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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Nos bastidores do reino: A Vida Secreta na Igreja Universal do Reino de Deus – Mário Justino

Editora: Geração Editorial
ISBN: 978-85-8602-806-9
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 150
“Logo entendi que duas qualidades são essenciais para ser um pastor de sucesso na Igreja Universal. A primeira é ter a capacidade de canalizar ofertas expressivas. A segunda é saber entreter o povo e segurá-lo nas “correntes”.”


“Nessas matérias, eu estava superando as melhores expectativas de meus professores. Na Igreja Universal do Reino de Deus, existe uma fórmula padrão para se fazer um culto. Sempre que alguém entrasse nos nossos templos, teria de ver a mesma coisa, não importando se estava em Belo Horizonte, Bogotá ou Buenos Aires. Os cultos eram feitos com gritos frenéticos dos apresentadores e a participação ativa da plateia.
Esse espetáculo espiritual é dividido em duas partes e chega ao clímax quando são realizados os exorcismos. Nesse momento, pessoas aos gritos começam a rolar pelo chão e jogar para cima os bancos da igreja. Algumas chegam a entrar em luta corporal com os pastores e obreiros.
Aos que vinham pela primeira vez, explicávamos que aquelas pessoas estavam possuídas por demônios e ensinávamos que eram esses espíritos malignos a fonte de mazelas como desemprego, problemas financeiros e amorosos. Dizíamos também que as doenças eram sinais físicos dessa possessão demoníaca e, uma vez que estes espíritos eram expulsos, as pessoas ficavam curadas de toda a sorte de enfermidades.
Geralmente entrevistávamos os endemoniados e, para mostrar ao respeitável público que tínhamos poder sobre eles, fazíamos com que essas pessoas andassem de joelhos ao redor da igreja, ou batessem a cabeça nos nossos pés, ou latissem ou ainda que imitassem galinhas, porcos e outros animais. Isso dependia da imaginação de cada pastor. Depois dos exorcismos, enquanto o povo explodia em aplausos e gritos de júbilo, do alto do púlpito nós agradecíamos os louvores. Mesmo sabendo que aqueles “demônios” nada mais eram do que pessoas em busca de alguma atenção ou sofrendo de seriíssimas crises emocionais, nossa atitude era indefectível.
Mas era na segunda parte do culto que o pastor tinha de “provar a que veio”.
O seu futuro como pastor dependia daquela hora e ele precisava ser cauteloso. Nem tão agressivo para não demonstrar ganância, nem tão passivo a ponto de deixar transparecer insegurança. Nenhuma outra passagem da Bíblia é tão exaltada e divulgada na Igreja Universal quanto o “Trazei todos os dízimos e ofertas”, de Malaquias (3:10). Pedir ofertas não era uma tarefa fácil, e bem-aventurado era o pastor que dominava a arte de fazer com que as pessoas abrissem seus bolsos ou assinassem cheques a fundo perdido.
Esses pastores eram poucos. Eles eram os reis da lábia. Pelos seus esforços, recebiam tratamento diferenciado: ganhavam bons carros, bons salários, boas roupas e boas moradas. Eles eram o “crème de la crème da igreja”. Ou “notáveis”, como se autodefiniam. As mordomias eram uma recompensa pela habilidade.
Basicamente, essa habilidade consistia em passar uma hora pedindo dinheiro, em valores decrescentes, e ainda fazer com que o saque parecesse uma singela parte do culto. Um singelo ritual em que os fiéis ajudam a manter o bom funcionamento da obra de Deus. Muitos pastores, por timidez diante do público ou por serem contra a total falta de transparência do roteiro do dinheiro, simplesmente não se esforçavam para levantar ofertas. Esses pastores formavam a ala conservadora da igreja e sempre eram mandados embora na primeira oportunidade. Bem-feito para eles: em vez de pedir altas ofertas e fazer macaquices no púlpito para entreter o povo, optavam por pregar tolices como salvação da alma ou tópicos que a ninguém importavam, como a segunda vinda de Cristo ou o dia do Juízo Final. Ladainhas.”


