Editora: Global
ISBN: 978-85-2600-869-4
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Opinião: ★★★★★
Páginas: 736
Sinopse: Em 1933,
após exaustiva pesquisa, Gilberto Freyre publica Casa-grande & senzala, livro
que revoluciona os estudos no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela
qualidade literária.
Passados 80 anos, continua sendo um clássico da nossa literatura,
mostrando, com beleza e vigor, a formação do povo brasileiro pela mistura de raças
e culturas.
“No Brasil, as relações entre os brancos e as
raças de cor foram desde a primeira metade do século XVI condicionadas, de um lado
pelo sistema de produção econômica – a monocultura latifundiária; do outro, pela
escassez de mulheres brancas, entre os conquistadores. O açúcar não só abafou as
indústrias democráticas de pau-brasil e de peles, como esterilizou a terra, em uma
grande extensão em volta aos engenhos de cana, para os esforços de policultura e
de pecuária. E exigiu uma enorme massa de escravos. A criação de gado, com possibilidade
de vida democrática, deslocou-se para os sertões. Na zona agrária desenvolveu-se,
com a monocultura absorvente, uma sociedade semifeudal – uma minoria de brancos
e brancarões dominando patriarcais, polígamos, do alto das casas-grandes de pedra
e cal, não só os escravos criados aos magotes nas senzalas como os lavradores de
partido, os agregados, moradores de casas de taipa e de palhas vassalos das casas-grandes
em todo o rigor da expressão.
Vencedores no sentido militar e técnico sobre
as populações indígenas; dominadores absolutos dos negros importados da África para
o duro trabalho da bagaceira, os europeus e seus descendentes tiveram, entretanto,
de transigir com índios e africanos quanto às relações genéticas e sociais. A escassez
de mulheres brancas criou zonas de confraternização entre vencedores e vencidos,
entre senhores e escravos. Sem deixarem de ser relações – as dos brancos com as
mulheres de cor – de “superiores” com “inferiores” e, no maior número de casos,
de senhores desabusados e sádicos com escravas passivas, adoçaram-se, entretanto,
com a necessidade experimentada por muitos colonos de constituírem família dentro
dessas circunstâncias e sobre essa base. A miscigenação que largamente se praticou
aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria conservado enorme entre
a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O que a monocultura
latifundiária e escravocrata realizou no sentido de aristocratização, extremando
a sociedade brasileira em senhores e escravos, com uma rala e insignificante lambujem
de gente livre sanduichada entre os extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado
pelos efeitos sociais da miscigenação. A índia e a negra-mina a princípio, depois
a mulata, a cabrocha, a quadrarona, a oitavona, tornando-se caseiras, concubinas
e até esposas legítimas dos senhores brancos, agiram poderosamente no sentido de
democratização social no Brasil. Entre os filhos mestiços, legítimos e mesmo ilegítimos,
havidos delas pelos senhores brancos, subdividiu-se parte considerável das grandes
propriedades, quebrando-se assim a força das sesmarias feudais e dos latifúndios
do tamanho de reinos.”
“A casa-grande, completada pela senzala, representa
todo um sistema econômico, social, político: de produção (a monocultura latifundiária):
de trabalho (a escravidão): de transporte (o carro de boi, o banguê, a rede, o cavalo):
de religião (o catolicismo de família, com capelão subordinado ao paterfamílias,
culto dos mortos, etc): de vida sexual e de família (o patriarcalismo polígamo);
de higiene do corpo e da casa (o “tigre”, a touceira de bananeira, o banho de rio,
o banho de gamela, o banho de assento, o lava-pés); de política (o compadrismo).
Foi ainda fortaleza, banco, cemitério, hospedaria, escola, santa casa de misericórdia
amparando os velhos e as viúvas, recolhendo órfãos.”
“A casa-grande venceu no Brasil a Igreja, nos
impulsos que esta a princípio manifestou para ser a dona da terra. Vencido o jesuíta,
o senhor de engenho ficou dominando a colônia quase sozinho. O verdadeiro dono do
Brasil. Mais do que os vice-reis e os bispos.
A força concentrou-se nas mãos dos senhores rurais.
Donos das terras. Donos dos homens. Donos das mulheres. Suas casas representam esse
imenso poderio feudal. “Feias e fortes”. Paredes grossas. Alicerces profundos. Óleo
de baleia. Refere uma tradição nortista que um senhor de engenho mais ansioso de
perpetuidade não se conteve: mandou matar dois escravos e enterrá-los nos alicerces
da casa. O suor e às vezes o sangue dos negros foi o óleo que mais do que o de baleia
ajudou a dar aos alicerces das casas-grandes sua consistência quase de fortaleza.”
“Por segurança e precaução contra os corsários,
contra os excessos demagógicos, contra as tendências comunistas dos indígenas e
dos africanos, os grandes proprietários, nos seus zelos exagerados de privativismo,
enterraram dentro de casa as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queridos.
