Editora: Landscape
ISBN: 978-85-777-5081-8
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 304
Sinopse: William
Mandella é recrutado no final da década de 90 para combater os misteriosos
taureanos. Para viajar até o front, os soldados precisam atravessar portais
chamados Colapsares, que causam uma dilatação no tempo, fazendo com que o tempo
subjetivo da nave seja mais lento que o tempo "real" do universo. Ou
seja, quando Mandella retorna para casa após servir por dois anos, quase três
décadas se passaram na Terra. E conforme eles viajam mais longe, maior é a
dilatação, passando de décadas para séculos inteiros.
“As criaturas eram tão altas quanto os
humanos, mas mais largas na cintura. Eram recobertas por uma pele de cor
verde-escura, quase preta... viam-se ondulações brancas onde o laser a
chamuscara. Pareciam ter três pernas e um braço. O único ornamento em suas
cabeças peludas era uma boca, um orifício preto e úmido preenchido com dentes
negros e lisos. Eram realmente repulsivas, mas sua pior característica não era
algo que as diferia dos seres humanos, mas uma similaridade...”
“Nos poucos momentos em que fiquei acordado
após, finalmente, me deitar, o pensamento de que a próxima vez que eu fechasse
os olhos pudesse ser a última veio à minha mente. E, em parte por conta da
ressaca da droga, mas sobretudo por causa dos horrores do dia anterior, eu me
dei conta de que não estava nem aí.”
“Mal o ouvi, tentando entender o que estava
acontecendo com meu crânio. Eu sabia que era apenas sugestão pós-hipnótica. Até
lembrei-me da sessão em Missouri, quando eles a implementaram, mas isto não a
tornava menos avassaladora. Minha mente girava sob pesadas pseudomemórias: os
alienígenas taurianos corpulentos e peludos (nada a ver com os que agora
conhecíamos) entrando em uma embarcação de colonizadores, devorando bebês
enquanto as mães gritavam horrorizadas (os colonizadores nunca viajaram com
bebês; não aguentariam a aceleração), estuprando as mulheres até a morte com
enormes membros roxos e cheios de veias (ridículo pensar que sentiriam desejo
por humanos), segurando os homens enquanto lhes arrancavam a carne dos corpos
vivos e devoravam logo em seguida (como se pudessem assimilar proteína
alienígena)... Uma centena de pavorosos detalhes tão perfeitamente relembrada
como se fossem acontecimentos ocorridos minutos atrás, ridiculamente exagerados
e logicamente absurdos. Mas enquanto minha mente consciente rejeitava aquela
bobagem, em algum lugar mais profundo, no fundo
daquele animal adormecido onde guardamos nossos reais motivos e
moralidades, algo estava sedento por sangue alienígena, convicto de que a coisa
mais enobrecedora que um homem poderia fazer seria dar a vida para matar
aqueles terríveis monstros...
Eu sabia que tudo aquilo era a mais pura
mentira e odiava os homens que haviam feito tais obscenidades com a minha
mente, mas podia até ouvir meus dentes rangendo, sentir minhas
bochechas congeladas em um sorriso espasmódico, desejo de sangue... Um ursinho
andou na minha frente, parecia confuso. Comecei a erguer meu laser de dedo, mas
alguém foi mais rápido, e a cabeça da criatura explodiu em uma nuvem de
fragmentos acinzentados e sangue.”
“– A vida – disse Marygay lamuriosa –, a vida
é...
– A vida é um monte de células que andam por
aí com um propósito em comum. Se este propósito em comum for me ferrar...”
“Estávamos saboreando um almoço leve (...)
quando um mensageiro chegou alvoroçado e entregou-nos dois envelopes: nossas
ordens.
(Nomearam-me) comandante e ela subcomandante,
mas as companhias não eram as mesmas. Ela faria parte de uma nova companhia que
seria formada aqui mesmo em Paraíso. Eu voltaria para o Portal Estelar para
“doutrinação e educação” antes de assumir o comando.
