, investidos de uma dignidade humana.
A suscetibilidade patronal a qualquer gesto
que possa ser tido como longinquamente desrespeitoso por parte de um empregado
contrasta claramente com o tratamento boçal com que trata este. Exemplificativo
disso é a diferença de critérios de um policial ou de um juiz quando se vê
diante de ofensas ou danos feitos a um membro da classe senhorial ou a um
popular.
Isso e mil síndromes mais – sobreviventes
principalmente nas zonas rurais, mas também presentes nas cidades – indicam
como foi profundo o processo de degradação do caráter do homem brasileiro da
classe dominante. Ele está enfermo de desigualdade. Enquanto o escravo e o
ex-escravo estão condenados à dignidade de lutadores pela liberdade, os
senhores e seus descendentes estão condenados, ao contrário, ao opróbio de
lutadores pela manutenção da desigualdade e da opressão.
A classe dominante bifurcou sua conduta em
dois estilos contrapostos. Um, presidido pela mais viva cordialidade nas
relações com seus pares; outro, remarcado pelo descaso no trato com os que lhe
são socialmente inferiores. Assim é que na mesma pessoa se pode observar a
representação de dois papéis, conforme encarne a etiqueta prescrita do
anfitrião hospitaleiro, gentil e generoso diante de um visitante, ou o papel
senhorial, em face de um subordinado. Ambos vividos com uma espontaneidade que
só se explica pela conformação bipartida da personalidade.
A essa corrupção senhorial corresponde uma
deterioração da dignidade pessoal das camadas mais humildes, condicionadas a um
tratamento gritantemente assimétrico, predispostas a assumir atitudes de
subserviência, compelidas a se deixarem explorar até a exaustão. São mais
castas que classes, pela imutabilidade de sua condição social.”
“A sociedade resultante tem incompatibilidades
insanáveis.
Dentre elas, a incapacidade de assegurar um
padrão de vida, mesmo modestamente satisfatório, para a maioria da população
nacional; a inaptidão para criar uma cidadania livre e, em consequência, a
inviabilidade de instituir-se uma vida democrática. Nessas condições, a eleição
é uma grande farsa em que massas de eleitores vendem seus votos àqueles que
seriam seus adversários naturais. Por tudo isso é que ela se caracteriza como
uma ordenação oligárquica que só se pode manter artificiosa ou repressivamente
pela compressão das forças majoritárias às quais condena ao atraso e à
pobreza.”
“O negro, condicionado culturalmente a poupar
sua força de trabalho para não ser levado à morte pelo chicote do capataz,
contrastava vivamente como força de trabalho com o colono vindo da Europa, já
adaptado ao regime salarial e predisposto a esforçar-se ao máximo para
conquistar, ele próprio, um palmo de terra em que pudesse prosperar, livre da
exploração dos fazendeiros.
O negro, sentindo-se aliviado da brutalidade
que o mantinha trabalhando no eito, sob a mais dura repressão – inclusive as
punições preventivas, que não castigavam culpas ou preguiças, mas só visavam
dissuadir o negro de fugir –, só queria a liberdade. Em consequência, os
ex-escravos abandonam as fazendas em que labutavam, ganham as estradas à
procura de terrenos baldios em que pudessem acampar, para viverem livres como
se estivessem nos quilombos, plantando milho e mandioca para comer. Caíram,
então, em tal condição de miserabilidade que a população negra reduziu-se
substancialmente. Menos pela supressão da importação anual de novas massas de
escravos para repor o estoque, porque essas já vinham diminuindo há décadas.
Muito mais pela terrível miséria a que foram atirados. Não podiam estar em lugar
algum, porque cada vez que acampavam, os fazendeiros vizinhos se organizavam e
convocavam forças policiais para expulsá-los, uma vez que toda a terra estava
possuída e, saindo de uma fazenda, se caía fatalmente em outra. As atuais
classes dominantes brasileiras, feitas de filhos e netos dos antigos senhores
de escravos, guardam, diante do negro a mesma atitude de desprezo vil. Para
seus pais, o negro escravo, o forro, bem como o mulato, eram mera força
energética, como um saco de carvão, que desgastado era substituído facilmente
por outro que se comprava. Para seus descendentes, o negro livre, o mulato e o
branco pobre são também o que há de mais reles, pela preguiça, pela ignorância,
pela criminalidade inatas e inelutáveis. Todos eles são tidos consensualmente
como culpados de suas próprias desgraças, explicadas como características da
raça e não como resultado da escravidão e da opressão. Essa visão deformada é
assimilada também pelos mulatos e até pelos negros que conseguem ascender
socialmente, os quais se somam ao contingente branco para discriminar o
negro-massa.
A nação brasileira, comandada por gente dessa
mentalidade, nunca fez nada pela massa negra que a construíra. Negou-lhe a
posse de qualquer pedaço de terra para viver e cultivar, de escolas em que
pudesse educar seus filhos, e de qualquer ordem de assistência. Só lhes deu,
sobejamente, discriminação e repressão.”
