Editora: Conrad
ISBN: 978-85-7616-434-0
Opinião: ★★☆☆☆
Páginas: 144
“E o que é o
sucesso da América? Uma vitória vazia, no máximo... eu – eu não sou um homem
feliz... no fim das contas, o que de fato alcancei? (...) Nada foi resolvido...
por dentro ainda sou...”
“Olhando para trás do mirante elevado de meus cinquenta anos
sobre a terra, fica bem claro que na minha juventude fui um tonto. Sim, um
tonto... apesar disso, como todo jovem, achava que sabia tudo o que importa e
um pouco mais. Eu era convencido, arrogante, e com uma ideia exagerada da minha
própria importância.”
“Desprezo todos os
governos, religiões organizadas, grandes corporações, cultos new age, mídias de
massa, partidos políticos, qualquer tipo de hierarquia com líderes e
seguidores... hm... talvez por isso me sinta tão sozinho...”
“Cê sabe, pros nossos
pais era a segunda guerra mundial, “a maior de todas”... pra gente era o LSD e
outras poderosas substâncias alteradoras de consciência... nossos pais contam
histórias de guerra... nós contamos histórias de LSD (os caras que foram pro
Vietnã contam as duas!)!!!”
“Como Mark Twain
já disse sobre a América: É uma civilização que destruiu a simplicidade e o
sossego da vida, substituiu seu contentamento, sua poesia, seus sonhos e visões
suaves e românticos pela febre do dinheiro, ideais sórdidos, ambições vulgares
e o sono que não revigora...”
“Todo mundo acha
que é superior aos outros por algum motivo, mas eu sou mesmo.”
“É o sistema daqui
que nos deixa do jeito que somos neste país... agressivos, famintos por
dinheiro, autoafirmativos, conspiradores, furtivos, sujos, imprestáveis...”
“Cito o grande
Jonathan Swift. Ele diz: ‘sempre detestei todas as nações, profissões e
comunidades, só posso amar indivíduos’.”
“O mais repulsivo,
entretanto, é aquele cara no espelho.”
“Tive uma educação
católica na América dos anos 1950, que era muito, muito careta, então boa parte
do que aconteceu nos anos de 1960 foi uma quebra disso, para ver o que havia
por trás e tentar entender para onde ir dali para a frente. E depois? A
civilização tem que continuar! Ninguém aqui quer virar bárbaro! Resolver tudo
isso é complicado.
Tratando de artes
visuais, é preciso revelar algo da realidade que não pode ser colocado em
palavras. Qualquer artista que possa explicar seu trabalho em palavras não está
no rumo certo. É difícil. Você está sempre tateando no escuro e revelando
coisas a si mesmo enquanto cria sua arte. Tem gente que usa fórmulas ou investe
seu talento todo no dinheiro – não sei como este povo aguenta. A coisa deve
ficar entediante, creio eu...”
Obs.: Romance gráfico
Se cinismo algum dia for arte, o autor terá sido Robert Crumb. Um incongruente e apaixonante cruzamento de idiossincraisias bem dirigidas... E isso possível?
ResponderExcluirAh, bom, se fez essa pergunta ou ficou na dúvida, é porque nunca leu Crumb.
Nem se trata de dissecar neuroses, nem muito menos ruminar nostalgia dentro de uma vida só. Mas quando acontece, são deslizes espontâneos, focados como criação. Crumb, pode-se dizer, é o artista que não inventa nada. Sente, vê e vive, e daí transmite. Cruamente e sem outro adereço outro que não o cinismo implacável e congênito, na dosagem necessária para torpedear meia sociedade. E alegrar a outra metade.
Um exemplo luminoso da vida e da carreira do autor: Certa vez, ainda trabalhando no lendário zine ''Zap'', ele desenhou uma espécie de painel alucinado e grotesco, aonde explicitava uma dúzia de perversões e neuroses, da forma mais intencionalmente crua posssível. E embaixo escreveu: ''Isso é arte''?
Ainda assim, essa biografia ''gráfica'', tem momentos que sim, são concessões dele para com ele mesmo,como diria o próprio, de romantismo explicitado. Os desenhos de uma paisagem, sendo transformada pela passagem do tempo, é a reveladora maior, além das reminiscências sobre a música, especialmente o blues, que deixa cair o pano da não tão monocrática, causticidade.
Extremamente recomendável.