Por um longo período, ficamos mudos. (...)
Ela continuava entorpecida. Aquilo não era
apenas uma separação. Mesmo que a guerra terminasse e voltássemos para a Terra
com apenas alguns minutos de diferença, em naves diferentes, a geometria dos
saltos colapsares acumularia anos entre nós. Quando o outro chegasse à Terra,
seu parceiro seria, provavelmente, meio século mais velho; e, mais
provavelmente, estaria morto.
Ficamos ali sentados por algum tempo, sem
tocar na deliciosa comida, ignorando a beleza à nossa volta, conscientes
somente um do outro e das folhas de papel que nos separavam com um abismo tão
imenso e real quanto a morte.
(...) Tínhamos um dia e uma noite juntos.
Quanto menos disséssemos, melhor. Não se tratava apenas de perder um amante.
Marygay e eu éramos, um para o outro, a única ligação com o mundo real, a terra
dos anos 80 e 90. Não o mundo grotesco e perverso que estávamos supostamente
lutando para preservar. Quando a nave dela foi lançada, foi como se um caixão
tivesse sido lançado no interior de uma cova.
Requisitei um computador e descobri os
elementos orbitais de sua nave e a hora da partida. Descobri que poderia vê-la
partir do “nosso” deserto.
Pousei no cume do monte onde havíamos jejuado
juntos e, algumas horas antes de o sol nascer, vi uma nova estrela surgir a
oeste no horizonte, observei o brilho intensificar-se e diminuir à medida que
se afastava, tornando-se apenas mais uma estrela, depois uma estrela quase
apagada, e então nada. Caminhei até a beirada e olhei para a base da face
rochosa e escarpada, as ondulações das dunas obscuras e congeladas estendiam-se
por meio quilômetro. Sentei-me com os pés balançando na beirada, pensando em
nada, até os raios oblíquos do sol iluminarem as dunas em um suave e tentador
“claro-escuro” de baixo relevo. Duas vezes joguei meu peso para frente,
ameaçando pular. Não o fiz não por medo da dor ou da perda: a dor seria breve e
a perda seria do exército, e seria a vitória final deles sobre mim... tendo
comandado minha vida por tanto tempo, forçaram-na a um fim.
Aquilo eu devia ao inimigo.”
Abro alas para a orelha da obra:
ResponderExcluir“O livro de Joe Haldeman expõe a loucura da Guerra do Vietnã ao acompanhar a vida de um soldado que luta por milhares de anos em um conflito sem sentido. Joe Haldeman é ele próprio um veterano do Vietnã, sendo condecorado com uma medalha por ferimentos em combate. (...)
Para viajar até o front, os soldados precisam atravessar portais chamados colapsares, que causam uma dilatação no tempo.
A dilatação de tempo é uma óbvia metáfora ao sentimento de isolamento que os veteranos do Vietnã sentiam quando retornavam para casa. Após viverem por tanto horror, eles enfrentavam dificuldade em se adaptar àquele país que passava por mudanças arte e música, movimentos hippies, revoluções sexuais e etc. O artifício é bem construído ao longo do livro, e o leitor vê como cada vez mais Mandella se distancia da realidade, se sentindo apenas em casa na guerra ou na presença de veteranos.”
Creio que sem ler o livro, só com esta contextualização poderiam ficar claras as metáforas da obra descritas nesta postagem. Por exemplo, no primeiro parágrafo o autor se refere às diferenças e semelhanças entre os vietnamitas e norte-americanos, ou, no terceiro, expondo que normalmente, não se acredita racionalmente nos motivos apresentados pelos "donos do poder" para a guerra, porém, devido à lavagem cerebral exercida (quiçá pela imprensa, por governos, escolas, lobbys empresariais, financeiros, etc.), as pessoas podem a vir a desejar a guerra, mesmo reconhecendo-a como um ato abominável.
Onde posso baixar o livro?
ResponderExcluirOnde posso baixar o livro?
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