“Assim é que, embora embarcados num projeto
alheio, nos viabilizamos ao nos afirmar contra aquele projeto oficial e ao nos
opor aos desígnios do colonizador e de seus sucessores. Pela vontade deles, os
índios, os negros e todos nós, mestiços deles, recrutados pela empresa
colonial, prosseguiríamos na função que nos foi prescrita de proletariado de
ultramar, destinado a produzir mercadoria exportável, sem jamais chegar a ser
gente com destino próprio. Às vezes penso que continuamos cumprindo esse
desígnio mesmo sem os portugueses, debaixo do guante da velha classe dominante
de descendentes dos senhores de escravos que se seguiu a eles no exercício do
poder e das novas elites cujo setor predominante é, hoje, o corpo gerencial das
multinacionais. Os mesmos tecnocratas ainda meninos mas já aconselhando
governos se afundam ainda mais no espontaneísmo do mercado e na
irresponsabilidade social do neoliberalismo.”
“Velhas questões institucionais, não tendo
sido resolvidas nem superadas, continuam sendo os principais fatores de atraso
e, ao mesmo tempo, os principais motores de uma revolução social. Com efeito, a
grande herança histórica brasileira é a façanha de sua própria constituição
como um povo étnica, nacional e culturalmente unificado. É, também, o malogro
dos nossos esforços de nos estruturarmos solidariamente, no plano
socioeconômico, como um povo que exista para si mesmo. Na raiz desse fracasso
das maiorias está o êxito das minorias, que ainda estão aí, mandantes. Em seus
desígnios de resguardar velhos privilégios por meio da perpetuação do monopólio
da terra, do primado do lucro sobre as necessidades e da imposição de formas
arcaicas e renovadas de contingenciamento da população ao papel de força de
trabalho superexplorada.
Como não há nenhuma garantia confiável de que
a história venha a favorecer, amanhã, espontaneamente, os oprimidos; e há, ao
contrário, legítimo temor de que, também no futuro, essas minorias dirigentes
conformem e deformem o Brasil segundo seus interesses; torna-se tanto mais
imperativa a tarefa de alcançar o máximo de lucidez para intervir eficazmente
na história a fim de reverter sua tendência secular. Esse é nosso propósito.”
“A resistência no Brasil às forças inovadoras
da Revolução Industrial e a causa fundamental de sua lentidão não se encontram,
portanto, no povo ou no caráter arcaico de sua cultura, mas na resistência das
classes dominantes. Particularmente nos seus interesses e privilégios, fundados
numa ordenação estrutural arcaica e num modo infeliz de articulação com a
economia mundial, que atuam como um fator de atraso, mas são defendidos com
todas as suas forças contra qualquer mudança. Esse é o caso da propriedade
fundiária, incompatível com a participação autônoma das massas rurais nas
formas modernas de vida e incapaz de ampliar as oportunidades de trabalho
adequadamente remuneradas oferecidas à população. É também o caso da
industrialização recolonizadora, promovida por corporações internacionais
atuando diretamente ou em associação com capitais nacionais. Embora modernize a
produção e permita a substituição das importações, apenas admite a formação de
um empresariado gerencial, sem compromissos outros que não seja o lucro a
remeter a seus patrões. Estes se fazem pagar preços extorsivos, onerando o
produto do trabalho nacional com enormes contas de lucros e regalias. Seu
efeito mais danoso é remeter para fora o excedente econômico que produzem, em
lugar de aplicá-lo aqui. De fato, ele se multiplica é no estrangeiro.
A mais grave dessas continuidades reside na
oposição entre os interesses do patronato empresarial, de ontem e de hoje, e os
interesses do povo brasileiro. Ela se mantém ao longo de séculos pelo domínio
do poder institucional e do controle da máquina do Estado nas mãos da mesma
classe dominante, que faz prevalecer uma ordenação social e legal resistente a
qualquer progresso generalizável a toda a população. Ela é que regeu a economia
colonial, altamente próspera para uma minoria, mas que condenava o povo à
penúria. Ela é que deforma, agora, o próprio processo de industrialização,
impedindo que desempenhe aqui o papel transformador que representou em outras
sociedades.
Ainda é ela que, na defesa de seus interesses
antinacionais e antipopulares, permite a implantação das empresas
multinacionais, através das quais a civilização pós-industrial se põe em marcha
como um mero processo de atualização histórica dos povos fracassados na
história.
Modernizada reflexamente, apesar de jungida
nessa institucionalidade retrógrada, a sociedade brasileira não conforma um
remanescente arcaico da civilização ocidental, cujos agentes lhe deram
nascimento, mas um dos seus “proletariados externos”, conscritos para prover
certas matérias-primas e para produzir lucros exportáveis. Um proletariado
externo atípico com respeito aos protagonistas históricos, assim designados por
A. Toynbee (1959), porque não possui uma cultura original e porque sua própria
classe dirigente é o agente de sua dominação externa.
