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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Esquerdismo, doença infantil do comunismo – Vladimir Ilitch Lênin

Editora: livro distribuído

Opinião: ★★☆☆☆

Páginas: 66

Sinopse: Esquerdismo: doença infantil do comunismo, escrito e publicado em 1920, foi o último livro de V. I. Lenin. A Rússia soviética passava por uma dura guerra civil (1918-1920) levada a cabo pelas forças burguesas e reacionárias – internas e estrangeiras – derrotadas em 1917. No movimento revolucionário internacional, estavam consolidados a falência da Segunda Internacional e o triunfo da estratégia e tática bolchevique na Rússia. E também se viviam as consequências imediatas do fim da Primeira Guerra Mundial, num clima de destruição e reconstrução.

Em 1919, Lenin propõe como tática para se fortalecer o movimento revolucionário – e a própria Revolução Russa – a criação da Terceira Internacional, que ficaria conhecida como a Internacional Comunista. O experimentado dirigente via a necessidade de um movimento revolucionário internacional para levar adiante a construção do socialismo, pois sabia que ele apenas se consolidaria e avançaria em direção a uma sociedade sem classes se os países do capitalismo desenvolvido também fizessem a sua revolução. Daí a sua preocupação com o movimento revolucionário na Alemanha, na Inglaterra e outros países.

O Esquerdismo (...) empreende uma crítica às correntes de esquerda na Europa com vista a consolidar uma força revolucionária que fizesse frente ao poder burguês e levasse ao triunfo a revolução em cada país. Empenhado em construir a Terceira Internacional, traça um breve histórico de construção do partido bolchevique na Rússia – tendo em conta as particularidades desta formação social – principalmente no que toca às táticas para tomar o poder de Estado. Com isso, também pretende demonstrar que a política está intimamente relacionada ao movimento das forças em luta na realidade. A luta de classes é a sua medida; e todas as táticas de luta são válidas se travadas de maneira revolucionária, isto é, se utilizadas como instrumento de divulgação das propostas e da consolidação das forças revolucionárias nos diversos setores da sociedade.

Neste sentido, a política não é feita somente a partir de princípios filosóficos, mas deve ser fruto de uma profunda análise da estrutura e da dinâmica das classes que a compõem; e deve estar vinculada a um único objetivo: tomar o Estado para começar a destruí-lo e forjar uma sociedade “em que o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”.



“A ditadura do proletariado é a guerra mais severa e implacável da nova classe contra um inimigo mais poderoso, a burguesia, cuja resistência está decuplicada, em virtude de sua derrota (mesmo que em apenas um país), e cuja potência consiste não só na força do capital internacional, na força e na solidez das relações internacionais da burguesia, como também na força do costume, na força da pequena produção. Porque, infelizmente, continua a haver no mundo a pequena produção em grande escala, e ela cria capitalismo e burguesia constantemente, todo dia, a toda hora, através de um processo espontâneo e em massa. Por tudo isso, a ditadura do proletariado é necessária, e a vitória sobre a burguesia torna-se impossível sem uma guerra prolongada, tenaz, desesperada, mortal; uma guerra que exige serenidade, disciplina, firmeza, inflexibilidade e uma vontade única.”

 

 

“Quanto a outro inimigo do bolchevismo no movimento operário, a coisa já é bem diferente. Pouco se sabe, no estrangeiro, que o bolchevismo cresceu, formou-se e temperou-se, durante muitos anos, na luta contra o revolucionarismo pequeno-burguês, parecido com o anarquismo, ou que adquiriu dele alguma coisa, afastando-se, em tudo que é essencial, das condições e exigências de uma consequente luta de classes do proletariado. Para os marxistas está plenamente provado do ponto de vista teórico – e a experiência de todas as revoluções e movimentos revolucionários da Europa confirmam-no totalmente – que o pequeno proprietário, o pequeno patrão (tipo social muito difundido em vários países europeus e que tem caráter de massas), que, muitas vezes sofre sob o capitalismo uma pressão contínua e, amiúde, uma agravação terrivelmente brusca e rápida de suas precárias condições de vida, não sendo difícil arruinar-se, passa-se facilmente para uma posição ultra-revolucionária, mas é incapaz de manifestar serenidade, espírito de organização, disciplina e firmeza. O pequeno-burguês “enfurecido” pelos horrores do capitalismo é, como o anarquismo, um fenômeno social comum a todos os países capitalistas. São por demais conhecidas a inconstância e a esterilidade dessas veleidades revolucionárias, assim como a facilidade com que se transformam rapidamente em submissão, apatia, fantasias, e mesmo num entusiasmo “furioso” por essa ou aquela tendência burguesa “em moda”.”