“Na nossa programação comentamos, ao som do piano de Richard Clayderman ou da flauta de Zamfir, os problemas que afligem a maioria dos humanos: desemprego, vícios, doenças, problemas conjugais e financeiros. Depois de um debate no qual discutíamos os efeitos desses problemas na vida das pessoas, apresentávamos a solução para tudo isso como uma única visita a um dos endereços da igreja. Uma vez que a pessoa ia à igreja, ela era orientada a fazer uma corrente de doze semanas. Corrente na qual ela viria a se tornar emocionalmente presa. Os que quebravam essa corrente imediatamente passavam a ter visões e ouvir vozes. Como Hollywood, nós sabíamos explorar o medo infantil que as pessoas têm da figura do diabo.”


“O comportamento dos líderes me absolvia de qualquer sentimento de culpa. Entre os pastores comentava-se a boca pequena, que as famosas “peregrinações da fé à Terra Santa” não passavam de excursões turísticas ao Oriente Médio, com direito a cassinos, noitadas em Tel Aviv e divertidos passeios de camelo às pirâmides egípcias. Além disso, os líderes estavam constantemente em viagens “de interesse da igreja” a cidades europeias com forte apelo turístico, como Paris, Roma e Londres.”


“Desde meus primeiros momentos na cúpula da Universal pude perceber o clima de competição reinante entre os pastores. Todos queriam destaque e consagração. Éramos todos engajados numa verdadeira guerra santa: espionando uns aos outros, copiando ideias, dedurando, fazendo lobby. Era a lei da selva. Esses eram os mesmos indivíduos que ocupavam os microfones e púlpitos pregando irmandade e amor entre os homens. A hipocrisia era parte do nosso trabalho.”


“Naquela época, Carlos Alberto Rodrigues era um obreiro adolescente e o recém-convertido Edir Macedo de Bezerra apenas um auxiliar de escritório da LOTERJ. Sem ter ainda o sonho messiânico e napoleônico de que no futuro bibliotecas inteiras e evangelhos seriam escritos sobre a sua pessoa.
Sem o apoio dos líderes de suas igrejas aos seus métodos revolucionários de atrair fiéis, como distribuição de sal milagroso, o então evangelista Macedo se juntou a um grupo de amigos evangélicos e fundou a sua própria igreja. Além de Rodrigues, fazia parte desse grupo o missionário R.R. Soares (cunhado de Macedo, que mais tarde rompeu com ele, fundando a Igreja da Graça), o reverendo De Paula (que também brigou com Macedo e saiu), o pastor Joacir (também saiu), o pastor Benedito (saiu), e o contador Naylton Nery (esse, quem diria, acabou no Irajá).
Hoje em dia esses pastores devem estar tão arrependidos quanto aquele quinto Beatle.
Com o crescimento imprevisível do bolo, e com cada um querendo a melhor fatia, começou uma luta interna pelo poder que terminou com a dissolução do grupo, o que deu a Macedo a liderança total daquilo que viria a ser um milionário aglomerado de empresas que, além da fé, atuaria em ramos tão diversos ente si quanto redes de comunicação e madeireiras, construtora e banco. Além da Universal produções, uma holding que administra uma gráfica, uma editora, um jornal e uma gravadora.”


“Quando minha mãe morreu, o pastor de sua igreja não se deu conta disso. Cinco meses depois, minha irmã recebeu uma carta endereçada a mamãe, com a seguinte mensagem: “Prezada Irmã, ultimamente temos sentido a falta de sua preciosa presença nos cultos de louvores ao Divino Espírito Santo. Espero ver-te na próxima Ceia do Senhor. Paz seja convosco. Seu escravo em Cristo, Pastor Ricardo Pellegrini.
PS. O dízimo da irmã está atrasado em cinco meses.”