Ao contrário do que ocorre nas sociedades
autônomas, aqui o povo não existe para si e sim para outros. Ontem, era uma
força de trabalho escrava de uma empresa agromercantil exportadora. Hoje, é uma
oferta de mão-de-obra que aspira a trabalhar e um mercado potencial que aspira
a consumir. Nos dois casos, foi sempre uma empresa próspera, ainda que só o
fosse para minorias privilegiadas. Como tal, manteve o Estado e enriqueceu as
classes dominantes ao longo de séculos, beneficiando também os mercadores
associados ao negócio e a elite de proprietários e burocratas locais. A
mão-de-obra engajada na produção, como trabalhadores livres, apenas pode
sobreviver e procriar, reproduzindo seus modestos modos de existência. Os
trabalhadores conscritos como escravos nem isso alcançavam, porque eram uma
simples fonte energética gasta para manter o sistema global e fazê-lo gerar
prosperidade para outros.”
“O fundamental, porém, é que milagrosamente o
povo, sobretudo o negro-massa, continua tendo erupções de criatividade. Esse é
o caso do culto a Iemanjá, que em poucos anos transformou-se completamente.
Essa entidade negra, que se cultuava a de fevereiro na Bahia e a 8 de março em
São Paulo, foi arrastada pelos negros do Rio de Janeiro para 31 de dezembro.
Com isso aposentamos o velho e ridículo Papai Noel, barbado, comendo frutas
europeias secas, arrastado num carro puxado por veados. Em seu lugar, surge,
depois da Grécia, a primeira santa que fode. A Iemanjá não se vai pedir a cura
do câncer ou da AIDS, pede-se um amante carinhoso e que o marido não bata
tanto.”
“Nenhum povo vive sem uma teoria de si mesmo.
Se não tem uma antropologia que a proveja, improvisa-a e difunde-a no folclore.
A história, na verdade das coisas, se passa
nos quadros locais, como eventos que o povo recorda e a seu modo explica. É aí,
dentro das linhas de crenças coparticipadas, de vontades coletivas abruptamente
eriçadas, que as coisas se dão.”
“As populações sertanejas, desenvolvendo-se
isoladas da costa, dispersas em pequenos núcleos através do deserto humano que
é o mediterrâneo pastoril, conservaram muitos traços arcaicos. A eles
acrescentaram diversas peculiaridades adaptativas ao meio e à função produtiva
que exercem, ou decorrentes dos tipos de sociedade que desenvolveram. Contrastam
flagrantemente em sua postura e em sua mentalidade fatalista e conservadora com
as populações litorâneas, que gozam de intenso convívio social e se mantêm em
comunicação com o mundo. Em muitas ocasiões, esse distanciamento cultural
revelou-se mais profundo que as diferenças habituais entre os citadinos e os
camponeses de todas as sociedades, fazendo explodir as incompreensões
recíprocas em conflitos sangrentos. Na verdade, a sociedade sertaneja do
interior distanciou-se não só espacial mas também social e culturalmente da
gente litorânea, estabelecendo-se uma defasagem que as opõe como se fossem
povos distintos.
O sertanejo arcaico caracteriza-se por sua
religiosidade singela tendente ao messianismo fanático, por seu carrancismo de
hábitos, por seu laconismo e rusticidade, por sua predisposição ao sacrifício e
à violência. E, ainda, pelas qualidades morais características das formações
pastoris do mundo inteiro, como o culto da honra pessoal, o brio e a fidelidade
a suas chefaturas.
Esses traços peculiares ensejaram muitas
vezes o desenvolvimento de formas anômicas de conduta que envolveram enormes
multidões, criando problemas sociais da maior gravidade. Suas duas formas
principais de expressão foram o cangaço e o fanatismo religioso, desencadeados
ambos pelas condições de penúria que suporta o sertanejo, mas conformadas pelas
singularidades do seu mundo cultural.
Até meados da década de 1930, quando se
acelerou a construção de estradas através do mediterrâneo sertanejo, operava,
como forma de revolta típica da região, o cangaço. Foi uma forma de banditismo
típica do sertão pastoril, estruturando-se em bandos de jagunços vestidos como
vaqueiros, bem-armados, que percorreram as estradas do sertão em cavalgadas,
como ondas de violência justiceira. Cada integrante do bando tinha sua própria
justificativa moral para aliciar-se no cangaço. Um, para vingar uma ofensa à
sua honra pessoal ou familiar; outro, para fazer justiça com as próprias mãos,
em razão de agravos sofridos de um potentado local; todos fazendo do banditismo
uma expressão de revolta sertaneja contra as injustiças do mundo. Resultaram,
por vezes, na eclosão de um tipo particular de heroísmo selvagem que conduziu a
extremos de ferocidade.
