Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-7302-988-8
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 144
Sinopse: Não é
todo dia que se quer ouvir uma crocante fuga de Bach mas todos os dias se quer
comer. A fome é o único desejo reincidente, pois a visão acaba, a audição
acaba, o sexo acaba, o poder acaba – mas a fome continua. Sentar-se à mesa com
os amigos, saborear o seu prato preferido e se entregar ao prazer de comer,
louca e apaixonadamente. Depois? Depois a morte. Mas isso só parecia acentuar a
delícia de sabores irrecusáveis, o paladar em estado de exaltação, a bênção de
um destino escolhido.
O Clube dos Anjos, de Luis Fernando Verissimo, é uma insólita e bem-humorada celebração
da gula. O livro conta a história de dez homens que se entregaram a esta
afinidade animal, a fome em bando – sem temer a morte. Na verdade, a
perspectiva de morrer só aumentaria, para eles, o prazer na comida, e o desafio
filosófico da gastronomia: a apreciação que exige a destruição do apreciado.
“As histórias de mistério são sempre tediosas
buscas de um culpado, quando está claro que o culpado é sempre o mesmo. Não é
preciso olhar a última página, leitor, o nome está na capa: é o autor.”
“Ele move-se com discrição e faz poucos
gestos. Senta com as costas retas e quase não mexe a cabeça. Eu nunca chego,
simplesmente, numa cadeira ou mesa, eu atraco. Um processo difícil, na falta de
rebocadores. Naquele dia, derrubei um açucareiro e quase derrubei a mesa e
deixei cair o vinho antes de encontrar minha posição na cadeira e chamar a
garçonete. Minha namorada, a coitada da Lívia, sempre diz que eu nunca sei de
quanto espaço preciso, e que isso vem de uma infância de gordo mimado. Algo a
ver com ser um filho único que nunca conheceu limites. A coitada da Lívia é
psicóloga e nutricionista, há anos que tenta me salvar. Eu não sou o seu
amante, sou a sua causa. Já tive três mulheres e as três queriam o meu
dinheiro. A Lívia não quer o meu dinheiro. Quer ser a mulher que me recuperará,
o que eu acho muito mais interesseiro e assustador. Talvez por isso eu resista
tanto a casar com ela, quando não resisti nada a casar com as outras, mesmo
sabendo que não me amavam pela minha barriga.”
“Éramos tão vorazes, no começo, que qualquer
coisa menos que o mundo equivaleria a um coito interrompido.”
“– O que está escrito no plástico?
– É um ideograma japonês, com várias
traduções possíveis. Pode ser “Todo desejo é um desejo de morte” ou “A fome é
um cocheiro sem ouvidos” ou “O sábio e o louco usam os mesmos dentes”.
– Tudo isso num ideograma?
– Sabe como são os orientais.”
“Adoro histórias estranhas. Quanto mais
improváveis, mais eu acredito.”
“Depois telefonei para o João, que também
relutou. Talvez fosse, talvez não fosse. Estava pensando em deixar o Clube. A
reunião do Natal tinha lhe mostrado que estava na hora de parar. “Senão vou
acabar dando um soco no Paulo”. Em vinte e um anos, João só faltara às reuniões
do Clube durante o tempo em que desaparecera para fugir de pessoas cujo
dinheiro tinha perdido e que queriam matá-lo, no que só mostravam, segundo
Samuel, uma chocante incompreensão do espírito capitalista. Samuel instruía os
credores a quebrar vários ossos do João, menos os que lhe permitiriam recuperar
seu dinheiro, em vez de matá-lo. E chegava a oferecer uma lista dos ossos que
João não precisaria para ganhar dinheiro e pagar a todos. Mas fora ele quem
mais ajudara o João, inclusive escondendo-o dos credores furiosos em sua casa.
De onde nos trazia notícias periódicas do asilado. “Está de ótimo humor. Não
consigo convencê-lo a se suicidar”. E completava com uma das suas citações
obscuras: “Um dos maiores enganos da humanidade a seu próprio respeito é que
existe o remorso”.”
“Voltei para o grupo no velório. Contei que o
André estava bem e perguntei se havia alguma novidade, só para não ficar
quieto. Não sei ficar quieto. O João respondeu que o morto pulara do caixão,
dera alguns passos de tango em volta da capela e se deitara de novo, mas fora
isso nada.”
“Pedro também aparecia pouco. Vivia
enclausurado. Não ia à escola, tinha professores particulares, estava sendo
preparado para assumir a direção da empresa da família. Além disso, sua mãe, a
dona Nina, tinha a psicose do contágio. Sofria com a ideia do seu Pedrinho
tendo contato com as impurezas do mundo, entre as quais nos incluía.
Principalmente eu, que não trouxera da infância o apelido de Cascão Falante sem
merecimento.”
“O homem é o único animal que sempre quer
mais do que precisa. O homem é o homem porque quer mais.”
Fico lisonjeada com seu comentário, fique sabendo que o seu blog me serve de grande inspiração.
ResponderExcluirNão costumo postar muitos cometários mas não poderia deixar de vir agradecer o carinho.