Editora: Cosac Naify
ISBN: 978-85-7503-458-3
Tradutor: Fábio de Souza Andrade
Opinião: ★☆☆☆☆
Páginas: 240
Sinopse: Junto a uma árvore desfolhada, no meio de
um descampado, dois vagabundos, maltrapilhos mas pontuais, atendem dia após dia
ao chamado de um certo senhor Godot, que prima por não comparecer ao encontro
supostamente marcado. Esta é a substância escassa de Esperando Godot obra-prima de Samuel Beckett (1906-1989), o
dramaturgo, romancista e poeta irlandês agraciado com o Prêmio Nobel de
Literatura em 1969. Escrita em francês, durante o pós-guerra, a peça estreou em
Paris no ano de 1953, e logo se firmou como um divisor de águas no teatro do
século XX, questionando toda a tradição dramática do Ocidente. Os recursos
cênicos e narrativos aqui utilizados por Becket logram atingir uma dimensão
mítica com meios que eram, na época, e até hoje, absolutamente inovadores: a
disjunção do modelo retórico das falas, a profundidade trágica em personagens
clownescos, a gestualidade dramática ganhando ares de coreografia, o abandono
dos solilóquios em favor das exposições narrativas etc.
A espera e a angústia de
Vladimir e Estragon repetem-se ao infinito. Contudo, embora não tenha sido
construída segundo as linhas tradicionais, com exposição, desenvolvimento,
peripécia e desenlace, a obra tem uma estrutura firme, baseada justamente na
repetição, nos leitmotifs e no equilíbrio
exato de elementos variáveis, como um recurso irônico para acentuar os
contrastes.
A nova tradução de Fábio de
Souza Andrade – professor de Teoria Literária da USP, autor da tese “Samuel
Beckett: o silêncio possível”, e que já publicou, também na coleção Prosa do
Mundo, a outra peça mais famosa de Beckett, Fim de partida – vem acompanhada de uma pequena fortuna crítica, reunindo fragmentos
de ensaios, críticas e memórias escritos por alguns dos maiores especialistas
na obra beckettiana. Esta edição conta ainda com uma significativa compilação
de fotos das montagens mais importantes e/ou mais inovadoras, dos principais
colaboradores de Beckett (como o diretor Roger Blin e o artista plástico
Giacometti) e do próprio autor participando da direção dos espetáculos. Por
fim, há sugestões de leitura, indicando textos obrigatórios para quem deseja se
aprofundar no assunto, além de algumas das versões cinematográficas mais
relevantes da peça.
“– Juntos, tivéssemos
sido os primeiros em nos jogar da Torre Eiffel. Então, sim que o passávamos bem.
Agora já é muito tarde. Nem sequer nos deixariam subir.”
“– Quanto mais gente
encontro, mais feliz sou. Com a criatura mais insignificante alguém aprende enriquece-se,
saboreia melhor sua felicidade.”
“– As lágrimas do mundo
são imutáveis. Por cada um que começa a chorar, em outra parte há outro que cessa
de fazê-lo. O mesmo se passa com a risada. Não falemos, pois, mal de nossos tempos;
são piores que os passados. Claro que tampouco devemos falar bem. Não falemos.”
“– Bem é verdade que
ficando de braços cruzados, pesando os prós e os contras, também fazemos honra a
nossa condição. O tigre se precipita em auxílio de seus semelhantes sem pensá-lo.
Ou refugia-se no mais espesso da selva. Mas a questão não é esta. – “O que fazemos
aqui?”, é o que temos que nos perguntar. Temos a sorte de sabê-lo. Sim; em meio
desta imensa confusão, uma só coisa está clara: esperamos que venha Godot.”
Preciso ler este livro, há anos.
ResponderExcluirGostei do blog. Te seguindo.
Kleiton Gonçalves
kleitongoncalves.blogspot.com.br
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