 

 

“Todo proletário conhece greves, conhece “compromissos” com os odiados opressores e exploradores, depois dos quais os operários tiveram de voltar ao trabalho sem haver conseguido nada ou contentando-se com a satisfação parcial de suas reivindicações. Todo proletário, graças ao ambiente de luta de massas e do acentuado agravamento dos antagonismos de classe em que vive, percebe a diferença existente entre um compromisso imposto por condições objetivas (pobreza de fundos financeiros dos grevistas, que não contam com apoio algum, passam fome e estão extenuados ao máximo) – compromisso que em nada diminui a abnegação revolucionária nem a disposição de continuar. A luta dos operários que o assumiram – e um compromisso de traidores que atribuem a causas objetivas seu vil egoísmo (os fura-greves também assumem “compromissos”!), sua covardia, seu desejo de atrair a simpatia dos capitalistas, sua falta de firmeza ante as ameaças e, às vezes, ante as exortações, as esmolas ou as adulações dos capitalistas.”

 

 

“A lei fundamental da revolução, confirmada por todas as revoluções, e em particular pelas três revoluções russas do século XX, consiste no seguinte: para a revolução não basta que as massas exploradas e oprimidas tenham consciência da impossibilidade de continuar vivendo como vivem e exijam transformações; para a revolução é necessário que os exploradores não possam continuar vivendo e governando como vivem e governam. Só quando os “de baixo” não querem e os “de cima” não podem continuar vivendo à moda antiga é que a revolução pode triunfar. Em outras palavras, esta verdade exprime-se do seguinte modo: a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que afete explorados e exploradores). Por conseguinte, para fazer a revolução é preciso conseguir, em primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou, em todo caso, a maioria dos operários conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda a fundo a necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar a vida por ela; em segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes atravessem uma crise governamental que atraia à política inclusive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação do número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes à massa trabalhadora e oprimida, antes apática), que reduza o governo à impotência e torne possível sua rápida derrubada pelos revolucionários.”

 

 

“A vanguarda proletária está ideologicamente conquistada. Isto é o principal. Sem isto não é possível dar sequer o primeiro passo para a vitória. Mas daí para o triunfo ainda falta uma grande distância a percorrer. Apenas com a vanguarda é impossível triunfar. Lançar a vanguarda sozinha à batalha decisiva, quando toda a classe, quando as grandes massas ainda não adotaram uma posição de apoio direto a essa vanguarda ou, pelo menos, de neutralidade simpática, e não são totalmente incapazes de apoiar o adversário, seria não só uma estupidez, como um crime. E para que realmente toda a classe, para que realmente as grandes massas dos trabalhadores e dos oprimidos pelo capital cheguem a ocupar essa posição, a propaganda e a agitação, por si, são insuficientes. Para isso necessita-se da própria experiência política das massas. Tal é a lei fundamental de todas as grandes revoluções, confirmada hoje com força e realce surpreendentes tanto pela, Rússia como pela Alemanha. Não só as massas incultas, em muitos casos analfabetas, da Rússia, como também as massas da Alemanha, muito cultas, sem nenhum analfabeto, precisaram experimentar em sua própria carne toda a impotência, toda a veleidade, toda a fraqueza, todo o servilismo ante a burguesia, toda a infâmia do governo dos cavalheiros da II Internacional, toda a inelutabilidade da ditadura dos ultrarreacionários (Kornilov na Rússia, Kapp & Cia. na Alemanha), única alternativa diante da ditadura do proletariado, para orientar-se decididamente rumo ao comunismo.

A tarefa imediata da vanguarda consciente do movimento operário internacional, isto é, dos partidos, grupos e tendências comunistas, consiste em saber atrair as amplas massas (hoje, em sua maior parte, ainda adormecidas, apáticas, rotineiras, inertes) para essa sua nova posição, ou, mais bem dizendo, em saber dirigir não só seu próprio partido, como também essas massas no período de sua aproximação, de seu deslocamento para essa nova posição. Se a primeira tarefa histórica (ganhar para o Poder Soviético e para a ditadura da classe operária a vanguarda consciente do proletariado) não podia ser cumprida sem uma vitória ideológica e política completa sobre o oportunismo e o social-chovinismo, a segunda tarefa, que é agora imediata e que consiste em saber atrair as massas para essa nova posição capaz de assegurar o triunfo da vanguarda na revolução, não pode ser cumprida sem liquidar o doutrinarismo de esquerda, sem corrigir completamente seus erros, sem desembaraçar-se deles.”

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