Os dois fortes motivos das casas-grandes acabarem sempre mal-assombradas com cadeiras
de balanço se balançando sozinhas sobre tijolos soltos que de manhã ninguém encontra:
com barulho de pratos e copos batendo de noite nos aparadores: com almas de senhores
de engenho aparecendo aos parentes ou mesmo estranhos pedindo padres-nossos, ave-marias,
gemendo lamentações, indicando lugares com botijas de dinheiro. Às vezes dinheiro
dos outros de que os senhores ilicitamente se haviam apoderado. Dinheiro que compadres,
viúvas e até escravos lhes tinham entregue para guardar. Sucedeu muita dessa gente
ficar sem os seus valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à morte súbita
do depositário. Houve senhores sem escrúpulos que, aceitando valores para guardar,
fingiram-se depois de estranhos e desentendidos: “Você está maluco? Deu-me lá alguma
cousa para guardar?” Muito dinheiro enterrado sumiu misteriosamente. Joaquim Nabuco,
criado por sua madrinha na casa-grande de Massangana, morreu sem saber que destino
tomara a ourama para ele reunida pela boa senhora; e provavelmente enterrada em
algum desvão de parede. Já ministro em Londres, um padre velho falou-lhe do tesouro
que Da. Ana Rosa juntara para o afilhado querido. Mas nunca se encontrou uma libra
sequer. Em várias casas-grandes da Bahia, de Olinda, de Pernambuco se têm encontrado,
em demolições ou escavações, botijas de dinheiro. Na que foi dos Pires d’Avila ou
Pires de Carvalho, na Bahia, achou-se, em um recanto de parede, “verdadeira fortuna
em moedas de ouro”. Em outras casas-grandes só se têm desencavado do chão ossos
de escravos, justiçados pelos senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro
de casa, à revelia das autoridades. Conta-se que o visconde de Suaçuna, na sua casa-grande
de Pombal, mandou enterrar no jardim mais de um negro supliciado por ordem de sua
justiça patriarcal. Não é de admirar. Eram senhores, os das casas-grandes, que mandavam
matar os próprios filhos. Um desses patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por descobrir
que o filho mantinha relações com a mucama de sua predileção, mandou matá-lo pelo
irmão mais velho. “Como Deus foi servido que eu mandasse matar meu filho”, escreveu
ao padre coadjutor de Canavieira depois de cumprida a ordem terrível.
Também os frades desempenharam funções de banqueiros
nos tempos coloniais. Muito dinheiro se deu para guardar aos frades nos seus conventos
duros e inacessíveis como fortalezas. Daí as lendas, tão comuns no Brasil, de subterrâneos
de convento com dinheiro ainda por desenterrar. Mas foram principalmente as casas-grandes
que se fizeram de bancos na economia colonial; e são quase sempre almas penadas
de senhores de engenho que aparecem pedindo padres-nossos e ave-marias.
Os mal-assombrados das casas-grandes se manifestam
por visagens e ruídos que são quase os mesmos por todo o Brasil. Pouco antes de
desaparecer, estupidamente dinamitada, a casa-grande de Megaípe, tive ocasião de
recolher, entre os moradores dos arredores, histórias de assombrações ligadas ao
velho solar do século XVII. Eram barulhos de louça que se ouviam na sala de jantar;
risos alegres de dança na sala de visita; tilintar de espadas; ruge-ruge de sedas
de mulher; luzes que se acendiam e se apagavam de repente por toda a casa; gemidos;
rumor de correntes se arrastando; choro de menino; fantasmas do tipo cresce-míngua.
Assombrações semelhantes me informaram no Rio de Janeiro e em São Paulo povoar os
restos de casas-grandes do vale do Paraíba. E no Recife, da capela da casa-grande
que foi de Bento José da Costa, assegura-me um antigo morador do sítio que toda
noite, à meia-noite, costuma sair montada em um burro, como Nossa Senhora, uma moça
muito bonita, vestida de branco. Talvez a filha do velho Bento, que ele por muito
tempo não quis que casasse com Domingos José Martins, fugindo à tirania patriarcal.
Porque os mal-assombrados costumam reproduzir as alegrias, os sofrimentos, os gestos
mais característicos da vida nas casas-grandes.
Em contraste com o nomadismo aventureiro dos bandeirantes
– em sua maioria mestiços de brancos com índios – os senhores das casas-grandes
representaram na formação brasileira a tendência mais caracteristicamente portuguesa,
isto é, pé-de-boi, no sentido de estabilidade patriarcal. Estabilidade apoiada no
açúcar (engenho) e no negro (senzala). Não que estejamos a sugerir uma interpretação
étnica da formação brasileira ao lado da econômica. Apenas acrescentando a um sentido
puramente material, marxista, dos fatos, ou antes, das tendências, um sentido psicológico.
