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quarta-feira, 24 de março de 2010

As crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupa – C.S.Lewis

Editora: Martins Fontes
ISBN: 978-85-7827-069-8
Tradução: Paulo Mendes Campos
Opinião: ★★★☆☆
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Páginas: 87
Sinopse: Ver Parte I
  


“Não se deve acusar de mentirosa uma pessoa que sempre falou a verdade”.


“– Mas ela não teve tempo! – disse Susana. – Mesmo que esse país existisse, Lúcia não teve tempo de ir lá. Veio correndo atrás de nós, logo que saímos da sala. Demorou menos de um minuto, e ela diz que passou horas lá.
– Pois é exatamente isto que me faz acreditar na história – disse o professor. – Se, de fato, existe nessa casa uma porta aberta para um outro mundo (e devo dizer que esta casa é muito estranha, e eu mesmo mal a conheço), e se Lúcia conseguiu chegar a esse mundo, não ficaria nada admirado se ela houvesse encontrado lá um tempo diferente; assim podia muito bem acontecer que, embora ela ficasse muito tempo lá, a gente não percebesse isso o tempo do nosso mundo. Lúcia, na idade dela, não deve saber disso. Logo, se estivesse fingindo, deveria ficar escondida durante mais tempo, para depois contar a mentira.
– Mas, professor, acha mesmo que pode existir outro mundo, em qualquer lugar, tão pertinho? Será possível?
– É muito possível – disse o professor, tirando os óculos para limpá-los. – Eu gostaria muito de saber o que estas crianças aprendem na escola! – murmurou para si mesmo.
– Mas o que devemos fazer no momento? – perguntou Susana, que sentia a conversa sair dos eixos.
– Minha querida Susana – disse o professor, fitando ambos com um olhar penetrante –, há um plano ainda não sugerido por ninguém, e que talvez valha a pena experimentar.
– Qual?
– Cada um trate de sua própria vida.”


“– Dizem que Aslam está a caminho; talvez até já tenha chegado.
E aí aconteceu uma coisa muito engraçada. As crianças ainda não tinham ouvido falar de Aslam, mas no momento em que o castor pronunciou esse nome, todos se sentiram diferentes. Talvez isso já tenha acontecido a você em sonho, quando alguém lhe diz qualquer coisa que você não entende mas que, no sonho, parece ter um profundo significado – o qual pode transformar o sonho em pesadelo ou em algo maravilhoso, tão maravilhoso que você gostaria de sonhar sempre o mesmo sonho.”


“– O punhal é para sua defesa, em caso de extrema necessidade. Porque você também não deve entrar na luta.
– Por que não, meu senhor? – disse Lúcia. – Acho que... bem, não sei... mas acho que eu era capaz de não ter medo!
– O problema não é esse. É que as batalhas são mais feias quando as mulheres tomam parte nelas.”

Reevolução – Válter Nunes

Editora: Phorte
ISBN: 978-85-7655-107-2
Opinião★☆☆☆☆
Páginas: 424

“E a versão oficial – definida por ele como “a verdade aceita pela maioria” – não lhe era nada favorável.”


Nunca confie absolutamente em alguém quando o assunto é o poder.


“– E o que você tem a dizer da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” que o povo francês impôs aos nobres e exportou para o mundo? – tentou ela.
– Seu exemplo ratifica tudo o que estou falando. Liberdade, igualdade e fraternidade para quem? Para a burguesia. Ou seja, para uma classe que se fortaleceu, acumulou recursos e que não tinha direitos garantidos pela legislação da época. Era a luta pela sua sobrevivência. Ou a burguesia derrubava o regime ou era oprimida por ele.
– Mas o povo foi às ruas!
– Veja quem foram os beneficiados. Derrubou-se o privilégio do nascimento e criou-se o privilégio do dinheiro, ou de quem o possuía. Certa vez, eu li um texto escrito pelo abade Sieyés, uma das figuras mais interessantes da Revolução Francesa, onde ficava claro o que a burguesia queria e o que a motivou a encabeçar o movimento. Ele afirmou que os burgueses – ou seja, os comerciantes, fabricantes, banqueiros, juízes, professores – queriam “ser alguma coisa”... Ser alguma coisa! Você consegue entender a profundidade desta afirmação? Eles não tinham direitos de fato. (...) Se a Revolução Francesa estivesse revestida de todo esse caráter popular que você invoca, as legislações posteriores a ela teriam sido completamente diferentes. O Código Napoleônico, por exemplo, com mais de dois mil artigos, reservou apenas sete para regular questões do trabalho e mais de oitocentos para proteger a propriedade privada. A propriedade da burguesia. Sem contar que as greves e as organizações sindicais eram proibidas, enquanto se permitia a criação de associações de empregadores.
– Esta história não consta dos livros – comentou ela.
– Os livros até contam os fatos como eles aconteceram. Só que com ênfase para o que interessa às classes dominantes ou vitoriosas. A Revolução da França foi a pá de cal no feudalismo e marcou o surgimento do capitalismo.
– O sistema que acabou se transformando na causa de todas as coisas ruins que estamos vivenciando!”


