Editora: Companhia Editora Nacional
ISBN: 978-85-04-01161-6
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 448
“Paulo Ricardo
sempre foi chamado pelos dois nomes, mesmo no meio familiar. Certa vez, seu
Waldeck foi chamado ao colégio porque a professora estava desconfiada de que o
menino estivesse ficando surdo. Após terem conversado, o pai e a professora
foram ao encontro do menino no pátio da escola e ela o chamou: “Paulo, Paulo!”.
Nada, o menino não atendia. Seu Waldeck perguntou: “É por isso que a senhora
acha que ele está surdo?”. Tendo a resposta positiva, seu Waldeck se voltou
para o filho, que estava de costas, e chamou: “Paulo Ricardo!”. O menino
imediatamente atendeu. Então o pai explicou que ele não atendia pelo nome de
Paulo, e sim de Paulo Ricardo.”
“Na cidade de
Pelotas, Rio Grande do Sul, o RPM foi se apresentar na Fenadoce, uma feira de
doces da região. O show não foi dos mais tranquilos. Foi um dia de muita chuva
na cidade, a banda chegou atrasada e foi direto passar o som. Ao chegar ao
estádio, além da chuva, tiveram a surpresa de que o equipamento de som não era
dos melhores. “Acho que faltava um amplificador de baixo e mais algumas
coisas”, lembra Luiz Schiavon. Paulo Ricardo reclamou da qualidade do som e
disse que não iria fazer o show. Mesmo com os pedidos até certo ponto educados
do dono da feira, uma especie de sinhozinho gaúcho, Paulo Ricardo estava
irredutível. Porém, com a insistência do vocalista do RPM em não fazer o show,
o dono da festa foi um pouco mais enfático: “Vai tocar aqui mesmo, chê! Vai
tocar ou então vai morrer!”, disse o contratante, colocando uma arma na mesa,
recorda Aguiberto. “Tinha chovido muito. Faltavam uns equipamentos, mas tivemos
de fazer o show. O cara botou um revólver na mesa e aí ficou fácil. Fomos
tocar”, lembra Luiz.”
“Em O
Globo de 29 de setembro de 1986, a reportagem assinada por Isa Pessoa
comentava que alguém havia perguntado a uma menina de doze anos que estava na
plateia se ela sabia o que queria dizer um trecho da música “London, London”,
cantada por um coro de 40 mil pessoas, em inglês: “while my eyes go looking
for flyng saucers in the Sky”. A resposta foi direta: “Não, mas eu
sinto!”.”
“Na chegada a
Lima para a aguardada turnê, o RPM foi conduzido numa van do aeroporto ao
hotel. Na capital peruana havia toque de recolher devido a ameaças do Sendero
Luminoso. O carro andava muito pouco e parava, passando por vários comandos e
barreiras de policiais. Os membros do grupo já estavam fartos de tantas paradas.
Na quarta parada em menos de trinta minutos, o guarda perguntou mais uma vez ao
motorista de onde eles eram e onde estava o salvo-conduto. Não aguentando mais,
Paulo Ricardo, que estava praticamente no porta-malas da van, disse ao guarda:
“Ó, meu amigo, porra, não está lendo o que está escrito aí: Brasil, samba,
Pelé, rumba, banana, caralho...”. Mesmo todos estando apreensivos e com medo de
tantos guardas armados até os dentes com metralhadoras, não tiveram como não
rir do rompante do vocalista do RPM, visivelmente embriagado. “Isso mostra o
espírito anárquico do Paulo. Ele é muito engraçado. Quando quer, não tem pra
ninguém”, recorda Deluqui. Mas nem todos acharam graça. Os soldados não
gostaram da resposta do Paulo Ricardo e imediatamente apontaram suas armas para
ele. “O Paulo fez essa gracinha, e o soldado engatilhou a arma na cara do
Paulo. Depois foi engraçado, mas na hora foi feio”, lembra Luiz.”
“O motivo da
(primeira) separação do RPM nunca foi plenamente explicado. Divergências
musicais, problemas de divisão de ganhos, mais espaço para os quatro em todas
as composições, o crescente consumo de drogas e álcool, além do desgaste da
convivência durante mais de quinze meses em turnê podem ter sido o estopim da
crise. Mas nada preponderante ou gravíssimo: “Não houve um motivo real,
verdadeiro, para a separação. A loucura deles foi tão grande que se separaram
por bobagens. Ciúmes um do outro, dinheiro, drogas, exposição do líder vocal e
outras coisinhas”, resume Marcos Maynard, que sempre esteve próximo da banda.
“No meio de tudo isso, o Deluqui resolveu querer mais espaço e cantar. Ele já
tinha o seu espaço no palco, mas houve esse problema que contribuiu para a
separação.”
“Graças ao
sucesso e à arrogância demonstrada por todos os integrantes do RPM, a banda
rapidamente formou uma legião de desafetos. “Cada um de nós apresentou um
comportamento esquisito depois do sucesso”, reconhece Deluqui.
Mesmo com
integrantes de outras bandas contemporâneas do RPM, que dividiam o mesmo
camarim em programas de TV, como o do Chacrinha, Raul Gil e Bolinha, começaram
a surgir alguns problemas, e os RPM passaram a ser vistos com outros olhos.
