Editora: Record
ISBN: 978-85-0107-630-4
Opinião: ★★★☆☆
“Segundo ministros, Lula reclama do espaço “pouco acolhedor” (do Palácio do Planalto). Cristovam Buarque, da Educação, diz que o lugar é frio, propício ao “presidente que pensava ser europeu”, numa ironia a Fernando Henrique. Um ano depois, Buarque, em visita à Europa, seria demitido por telefone pelo presidente petista.
Para Lula, o Planalto é mesmo frio. Logo depois da posse, ele diz que não quer viver “trancado” ali. O presidente quer um governo itinerante, com o “pé na estrada”, nas ruas. Ao ser questionado naqueles dias se tinha medo de ser agredido por algum maluco nos contatos com o povo, ele responde:
– Só tenho medo de ficar sozinho.”
19/01/2005 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“A presença tão próxima dos militares (da segurança presidencial) causou preocupações especialmente à primeira-dama. Dona Marisa, que durante a ditadura viu o marido ser preso pelos militares, ficou preocupada se os filhos iriam aceitar a nova situação, com menos liberdade e mais vigilância. Ela estava em Brasília, nos primeiros dias de governo, quando foi informada de que um grupo de militares iria subir ao apartamento da família, em São Bernardo do Campo, para conversar com os filhos sobre o trabalho de segurança.
– Não, não subam. Deixa eu chegar aí primeiro. Eu quero participar da conversa – disse, por telefone.
Os seguranças não subiram. Os filhos do presidente, segundo amigos, levaram tempo para se soltar e deixar de lado marcas “visíveis” do período da ditadura militar. Ainda no primeiro ano de governo, um segurança morreria baleado ao evitar que um assaltante se aproximasse de um dos filhos do presidente, em São Paulo. Na relação com os seguranças ou assessores, os filhos de Lula sempre demonstraram ser astutos e discretos, com receio de causar problemas à imagem do pai.”
19/09/2004 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“O comportamento do presidente de exigir sempre objetividade, sem dar muita importância à política, causa estranheza em profissionais graduados das Forças Armadas e do Itamaraty.
No gabinete, no terceiro ano de governo, um embaixador apresentou a Lula três páginas com informações que poderiam ser usadas num discurso que o presidente faria a um chefe de Estado da Ásia.
– Presidente, se Vossa Excelência quiser, posso adensar mais dados aqui.
Lula fixou o olhar no diplomata e disparou:
– Pô, você acha que eu sou babaca de ler tudo isso? Resumo isso em três ou quatro coisas e chegando lá eu improviso o resto.”
12/09/2003 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“Nas viagens, ao ver um antigo militante na plateia, Lula faz questão de convidá-lo a se aproximar. Isso causa confusão. Jornalistas e seguranças também têm de acompanhá-lo. Assessores o aconselham a evitar esse tipo de contato. E a resposta do presidente é sempre a mesma:
– Porra, essa gente se fodeu pra fazer a minha campanha e agora não posso dar um abraço neles?”
22/02/2006 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“Lula teve dificuldades de chegar a Agra, cidade onde está o Taj Mahal. É que a neblina atrasou em mais de uma hora a decolagem do avião presidencial em Nova Déli.
– Chegar até aqui e não conhecer o Taj Mahal é o mesmo que não vir à Índia – argumentou.
Diante do monumento, ele brincou com os fotógrafos:
– Vocês já viram alguma coisa mais bonita?
A resposta foi negativa.
– Não é lá atrás, não. Sou eu, gente.”
Em Moscou (Rússia), passeio na Praça Vermelha.
Ao fundo, a catedral de São Basílio
18/10/2005 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“Tanto Fernando Henrique quanto Lula são admirados de forma intensa pelos seguranças, que apontam pontos positivos nos comportamentos dos dois presidentes. Os seguranças lembram que o tucano segurava a raiva e nunca explodia com os bajuladores, preferindo resolver os problemas com classe e ironia fina. Ele pensava e calculava gestos e atitudes. Usava a emoção de forma inteligente. Homens de visões estratégicas caem fácil no gosto dos militares. Lula, dizem, merece elogios por deixar claro que não tolera puxa-sacos e não é dessas pessoas com chances de morrer de infarte por engolir sapos.
Lula não mede as palavras e fala o que quer. Move a peça de xadrez sem o medo de xeque-mate, contam. Embora não seja cordial como o antecessor, o presidente é visto com simpatia pelos seguranças por ter, segundo palavras dos próprios, a disposição de trabalho e o jeito durão de um militar.”
Em Davos (Suíça), para a reunião do Fórum Econômico Mundial
28/01/2005 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“Fora dos holofotes, porém, Lula nunca escondeu o incômodo ao ver um de seus assessores com fome. Num jantar com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, na cidade suíça de Lausanne, em maio do primeiro ano de mandato, ele percebeu que o intérprete Sérgio Ferreira estava faminto e cansado. Sentado enquanto ouvia um discurso, o presidente pegou um prato com pães e aproveitou enquanto as câmeras apontavam em outra direção para cortar os pães em pedacinhos, passar manteiga e, discretamente, entregar o prato ao intérprete, que desde cedo traduzia conversas e declarações.
Lula, dizem amigos, não está preocupado se a pessoa está cansada. O que o aflige é ver os outros passando fome.”
24/05/2004 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“Enquanto assessores e ministros insistem no tom professoral em discursos e audiências, Lula se comporta, nos momentos mais privados, com a mesma descontração dos tempos de sindicato. Numa audiência do gabinete concedida a amigos do ABC, em maio do primeiro ano de governo, ele brincou com os visitantes. Lembrou de histórias e se divertiu. Manuel Anísio Gomes, sindicalista que articulou a visita dos metalúrgicos que queriam anistia por terem sido demitidos nos anos da repressão, contou depois aos jornalistas detalhes do encontro:
– Foi ótimo, muito bom. Ele estava tão descontraído que beliscou a bunda do pessoal.