“Todo aquele que possui coisas de que não precisa é um ladrão.” (Gandhi)


“Como diziam os detentos, “quando o advogado é muito ruim, até suborno a juiz dá problema”.


Se você não concorda com o mundo que está aí, junte-se a nós. Queremos redesenhar a História da humanidade, partindo de um novo marco, construindo novos paradigmas e buscando soluções definitivas para velhos problemas.
Não temos fórmulas prontas. Tudo precisa ser reconstruído. As velhas certezas que nortearam gerações seguidas sucumbem por absoluta ineficiência no trato das questões do ser humano. Miséria, fome, exploração, doenças que poderiam ter sido erradicadas há anos, guerras, racismo, violência, entre tantos outros males, sobrevivem e ganham proporções maiores a cada dia. Chegou a hora de darmos um basta a tudo isso!
Com a convicção de que tudo o que acontece no mundo é problema nosso, participe do Movimento pela Reevolução Humana. Como? Fazendo sua parte. Não se omita e combata tudo o que contrariar os interesses da humanidade. Você saberá o que fazer! Busque aliados e monte uma rede para a consecução de nosso ideal. A ajuda aparecerá no momento correto, se seus princípios forem honestos à causa.



         “– Não há como nos iludirmos. Cada um seguirá seu caminho. Em pouco tempo, os contatos entre nós diminuirão de intensidade, conheceremos novas pessoas, iniciaremos outros relacionamentos e, quando menos percebermos, nossa amizade não passará de lembrança. Pode ser que alguns de nós não percamos o vínculo, mas isso será exceção. (...) Mas valeu a pena. Vivemos intensamente este período e fizemos a nossa parte. Saio com o sentimento de dever cumprido.”

terça-feira, 9 de março de 2010

Odisseia – Homero

Editora: Ediouro
ISBN: 978-85-0033-077-3
Tradução: Carlos Alberto Nunes
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 432
Sinopse: Ilíada e Odisseia são os maiores clássicos da literatura ocidental. Seus elementos míticos influenciaram a cultura através dos séculos e ainda conseguem dialogar com leitores de hoje. A Editora Nova Fronteira traz ao mercado uma edição especial dessas obras-primas de Homero, num boxe de luxo, com a famosa tradução de Carlos Alberto Nunes.



(...) “Os mais deuses, no entanto,
já no palácio de Zeus olímpico se achavam reunidos.
Foi o primeiro a falar o dos deuses autor e dos homens (...)
“Caso curioso, que os homens nos culpem dos males que sofrem!
Pois, dizem eles, de nós lhes vão todos os danos, conquanto
contra o Destino, por próprias loucuras, as dores provoquem.”


“Mas para todos a Morte é uma só, nem conseguem os deuses,
indo ao mais caro dos homens, sequer defendê-lo, ao ser ele
pelo Destino exicial alcançado, da Moira funesta.”


“É muito difícil aos homens lutar contra os deuses eternos.”


“Deixa-o partir e na cólera pensa do filho de Crono,
para evitar que se zangue e te advenha, daí, sofrimento.”


“O ferro os guerreiros atrai.”


“Deem-te os deuses obter quantos bens no mais íntimo almejas,
casa e marido, assim como com ele viver em concórdia
sem semelhante, pois nada é mais grato, nem mais de almejar-se,
do que marido e mulher governarem, acordes, a casa,
em comunhão de vontades. Com isso os imigos se irritam,
mas os amigos exultam; ao máximo os dois rejubilam.”


“Quem tem coragem consegue levar a bom termo as empresas em que se mete.”


“Nunca te mostres benévolo para tua própria consorte,
como, também, não lhes contes os teus pensamentos completos,
mas uma parte revela e outra deixa que oculta lhe seja.”