Tais foram os cangaceiros célebres que, se
por um lado ressarciam aos pobres de sua pobreza com os bens que distribuíam
depois de cada assalto, por outro, matavam, estropiavam, violentavam, em puras
exibições de fúria. É de assinalar que o cangaço surgiu, no enquadramento
social do sertão, fruto do próprio sistema senhorial do latifúndio pastoril,
que incentivava o banditismo, pelo aliciamento de jagunços pelos coronéis como
seus capangas (guarda de corpo) e, também, como seus vingadores.
Frequentemente, os fazendeiros aliciavam grandes bandos, concentrando-os nas fazendas,
quando duas parentelas de coronéis se afrontavam nas frequentes disputas de
terra. Esses capangas, estimados pela lealdade que desenvolviam para com seus
amos, pela coragem pessoal e até pela ferocidade que os tornava capazes de
executar qualquer mandado, destacavam-se da massa sertaneja, recebendo um
tratamento privilegiado de seus senhores. Acresce que cada bando de cangaceiros
tinha seus coronéis coiteiros, que os escondiam e protegiam em suas terras, em
troca da segurança contra o próprio bando, mas também para servirem-se deles
contra inimigos. Nessas condições, são condicionamentos sociais do próprio
sistema que alentaram e incentivaram a violência cangaceira.
Mais relevante, ainda, é o fato de que toda a
população sertaneja, renegando embora os jagunços pelo pavor que lhe infundiam,
tinha neles padrões ideais de honorabilidade e de valor, cantados nos versos
populares, e via, nos seus feitos mais violentos, modelos de justiça realçados
e louvados. Por tudo isso, o cangaço e seus jagunços, sanguinários mas pios e
tementes a Deus e aos santos de sua devoção, temidos mas admirados, condenados
mas também louvados, constituíram um produto típico na sociedade sertaneja.
Outra expressão característica do mundo
sociocultural sertanejo é o fanatismo religioso, que tem muitas raízes comuns
com o cangaço. Ambos são expressões da penúria e do atraso, que, incapaz de
manifestar-se em formas mais altas de consciência e de luta, conduziram massas
desesperadas ao descaminho da violência infrene e do misticismo militante.
(...)
Essas condições dificultam ao extremo a
organização política das populações sertanejas, perdidas no deserto de terras
devolutas ou engolfadas no latifúndio. Elas nascem, vivem e morrem confinadas
em terras alheias, cuidando do gado, de casas, de cercados e de lavouras que
têm donos ciosos. O próprio rancho miserável em que vivem com suas famílias,
construído por eles próprios com barros e palhas do campo, não lhes pertence.
Nada os estimula a melhorá-lo e o proprietário não os autoriza a enriquecê-lo
com o plantio de fruteiras ou com a criação de animais de terreiro, para que
não faça jus à indenização no momento em que devam ser despedidos.
Essa situação contrasta o lavrador e o
vaqueiro sertanejo com o camponês aldeão da Europa feudal que vivia numa
comunidade onde nasceram e morreram seus pais e avós, lavrando sempre a mesma
terra, todos devotados a um esforço continuado para prover sua subsistência,
pagando os foros devidos ao senhorio, mas melhorando sempre as condições de
vida e de trabalho no nicho em que se situavam, para torná-lo cada vez mais
habitável. Por mais anos ou gerações que permaneça numa terra, o sertanejo é
sempre um agregado transitório, sujeito a ser desalojado a qualquer hora, sem
explicações ou direitos. Por isso, sua casa é o rancho em que está apenas
arranchado; sua lavoura é uma roça precária, só capaz de assegurar-lhe um
mínimo vital para não morrer de fome, e sua atitude é a de reserva e
desconfiança, que corresponde a quem vive num mundo alheio, pedindo desculpas
por existir. Quando, apesar de todos os seus cuidados para viver desapercebido,
torna-se objeto de atenção, é para ver desencadearem-se sobre si novas
iniquidades, que só pode enfrentar com a violência, agravando ainda mais suas
desgraças.
Assim, somente o lavrador livre, que trabalha
como arrendatário de terras alheias ou se instala em terrenos baldios ou em
arraiais, alcança condições mínimas de interação social que lhe permitem
desenvolver-se politicamente e assumir uma conduta cidadã. Somente esses manifestam
sua revolta contra o sistema fundiário pleiteando claramente a propriedade da
terra. Exemplificam essa situação os sertanejos das comunidades mais livres do
agreste nordestino que mantêm uma vida social mais intensa e certo convívio com
populações urbanas. Ali se multiplicaram as ligas camponesas de Francisco
Julião, com sede pública; primeiro, para impor aos senhores de terra condições
explícitas e menos espoliativas nos contratos anuais de arrendamento; depois,
para pleitear a própria posse das terras, através de uma reforma agrária.
