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sábado, 19 de julho de 2014

Aristóteles: obras completas (introdução geral) – António Pedro Mesquita

Editora: Biblioteca de Autores Clássicos
ISBN: 972-27-1371-X
Opinião: ★☆☆☆☆
Páginas: 752
Sinopse: O presente volume é constituído por quatro secções. A primeira, mais curta, trata da edição das Obras Completas. A segunda corresponde a um breve conspecto da biografia aristotélica, onde se procura reunir a melhor informação disponível e identificar algumas das dúvidas que a este respeito ainda permanecem. A terceira parte é preenchida por quatro estudos. Que tratam sucessivamente da história, estrutura e natureza da coleção aristotélica, da evolução e linhas de força do seu pensamento, de certos problemas de datação das suas obras principais e, finalmente, das dificuldades provocadas pela tradução de alguns conceitos centrais. No final do volume, e como quarta e última secção, encontra-se uma bibliografia selecionada, onde são reunidas as fontes e as obras auxiliares ou instrumentais utilizadas nas versões portuguesas, bem como a literatura secundária mais geral ou mais relevante sobre as obras traduzidas e os temas nelas abordados.



“Platão chamaria a Aristóteles “o leitor”, repetindo frequentemente: “Vamos a casa do leitor”.
O interesse desta tirada, a ser verdadeira, não reside tanto no apontamento de uma idiossincrasia do Estagirita, de um traço da sua personalidade ou de um seu costume absorvente, mas na apreensão de uma profunda alteração nos hábitos de leitura que o filósofo introduziu na cultura grega.
Com efeito, até Aristóteles, os livros não eram lidos, mas sim escutados.
O Grego coevo não lia seguindo ele próprio com os olhos as maiúsculas do texto, ou soletrando em surdina as letras que ia desenrolando no papiro, muito menos, como é evidente, folheando as páginas inexistentes dos volumosos cilindros.
Reclinava-se passivamente para saborear, como numa representação teatral, as frases que um servo educado recitava.
A novidade introduzida por Aristóteles foi a de acumular numa só pessoa a dupla função de recitador e de ouvinte, fazendo assim evoluir a noção arcaica de “leitor” como aquele que lê alto para outrem e fundando a partir dela a noção moderna de “leitor” como alguém que lê baixo, ou em pensamento, para si mesmo.
Neste sentido, chamar a Aristóteles “o leitor”, como fazia Platão, significava assinalar, e quiçá estranhar, esta mudança, senão verberar ironicamente uma excentricidade de meteco.
Com efeito, no regime cultural em que cobra sentido, o leitor é um escravo e ler uma ocupação servil. (...)
A partir de Aristóteles, deparamo-nos com um modo inteiramente novo de investigar, de fazer ciência e de produzir cultura. E a anedota relativa ao dito platônico surpreende justamente esta revolução in fieri.
Há, pois, razão em declarar que, com Aristóteles, o mundo grego passou do ensino oral para o hábito de ler.
Ora, este lance produzirá toda uma catadupa de mudanças radicais na atividade científica.
Não é exagero dizer-se que, com ela, é a própria noção moderna de investigador que surge.
Em Aristóteles, a institucionalização de rotinas de pesquisa, a atenção à recolha de dados, o pendor para o colecionismo histórico ou erudito, a criação da transmissão escolar e da prosa científica, o interesse sistemático pela tradição das disciplinas, são diretamente devedores desta primeira inovação.
Não devemos esquecer que, num tratado de tanta relevância metodológica como o primeiro livro dos Tópicos, ele próprio recomenda a prática de sublinhar e anotar os manuscritos à margem, de os transcrever e de elaborar fichas de trabalho, rotinas indissociáveis da leitura direta dos textos e, ao mesmo tempo, condições indispensáveis daqueles feitos.
E há mesmo bons motivos para pensar que a enorme produção de Aristóteles, tanto em termos absolutos como comparativos, deriva desta nova facilidade no acesso aos livros e das técnicas que ela permite.”


