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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Balé Branco - Carlos Heitor Cony

Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-7302-706-8
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 264
Sinopse: Uma jovem e promissora bailarina cai durante uma apresentação. Betinha, veterana, se aproxima para fazer uma barreira de proteção. Afinal, o espetáculo não pode parar. Rejane caiu por causa daquele maldito prego que há anos "mora" no palco ou foi empurrada? Os boatos confirmam o empurrão, mas ninguém sabe dizer realmente quem foi. Mas, isto não importa. Está armado o cenário de uma trama sórdida, em que a arte é um mero detalhe.
Este é um livro sonoro, repleto de movimentos cadenciados, com acordes sublimes, poéticos, pungentes. Seus personagens são dilacerados, intensos e contraditórios. O sexto romance de Cony foi publicado no conturbado ano de 1965 quando o jovem jornalista e escritor sofreu sua primeira prisão por motivos políticos.



“Simone não compreendia a melancolia das demais. Achava que tudo termina assim mesmo, no balé ou no convento, na prostituição ou na arte, há um fim e há que enfrentá-lo.”


“Ali, naquele camarim, todas já haviam beijado as tábuas do palco. Kátia escapara por ser leve e ágil. Dominava o corpo, tinha equilíbrio prodigioso, sabia como colocar-se em qualquer imprevisto. Por instinto, era uma bailarina, embora, por vocação, fosse uma puta.”


“Sou uma honesta escrava dos meus vícios.”

“Preciso de provas, provas de que Marlene existe, não é um fantasma que eu tenha criado à sua imagem e semelhança, ou à minha imagem e semelhança – o que é infinitamente pior. Eu amo Marlene, logo existo – eis a minha lógica.”


““Sou um pagão” – disse-lhe, e ele se impressionou com a minha frase. Desejou ser como eu, sem Deus, pagão bruto. Pois aí está, não tenho Deus, mas tenho Marlene, é mil vezes pior. Me obriga a um código abominável, a uma circuncisão obscena. Mas eu a adoro e a traio, embora a minha traição não seja como a dela. Ela me trai com outros. Eu a traio com a outra Marlene, a real, aquela que leciona no subúrbio e faz programas com rapazes e deita-se com eles como se deitou comigo.”


“Estudara outras coisas, lera muito, sabia que o balé era arte em decadência – gênero menor, agarrando-se às tradições para suportar e prolongar a agonia final. Sabia que a dança era eterna, fora a primeira linguagem do homem, antes de falar ou de rezar, o homem dançou. Mas o exagero da expressão, a corrupção do romantismo, o excesso de sentido, do faz-de-conta, havia estragado tudo – o balé agonizava. Ela era uma prova disso: deveria dançar nua lá embaixo, mostrar o ventre aberto, o filho comendo-lhe o sangue e começando a viver. Mas não poderia realizar esta dança. Tinha de se submeter ao espetáculo, ao sentido, ao faz-de-conta: seria uma wilis, virgem morta de amor. Não era virgem, nem morta, nem tinha amor. Por que fazer de conta?”


“– Que te custa, Tatiana? Você será ouvida logo mais, basta pintar um retrato deprimente de Kátia, e nisso você não precisará mentir. Ela vivia desorientada, se havia alguém, aqui dentro, com motivo para matar-se, era ela.
– Todos temos motivos para isto.”

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