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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

O amigo de infância de Maigret, de Georges Simenon

Editora: L&PM

ISBN: 978-85-254-1907-1

Tradução: Rejane Janowitzer

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 176

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Sinopse: Em O amigo de infância de Maigret, o inspetor vê-se às voltas com um conhecido, colega dos bancos escolares, que o procura devido ao assassinato de sua amante. No decorrer da investigação Maigret constata que a vítima era mantida por mais quatro amantes...



“– Mas você não está achando que eu a matei, certo?

– Por que não?

– Você me conhece...

– Vi você pela última vez há vinte anos, na Place de la Madeleine, e, antes disso, só no liceu de Moulins...

– Tenho cara de assassino?

– Não leva mais do que alguns minutos, alguns segundos, para alguém se tornar um assassino. Antes, se é um homem como qualquer outro...”

 

 

“– Sua mulher é ciumenta?

– Sem dúvida, mas não de uma maneira particularmente feroz... Ela suspeita que eu tenha de tempos em tempos uma aventura, em Marselha ou em Paris...

– E o senhor tem, apesar de Josée?

– Pode acontecer... eu sou curioso, como todos os homens...”

 

 

“O filho do confeiteiro nunca fora o que se pode chamar de amigo. Já no liceu, o jovem Maigret experimentara por ele sentimentos mistos.

Florentin era engraçado e fazia a classe rir, não hesitava em se arriscar a uma punição para divertir os colegas.

Mas não havia na sua atitude uma espécie de desafio, ou mesmo de agressividade?

Ele zombava de todo mundo, imitava comicamente as expressões e os tiques dos professores.

Suas tiradas eram cômicas. Esperava o efeito delas sobre os rostos e ficava decepcionado se os risos não explodiam.

Já naquele tempo, não vivia à margem? Não se sentia diferente? E não era por causa disso que seu humor era ferino?

Em Paris, já homem, ele continuara o mesmo, conhecendo épocas mais ou menos faustosas e épocas sombrias, inclusive a prisão.

Sem se confessar derrotado, continuava mantendo a pose e, mesmo dentro de um terno gasto, uma elegância natural.

Ele mentia sem se dar conta. Tinha sempre mentido e não se abalava quando seu interlocutor percebia. Parecia dizer:

– Mas foi um achado, convenhamos!... Pena que não tenha funcionado...

Decerto frequentava o Fouquet, outros bares da Champs-Elysées e vizinhanças, e os cabarés, endereços em que se pode aparentar uma falsa segurança.

No fundo, Maigret suspeitava que Florentin era um atormentado. Seu papel de cômico não passava de uma fachada para se defender de uma verdade implacável.

Era um perdido, um perdido típico e, o que era mais grave, mais lamentável, um perdido ficando velho.”

 

 

“Jornalistas esperavam Maigret no corredor e ele se mostrou menos amável do que habitualmente.

– Está seguindo uma pista, senhor comissário?...

– Sigo várias...

– E ignora qual é a certa?

– Exatamente...

– Crê que se trata de um crime passional?

Quase respondeu que não existem dramas passionais. Pois, no fundo, era exatamente o que ele pensava. Tinha aprendido durante sua carreira que o amante desprezado ou a mulher abandonada matam menos por amor do que por orgulho ferido.”

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