Ou psicofisiológico. Os estudos de Cannon, por um lado, e, por outro, os de Keith
parecem indicar que atuam sobre as sociedades, como sobre os indivíduos, independente
de pressão econômica, forças psicofisiológicas, suscetíveis, ao que se supõe, de
controle pelas futuras elites científicas – dor, medo, raiva – ao lado das emoções
de fome, sede, sexo. Forças de uma grande intensidade de repercussão. Assim, o islamismo,
no seu furor imperialista, nas formidáveis realizações, na sua exaltação mística
dos prazeres sensuais, terá sido não só a expressão de motivos econômicos, como
de forças psicológicas que se desenvolveram de modo especial entre populações do
norte da África. Do mesmo modo, o movimento das bandeiras – em que emoções generalizadas
de medo e raiva se teriam afirmado em reações de superior combatividade. O português
mais puro, que se fixou em senhor de engenho, apoiado antes no negro do que no índio,
representa talvez, na sua tendência para a estabilidade, uma especialização psicológica
em contraste com a do índio e a do mestiço de índio com português para a mobilidade.
Isto sem deixarmos de reconhecer o fato de que em Pernambuco e no Recôncavo a terra
se apresentou excepcionalmente favorável para a cultura intensa do açúcar e para
a estabilidade agrária e patriarcal.
A verdade é que em torno dos senhores de engenho
criou-se o tipo de civilização mais estável na América hispânica; e esse tipo de
civilização, ilustra-o a arquitetura gorda, horizontal, das casas-grandes. Cozinhas
enormes; vastas salas de jantar; numerosos quartos para filhos e hóspedes; capela;
puxadas para acomodação dos filhos casados; camarinhas no centro para a reclusão
quase monástica das moças solteiras; gineceu; copiar; senzala. O estilo das casas-grandes
– estilo no sentido spengleriano – pode ter sido de empréstimo; sua arquitetura,
porém, foi honesta e autêntica. Brasileirinha da Silva. Teve alma. Foi expressão
sincera das necessidades, dos interesses, do largo ritmo de vida patriarcal que
os proventos do açúcar e o trabalho eficiente dos negros tornaram possível.”
“A história social da casa-grande é a história
íntima de quase todo brasileiro: da sua vida doméstica, conjugal, sob o patriarcalismo
escravocrata e polígamo; da sua vida de menino; do seu cristianismo reduzido à religião
de família e influenciado pelas crendices da senzala. (...)
Nas casas-grandes foi até hoje onde melhor se
exprimiu o caráter brasileiro; a nossa continuidade social. No estudo da sua história
íntima despreza-se tudo o que a história política e militar nos oferece de empolgante
por uma quase rotina de vida: mas dentro dessa rotina é que melhor se sente o caráter
de um povo. Estudando a vida doméstica dos antepassados sentimo-nos aos poucos nos
completar: é outro meio de procurar-se o “tempo perdido”. Outro meio de nos sentirmos
nos outros – nos que viveram antes de nós; e em cuja vida se antecipou a nossa.
E um passado que se estuda tocando em nervos; um passado que emenda com a vida de
cada um; uma aventura de sensibilidade, não apenas um esforço de pesquisa pelos
arquivos.”
“A base da sociedade colonial, a agricultura;
as condições, a estabilidade patriarcal da família, a regularidade do trabalho por
meio da escravidão, a união do português com a mulher índia, incorporada assim à
cultura econômica e social do invasor.
Formou-se na América tropical uma sociedade agrária
na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio
– e mais tarde de negro – na composição. Sociedade que se desenvolveria defendida
menos pela consciência de raça, quase nenhuma no português cosmopolita e plástico,
do que pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de profilaxia social e
política. Menos pela ação oficial do que pelo braço e pela espada do particular.
Mas tudo isso subordinado ao espírito político e de realismo econômico e jurídico
que aqui, como em Portugal, foi desde o primeiro século elemento decisivo de formação
nacional; sendo que entre nós através das grandes famílias proprietárias e autônomas:
senhores de engenho com altar e capelão dentro de casa e índios de arco e flecha
ou negros armados de arcabuzes às suas ordens; donos de terras e de escravos que
dos senados de Câmara falaram sempre grosso aos representantes del-Rei e pela voz
liberal dos filhos padres ou doutores clamaram contra toda espécie de abusos da
metrópole e da própria Madre Igreja.”
“A singular predisposição do português para a
colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu
passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África.
Nem intransigentemente de uma nem de outra, mas das duas. A influência africana
fervendo sob a europeia e dando um acre requei-me à vida sexual, à alimentação,
à religião; o sangue mouro ou negro correndo por uma grande população brancarana
quando não predominando em regiões ainda hoje de gente escura; o ar da África, um
ar quente, oleoso, amolecendo nas instituições e nas formas de cultura as durezas
germânicas; corrompendo a rigidez moral e doutrinária da Igreja medieval; tirando
os ossos ao cristianismo, ao feudalismo, à arquitetura gótica, à disciplina canônica,
ao direito visigótico, ao latim, ao próprio caráter do povo. A Europa reinando,
mas sem governar; governando antes a África.”