O IMPÉRIO DE ALEXANDRE
Na dilacerante polêmica acerca da Macedônia que, durante dezenas de anos, dividiu os atenienses em pró e anti, as razões estavam bem distribuídas.
Verdadeiramente, entre os amigos, como eram em geral os filósofos, e os adversários, recrutados sobretudo no partido popular, não havia diferença quanto aos fins, mas sim quanto aos meios.
Para ambos, como em geral para todos os Gregos, o grande, o verdadeiro, o único inimigo estratégico da Hélade era o império persa, em que se corporizava uma secular história sangrenta de contendas e guerras e, principalmente, em que residia, à época, a única ameaça real e consistente (parecia então) ao modo de vida grego.
Os Persas eram os bárbaros – e eram bárbaros perigosos.
E por “bárbaros” entendiam eles: seres inferiores, naturalmente feitos para serem escravos, porque a ignorância culposa da sua humanidade os fazia sofrer sem remorso nem vergonha a indignidade de servirem um amo onde os Gregos obedeciam à neutralidade objetiva da lei e de entregarem a um só a soberania que era originariamente de todos.
Mais do que a estranheza da língua, que relevava sobretudo do simbólico, o que distinguia os Gregos dos bárbaros era, para eles, um modus vivendi, tanto político como espiritual, que os fazia crer acima e antes de tudo no império da lei, na soberania do cidadão e na autonomia da cidade e, portanto, deplorar a visão soturna, para oriente, de extensos territórios lavrados por servos ao ritmo do chicote de um sátrapa, representante corrupto e venal do imperador todo-poderoso, qual deus absconditus no seu casulo distante.
Pelo contrário, os Macedônios eram apenas uma espécie de gregos degenerados, diminuídos da sua condição natural de homens livres à degradante situação de súbditos de um soberano absoluto, “à maneira oriental”.
Ora, o que dividia pró-macedônios e antimacedônios era uma questão tática, não uma questão estratégica: a percepção que cada um deles respectivamente tinha do “inimigo principal”, isto é, daquele que, na circunstância, estava em condições de fazer pior e provocar um dano mais profundo e prolongado ao modus vivendi helênico.
Para os primeiros, entre os quais se encontrava Aristóteles, a Macedônia, como nação grega, e nação grega poderosa – de fato, a única potência grega regional que sobrevivera à hecatombe das lutas fratricidas do século anterior –, era uma prevenção contra os apetites da Pérsia.
Ser pró-macedónio era, portanto, escolher o mal menor, preferindo tolerar as grosserias marciais dos boiardos do Norte, na expectativa de as poder polir pelo convívio, de modo a preservar o que mais importava, a saber, as liberdades e prerrogativas do homem grego, o autogoverno das Cidades e a estrutura criativa da πóλις, de onde havia surgido e em que se condensava toda a grandeza e originalidade, não só material, mas sobretudo espiritual, do gênio grego.
Mas os antimacedônios viam mais longe.
Pressentindo que a cobiça indisfarçável dos reis da Macedônia era o sinal de um espírito ele próprio oriental, desconfiaram, com razão, de que o que os animava não era a simples ambição de manter um ascendente, uma predominância ou mesmo um protetorado sobre as cidades gregas, mas sim a volúpia de mandar sobre elas como senhores absolutos.
Para eles, portanto, diante de uma Pérsia decadente, enfraquecida e sonolenta, a Macedônia era, agora, o verdadeiro perigo.
Mais do que isso, no domínio dos fantasmas noturnos, como, em breve, no das duras realidades da vigília, a Pérsia era agora a Macedônia.
Este um difícil aprendizado que alguns dos ingênuos e bem-intencionados aliados da Macedônia haveriam de fazer dolorosamente à sua custa, como Calístenes de Olinto, mandado executar por Alexandre em 327, por se ter recusado a prostrar-se a seus pés como perante um soberano asiático.
É que os homens como Calístenes haviam-se alistado na causa de Alexandre, não por causa de Alexandre, mas por causa da Grécia. Não tinham aderido ao seu sonho oriental para expandir qualquer território ou para criar qualquer império, mas para destruir um, e com ele a ameaça permanente que pendia sobre as cidades gregas. Não tinham percorrido desertos sem fim até ao fim do mundo conhecido por desejos de conquista, que nunca tinha movido alma grega nenhuma, mas para conservar as suas próprias intactas e incólumes.
Pelo contrário, Alexandre, é lícito pensá-lo, era para si mesmo a sua própria causa e o seu próprio sonho.
Os antimacedônios tinham tido razão: na loucura divina do imperador estava o germe daninho da escravidão oriental. E os Gregos não mais se livrariam dela, até bem próximo dos nossos dias.
É possível que o próprio Aristóteles se tenha dado conta disso, pelo menos após a execução do seu sobrinho e colaborador, com o qual parece ter mantido um permanente contato, recebendo dele notas, observações e amostras para as investigações comuns, se é certo que na carta a Alexandre intitulada Sobre as Colônias, escrita provavelmente por essa altura, criticava o projeto oriental do rei, especialmente no que toca à sua política de miscigenação.
Mas era tarde.
Alexandre tinha de ir até ao fundo do seu destino histórico, ou, o que vinha a ser o mesmo, tinha de ir até ao fundo do Universo.
Por isso, continuava, implacável e imparavelmente, a conquistá-lo.
À data da sua morte precoce, havia construído a pulso, e num tempo recorde, o maior império que a Antiguidade tinha conhecido, estendendo-se do Norte da Grécia à margem do Ganges.
Foi aí que a sua hora chegou, vítima de malária ou de “mão amiga”.
Morreu de febres a 13 de Junho de 323 a. C., com 33 anos incompletos. Alexandre fizera um império – e fizera nascer novos impérios.
Volvidos cinquenta anos, uma nova época de estabilidade se abria, desenhada com sangue pelas espadas dos seus generais.
O que ele criara – uma realidade imperial de matriz grega – e o que eles criaram – os grandes impérios helenísticos – decidiram a sorte da civilização grega clássica.
A sua morte foi a morte da πóλις.
Para lá dele, começara a era da globalização. Era o helenismo, tempo de uma civilização e de uma cultura em que homens como Aristóteles estavam a mais.”