Esse movimento experimentou uma rápida
expansão, tanto através das ligas, como dos sindicatos rurais – estes
principalmente nas usinas açucareiras, onde se concentram grandes massas de
assalariados agrícolas – organizados por lideranças urbanas de diversas
orientações políticas que incluíam desde sacerdotes católicos até militantes
comunistas. Assentava-se, porém, na precária base de uma conjuntura política
transitória. Quando esta foi derrubada pelo golpe militar, voltou o sertão a
mergulhar no despotismo latifundiário.”
“Ainda na primeira metade do século XVIII, a
descoberta de uma riquíssima região diamantífera promove nova transladação
humana.
Era, porém, aos olhos da Coroa, uma riqueza
demasiado grande para ficar em mãos de brasileiros. Sobre ela foi decretado o
monopólio real. Assim é que os diamantes seriam explorados, primeiro, por
contratantes reais; depois, diretamente por agentes da metrópole. O estanco
(monopólio real), apesar de decretado e imposto através do maior aparelho de
repressão montado no período colonial, não impediu a exploração clandestina de
diamantes. Esta continuou sendo feita, acabando por plasmar um tipo social
característico, o garimpeiro, que ainda hoje conserva traços de independência, reserva
e rebeldia, explicáveis por essa origem clandestina. (...)
A abertura das regiões mineradoras teve
algumas consequências externas de importância capital, além das transladações
de população. Ensejou a transferência da capital colonial da Bahia para o porto
do Rio de Janeiro – que era um arraial paupérrimo, como o velho São Vicente –,
criando as bases para a implantação de grande centro administrativo e comercial
na costa sul, em cujas imediações se desenvolveria um novo núcleo de economia
agrária. Estimulou a expansão do pastoreio nordestino pelos campos
são-franciscanos e do Centro-Oeste, assegurando-lhe um novo mercado consumidor,
no momento em que decaía o nordestino. Finalmente, possibilitou a ocupação da
região sulina, conquistada pelos paulistas com a destruição das missões
jesuíticas –, para o pastoreio de gado vacum, que se dispersara pelos campos,
e, sobretudo, para a criação dos muares que abasteceriam os tropeiros, os quais
faziam todo o transporte terrestre do Brasil colonial.
Desse modo, a mineração, ademais de
representar uma nova atividade de maior rentabilidade econômica que as
anteriores, ensejou a integração na sociedade colonial, assegurando, assim, o
requisito fundamental da unidade nacional brasileira sobre a vastidão do território
já devassado.”
“A abolição, representando embora a simples
devolução do escravo à posse de si mesmo, importava em dois efeitos econômicos
cruciais e nas mais profundas consequências sociais. No plano econômico,
expropria a parcela maior de capital da principal classe proprietária,
arruinando-a, e a compele a uma mais ampla redistribuição da renda com a
remuneração do trabalho através do salário. A ruína financeira dos barões do
café provoca uma abrupta substituição de proprietários dos cafezais com consequências
positivas para o sistema econômico global, dadas as características modernas do
novo empresariado e a vantagem que representaria para ele não ter que investir
recursos na compra de escravos. O segundo efeito teve consequências sociais
mais profundas, pela elevação que propiciaria do nível de vida das populações,
principalmente nos setores em que havia disputa de mão-de-obra, como era o caso
da cafeicultura. Para o escravo, a abolição representou a oportunidade de
exercer opções sobre o seu destino e de reconquistar a dignidade humana e o
auto-respeito de que fora despojado. Essa liberdade seria, porém, limitada pelo
monopólio da terra, que o obrigaria a engajar-se no serviço de algum
proprietário e ater-se ao subconsumo a que sempre estivera submetido.
Com efeito, o negro escravo fora
condicionado, por toda a sua experiência anterior, a lutar contra o seu
desgaste no trabalho, do qual procurou se poupar de todos os modos, como medida
elementar de autopreservação. Fora igualmente habituado a uma dieta
frugalíssima e a posses mínimas, que se reduziam aos trapos que trazia sobre o
corpo. E fora, ainda, reduzido a si mesmo, como indivíduo, pela impossibilidade
de manter vínculos familiares, já que suas mulheres eram também coisas alheias
e seus filhos igualmente propriedade do amo.
Com as motivações elementares decorrentes
desse condicionamento o negro forro inicia sua integração no papel de
trabalhador livre. Sua reação inevitável é reduzir as obrigações de trabalho
disciplinado ao mínimo indispensável para prover suas elementaríssimas
necessidades. Nessas condições, nenhum estímulo representado pela elevação do
ganho o atingirá. O valor fundamental que cultua é o ócio e a recreação. Seu
nível de aspirações fora entorpecido pela inculcação de valores que limitavam
ao extremo o número de coisas desejáveis e apropriadas à condição humana que
ele se atribuía. A construção de outra auto-imagem só seria alcançada nas
gerações seguintes, que, crescendo livres, se fariam progressivamente mais
enérgicas e ambiciosas. Assim, o negro retoma o trabalho no eito como
assalariado livre para exercê-lo com eficácia ainda menor do que a que
alcançara como escravo. E quando se encontra próximo a áreas de terras
desocupadas prefere caipirizar-se, integrando um núcleo de economia de
subsistência, a engajar-se na condição de assalariado rural permanente.