Numa audiência com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na época em que o governo começa a discutir a transposição de parte das águas do rio São Francisco, o presidente ouve atentamente a opinião contrária dela às obras e os argumentos favoráveis dos técnicos da área. Após ouvi-los, Lula consola a ministra:
– Marina, essa coisa de meio ambiente é igual a um exame de próstata, não dá pra ficar virgem a vida toda. Uma hora eles vão ter que enfiar o dedo no cu da gente. Então, companheira, se é pra enfiar, é melhor que enfiem logo.”
25/05/2005 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“– Senhoras e senhores, atenção. Daqui a pouco nós estaremos chegando. O problema é que ninguém sabe aonde exatamente.” (Lula, do serviço de alto-falantes da cabine de comando do avião presidencial, em janeiro de 2004, no céu da Europa, brincando pelo fato de talvez não poderem pousar no país desejado – Suíça – devido às condições climáticas e terem três países como alternativa).
20/11/2003 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“No final do primeiro mandato de governo, Lula usaria as reportagens de sua visita ao Museu do Cairo, no Egito, para se afastar ainda mais da imprensa e organizar visitas fechadas a palácios e museus. O presidente ficou irritado ao ler que seus comentários e os de sua mulher sobre tumbas e peças antigas do museu haviam ganhado destaque dos jornais brasileiros.
Naquele dia, o primeiro comentário do presidente ocorre quando é informado de que a tumba do faraó Tutancâmon foi a única entre as dos imperadores egípcios a resistir aos saques.
– Veja desde quando vem o crime organizado.
A seguir, com os ouvidos ligadíssimos dos repórteres por perto, é a vez de a primeira-dama soltar a sua apreciação, ao ouvir do guia que os egípcios seguiam setenta mandamentos, e não apenas dez.
– Imagine, setenta. É muito pecado.
A sessão de análises do casal presidencial prossegue quando o presidente ouve a explicação sobre a múmia de Ramsés II, que teve cerca de duzentos filhos e sessenta mulheres e morreu com 92 anos de idade.
– Sentia tanta dor de cabeça que não tinha tempo para se preocupar com doencinhas – declara o presidente, para a seguir ouvir Marisa falar sobre o cabelo da múmia.
– O cabelo dele está branquinho, olha lá.
Na manhã do dia seguinte, ao ler parte das reportagens, o presidente fica enfurecido. Não entende o motivo de todas as suas falas virarem notícia, especialmente as brincadeiras ingênuas, feitas com frequência por qualquer turista em museu. E pior: vê aquilo como uma forma de a imprensa ironizá-lo.”
21/01/2005 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“O governo petista, vale ressaltar, representa um período de liberdade para os jornalistas. Ao contrário dos tempos tucanos, por exemplo, repórteres não têm o temor de, mais cedo ou mais tarde, terem suas cabeças pedidas pelo governo à direção dos veículos de comunicação. Essa liberdade momentânea se explica por conta da relação do governo Lula com repórteres, editores, colunistas, diretores e patrões da mídia. Todos são tratados da mesma forma, sem que um ou outro jornalista ou veículo tenha direito a privilégios descarados de informações. Todos são nivelados por baixo.
O presidente evita entrevistas formais e contatos diretos com pessoas influentes do jornalismo. Não telefona para pressionar ou fazer política com os chefes. Os repórteres nas ruas estão mais livres, o que aumenta o enfrentamento com assessores e seguranças da presidência em eventos oficiais.
Vale quase tudo para conseguir uma ou duas frases em conversas quebra-queixo com um presidente protegido por grades e cercado por militares. Lula responde a três ou quatro perguntas e vira as costas a repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Quando quer reclamar da imprensa, pelo menos é transparente. Usa o microfone em eventos pelo Brasil afora, sem citar nomes de profissionais ou empresas. Nada de conversas discretas.”
Em uma fazenda de Toritama (Pernambuco), após um pouso preventivo do helicóptero presidencial para fugir de uma tempestade
11/02/2005 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
“Ao longo dos anos 1980 e 1990, como líder petista, Lula construiu uma aliança forte e muito próxima com entidades sindicais e movimentos sociais. Com a estrutura do partido nas mãos, atuava como uma espécie de representante de honra dessas entidades em marchas e manifestações pelo país. Por isso, mesmo depois de chegar à presidência da República, não escondia de ninguém a satisfação que tinha de participar de eventos ao lado desses antigos “companheiros” políticos.
Para resumir, ouvia muitos elogios e poucas críticas. Nesses eventos, os raros e sempre sutis ataques ao governo eram estrategicamente endereçados à equipe econômica, como se a figura do presidente fosse alheia à condução de tal modelo.
No comando dos atos, sempre a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O último, aliás, na encruzilhada entre defender um projeto político que ajudou a eleger e enxergar suas famílias acampadas à beira da estrada à espera de um lote de terra.”
Entrega de residências em Lauro de Freitas (Bahia)
21/03/2006 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
Pausa para foto durante a visita às obras da Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Petrolina (Pernambuco)
21/02/2006 - Foto: Ricardo Stuckert (Presidência da República)
Havia outras belas fotos que infelizmente não consegui encontrar. Procurei, então, as mais próximas, e somente tive sucesso quando procurava as oficiais, algumas das quais postei aqui. De qualquer modo, diversas que gostaria de postar acabei não encontrando.
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