“Sexo e dinheiro eram as maiores causas de queda dos pastores. Talvez pelo fato de esses dois itens serem muito acessíveis dentro da igreja. Quase todos os pastores recebiam bilhetinhos de mulheres se declarando apaixonadas e implorando por uma tarde de amor em um motel de beira de estrada. Algumas mulheres que frequentavam a igreja viam os pastores como galãs de telenovelas que povoavam as suas fantasias. Sempre vinham a nós confessando os sonhos sexuais que tinham conosco. O mais estanho é que a maioria dessas mulheres não era mais nenhuma garotinha debutante. Foram poucos os que, pelo menos uma vez, não sucumbiram à tentação.
Sexo, porém, não era motivo para mandar um pastor embora. A não ser quando o adultério ganhava proporções de escândalo e chegava ao conhecimento dos membros da igreja. Mas, sempre que possível, as puladas de cerca de alguns notáveis eram abafadas com panos quentes e tudo acabava em pizza.”


“No quadro de pastores foram introduzidas aulas de inglês, dicção, postura e etiqueta. Os lances de curandeirismo primitivo, que são fortes no Nordeste, como dar ao povo óleo e sal para tomar, nunca existiram em São Paulo. O Bispo sempre dizia que para cada peixe deve ser usada determinada isca.”


“Dinheiro, o sangue da obra de Deus, segundo o pastor Magno, havia se tornado no câncer que ia aos poucos comendo as vísceras da Universal. Era como se tudo ali dentro fosse feito em função de se fazer mais e mais dinheiro.
As reuniões de pastores, que nos anos anteriores continham leituras de salmos, cânticos espirituais e longas horas de oração, assumiam agora as características de reunião do conselho administrativo de mega-empresa. Os assuntos do dia eram compra e venda de imóveis ao redor do mundo, as cotações do ouro e do dólar ou os movimentos da bolsa de São Paulo e Londres. O único Evangelho pregado nesses encontros era aquele segundo Lilian Wite Fibe.”


