Editora: Martins Fontes
ISBN: 978-85-3361-803-9
Tradução: Eduardo Brandão e Karina Jannini
Organização: Franco Volpi
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 222
Sinopse: Quando
nos faltam argumentos, é preciso recorrer às ofensas – sugeriu Schopenhauer,
pois: “Uma só grosseria supera qualquer argumento.” O livro contém uma breve
teoria e uma minuciosa prática das indiretas, das maldades e dos ataques
verbais que Schopenhauer endereça com impertinência categórica a todos os
destinatários possíveis: os filósofos, os escritores, as mulheres, as
instituições sociais, o gênero humano, a vida – em poucas palavras: contra o
mundo inteiro. Mas ele também revela a melhor maneira de se defender com êxito.
“Na maioria das vezes, os amigos da
casa são chamados desse modo com razão, uma vez que são mais amigos da
casa do que do dono, ou seja, assemelham-se mais aos gatos do que aos
cachorros.”
“Seria bom comprar livros se, junto com eles,
fosse possível comprar também o tempo para lê-los.”
“O sexo feminino exige e espera do masculino
tudo, exatamente tudo o que deseja e de que necessita. O masculino exige do
feminino, em primeiro lugar e imediatamente, uma única coisa. Por essa razão,
foi necessário estabelecer a convenção de que o sexo masculino só pode obter do
feminino aquela única coisa se, em troca, cuidar de todas as outras, além dos
filhos nascidos da união. Nessa convenção baseia-se o bem-estar de todo o sexo
feminino.”
“Casar-se de maneira geral significa colocar
a mão dentro de um saco sem ver o que há dentro dele e esperar tirar uma enguia
de um emaranhado de serpentes.
No nosso continente monogâmico, casar-se
significa abdicar de metade dos direitos e duplicar os deveres.
Casar-se significa fazer o possível para
sentir repugnância um do outro.
Casamentos felizes são notoriamente raros.”
“Se todo indivíduo pudesse escolher entre o
seu próprio aniquilamento e o do resto do mundo, não preciso dizer para que
lado, na maioria dos casos, penderia a balança.”
“O cérebro é o parasita ou o pensionista do
organismo inteiro”.
“Se um deus fez este mundo, eu é que não
gostaria de ser este deus: a miséria aqui presente despedaçaria meu coração.”
“Minha época e eu não fomos
feitos um para o outro: quanto a isso, não há dúvida. Mas qual de nós vencerá o
processo diante do tribunal dos pósteros?”
“A fé e o saber não se dão bem dentro da
mesma cabeça: são como o lobo e o cordeiro dentro de uma jaula; e o saber é
justamente o lobo, que ameaça devorar seu vizinho.
O saber é feito de uma matéria mais dura do
que a fé, de modo que, quando colidem, a última se quebra.”
“A veneração que a grande massa culta reserva
ao gênio é da mesma espécie da que os crentes dedicam aos seus santos, ou seja,
degenera facilmente num culto pueril às relíquias. A casa de Petrarca em Arquà;
a suposta prisão de Tasso em Ferrara; a casa de Shakespeare em Stratford com
sua cadeira; a casa de Goethe em Weimar com sua mobília; o velho chapéu de
Kant, bem como os respectivos autógrafos, são fitados com atenção e respeito
por muitos que nunca leram suas obras, do mesmo modo como milhares de cristãos
veneram as relíquias de um santo cuja vida e doutrina não chegaram a conhecer,
e como a religião de milhares de budistas consiste muito mais na veneração a
Dahtu (dente sagrado), até mesmo a Dagoba (Stupa), que o encerra, ou ao sagrado
Patra (gamela), ou ainda à pegada petrificada, à arvore sagrada que Buda
semeou, do que no conhecimento profundo e no exercício fiel da sua sublime
doutrina.”
“As outras partes do mundo têm macacos; a
Europa tem franceses. É a mesma coisa.”
“Ler a história da filosofia em geral ou todo
tipo de exposição das doutrinas dos filósofos em vez das suas obras originais é
como fazer com que outra pessoa mastigue a comida por nós. É possível conhecer
de fato os filósofos apenas por meio das suas obras, e de modo algum por
relatos de segunda mão.”