Nessas circunstâncias, ao engrossarem a massa
marginal, esses contingentes negros alforriados se constituem num
subproletariado que, além de mais miserável, se veria segregado da primeira,
predominantemente branca e mestiça, pelo preconceito racial que dificultará a
tomada de consciência de todos eles sobre a exploração de que uns e outros eram
objeto.”
“A introdução do trabalhador europeu nas
fazendas de café foi um processo lento, alcançado pela pertinácia de
cafeicultores empenhados na solução de seu maior problema: a falta de
mão-de-obra, agravada primeiro pela proibição do tráfico e depois pela
abolição. As primeiras tentativas que procuravam sujigar o imigrante a um sistema
renovado da velha parceria provocaram reclamações consulares e escândalos na
imprensa europeia, a que os brasileiros são especialmente sensíveis. Eram
prematuras, porque, apesar das condições de penúria prevalecente na Europa, o
imigrante não aceitava a coexistência com o escravo. Somente após a abolição,
estabeleceu-se uma onda regular e ponderável de provimento de mão-de-obra
europeia, que, em fins do século passado, atingia a 803 mil trabalhadores,
sendo 577 mil provenientes da Itália.
Essa disponibilidade de mão-de-obra europeia
correspondia à marcha do capitalismo-industrial que ia desenraizando dos campos
e lançando às cidades mais gente do que as fábricas podiam ocupar. Cada país
europeu atingido pelo processo exportava milhões de pessoas. Primeiro emigram
das Ilhas Britânicas; depois da França, mais tarde da Alemanha, e da Itália;
por fim da Polônia, da Rússia e de países balcânicos. Dá-se, assim, uma oferta
de trabalhadores europeus mais barata que os escravos africanos e também mais
eficazes por sua adaptação aos novos regimes produtivos.
Seu ingresso no mercado de trabalho
brasileiro além de representar a solução salvadora dos problemas da
cafeicultura teve vários outros efeitos. Entre eles, o de fator dissuasório da
luta silenciosa e incruenta que caipiras e negros forros travavam pela
conquista da condição de granjeiros. O de desvalorizar o trabalhador nacional,
que, em face da disponibilidade dessa força de trabalho mais qualificada, perde
na competição e se vê impedido de galgar aos poucos postos mais bem remunerados
que o sistema criaria. Finalmente, o de orientar para os seringais da Amazônia
o translado de sertanejos nordestinos, porque sua rota natural, que seria a
marcha para o sul, se vê obstruída pela saturação por imigrantes europeus da
busca de braços para a grande lavoura. Outro resultado dessa incorporação
maciça de trabalhadores estrangeiros foi a de retardar a proletarização e
consequente politização como operários fabris dos antigos caipiras e dos
ex-escravos, que só teriam oportunidade de ascender aos setores mais dinâmicos
da economia modernizada depois de esgotada a disponibilidade de mão-de-obra
europeia.
Os colonos eram contratados na Europa
mediante o fornecimento de passagens para a família, a garantia de ajuda de
manutenção no primeiro ano e o recebimento de um trato de terras para suas
lavouras de subsistência. A essas condições foi necessário acrescentar-se, mais
tarde, um salário anual fixo e um ganho variável segundo a produção. Como as
despesas de passagem eram cobertas pelo governo, só as outras condições pesavam
diretamente sobre o fazendeiro. Essas regalias, muito superiores às oferecidas
ao caipira, explicam-se pela capacidade do colono – assistido pelos corpos
consulares e apoiado pela imprensa de seus países – para exigir melhores
condições de trabalho. Efetivamente, é o colonato imigrante que, por esse
sistema, implanta o regime assalariado na vida rural brasileira, aceitando uma
rigorosa disciplina de trabalho mas, em compensação, fazendo-se pagar
efetivamente e pagar mais. Movido por um horizonte mais amplo de aspirações e
contando com um melhor ajustamento ao trabalho assalariado, o imigrante
produzia mais e melhor.
Alguns conseguiam depois de alguns anos,
mercê de sua capacidade de poupança, libertar-se da condição de colono para se
fazerem pequenos empresários. Seus filhos já brasileiros seriam operários dos
centros nacionais industriais nascentes.”
“Além do controle e do comando político que
faziam sair de suas hostes, quase todos os presidentes civis e a maioria dos
ministros, os fazendeiros de café não só mantiveram mas aprimoraram seus velhos
mecanismos de defesa como classe.