“Alguns pastores não tinham nem mesmo a pachorra de esperar terminar o culto para checar a sacola com o dinheiro obtido: ajoelhados diante do povo numa alusão à sua humilhação diante de Deus, com o microfone numa mão faziam as suas orações decoradas. Com a outra mão iam abrindo envelopes para ver quanto haviam faturado naquele dia.
Nesse ambiente em que todos eram culpados, uma das táticas do Bispo para ser menos roubado foi colocar gente sua nos postos-chaves da igreja. Mesmo assim o dinheiro continuou escoando. Como em qualquer outra grande organização, o cabide de emprego e o nepotismo faziam parte do jogo interno da Universal. Por esta razão tínhamos de conviver com aquela regrinha que parecia ter sido extraída do poema: fulano, que era casado com a irmã de sicrano, que era tio de beltrano, que amava a filha do bispo, que não amava ninguém.
Exemplo clássico deste nepotismo era o pastor Ronaldo Didini, que depois apresentaria o programa 25 horas, na TV Record. O sujeito tinha por única qualidade ser cunhado do pastor Manuel Francisco, naquela época homem forte da Universal nos Estados unidos. Didini tinha sido oficial do Exército, afastado do serviço porque passou a desenvolver “fortes problemas emocionais”.
Não sei como ele tratava seus subalternos nos quartéis. Na igreja, Didini gritava e esbravejava com os obreiros como se estivesse comandando soldados em um treinamento de sobrevivência na selva. Freud explica. Nisso a igreja paulista se assemelhava às suas irmãs nos outros estados. Na prepotência daqueles que, se não se achavam melhores, pelo menos se achavam mais iguais que os outros.
Em São Paulo começamos a participar de reuniões que trouxeram à mesa de discussão um assunto que até então era um tabu: a vida sexual do pastor.
Quando aumentou sensivelmente o número de escândalos sexuais, a liderança se sentiu forçada a fazer alguma coisa para frear aquela onda. Num espaço de apenas alguns meses, dois grandes escândalos abalaram as estruturas da Igreja Universal em São Paulo.
O primeiro aconteceu quando o pastor Francisco, dono do rosto angelical que apresentava o programa na TV Bandeirantes, foi visto saindo de um motel com uma de suas ovelhas. Para quem não sabe, o disse-me-disse dentro da igreja é como fogo morro acima. Em pouco tempo todos os membros comentavam o affair de Francisco. Mas o escândalo maior veio quando o pastor Antônio, meu auxiliar no bairro A. E. de Carvalho, na Zona leste da capital, abandonou a mulher e o filho de três meses e fugiu com uma menina menor de idade que frequentava a igreja.
O bispo Macedo e o pastor Paulo começaram então a promover conferências sobre sexo em reuniões de casais realizadas em hotéis-fazendas espalhados pelo interior do estado. Os assuntos explorados iam desde sexo oral até sadomasoquismo. Nada que Marta Suplicy não comentasse na televisão. Mas, vindo do Bispo, aqueles comentários causavam um certo constrangimento na audiência. O efeito seria o mesmo se o papa reunisse sua bancada de cardeais e explicasse com detalhados pormenores como bater uma punheta com arte.
Nestas reuniões passamos a conhecer a faceta “latin lover” do Bispo que até então era exclusividade de sua mulher. Ele se mostrava como o grande homem capaz de satisfazê-la. “Plena e completamente”, fazia questão de deixar bem claro.
Na piscina com a mulher, Sua Excelência Reverendíssima não perdia a oportunidade de dar uma demonstração rapidinha do dragão sexual que era. Afirmava que, se todos seguissem seus conselhos, não haveria a necessidade de se procurar sexo fora do casamento. “Quem come bem em casa não tem fome na rua”, profetizava.
Na medida em que estes encontros aconteciam, os casais iam se descontraindo e participando mais confortavelmente do debate. Mulher de pastor, que no princípio corava somente de ouvir a palavra “cueca”, já levantava a mão, toda assanhadinha, para pergunta se banho-de-gato era pecado. O auge dessas reuniões foi quando chegamos ao consenso de que o casal tinha liberdade para fazer o tipo de sexo que bem quisesse. Ponto para a democracia. Só não era permitido usar chicotes ou algemas. Mesmo assim, ponto para a democracia.
Também ficou permitido visita a motéis e assistir filminhos de sacanagem durante a “trepada”. Era o “liberou geral”. A partir dali, sempre que um pastor encontrava o outro, já não mais trocavam conhecimentos bíblicos. Em vez disso, comentavam os últimos lançamentos do cineasta David Cardoso e da porno-star Cicciolina. Enquanto a Igreja Universal aderia aos novos tempos, no Vaticano ainda discutiam a absolvição de Galileu Galilei.
Há muito eu já havia deixado de ver a Universal como um lugar espiritual. Os únicos que ainda viviam esta ilusão eram os que se limitavam aos bancos da igreja. Qualquer um que fosse um pouco além disso descobria a triste verdade do Reino.
Um operador de áudio que era membro da igreja e trabalhava no estúdio da rádio São Paulo comentou comigo, durante uma sessão em que gravava o meu programa semanal, que ele estava pensando em pedir a sua dispensa, pois não suportava mais ouvir as conversas dos pastores sobre dinheiro quando eram levados ao ar.”


