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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Minha vida – Robert Crumb

Editora: Conrad
ISBN: 978-85-7616-434-0
Opinião★★☆☆☆
Páginas: 144


“E o que é o sucesso da América? Uma vitória vazia, no máximo... eu – eu não sou um homem feliz... no fim das contas, o que de fato alcancei? (...) Nada foi resolvido... por dentro ainda sou...”


         “Olhando para trás do mirante elevado de meus cinquenta anos sobre a terra, fica bem claro que na minha juventude fui um tonto. Sim, um tonto... apesar disso, como todo jovem, achava que sabia tudo o que importa e um pouco mais. Eu era convencido, arrogante, e com uma ideia exagerada da minha própria importância.”


“Desprezo todos os governos, religiões organizadas, grandes corporações, cultos new age, mídias de massa, partidos políticos, qualquer tipo de hierarquia com líderes e seguidores... hm... talvez por isso me sinta tão sozinho...”


“Cê sabe, pros nossos pais era a segunda guerra mundial, “a maior de todas”... pra gente era o LSD e outras poderosas substâncias alteradoras de consciência... nossos pais contam histórias de guerra... nós contamos histórias de LSD (os caras que foram pro Vietnã contam as duas!)!!!”


“Como Mark Twain já disse sobre a América: É uma civilização que destruiu a simplicidade e o sossego da vida, substituiu seu contentamento, sua poesia, seus sonhos e visões suaves e românticos pela febre do dinheiro, ideais sórdidos, ambições vulgares e o sono que não revigora...”


“Todo mundo acha que é superior aos outros por algum motivo, mas eu sou mesmo.”


“É o sistema daqui que nos deixa do jeito que somos neste país... agressivos, famintos por dinheiro, autoafirmativos, conspiradores, furtivos, sujos, imprestáveis...”


“Cito o grande Jonathan Swift. Ele diz: ‘sempre detestei todas as nações, profissões e comunidades, só posso amar indivíduos’.”


“O mais repulsivo, entretanto, é aquele cara no espelho.”


“Tive uma educação católica na América dos anos 1950, que era muito, muito careta, então boa parte do que aconteceu nos anos de 1960 foi uma quebra disso, para ver o que havia por trás e tentar entender para onde ir dali para a frente. E depois? A civilização tem que continuar! Ninguém aqui quer virar bárbaro! Resolver tudo isso é complicado.
Tratando de artes visuais, é preciso revelar algo da realidade que não pode ser colocado em palavras. Qualquer artista que possa explicar seu trabalho em palavras não está no rumo certo. É difícil. Você está sempre tateando no escuro e revelando coisas a si mesmo enquanto cria sua arte. Tem gente que usa fórmulas ou investe seu talento todo no dinheiro – não sei como este povo aguenta. A coisa deve ficar entediante, creio eu...”

Obs.: Romance gráfico

Um comentário:

  1. Se cinismo algum dia for arte, o autor terá sido Robert Crumb. Um incongruente e apaixonante cruzamento de idiossincraisias bem dirigidas... E isso possível?
    Ah, bom, se fez essa pergunta ou ficou na dúvida, é porque nunca leu Crumb.
    Nem se trata de dissecar neuroses, nem muito menos ruminar nostalgia dentro de uma vida só. Mas quando acontece, são deslizes espontâneos, focados como criação. Crumb, pode-se dizer, é o artista que não inventa nada. Sente, vê e vive, e daí transmite. Cruamente e sem outro adereço outro que não o cinismo implacável e congênito, na dosagem necessária para torpedear meia sociedade. E alegrar a outra metade.
    Um exemplo luminoso da vida e da carreira do autor: Certa vez, ainda trabalhando no lendário zine ''Zap'', ele desenhou uma espécie de painel alucinado e grotesco, aonde explicitava uma dúzia de perversões e neuroses, da forma mais intencionalmente crua posssível. E embaixo escreveu: ''Isso é arte''?
    Ainda assim, essa biografia ''gráfica'', tem momentos que sim, são concessões dele para com ele mesmo,como diria o próprio, de romantismo explicitado. Os desenhos de uma paisagem, sendo transformada pela passagem do tempo, é a reveladora maior, além das reminiscências sobre a música, especialmente o blues, que deixa cair o pano da não tão monocrática, causticidade.
    Extremamente recomendável.

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