O principal deles era, talvez, o controle da
taxa de câmbio – que variava cada vez que caíam os preços internacionais do
café –, para continuar a pagar-lhes a mesma importância em moeda local. A essa
degradação da moeda, seguem-se empréstimos externos, destinados a defendê-la, o
que aumentava continuamente a dívida externa do país, mas permitia transferir
os prejuízos do setor exportador para a vasta camada importadora, constituída
por toda a população, num país sem indústria, que dependia do comércio
internacional para quase tudo.
Mais tarde, esses procedimentos seriam
levados a extremos com a política de “valorização”, que consistia na compra das
safras para estocar com recursos obtidos pelos governos estaduais, mediante
empréstimos no exterior. Quando sobreveio a crise de 1929, novas medidas se
impuseram em face da impossibilidade de obter empréstimos internacionais.
O governo federal foi induzido, então, a
assumir o papel de comprador. Quando os estoques alcançavam quantidades
fabulosas, notoriamente invendáveis, era levado a comprar o café para queimá-lo
a fim de manter os preços internacionais. Os principais efeitos dessa política
– além da socialização dos prejuízos pela transferência para a coletividade das
perdas decorrentes do subsídio à cafeicultura – foram a expansão constante das
plantações e, com elas, da oferta, agravando-se cada vez mais o problema. Outra
consequência foi seu efeito de subvenção indireta à implantação da cafeicultura
em outros países pela manutenção de preços atrativos, com o que o Brasil acabou
por perder sua posição quase monopolística.
Esses mecanismos, conduzindo à retração das
rendas públicas e às emissões para custear a compra das safras e para dar
cobertura aos déficits orçamentários decorrentes, provocaram enorme pressão
inflacionária, mantendo o país em permanente crise financeira, de que só os
exportadores conseguiam safar-se.
A oligarquia cafeeira, como detentora dos
maiores poderes políticos no período imperial e no republicano, é responsável
por algumas das deformações mais profundas da sociedade brasileira. A principal
delas decorre de sua permanente disputa com o Estado pela apropriação da renda
nacional, da sua arraigada discriminação contra os negros escravos ou forros e
contra os núcleos caipiras que lhe resistiam, bem como contra as massas pobres
que cresciam nas cidades. Nessa disputa e nessa discriminação senhorial é que
devem ser procuradas as razões pelas quais o Brasil se atrasou tão
gritantemente em relação aos demais países latino-americanos e a qualquer outro
povo do mesmo nível de desenvolvimento, tanto na abolição da escravatura como
na imposição ao Estado da obrigação de assegurar educação primária à população
e na extensão aos trabalhadores rurais dos direitos de sindicalização e de
greve.
A Independência e a República, que em quase
toda a América deram lugar a um profundo esforço nacional por elevar o nível
cultural da população, capacitando-a para o exercício da cidadania, não
ensejaram um esforço equivalente no Brasil. Esse descaso para com a educação
popular bem como o pouco interesse pelos problemas de bem-estar e de saúde da
população explicam-se pelo senhorialismo fazendeiro e pela sucessão tranquila,
presidida pela mesma classe dirigente, da Colônia à Independência e do Império
à República. Não ensejando uma renovação de liderança, mas simples alternância
no mesmo grupo patricial oligárquico, se perpetua também a velha ordenação
social.
Nessas condições, toda participação
democrática na vida política se reduz aos grupos de pressão oligárquicos em
disputa pelo controle das matérias que afetavam seus interesses.
Nessa república de fazendeiros, os problemas
do bem público, da justiça, do acesso à terra, da educação, dos direitos dos
trabalhadores eram debatidos tal como a democracia, a liberdade e a igualdade.
Isto é, como meros temas de retórica parlamentar. A máquina só funcionava
substancialmente para mais consolidar o poder e a riqueza dos ricos. Como o
resultado social dessa política era um atraso vexatório com respeito aos
Estados Unidos, por exemplo, se desenvolve nas classes dominantes uma atitude
de franco descontentamento para com o próprio povo, cuja condição mestiça ou
negra explicaria o atraso nacional.
Em consequência, aos motivos econômicos se
somam incentivos ideológicos para a realização de enormes investimentos
públicos a fim de atrair ao país colonizadores brancos, na qualidade de
reprodutores destinados a “melhorar a raça”. E não se queriam lusitanos porque
também contra seus avós portugueses se rebelava a alienação oligárquica,
convencida de sua própria inferioridade racial e que explicava seus êxitos
pessoais como exceções.”
“Outros intérpretes de nossas características
nacionais veem os mais variados defeitos e qualidades aos quais atribuem valor
causal. Um exemplo nos basta. Para Sérgio Buarque de Holanda seriam
características nossas, herdadas dos iberos, a sobranceria hispânica, o
desleixo e a plasticidade lusitanas, bem como o espírito aventureiro e o apreço
à lealdade de uns e outros e, ainda, seu gosto maior pelo ócio do que pelo
negócio. Da mistura de todos esses ingredientes, resultaria certa frouxidão e
anarquismo, a falta de coesão, a desordem, a indisciplina e a indolência. Mas
derivariam delas, também, certo pendor para o mandonismo, para o autoritarismo
e para a tirania.