“Quando o Bispo fechou a compra da Record, por 45 milhões de dólares, nós tivemos que pagar o pato. Apesar de que não havia necessidade disso, nossos salários foram cortados por três meses com a desculpa de que a igreja precisava economizar dinheiro para o investimento. Ninguém se atreveu a protestar. Poucos anos mais tarde, o pastor Carlos Magno, líder da Universal e braço direito de Macedo, dirigente de estados como Ceará e São Paulo, irado com o Bispo por não ter recebido seu apoio na tentativa de se eleger deputado, fez a denúncia de que a Record tinha sido comprada com a ajuda de traficantes que queriam lavar no Brasil dinheiro de seu comércio de drogas. O pastor Carlos chegou a dar detalhes de como atravessaram as fronteiras do país com o jatinho de Macedo abarrotado de dólares. Não houve CPI e nem mesmo investigação por parte da Polícia Federal para averiguar as origens da denúncia. Por muito menos, nos Estados Unidos, o televangelista Jim Baker amargou vários anos na prisão.”


“O bispo Macedo dizia ter recebido uma mensagem celestial em que o Criador em pessoa com a mesma intimidade com que se dirigia aos seus profetas nos primórdios da humanidade, ordenara que a igreja apoiasse Fernando Collor de Mello para Presidência da República, pois ainda de acordo com o Todo-Poderoso, Collor, era o melhor candidato para o país e o único capaz de derrotar o “anti-Cristo” (leia-se Lula).
Como todos nós na época, o Senhor dos Exércitos ainda não conhecia PC Farias. Errar é divino.
O Bispo era um dos maiores cabos eleitorais de Collor (abaixo de Jeová, é claro). Ele fazia reuniões e se deixava fotografar vestindo camisetas do PRN. E no melhor estilo “aiatoloide”, proibiu todos os pastores e obreiros de votar em qualquer outro que não fosse o “escolhido”, e ameaçou: “Quem não é por mim é contra mim”.”


“Nada é pior do que saber não ser amado por ninguém.”


“Alguém já disse que o ódio é uma negação eterna. Do ponto de vista das emoções, ele é uma forma de atrofia que mata tudo ao seu redor, menos ele próprio.”

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Super Crentes: O evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os Profetas da Prosperidade – Paulo Romeiro

Editora: Mundo Cristão
ISBN: 978-85-8567-090-0
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 108

“Não há dúvida de que o movimento da fé tem em Benny Hinn, pastor do Centro Cristão de Orlando, na Flórida, um de seus nomes mais famosos. Seu livro, Bom Dia, Espírito Santo, é um dos mais vendidos hoje na América do Norte.”
A revista Christianity Today (Cristianismo Hoje), publicada nos Estados Unidos, afirma que em 1992 Benny Hinn disse, num programa de TV, que o Espírito Santo lhe ensinava, naquele momento, que Deus havia originalmente planejado que as mulheres dessem à luz pelos lados. Quando pressionado sobre tal ensino, Hinn admitiu que o havia tirado da Dake's Annotated Reference Bible (“Bíblia de Referência Anotada de Dake”, edição de 1963). Hinn ainda continua falando sobre o “corpo” do Espírito Santo, ensino este mencionado em Bom Dia, Espírito Santo. (...)
O boletim The Berean Call (O Chamado dos Bereanos), de Oregon, em setembro de 1992, publicou os seguintes comentários de Hinn a respeito de Adão e Eva:
Adão era um ser sobre-humano quando Deus o criou. Não sei se as pessoas chegam a saber disso, mas ele foi o primeiro super-homem que já existiu. Adão não só voava [como os pássaros], mas também voava para o espaço (...) com um pensamento ele estaria na Lua (...) podia nadar [debaixo d'água] sem perder o fôlego, e sua esposa fazia o mesmo (...) Ambos eram sobre-humanos.19
Em 1992, o jornal Mensageiro da Paz publicou uma nota sobre Benny Hinn:
O livro Bom Dia, Espírito Santo, de Benny Hinn, está causando celeuma nos Estados Unidos. Ele passa a ideia de que existem nove deuses na Trindade. O autor se justifica afirmando que não soube explicar bem o que queria dizer.20
19. Jornal The Berean Call, September 1992, citando a Trinity Broadcasting Network, 12.26.91.
20. Jornal Mensageiro da Paz, Casa Publicadora das Assembléias de Deus, seção Pelo Pax, setembro de 1992, p. 18.