“Quanto ao caráter de Aristóteles, o seu próprio texto dá-nos algumas indicações preciosas.
Podemos reconduzir a cinco as principais informações que os escritos nos fornecem: o horror às generalizações sem contrapartida na experiência; a atenção aos detalhes; o rigor na observância dos procedimentos metodológicos; o otimismo e a confiança no progresso do conhecimento; a tolerância para com a fragilidade humana e a complacência perante o fracasso.
A tradição antiga nem sempre é tão caridosa.
Numerosos testemunhos dão-no como inclinado para o abuso do sarcasmo, o que, aliás, é confirmado por algumas anedotas e por alguns apotegmas conservados, bem como por diversos passos da sua obra.
Outros traços teriam sido o gosto pela solidão, a autoconfiança e a ambição, bem como a capacidade de persuasão.
Mais no sentido dos textos vão a temperança e a moderação consigo mesmo, a dignidade e a firmeza na doença, quiçá mesmo a resignação.”


“A expressão “ecletismo” provém de œklŠgein, “escolher”, e aplica-se para designar a seleção de elementos doutrinários de diferentes filosofias e a sua fusão numa síntese geral. São conhecidas diversas correntes ecléticas na Antiguidade helenística e tardia, nomeadamente o ecletismo estoico, o ecletismo platônico e o ecletismo aristotélico. O segundo, testemunhado especialmente pela IV Academia e pelo platonismo médio, caracteriza-se pela inclusão de elementos de origem estoica numa doutrina matricialmente platônica.”


“Em sentido próprio, o ceticismo se refere a uma corrente filosófica do helenismo, iniciada por Pírron de Élis, que se prolongou, com vários matizes, por toda a Antiguidade. Caracterizam-na a suspensão do juízo, baseada na consciência da inapreensibilidade da natureza das coisas, e, consequentemente, a indiferença perante todas elas, de onde decorre a verdadeira felicidade, entendida como independência em relação aos desejos e às inclinações. O cepticismo das II e III Academias abriu uma forma ontológica e epistemológica, também chamado “probabilismo”, desta corrente.”