“A mobilidade foi um dos segredos da vitória portuguesa;
sem ela não se explicaria ter um Portugal quase sem gente, um pessoalzinho ralo,
insignificante em número – sobejo de quanta epidemia, fome e sobretudo guerra afligiu
a Península na Idade Média – conseguido salpicar virilmente do seu resto de sangue
e de cultura populações tão diversas e a tão grandes distâncias umas das outras:
na Ásia, na África, na América, em numerosas ilhas e arquipélagos. A escassez de
capital-homem, supriram-na os portugueses com extremos de mobilidade e miscibilidade:
dominando espaços enormes e onde quer que pousassem, na África ou na América, emprenhando
mulheres e fazendo filhos, em uma atividade genésica que tanto tinha de violentamente
instintiva da parte do indivíduo quanto de política, de calculada, de estimulada
por evidentes razões econômicas e políticas da parte do Estado.”
“Quanto à miscibilidade, nenhum povo colonizador,
dos modernos, excedeu ou sequer igualou nesse ponto aos portugueses. Foi misturando-se
gostosamente com mulheres de cor logo ao primeiro contato e multiplicando-se em
filhos mestiços que uns milhares apenas de machos atrevidos conseguiram firmar-se
na posse de terras vastíssimas e competir com povos grandes e numerosos na extensão
de domínio colonial e na eficácia de ação colonizadora. A miscibilidade, mais do
que a mobilidade, foi o processo pelo qual os portugueses compensaram-se da deficiência
em massa ou volume humano para a colonização em larga escala e sobre áreas extensíssimas.
Para tal processo preparara-os a íntima convivência, o intercurso social e sexual
com raças de cor, invasora ou vizinhas da Península, uma delas, a de fé maometana,
em condições superiores, técnicas e de cultura intelectual e artística, à dos cristãos
louros.
O longo contato com os sarracenos deixara idealizada
entre os portugueses a figura da moura-encantada, tipo delicioso de mulher morena
e de olhos pretos, envolta em misticismo sexual – sempre de encarnado, sempre penteando
os cabelos ou banhando-se nos rios ou nas águas das fontes mal-assombradas – que
os colonizadores vieram encontrar parecido, quase igual, entre as índias nuas e
de cabelos soltos do Brasil. Que estas tinham também os olhos e os cabelos pretos,
o corpo pardo pintado de vermelho, e, tanto quanto as nereidas mouriscas, eram doidas
por um banho de rio onde se refrescasse sua ardente nudez e por um pente para pentear
o cabelo. Além do que, eram gordas como as mouras. Apenas menos ariscas: por qualquer
bugiganga ou caco de espelho estavam se entregando, de pernas abertas, aos “caraíbas”
gulosos de mulher.”
“O português no Brasil teve de mudar quase radicalmente
o seu sistema de alimentação, cuja base se deslocou, com sensível déficit, do trigo
para a mandioca; e o seu sistema de lavoura, que as condições físicas e químicas
de solo, tanto quanto as de temperatura ou de clima, não permitiram fosse o mesmo
doce trabalho das terras portuguesas. A esse respeito o colonizador inglês dos Estados
Unidos levou sobre o português do Brasil decidida vantagem, ali encontrando condições
de vida física e fontes de nutrição semelhantes às da mãe-pátria. No Brasil verificaram-se
necessariamente no povoador europeu desequilíbrios de morfologia tanto quanto de
eficiência pela falta em que se encontrou de súbito dos mesmos recursos químicos
de alimentação do seu país de origem. A falta desses recursos como a diferença nas
condições meteorológicas e geológicas em que teve de processar-se o trabalho agrícola
realizado pelo negro mas dirigido pelo europeu dá à obra de colonização dos portugueses
um caráter de obra criadora, original, a que não pode aspirar nem a dos ingleses
na América do Norte nem a dos espanhóis na Argentina.
Embora mais aproximado o português que qualquer
colonizador europeu da América do clima e das condições tropicais, foi, ainda assim,
uma rude mudança a que ele sofreu transportando-se ao Brasil. Dentro das novas circunstâncias
de vida física, comprometeu-se a sua vida econômica e social.
Tudo era aqui desequilíbrio. Grandes excessos
e grandes deficiências, as da nova terra. O solo, excetuadas as manchas de terra
preta ou roxa, de excepcional fertilidade, estava longe de ser o bom de se plantar
nele tudo o que se quisesse, do entusiasmo do primeiro cronista. Em grande parte
rebelde à disciplina agrícola. Áspero, intratável, impermeável. Os rios, outros
inimigos da regularidade do esforço agrícola e da estabilidade da vida de família.
Enchentes mortíferas e secas esterilizantes – tal o regime de suas águas. E pelas
terras e matagais de tão difícil cultura como pelos rios quase impossíveis de ser
aproveitados economicamente na lavoura, na indústria ou no transporte regular de
produtos agrícolas – viveiros de larvas, multidões de insetos e de vermes nocivos
ao homem.