“Uma das afirmações mais contundentes desta corrente é que o cristão deve ser próspero financeiramente e sempre ser livre de qualquer enfermidade. Quando isto não acontece, é porque ele deve estar vivendo em pecado ou porque não tem fé. Vejamos se tal posição tem apoio na Bíblia. (...)
Perseguido tenazmente por Saul, que procurava por todos os meios assassiná-lo, Davi foi procurar refúgio junto a Aquis, rei de Gate (1 Samuel 27:2). Em meio ao seu desespero, tornou-se extremamente negativo: “Disse, porém, Davi consigo mesmo: Pode ser que algum dia venha eu a perecer nas mãos de Saul” (1 Samuel 27:1). Apesar de sua atitude negativa, Davi não pereceu e nem poderia perecer pela mão de Saul. Deus o havia escolhido, através de Samuel, para ser rei de Israel. Se ele morresse, a palavra de Deus não se cumpriria. (...)
Não podemos deixar de mencionar o encontro que Jesus teve com o pai de um jovem que possuía um espírito mudo. Depois de lhe ouvir a súplica para que curasse seu filho, Jesus disse-lhe: “Se podes! tudo é possível ao que crê”. Ao que respondeu com lágrimas o pai do menino: “Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé” (Marcos 9:17-27).
Novamente temos, nesta narrativa de Marcos, duas confissões: uma positiva e outra negativa. Primeiro, o pai do rapaz diz que crê, mas logo depois admite sua dificuldade em crer e roga a ajuda do Senhor. O Senhor Jesus de maneira alguma o rejeitou e nem deixou de atendê-lo por causa de sua confissão negativa, antes, operou um grande milagre, libertando totalmente o rapaz para a alegria daquele pai.
O apóstolo Paulo nem sempre pensava positivamente. Chegou a afirmar, certa vez, que era o principal dos pecadores (1 Timóteo 1:15). Há vários outros exemplos na Bíblia que demonstram que a operação de Deus não depende dos méritos de seus filhos. Se Deus fosse depender de nossas fórmulas corretas e palavras precisas para operar, ele não operaria mais.”


“A Palavra de Deus jamais tratou os pobres com desdém, como se fossem amaldiçoados. Ao contrário, a preocupação de Deus para com o pobre é clara em toda a Escritura: “Pois nunca deixará de haver pobres na terra: por isso eu te ordeno: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na terra” (Deuteronômio 15:11). Isso foi endossado pelo Senhor Jesus, ao afirmar: “Porque os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem” (Marcos 14:7); e por Paulo também: “Ou menosprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto certamente não vos louvo” (1 Coríntios 11:22). “Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer” (Gálatas 2:10).
Quando Jesus foi apresentado no templo, seus pais levaram ao sacerdote a oferta do pobre: “e para oferecer um sacrifício, segundo o que está escrito na referida lei: Um par de rolas ou dois pombinhos” (Lucas 2:24, de acordo com Levítico 12:8). A situação financeira de José e Maria não indica, de modo nenhum, que estivessem sob algum tipo de maldição.
Certa vez, perguntado se era lícito pagar tributo a César, Jesus respondeu: “Por que me experimentais? Trazei-me um denário, para que eu o veja” (Marcos 12:14-16). Foi necessário que alguém lhe trouxesse uma moeda para que Jesus pudesse vê-la, o que indica que o Mestre não tinha consigo uma moeda. Ele mesmo afirmou numa outra ocasião não ter onde reclinar a cabeça (Lucas 9:58).
Kenneth Hagin acrescenta:
Muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um pregador certa vez me disse que fulano possuía humildade, porque andava num carro muito velho. Repliquei: “Isso não é ser humilde — isto é ser ignorante”. A ideia que o pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro velho. Um outro observou: “Sabe, Jesus e os discípulos nunca andaram num Cadillac”. Não havia Cadillac naquela época. Mas Jesus andou num jumento. Era o “Cadillac” da época — o melhor meio de transporte existente.32
Concordo com Hagin que humildade e pobreza não são a mesma coisa. Entretanto, ele se esqueceu de que a carruagem, e não o jumento, era o “Cadillac” da época. Além disso, ele se esqueceu também de que o jumento fora emprestado. Tal fato não prova, de maneira alguma, que Jesus vivesse uma vida de luxo.
Outro incidente de extrema importância para nossa análise encontra-se no livro de Atos. Quando Pedro e João chegaram à porta do templo, chamada Formosa, um coxo pediu-lhes uma esmola. Pedro disse ao paralítico: “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (Atos 3:1-8), e o homem foi curado. Naturalmente Pedro e João não estavam debaixo de qualquer maldição, em pecado ou sem fé, só porque não tinham prata nem ouro. Eles tinham algo melhor, a graça e o poder de Deus.
Jesus mesmo nos exortou a buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas nos seriam acrescentadas (Mateus 6:33). Parte do Sermão do Monte tratou exatamente disto: da ansiedade, da preocupação exagerada pela sobrevivência e pelos cuidados materiais. Jesus ensinou que não nos desesperássemos, mas que colocássemos nossa confiança em Deus. Se ele sabe cuidar dos pássaros e dos lírios do campo, cuidará melhor ainda de nós, seus filhos, feitos a sua imagem e semelhança. Há muitas outras passagens da Bíblia que poderiam ser citadas aqui no tocante ao assunto.”
32. Kenneth E. Hagin, A Autoridade do Crente, p. 48.