Algumas frases publicadas pela imprensa na época ajudaram a apimentar esse
caldo:
Vai ter banda lá fora influenciada
pelas brasileiras. Vai ser uma longa história
(Paulo Ricardo, Bizz,
maio de 1986);
Quem quiser saber mais sobre nós,
a biografia está embaixo da agulha da vitrola
(Luiz Schiavon, Som Três,
outubro de 1985);
Queremos fugir da habitual
preguiça brasileira e tocar seja lá onde for
(Paulo Ricardo, Veja,
06/08/1986);
Só porque sou alto, bonito e
gostoso não quer dizer que o sucesso me subiu à cabeça
(Paulo Ricardo, Folha de São
Paulo, 15/08/1986);
Não existem grupos nacionais. O
que há são estilos diferentes
(Luiz Schiavon, Bizz,
setembro de 1985);
Fomos favorecidos por um momento,
uma onda de rock, e soubemos utilizar esse momento melhor que a maioria das
pessoas. Nosso sucesso talvez seja proporcional à nossa ambição
(Paulo Ricardo, Jornal do
Brasil, 20/07/1986);
Há um ano iriam rir da nossa cara.
A gente tem que ocupar espaço. Tenho um pouco de bode deste pessoal que se
julga o melhor e não vai à luta
(Luiz Schiavon, Bizz,
setembro de 1985);
Faço música, não sou ator de filme
pornô nem alvo fácil de comentários superficiais
(Paulo Ricardo, Veja,
06/08/1986);
Estamos famosos, cada um já teve a
sua divulgação pessoal necessária
(Luiz Schiavon, IstoÉ,
30/03/1988);
O Roger, do Ultraje, é um
explícito debochado. Já o Renato Russo, da Legião Urbana, é um explícito sério.
Eu sou um implícito lírico
(Paulo Ricardo, Bizz,
setembro de 1985).”
“Bizz (final de 1987) – Bem, vocês
voltaram. Mas eu sei, existem trabalhos que foram desenvolvidos paralelamente
que estavam até quase prontos [como foi o caso de Deluqui e P.A.]. Como vocês
resolveram isso?
Paulo – Ficamos (na época da
separação) cada um fazendo um trabalho e, quando nos encontrávamos, a gente
perguntava: “E aí? Está tocando com o baixista. E vocês? Estão tocando com que
guitarrista?”... “Beltrano, Ciclano? Blergh! Ircgh! [em falsete]”. Todos uma
bosta! No fim, porra, fizemos essa banda porque era a banda que depois de vinte
e tantos anos de neguinho se procurando, achou os caras e a banda deu certo. E
dá saudade... é como aquela coisa: estou solteiro, vou comer todo mundo... Aí
vai uma, duas e na terceira você já sente falta daquela coisinha que ela fazia,
começa a achar todas elas burras, começa a dar uma puta angústia...”
“Uma das razões
para o desgaste natural do relacionamento entre os integrantes do RPM foi a
falta de conhecimento mútuo e maior convivência entre os músicos. Não eram
amigos de infância, eram pessoas que se conheceram aos vinte e poucos anos de
idade e montaram uma banda de rock. Gravaram um disco, fizeram um grande sucesso,
ganharam muito dinheiro, foram para a estrada fazer shows e foram se conhecendo
durante esse processo. Não houve tempo de convivência para que se conhecessem e
soubessem aceitar as limitações, fraquezas e particularidades de cada um.
Fizeram as coisas que tinham de fazer, bem feito e rápido. Não precisaram de
ninguém nem tiveram quem indicasse o caminho correto, simplesmente seguiram a
onda que lhes era apresentada. “O RPM foi um estouro tão rápido que mexeu com a
cabeça de todos eles. Se tivessem um tempo maior antes do estouro, poderiam ter
criado raízes mais sólidas e o envolvimento com o sucesso seria diferente”,
acredita Luiz Carlos Maluly.”
“O assédio das
mulheres aos músicos do RPM sempre foi muito grande. (...) Uma história,
permitida, merece destaque. Na festa após a apresentação na praça da Apoteose,
no Rio de Janeiro, que aconteceu no Golden Room do Hotel Copacabana Palace, uma
famosa atriz de novelas procurou P.A. e começou a conversar sobre vários
assuntos. A conversa não rendeu, mas a atriz anotou o número do quarto onde o
baterista estava hospedado. Lá pelas quatro e meia da manhã, todo o RPM estava
em seus respectivos quartos com suas esposas – na época apenas P.A. estava
solteiro. De repente, o telefone toca e o batera atende. A voz do outro lado da
linha pergunta se ele sabia quem era. A resposta foi negativa. “Já tinha tomado
muita bebida, fora as outras coisas que sempre acompanhavam essas festas e não
sabia quem era”, recorda P.A. Ela disse que estava em frente ao apartamento
dele no Copacabana Palace e pediu que ele fosse até a varanda, pois assim
poderia vê-lo. P.A. foi e a moça começou a acenar da sacada de seu prédio,
localizado na diagonal do famoso hotel carioca. A atriz convidou P.A. para ir
até o seu apartamento para que continuassem a festa e conversassem mais, etc. O
baterista aceitou e foi se encontrar com aquela moça lindíssima em sua casa a
poucos metros do hotel onde estava hospedado.
Chegando ao
apartamento da atriz, ele foi surpreendido, pois o marido dela estava dormindo
lá. P.A. foi tranquilizado pela própria atriz, que disse não haver nenhum
problema. Começaram a beber e a consumir certa quantidade de drogas. Porém,
somando-se ao consumo anterior, no qual os dois já haviam abusado
deliberadamente, não conseguiram fazer muita coisa juntos a não ser conversar.
Até tentaram ter algum tipo de relação sexual, mas não foi possível. Os efeitos
do álcool e dos entorpecentes sobre o organismo dos dois eram tão intensos que
foi impossível consumar algum ato. “Não conseguimos, estávamos os dois muito
doidos. Uma pena. Me arrependo até hoje.”, lamenta-se P.A. O marido da atriz
acordou, tomou café com os dois seminus, se arrumou e foi trabalhar, sem o
menor constrangimento. P.A. saiu do apartamento da jovem atriz depois de uma e
meia da tarde.”