“A Escola Cínica foi uma escola socrática dirigida por Antístenes, seu fundador, e especialmente por Diógenes de Sínope (morto, já muito velho, cerca de 322 a. C.), que, pelo seu ensinamento e pela sua vida, de caráter ostensivamente frugal, configurou o modelo lendário do filósofo cínico e justificou o próprio nome atribuído à escola (que provém da palavra “cão”), significando o ideal de retorno à natureza que a norteia. Embora de índole predominantemente ética (onde avulta a sua identificação da felicidade, encarada como fim do homem, com a virtude, por estrita oposição com o prazer), a filosofia cínica contém também uma ontognosiologia, que claramente se opõe à platônica, pela sua postulação exclusiva do individual e do corpóreo e pela sua completa denegação dos universais.
A escola cínica veio a prolongar a sua influência ao longo da época helenística, designadamente através do estoicismo, com que mantém evidentes consonâncias e até uma relação histórica, se, como quer a tradição, é certo que o fundador do estoicismo, Zenão de Cítia, foi discípulo do filósofo cínico Crates de Tebas.”


“Na Escola Cirenaica, como nas demais originadas no ensinamento socrático, com exceção da platônica, há o predomínio da reflexão ética sobre a reflexão metafísica, lógica ou cosmológica. Neste domínio, a especificidade da filosofia cirenaica revela-se pela afirmação do primado da sensação e no apontamento do prazer como fim da ação humana, entendendo-o, no entanto, como o prazer do instante, o qual só é possível pela libertação de todas as emoções e inclinações provenientes das expectativas e dos cálculos de futuro. A influência que exerceu sobre o epicurismo é evidente.”


“O epicurismo é, a par do estoicismo e do ceticismo (pirrônico), uma das três grandes correntes filosóficas que surgem com a cultura helenística e que a vão marcar até ao final da Antiguidade. Se o estoicismo foi profundamente influenciado pela escola cínica, fundada em Atenas pelo discípulo socrático Antístenes, já o epicurismo denota uma evidente relação com a escola cirenaica, também derivada do socratismo, através de Aristipo de Cirene. Todavia, esta última influência verifica-se predominantemente no domínio da ética, em que ambas as escolas adotam uma solução hedonista para o problema do bem supremo, de acordo com a qual a felicidade reside no prazer (ou, mais precisamente, na ausência de dor), através do abandono de todos os desejos, temores e expectativas. Ao invés, em metafísica, o epicurismo optará por uma ontologia materialista baseada no atomismo de Leucipo e Demócrito e por uma epistemologia empirista, para a qual o conhecimento verdadeiro repousa sobre os sentidos.”


“A obra completa de Aristóteles seria constituída por cerca de cento e sessenta e nove escritos, cobrindo a totalidade de seções que determinamos no corpus, dos quais cento e dezoito seriam autênticos, trinta e sete espúrios e catorze duvidosos.
Se nos ficarmos apenas pelos autênticos, a comparação dá vinte e nove títulos para a obra conservada contra cento e dezoito para a obra completa. Conclui-se portanto que a obra conservada representa apenas cerca de um quarto do total e que oitenta e nove obras autênticas de Aristóteles se perderam, no todo ou em parte.”