“Dentro da confissão positiva há aqueles que também se deixaram enganar pela serpente e hoje estão proclamando a deidade do homem. Vejamos alguns exemplos:
Você é tanto uma encarnação de Deus quanto Jesus Cristo o foi. Cada homem que nasceu de Deus é uma encarnação e o cristianismo é um milagre. O crente é uma encarnação tanto quanto o foi Jesus de Nazaré (Kenneth Hagin, Word of Faith, dezembro, 1980, p. 14).
Fisicamente, nascemos de pais humanos e participamos da sua natureza. Espiritualmente, nascemos de Deus e participamos da Sua natureza (Kenneth Hagin, Como Ser Dirigido Pelo Espírito de Deus, p. 96).
Até que compreendamos que somos pequenos deuses e comecemos a agir como pequenos deuses, não podemos manifestar o reino de Deus (Earl Paulk, Satan Unmasked, 1984, p. 97).
Você não tem um deus dentro de você. Você É um deus (Kenneth Copeland, fita cassete The Force of Love, BBC-56).
Cachorros geram cachorros, gatos geram gatos e Deus gera deuses (K. Copeland, no programa Praise The Lord, Trinity Broadcasting Network. Fita nos arquivos do ICP).”


“Há muitas outras declarações de Kenneth Hagin que são realmente preocupantes e algumas soam até como blasfêmias. As seguintes foram extraídas de um de seus livros mais recentes, Zoe: A Própria Vida de Deus:
Esta vida eterna que Ele veio nos dar é a natureza de Deus (p. 9).
Na realidade, eis o que é a vida eterna: Deus comunicando toda a sua natureza, substância e ser aos nossos espíritos (p. 10)
Já sabemos, portanto, que o homem é espírito. Sendo espírito, encontra-se na mesma categoria de Deus, porque Deus é espírito (p. 15).
Louvado seja Deus! Isto me foi concedido, porque tenho a vida e a natureza de Deus (p. 29)
O Senhor fez o homem como o Seu substituto aqui na terra... O homem era Senhor... Vivia em termos de igualdade com o Criador (pp. 50, 51).
Muitos membros do Evangelho Pleno não sabem, por exemplo, que o novo nascimento é a real participação na natureza divina. Não sabem ainda que são filhos e filhas de Deus tanto quanto o próprio
Jesus (p. 55). Jesus foi primeiramente divino e depois humano. E, na carne, Ele foi um ser divino-humano. Quanto a mim, fui primeiramente humano como você, mas eu nasci de Deus. E, desta maneira, tornei-me num ser humano-divino! (p. 55).
Eis quem somos: somos Cristo! (p. 57).
Se bem atentarmos, verificaremos que Adão era o deus deste mundo (p. 64).
Se eu permanecer em Deus e junto dEle, meus direitos estarão plenamente assegurados. Ninguém poderá oferecer-me nada melhor. Nem o próprio Senhor Jesus tem uma posição melhor diante de Deus do que você e eu temos (p. 79).38
Observe a última declaração acima. Creio que Hagin foi longe demais. Como pode Jesus ser o nosso mediador (1 Timóteo 2:5) se ele mesmo não tem uma posição melhor diante de Deus do que você e eu? Ao contrário do que diz Hagin, a Bíblia afirma que Jesus, “depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:3). Veja ainda Filipenses 2:9-11.”