Como quase tudo isso são defeitos, devemos
convir que somos um caso feio, tamanhas seriam as carências de que padecemos.
Seria assim? Temo muito que não. Muito pior para nós teria sido, talvez, e
Sérgio o reconhece, o contrário de nossos defeitos, tais como, o servilismo, a
humildade, a rigidez, o espírito de ordem, o sentido de dever, o gosto pela
rotina, a gravidade, a sisudez. Elas bem poderiam nos ser ainda mais nefastas
porque nos teriam tirado a criatividade do aventureiro, a adaptabilidade de
quem não é rígido, mas flexível; a vitalidade de quem enfrenta, ousado, azares
e fortunas, a originalidade dos indisciplinados.
Fala-se muito, também, da preguiça
brasileira, atribuída tanto ao índio indolente, como ao negro fujão e até às
classes dominantes viciosas. Tudo isto é duvidoso demais frente ao fato do que
aqui se fez. E se fez muito, como a construção de toda uma civilização urbana
nos séculos de vida colonial, incomparavelmente mais pujante e mais brilhante
do que aquilo que se verificou na América do Norte, por exemplo.
A questão que se põe é entender por que eles,
tão pobres e atrasados, rezando em suas igrejas de tábua, sem destaque em
qualquer área de criatividade cultural, ascenderam plenamente à civilização
industrial, enquanto nós mergulhávamos no atraso.
As causas desse descompasso devem ser
buscadas em outras áreas. O ruim aqui, e efetivo fator causal do atraso, é o modo
de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde
sempre sangrada para servir a desígnios alheios e opostos aos seus. Não há,
nunca houve, aqui um povo livre, regendo seu destino na busca de sua própria
prosperidade.
O que houve e o que há é uma massa de
trabalhadores explorada, humilhada e ofendida por uma minoria dominante,
espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto de
prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma da ordem social
vigente.”
“É de assinalar que, apesar de feitos pela
fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um dos povos
mais homogêneos linguística e culturalmente e também um dos mais integrados
socialmente da Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos. Não abrigam nenhum
contingente reivindicativo de autonomia, nem se apegam a nenhum passado.
Estamos abertos é para o futuro.
Nações há no Novo Mundo – Estados Unidos,
Canadá, Austrália – que são meros transplantes da Europa para amplos espaços de
além-mar. Não apresentam novidade alguma neste mundo. São excedentes que não
cabiam mais no Velho Mundo e aqui vieram repetir a Europa, reconstituindo suas
paisagens natais para viverem com mais folga e liberdade, sentindo-se em casa.
É certo que às vezes se fazem criativos, reinventando a república e a eleição
grega. Raramente. São, a rigor, o oposto de nós.
Nosso destino é nos unificarmos com todos os
latino-americanos por nossa oposição comum ao mesmo antagonista, que é a
América anglo-saxônica, para fundarmos, tal como ocorre na comunidade europeia,
a Nação Latino-Americana sonhada por Bolívar. Hoje, somos 500 milhões, amanhã
seremos 1 bilhão. Vale dizer, um contingente humano com magnitude suficiente
para encarnar a latinidade em face dos blocos chineses, eslavos, árabes e
neobritânicos na humanidade futura.
Somos povos novos ainda na luta para nos
fazermos a nós mesmos como um gênero humano novo que nunca existiu antes.
Tarefa muito mais difícil e penosa, mas também muito mais bela e desafiante.
Na verdade das coisas, o que somos é a nova
Roma. Uma Roma tardia e tropical. O Brasil é já a maior das nações neolatinas,
pela magnitude populacional, e começa a sê-lo também por sua criatividade
artística e cultural.
Precisa agora sê-lo no domínio da tecnologia
da futura civilização, para se fazer uma potência econômica, de progresso
autossustentado. Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma
nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre,
porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais
generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e
porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra.”
Não pude citar tudo que gostaria (ou, mais bem dizendo, tudo que necessitaria), por questões de espaço. Em “O Povo Brasileiro” tive a mesma dificuldade de outras obras (“A Era dos Extremos” de Eric J. Hobsbawm e “João Goulart: uma biografia”, de Jorge Ferreira), em que havia tanto a citar que descaracterizaria uma postagem de um blog. Porém, diferentemente do que fiz nestes outros dois casos, resolvi cortar na carne e deixar pra trás trechos talvez tão importantes quanto os que acabaram sendo citados nas postagens. De toda forma, ao menos algumas partes deles puderam vir pra cá: eram demasiado preciosos para que ficassem escondidos.
ResponderExcluirDentre outros, cito, por exemplo, o fenomenal capítulo “Razões desencontradas” que acabou não sendo incluído aqui.
De qualquer modo, fica a indicação (ou demanda, ou súplica): a leitura deste livro é essencial. Em sua integralidade.