“Dizer que Aristóteles nunca foi platônico, ou mesmo, como Düring, que “Aristóteles se colocou desde o início em oposição aberta a Platão”, declaração que, tendo em atenção os textos subsistentes, deve ser subscrita ipsissima verba, de modo algum implica que ele começou por formular teorias em oposição a Platão, mas apenas que, desde o início, Aristóteles jamais partilhou das intuições centrais que fazem do platonismo o que ele é, ou, ainda, que as suas próprias estiveram sempre em oposição íntima às de Platão.
O motivo é que existe uma contradição de princípio, ao nível do ponto de vista reitor, entre o pensamento aristotélico e o pensamento platônico, independentemente das zonas de coincidência que, em diversos aspectos, estruturais ou de superfície, se podem achar entre os dois pensamentos.
Neste quadro, pode dizer-se que, ao entrar na Academia, Aristóteles estava já filosoficamente formado, no sentido em que, ao nível do travejamento essencial da sua concepção do mundo, se encontrava dotado de uma identidade própria que o tornava antecipadamente imunizado contra a concepção platônica.
E a razão é simples: o primado que no seu pensamento é conferido ao indivíduo.
Esse o contributo asclepíada da sua personalidade. Mas não por um suposto vezo empirista da sua ideação. Antes pela sensibilidade colhida no convívio com a atividade clínica, cuja vinculação à singularidade tinha sido já, à época, devidamente reconhecida, tanto do ponto de vista prático como do teórico.
Neste sentido, Aristóteles nunca foi platônico – embora também se deva dizer que nunca teria sido Aristóteles se não tivesse havido Platão.
Por quê?
Porque foi no platonismo que Aristóteles se deparou com os desafios que a sua própria natureza lhe impunha fossem superados e descobriu os problemas que a sua intuição própria obrigava a serem resolvidos.
O maior desses desafios e desses problemas é, sem dúvida, a teoria platônica das ideias. E a resposta a ambos podemos encontrá-la na metafísica de Aristóteles, desde uma época tão primitiva quanto a da redação das Categorias.
Mas mais do que isso: Platão e a Academia facultaram-lhe também os meios e os instrumentos para construir a sua própria filosofia.
Já foi frequentemente observado que toda a silogística e a teoria da ciência aristotélica arrancam da dialética. Num certo sentido, é mais do que isso: todo o pensamento de Aristóteles arranca da prática da discussão na Academia e é ela que lhe permite descobrir os grandes conceitos e princípios que estruturam transversalmente o seu pensamento.”


“Podemos reconhecer a unidade do pensamento em cinco grandes características do gênio filosófico de Aristóteles, que constituem simultaneamente cinco aspectos transversais da sua ideação:
1) Na ordem da investigação, o cruzamento da observação (num sentido lato, que engloba a tradição e as opiniões sufragadas pela maioria ou pelos mais sábios) e da análise, subordinados a um modelo aporemático de pesquisa;
2) Na ordem da explicação, a opção finalista. O modelo teleológico de compreensão penetra todas as regiões em que a filosofia aristotélica intervém, da física à ética, da psicologia à política, da biologia à metafísica;
3) Na ordem da compreensão, a recusa da unicidade. Aristóteles é, como provavelmente nenhum outro filósofo anterior, sensível à pluralidade e à complexidade do real, na diversidade das suas manifestações e no caráter incontornavelmente multíplice dos princípios a que, dentro de cada domínio de análise, elas devem ser reconduzidas;
4) Na ordem da exposição, o primado do argumento. A filosofia grega é, por temperamento, uma filosofia em que a argumentação desempenha um papel de relevo. Parmênides, de cujo Poema subsistiram trechos bastante extensos, ou Platão, nos seus diálogos, dão-nos abundante ilustração desse vezo. Mas em nenhum deles se pode dizer que tudo o mais (exemplos, adorno literário, rasgos de eloquência, efeitos retóricos) é, como em Aristóteles, sacrificado à apresentação dos argumentos, sem cedências (não há aqui o proêmio parmenídeo, nem as alegorias e os mitos de Platão) e subordinando tudo a um regime puramente argumentativo de exposição, cuja fórmula típica é: enunciado do problema; posições anteriores; refutação; teses próprias; argumentos; objeções; resposta às objeções. Só raros momentos de ironia e um gosto particular pela citação (especialmente evidente na Ética a Nicômaco) perturbam de vez em quando esta regra;
5) Na ordem da fundamentação, a recondução para o indivíduo como último irregressível em todas as áreas de indagação e para a sua circunscrição ontológica (a teoria da substância) como ponto de referência constante.
Daqui decorre a permanência de determinadas doutrinas, princípios, conceitos e metodologias, que atravessam a obra aristotélica de cabo a cabo.”

Um comentário:

  1. É conveniente explicar a causa da avaliação deste livro ter sido ruim.
    Esta coleção possui mais de 40 volumes e esta primeira obra destina-se mais a embasar toda a série. Se aprofunda em temas demasiado específicos sobre a obra de Aristóteles, que não despertam interesse a não ser em quem deseje se tornar um especialista no autor.
    Em resumo, não é um livro dedicado a quem apenas deseje conhecer a obra de Aristóteles.

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