“Vale a pena lembrar uma boa regra de interpretação: “Não dizer com firmeza o que a Bíblia não diz com clareza”.”


“Heresia é tomar qualquer verdade da Bíblia fora de seu contexto e enfatizá-la tanto ao ponto de negligenciar outras.”


“São muito esclarecedoras as palavras do Rev. Ove Lackell, que se formou no Rhema Bible Training Center (escola de Kenneth Hagin nos Estados Unidos) e que hoje é um missionário evangélico no Brasil:
Cheguei a Rhema como um novo convertido e os ensinos que recebi pareciam bons e estimulantes. Porém, depois de me formar e de pastorear minha primeira igreja, percebi mais e mais que havia uma ênfase muito forte em apenas alguns textos da Bíblia. Creio hoje, onze anos depois de minha formatura, que a escola Rhema ensina heresia. Heresia é tomar qualquer verdade da Bíblia fora de seu contexto e enfatizá-la tanto ao ponto de negligenciar outras.
O ensino da Rhema é desequilibrado e está com suas prioridades erradas. Há pouca ênfase sobre ganhar almas e ajudar os necessitados do mundo. Nos dois anos que passei ali, nunca vi uma oferta ser levantada para os perdidos e famintos do mundo, mas, sim, para manter o projeto de construção em andamento.
A soberania de Deus é deixada de lado. A maior parte do ensino é direcionada a “como desenvolver sua fé” a fim de que você possa receber sua herança de Deus. “Você tem direitos legais como um filho de Deus; reclame esses direitos.”
Grande parte do ensino é sobre direitos e muita culpa está envolvida nisso. Se uma pessoa não tiver fé suficiente ela não receberá. Precisamos de fé e confiança em Deus. Mas o que mais agrada a Deus é quando descansamos nos braços de um Pai amoroso, e não quando confessamos as Escrituras com base no “você pode fazer isto acontecer”. Creio que o movimento da fé exalta mais o homem do que o Senhor Jesus Cristo, construindo mais o reino de homens do que o reino de Deus. Há um espírito de orgulho do “que eu posso fazer em nome de Jesus”.
O aspecto do sofrimento é deixado de lado. “Jesus sofreu por nós, assim não precisamos sofrer mais.” Mas Jesus disse a respeito de Paulo: “pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (Atos 9:16). E deixado de lado, também, que o sofrimento pode ter um propósito no plano de Deus. Naturalmente, não é o sofrimento em si que tem valor, mas, sim, como reagimos em relação a ele.
A Palavra da Fé começou bem, mas acabou abandonando as fronteiras do verdadeiro cristianismo, glorificando mais aos homens do que a Deus. Minha oração é que eles voltem ao equilíbrio da Palavra de Deus a fim de alcançar as almas neste mundo perdido antes que o Senhor Jesus Cristo retorne.”