Editora:
Record / Altaya
ISBN:
978-85-011-5909-0
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 178
Sinopse: Nada neste livro é comum. De um mundo
aparentemente sem sobressaltos, o autor curitibano faz surgir personagens cujas
histórias são marcadas pela crueldade e pelo patético.
“Mais
fácil morrer do que se livrar do cadáver.”
“Tardes
alucinadas de febre, Chico se lembrava do pai. Severo, não admitia riso. Quando
fugiu de casa imaginou que nem lhe desse pela falta. Nunca escreveu, informando
o endereço, na ronda das pensões. Tarde demais soube que o velho não deixou
retirar seu guardanapo da mesa. A mãe colocava mais um prato, como se Chico
viesse, todos aqueles anos, almoçar e jantar em casa. De noite, o pai subia ao
quarto do rapaz: “Chico, Chico, você
voltou?” Morreu antes que o filho visitasse a família. Agora sonhava com o
velho, ao lado da cama: “Chico, veio pra
casa, meu filho?”
“O
destino da mulher é esperar pelo marido e, depois do marido, pelos filhos.”
“Às
mães não foi dado entender os filhos, apenas amá-los.”
“Os pardais o acordam de manhã. “Malditos!” gemendo, enterra a cabeça no
travesseiro. Malditos pardais – o dia: mais um dia. Quietinho, morde o lençol,
abafa os gritos: “Não acordei, estou dormindo. Não são os pardais, mas os
grilos...” Quem dera esganar todos os pardais da cidade.
Cabeça nas mãos, repete sempre – “São os grilos, eis que são os grilos.”
Em vez de abrir a janela, acende a luz.
Onde a coragem de enfrentar o espelho? Sobreviveu ao pior: já fez a
barba. Não mais ver aquela cara e, coçando o queixo, interrogar-se: “Para quê?”.
O espelho nunca deu a resposta. Resiste aos dias, com ódio dos pardais.
Ah, não piassem com tanta alegria, quem sabe o sol deixasse de nascer.
O queixo ensaboado, xinga-se em voz baixa: “Por que não morre?”. Ao frio
da navalha, os dedos tremem. Alcança a garrafa, bebe no gargalo. Dos olhos
escorrem gotas de amargura, nem sequer lágrimas.
No canto do espelho o retratinho da filha, única maneira de aceitar o
próprio rosto.”
“Olho vermelho de dorminhoco, o filho saiu do quarto e atravessou a
cozinha. O homem batia as pálpebras, embevecido com os vapores capitosos.
– Aonde é que vai?
O filho abriu a torneira do banheiro:
– Fazer a barba.
– Hora da janta. Vem comer.
Demorava-se o rapaz, torneira fechada. Com a toalha no pescoço, não
olhou o pai.
– Não quero jantar. Sem fome.
O homem suspendeu a colher:
– Não quer jantar, mas vem para a mesa.
O homem sugava ruidosamente e, a cada chupão, o filho revolvia a ponta
do garfo no coração das margaridas.
– Saiu agora do quarto, filho de barão! Mas eu... Quando me deitar de
dia na cama é para morrer!”
“Ele tinha princípios – o mais importante, barbear-se todos os dias.”
Recomendo do livro os contos: "O Noivo", "João Nicolau", "Quarto de hotel", "As maçãs", "A sopa", "Olho de peixe" e "Últimos dias".
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