Particularmente ao homem agrícola, a quem por
toda parte afligem mal ele inicia as plantações, as “formigas que fazem muito dano”
à lavoura; a “lagarta das roças”; as pragas que os feiticeiros índios desafiam os
padres que destruam com os seus sinais e as suas rezas.
Contrastem-se essas condições com as encontradas
pelos ingleses na América do Norte, a começar pela temperatura: substancialmente
a mesma que a da Europa Ocidental (média anual 56° F – 13° C), considerada a mais
favorável ao progresso econômico e à civilização à europeia. De modo que não parece
tocar ao caso brasileiro a generalização do professor Bogart sobre o povo por ele
vagamente chamado “raça latino-americana”. O qual nem por se achar rodeado de grandes
“riquezas naturais” se teria elevado às mesmas condições de progresso agrícola e
industrial que os anglo-americanos. Essa incapacidade atribui o economista a ser
a tal “raça latino-americana” “a weak ease loving race” e não “viríle,
energetic people” como os anglo-americanos. Estes, sim, souberam desenvolver
os recursos naturais à sua disposição: “devoted themselves to the exploitation
of the natural resources writh wonderful sucess”. Mas foi esse mesmo povo tão
viril e enérgico que fracassou em Old Providence e nas Bahamas.
O português vinha encontrar na América tropical
uma terra de vida aparentemente fácil; na verdade dificílima para quem quisesse
aqui organizar qualquer forma permanente ou adiantada de economia e de sociedade.
Se é certo que nos países de clima quente o homem pode viver sem esforço da abundância
de produtos espontâneos, convém, por outro lado, não esquecer que igualmente exuberantes
são, nesses países, as formas perniciosas de vida vegetal e animal, inimigas de
toda cultura agrícola organizada e de todo trabalho regular e sistemático.
No homem e nas sementes que ele planta, nas casas
que edifica, nos animais que cria para seu uso ou sua subsistência, nos arquivos
e bibliotecas que organiza para sua cultura intelectual, nos produtos úteis ou de
beleza que saem de suas mãos – em tudo se metem larvas, vermes, insetos, roendo,
esfuracando, corrompendo. Semente, fruta, madeira, papel, carne, músculos, vasos
linfáticos, intestinos, o branco do olho, os dedos dos pés, tudo fica à mercê de
inimigos terríveis.
Foi dentro de condições físicas assim adversas
que se exerceu o esforço civilizador dos portugueses nos trópicos. Tivessem sido
aquelas condições as fáceis e doces de que falam os panegiristas da nossa natureza
e teriam razão os sociólogos e economistas que, contrastando o difícil triunfo lusitano
no Brasil com o rápido e sensacional dos ingleses naquela parte da América de clima
estimulante, flora equilibrada, fauna antes auxiliar que inimiga do homem, condições
agrológicas e geológicas favoráveis, onde hoje esplende a formidável civilização
dos Estados Unidos, concluem pela superioridade do colonizador louro sobre o moreno.”
“Onde Azevedo Amaral nos parece lamentavelmente
exagerado é em considerar todos aqueles povoadores (sobre os quais reconhece ser
“tão escassa e precária [...] a informação acessível”) uns “tarados, criminosos
e semiloucos.” Refere-se principalmente aos degredados; não há, entretanto, fundamentos
nem motivos para duvidar de que alguns fossem gente sã, degredada pelas ridicularias
por que então se exilavam súditos, dos melhores, do reino para os ermos.
Era estreitíssimo o critério que ainda nos séculos
XV e XVI orientava entre os portugueses a jurisprudência criminal. No seu direito
penal o misticismo, ainda quente dos ódios de guerra contra os mouros, dava uma
estranha proporção aos delitos. Carlos Malheiros Dias afirma que “não existia na
legislação coeva código de severidade comparável ao Livro V das Ordenações Manuelinas.”
E acrescenta: “cerca de duzentos delitos eram nele punidos com degredo”.
“A lei de 7 de janeiro de 1453, de D. Dinis, diz-nos
o general Morais Sarmento, que “mandava tirar a língua pelo pescoço e queimar vivos
os que descriam de Deus ou dirigiam doestos a Deus ou aos Santos”; e por usar de
feitiçarias “per que uma pessoa queira bem ou mal a outra...”, como por outros crimes
místicos ou imaginários, era o português nos séculos XVI e XVII “degredado para
sempre para o Brasil”. Em um país de formação antes religiosa do que etnocêntrica,
eram esses os grandes crimes e bem diversa da moderna, ou da dos países de formação
menos religiosa, a perspectiva criminal.
Enquanto quem dirigisse doestos aos santos tinha
a língua tirada pelo pescoço e quem fizesse feitiçaria amorosa era degredado para
os ermos da África ou da América; pelo crime de matar o próximo, de desonrar-lhe
a mulher, de estuprar-lhe a filha, o delinquente não ficava, muitas vezes, sujeito
a penas mais severas que a de “pagar de multa uma galinha” ou a “e “pagar mil e
quinhentos módios”. Contanto que fosse acoitar-se a um dos numerosos “coitos de
homiziados”.