“Às vezes converso com os homens do mesmo
modo como as crianças conversam com seus bonecos: embora ela saiba que o boneco
não a compreende, usando de uma ilusão agradável e consciente, consegue
divertir-se com a comunicação.”
“O egoísmo é gigantesco: ele rege o mundo.”
“De um ponto de vista geral, [...] a natureza
fala da seguinte forma: “O indivíduo é nada e menos de nada. Diariamente,
destruo milhões de indivíduos por diversão e passatempo: abandono seu destino
nas mãos do mais temperamental e caprichoso dos meus filhos, o acaso, que faz
dele sua presa ao seu bel-prazer. Dou vida a milhões de novos indivíduos todos
os dias, sem diminuir em nada minha força criativa, do mesmo modo como a força
de um espelho não se esgota pelo número de imagens do sol que, uma após a
outra, ele reflete na parede. O indivíduo é nada”.”
“Em sensu proprio, o dogma do
inferno torna-se revoltante. Pois, em virtude das penas eternas do inferno, não
apenas faz expiar com infindáveis martírios os erros ou até mesmo a falta de
fé, mas também faz com que essa condenação quase universal constitua na verdade
o efeito de um pecado original e, portanto, o resultado inevitável da primeira
transgressão do homem. No entanto, de todo modo essa transgressão deveria ter
sido prevista por aquele que, em primeiro lugar, não criou os homens melhores
do que são, e depois lhes preparou uma armadilha, mesmo sabendo que nela
cairiam, uma vez que tudo era obra sua e nada permanecia escondido às suas
vistas. Sendo assim, ele teria evocado do nada para a existência um gênero
humano fraco e sujeito ao pecado, para depois condená-lo ao martírio
infindável. Por fim, há que se acrescentar que Deus, que prescreve a
indulgência e o perdão a toda culpa até chegar ao amor pelo inimigo, não
manifesta nenhum sentimento semelhante, mas cai em sentimentos opostos; isso
porque uma pena, que sucede ao fim das coisas, quando tudo já passou e se
concluiu, não pode ter como objetivo nem a melhora, nem a intimidação e,
portanto, não passa de uma vingança. Visto por esse ângulo, chega a parecer
que, na prática, todo o gênero humano tenha sido destinado e criado
expressamente para a tortura e a condenação eternas – a não ser por aquelas
poucas exceções que, não se sabe porquê, foram salvas pela escolha divina. Sem
levar em conta tais casos, o querido Deus parece ter criado o mundo para que o
diabo o carregasse; sendo assim, ele teria feito muito melhor se tivesse
deixado de criá-lo.
“O pássaro na gaiola canta não por prazer,
mas de raiva.” (citação)
“A intolerância é intrínseca apenas ao
monoteísmo: um deus único é, por natureza, um deus ciumento, que não tolera
nenhum outro além dele mesmo.”
“Não se pode servir a dois senhores: ou se
serve à razão, ou à escritura.”
“O médico vê o homem em toda a sua fraqueza;
o jurista, em toda a sua perversidade; o teólogo, em toda a sua estupidez.”
“A vida da maioria das pessoas é apenas uma
luta contínua pela existência, com a certeza da derrota final.”
“A vida de todo ser humano flui inteiramente
entre o querer e o conseguir. O desejo, conforme sua natureza, é dor:
alcançá-lo significa gerar rapidamente a saciedade. O objetivo era apenas
aparente; a posse tira o encanto; o desejo e a necessidade se reapresentam com
um novo aspecto. Quando isso não ocorre, seguem-se a solidão, o vazio e o
tédio, contra os quais a luta atormenta tanto quanto contra a miséria.”
“Quando se observa a vida de cada indivíduo
de modo geral, destacando apenas seus traços mais significativos, percebe-se
que ela não passa de uma tragédia; porém, se examinada em seus detalhes, tem o
caráter da comédia.”
O livro teria nota melhor, se não fosse a deplorável e anacrônica (mesmo à época) misoginia do autor.
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