Não faziam esses coitos mistério de sua função
protetora de homicidas, adúlteros e servos fugidos, antes proclamavam-na abertamente
pela voz dos forais. “Não se julgue”, diz Gama Barros, “que as terras onde o soberano
decretava que os criminosos ficassem imunes, consideravam desonra para elas a concessão
de tal privilégio.” E o professor Mendes Correia informa-nos que Sabugal em 1369
pedia que fossem dadas “mais garantias aos refugiados nesse coito”; que no foral
de Azurara a “imunidade chegava ao ponto de se punir gravemente quem perseguisse
até dentro da vila o criminoso fugitivo.” Tem-se a impressão de que os lugares mal
povoados do reino disputavam a concessão do privilégio do coito; e a gente que açoitavam
eram, com o grande número de servos fugidos, os celerados de crime de morte e de
estupro; vindo para o Brasil antes os autores de delitos leves ou de crimes imaginários
que a perspectiva criminal portuguesa da época deformava em atentados horríveis,
do que mesmo os criminosos de fato. Estes, entretanto, devem ter vindo em número
não de todo insignificante para a colônia americana: de outro modo, deles não se
teria ocupado tão veementemente o donatário Duarte Coelho em uma de suas muitas
cartas de administrador severo e escrupuloso, rogando a el-Rei que lhe não mandasse
mais dos tais degredados: pois eram piores que peçonha.”
“Estabelecido nas ilhas do Atlântico”, diz Manuel
Bonfim do colono português, “e não encontrando aí outra forma de atividade, nem
possibilidade de fortuna senão a exploração estável, agrícola, o povoamento regular,
assim procedeu e mostrou, antes de qualquer outro povo da Europa medieval, ser excelente
povoador, porque juntava as qualidades de pioneiro às de formador de vida agrícola
e regular em terras novas.”
É verdade que muitos dos colonos que aqui se tomaram
grandes proprietários rurais não tinham pela terra nenhum amor nem gosto pela sua
cultura. Há séculos que em Portugal o mercantilismo burguês e semita, por um lado,
e, por outro lado, a escravidão moura sucedida pela negra, haviam transformado o
antigo povo de reis lavradores no mais comercializado e menos rural da Europa. No
século XVI é o próprio rei que dá despacho não em nenhum castelo gótico cercado
de pinheiros, mas por cima de uns armazéns à beira do rio; e ele e tudo que é grande
fidalgo enriquecem no tráfico de especiarias asiáticas. O que restava aos portugueses
do século XVI de vida rural era uma fácil horticultura e um doce pastoreio: e, como
outrora entre os israelitas, quase que só florescia entre eles a cultura da oliveira
e da vinha. Curioso, portanto, que o sucesso da colonização portuguesa do Brasil
se firmasse precisamente em base rural.
Considerando o elemento colonizador português
em massa, não em exceções como Duarte Coelho – tipo perfeito de grande agricultor
– pode dizer-se que seu ruralismo no Brasil não foi espontâneo, mas de adoção, imposto
pelas circunstâncias. Para os portugueses o ideal teria sido não uma colônia de
plantação, mas outra Índia com que israelitamente comerciassem em especiarias e
pedras preciosas; ou um México ou Peru de onde pudessem extrair ouro e prata. Ideal
semita. As circunstâncias americanas é que fizeram do povo colonizador de tendências
menos rurais ou, pelo menos, com o sentido agrário mais pervertido pelo mercantilismo,
o mais rural de todos: do povo que a Índia transformara no mais parasitário, o mais
criador.
Entre aquelas circunstâncias avultam imperiosas:
as qualidades e as condições físicas da terra; as condições morais e materiais da
vida e cultura de seus habitantes.
Terra e homem estavam em estado bruto. Suas condições
de cultura não permitiam aos portugueses vantajoso intercurso comercial que reforçasse
ou prolongasse o mantido por eles com o Oriente. Nem reis de Cananor nem sobas de
Sofala encontraram os descobridores do Brasil com que tratar ou negociar. Apenas
morubixabas. Bugres. Gente quase nua e à-toa, dormindo em rede ou no chão, alimentando-se
de farinha de mandioca, de fruta do mato, de caça ou peixe comido cru ou depois
de assado em borralho. Nas suas mãos não cintilavam pérolas de Cipango nem rubis
de Pegu; nem ouro de Sumatra nem sedas de Catar lhes abrilhantavam os corpos cor
de cobre, quando muito enfeitados de penas; os pés em vez de tapetes da Pérsia pisavam
a areia pura. Animal doméstico ao seu serviço não possuíam nenhum. Agricultura,
umas ralas plantações de mandioca ou mindubi, de um ou outro fruto. Oliveira Viana
tem razão quando escreve que entre as índias “com uma maravilhosa riqueza acumulada
e uma longa tradição comercial com os povos do Oriente e Ocidente” e o Brasil “com
uma população de aborígines ainda na idade da pedra polida” havia diferença essencial.
“Essa ausência de riqueza organizada, essa falta de base para organização puramente
comercial”, acrescenta o autor da Evolução do povo brasileiro, “é que leva
os peninsulares para aqui transplantados a se dedicarem à exploração agrícola.”
Cravo, pimenta, âmbar, sândalo, canela, gengibre,
marfim, nenhuma substância vegetal ou animal de valor consagrado pelas necessidades
e gostos da Europa aristocrática ou burguesa os portugueses encontraram nos trópicos
americanos. Isto sem falar no ouro e na prata, mais farejados do que tudo e de que
logo se desiludiram os exploradores da nova terra. A conclusão melancólica de Vespúcio
resume o amargo desapontamento de todos eles: “infinitas arvores de pau brasil e
canna fistula...” “Arvoredos de ponta a ponta” e “agoas muytas”, notara o arguto
cronista do descobrimento, Pero Vaz de Caminha.
Enormes massas de água, é certo, davam grandeza
à terra coberta de grosso matagal. Dramatizavam-na. Mas grandeza sem possibilidades
econômicas para a técnica e conhecimentos da época. Ao contrário: às necessidades
dos homens que criaram o Brasil aquelas formidáveis massas, rios e cachoeiras, só
em parte, e nunca completamente, se prestaram às funções civilizadoras de comunicação
regular e de dinamização útil.
Um rio grande daqueles quando transbordava em
tempo de chuva era para inundar tudo, cobrindo canaviais e matando gado e até gente.
Destruindo. Devastando. Lavoura e pecuária eram quase impossíveis às suas margens,
porque tanto tinha de fácil o estabelecimento quanto de fatal a destruição pelas
enchentes, pelas cheias que ou dizimavam as manadas ou corrompiam-lhes o pasto;
e em vez de beneficiarem as plantações, destruíam-nas completamente ou em grande
parte.
Sem equilíbrio no volume nem regularidade no curso,
variando extremamente em condições de navegabilidade e de utilidade, os rios grandes
foram colaboradores incertos – se é que os possamos considerar colaboradores – do
homem agrícola na formação econômica e social do nosso país. Muito deve o Brasil
agrário aos rios menores porém mais regulares: onde eles docemente se prestaram
a moer as canas, a alagar as várzeas, a enverdecer os canaviais, a transportar o
açúcar, a madeira e mais tarde o café, a servir aos interesses e às necessidades
de populações fixas, humanas e animais, instaladas às suas margens; aí a grande
lavoura floresceu, a agricultura latifundiária prosperou, a pecuária alastrou-se.”
“O Brasil formou-se, despreocupados os seus colonizadores
da unidade ou pureza de raça. Durante quase todo o século XVI a colônia esteve escancarada
a estrangeiros, só importando às autoridades coloniais que fossem de fé ou religião
católica. Handelmann notou que para ser admitido como colono do Brasil no século
XVI a principal exigência era professar a religião cristã: “somente cristãos” –
e em Portugal isso queria dizer católicos – “podiam adquirir sesmarias”. “Ainda
não se opunha todavia”, continua o historiador alemão, “restrição alguma no que
diz respeito à nacionalidade: assim é que católicos estrangeiros podiam emigrar
para o Brasil e aí estabelecer-se.” Oliveira Lima salienta que no século XVI Portugal
tolerava em suas possessões muitos estrangeiros, não sendo a política portuguesa
de colonização e povoamento a de “rigoroso exclusivismo posteriormente adotado pela
Espanha.”
Através de certas épocas coloniais observou-se
a prática de ir um frade a bordo de todo navio que chegasse a porto brasileiro,
a fim de examinar a consciência, a fé, a religião do adventício. O que barrava então
o imigrante era a heterodoxia; a mancha de herege na alma e não a mongólica no corpo.
Do que se fazia questão era da saúde religiosa: a sífilis, a bouba, a bexiga, a
lepra entraram livremente trazidas por europeus e negros de várias procedências.
O perigo não estava no estrangeiro nem no indivíduo
disgênico ou cacogênico, mas no herege. Soubesse rezar o padre-nosso e a ave-maria,
dizer creio-em-Deus-Padre, fazer o pelo-sinal-da-Santa-Cruz – e o estranho era bem-vindo
no Brasil colonial. O frade ia a bordo indagar da ortodoxia do indivíduo como hoje
se indaga da sua saúde e da sua raça. “Ao passo que o anglo-saxão”, nota Pedro de
Azevedo, “só considera de sua raça o indivíduo que tem o mesmo tipo físico, o português
esquece raça e considera seu igual aquele que tem religião igual à que professa.”
Temia-se no adventício acatólico o inimigo político
capaz de quebrar ou de enfraquecer aquela solidariedade que em Portugal se desenvolvera
junto com a religião católica. Essa solidariedade manteve-se entre nós esplendidamente
através de toda a nossa formação colonial, reunindo-nos contra os calvinistas franceses,
contra os reformados holandeses, contra os protestantes ingleses. Daí ser tão difícil,
na verdade, separar o brasileiro do católico: o catolicismo foi realmente o cimento
da nossa unidade.”
“É ilusão supor-se a sociedade colonial, na sua
maioria, uma sociedade de gente bem-alimentada. Quanto à quantidade, eram-no em
geral os extremos: os brancos das casas-grandes e os negros das senzalas. Os grandes
proprietários de terras e os pretos seus escravos. Estes porque precisavam de comida
que desse para os fazer suportar o duro trabalho da bagaceira. (...)
Que condições, senão as físicas e químicas, de
solo e de clima, determinam o caráter da vegetação espontânea e as possibilidades
da agrícola, e através desse caráter e dessas possibilidades, o caráter e as possibilidades
do homem?
No caso da sociedade brasileira o que se deu foi
acentuar-se, pela pressão de uma influência econômico-social – a monocultura – a
deficiência das fontes naturais de nutrição que a policultura teria talvez atenuado
ou mesmo corrigido e suprido, através do esforço agrícola regular e sistemático.
Muitas daquelas fontes foram por assim dizer pervertidas, outras estancadas pela
monocultura, pelo regime escravocrata e latifundiário, que em vez de desenvolvê-las,
abafou-as, secando-lhes a espontaneidade e a frescura. Nada perturba mais o equilíbrio
da natureza que a monocultura, principalmente quando é de fora a planta que vem
dominar a região – nota o professor Konrad Guenther. Exatamente o caso brasileiro.
Na formação da nossa sociedade, o mau regime alimentar
decorrente da monocultura, por um lado, e por outro da inadaptação ao clima, agiu
sobre o desenvolvimento físico e sobre a eficiência econômica do brasileiro no mesmo
mau sentido do clima deprimente e do solo quimicamente pobre. A mesma economia latifundiária
e escravocrata que tornou possível o desenvolvimento econômico do Brasil, sua relativa
estabilidade em contraste com as turbulências nos países vizinhos, envenenou-o e
perverteu-o nas suas fontes de nutrição e de vida.
Melhor alimentados, repetimos, eram na sociedade
escravocrata os extremos: os brancos das casas-grandes e os negros das senzalas.
Natural que dos escravos descendam elementos dos mais fortes e sadios da nossa população.
Os atletas, os capoeiras, os cabras, os marujos. E que da população média, livre
mas miserável, provenham muitos dos piores elementos; dos mais débeis e incapazes.
E que sobre eles principalmente é que têm agido, aproveitando-se da sua fraqueza
de gente mal alimentada, a anemia palúdica, o beribéri, as verminoses, a sífilis,
a bouba. (...)
Araújo Lima foi encontrar os trabalhadores de
grandes plantações de algodão alimentando-se exclusivamente de um singelo mingau
de arroz comido de manhã. “Um xibé, cuja base é a farinha-d’agua, tão pobre em vitaminas,
constitui muitas vezes o alimento exclusivo dum homem nas 24 horas.”
Já Azevedo Pimentel surpreendera quase que as
mesmas condições entre os habitantes do Brasil central: maior que a ação devastadora
das moléstias sifilíticas e venéreas, só a dos “desequilíbrios ou perversões de
nutrição orgânica” devida a “impróprias e pouco nutrientes substâncias alimentares.”
Quem deu relevo à situação das nossas populações rurais. Mal alimentadas e ainda
por cima vítimas fáceis de uma série macabra de doenças – impaludismo, beribéri,
ancilostomíase, disenteria, lepra, sífilis – foi Miguel Pereira, logo ratificado
por Belisário Pena.”
Peço sinceras desculpas à Editora Global pelo excesso de trechos aqui no blog, mas não consegui me conter. Nesta intensa e belíssima obra de Gylberto Freire, vemos o Brasil em estado puro, na sua essência, na sua história, no seu sangue, na sua carne, com suas dores e deleites. Recomendo decididamente a leitura do livro em sua integralidade. Aqui vão belas pepitas, mas o tesouro é bem mais farto.
ResponderExcluirOlá, querido, peço pra que, se possível, você coloque as páginas das citações, dessa forma quando alguém precisar fazer um trabalho sobre o livro e não tem tempo de ler o livro, seu blog pode funcionar como um banco de citações, facilitando o processo para outras pessoas, principalmente em trabalhos que tem focos específicos.
ResponderExcluirDigo isso porque no meu blog estou postando uma espécie de diário de leitura desse livro, e coloco as páginas das citações pra facilitar os próximos acadêmicos que não quiserem ler esse livro cuja análise, apesar de importante, está ultrapassada em muitos aspectos.
Abraços!
Olá, Viick, agradeço a sugestão, mas na verdade a pessoa pode citar o livro referenciando a fonte indireta que é o blog, sem prejuízo de nenhuma ordem. Se caso a pessoa queira, efetivamente, citar a obra original como se a tivesse lido, aí acho melhor de fato lê-la. É mais coerente e justo.
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