“Vi, também, Tântalo, e o modo por que ele, com pena indizível,
num lago estava metido, com água a bater-lhe no queixo.
Sede sofria; mas era impossível jamais minorá-la,
pois quantas vezes o velho tentava beber e abaixava-se,
era toda a água absorvida, escoando-se; negro surgia-lhe
dos pés à volta o terreno, que sempre um demônio secava.
Árvores altas com frutos vergavam-lhe sobre a cabeça;
eram pereiras, romeiras, macieiras de frutos opimos
mais oliveiras viçosas e figos de gosto agradável.
Mas, quantas vezes o velho tentava com a mão alcançá-las,
o vento forte as tocava para o alto, até as nuvens sombrias.
Vi, também, Sísifo, e o modo por que ele, com pena indizível,
com as mãos ambas tentava arrastar uma pedra enormíssima.
Firma os dois pés no chão duro, com ambas as mãos esforçando-se
para levar para cima o penedo; mas quando pensava
que já vencera o alto monte, com força outra vez retornava.
Dessa maneira, até o plano, rolava o penhasco impudente.
Ele de novo a empurrá-la começa, o suor escorrendo-lhe
dos membros todos, enquanto a cabeça de poeira se cobre.
Héracles vi, depois deles, dotado de força enormíssima,
isto é, somente sua sombra; ele próprio entre os deuses eternos
frui mil delícias, tendo Hebes a seu lado, de pés bem torneados,
filha de Zeus potentíssimo e de Hera, a das áureas sandálias.
Em torno dele se via o alarido dos mortos, qual de aves
que se dispersam com susto; ele, à noite de trevas semelho,
o arco desnudo na mão e, na corda, uma seta disposta,
olha terrível em volta, com gesto de pronto disparo.
Um talabarte potente trazia cingido no peito,
de ouro todo ele, no qual trabalhadas figuras se viam,
ursos e porcos selvagens e leões de mirada terrível,
lutas, combates, e Mortes; e prélios que os homens destroem.
Nunca fizera outro igual, nem lhe fora possível tal coisa,
o próprio artista que com tanto engenho essa peça aprontara.
Reconheceu-me no mesmo momento, ao me ter sob os olhos,
e, entre gemidos, profere as palavras aladas:
“Filo de Laertes, de origem divina, Odisseu engenhoso,
mísero! Certo também um destino funesto te coube,
tal como a mim me tocou, quando aos raios do Sol eu sofria.
Conquanto filho do Crônida, Zeus poderoso, trabalhos
inumeráveis sofri. Por um homem que me era somenos
fui subjugado, o qual muitos trabalhos me impôs, infamantes.
De certa vez me mandou até aqui, porque o cão lhe levasse,
pois não supunha que houvesse trabalho mais grave do que esse.
Mas consegui subjugá-lo e arrastá-lo do de Hades palácio.
A de olhos glaucos, Atena, com Hermes, de guia serviram-me.”


“Logo já realizado isso tudo; atenção ora presta
ao que te passo a dizer: aliás, há de um deus recorda-to.
Primeiramente, hás de ir ter às Sereias, que todos os homens
que se aproximam dali, com encantos prender têm por hábito.
Quem quer que, por ignorância, vá ter às Sereias, e o canto
delas ouvir, nunca mais a mulher nem os tenros filhinhos
hão de saudá-lo contentes, por não mais voltar para casa.
Enfeitiçado será pela voz das Sereias maviosas.
Elas se encontram num prado; ao redor se lhe veem muitos ossos
de corpos de homens desfeitos, nos quais se engrouvinha a epiderme.
Passa de largo, mas tapa os ouvidos de todos os sócios
com cera doce amolgada, porque nenhum deles o canto possa escutar.
Mas tu próprio, se ouvi-las quiseres, é força
que pés e mão no navio ligeiro te amarrem os sócios,
em torno ao mastro, de pé, com possantes calabres seguro,
para que possas as duas sereias ouvir com deleite.
Se lhes pedires, porém, ou ordenares, que os cabos te soltem,
devem mais forte amarras à volta do corpo apertar-te.”


(...) “O porqueiro levanta-se
para fazer a partilha; de espírito justo era ornado.
Em sete partes iguais dividiu toda a carne existente;
às ninfas uma reserva e para Hermes, o filho de Maia,
a quem dirige orações; as demais entre os homens divide.
O dorso inteiro do porco de dentes recurvos destina
para Odisseu, o que fez que o senhor se alegrasse no espírito.
Disse-lhe, então, Odisseu, o guerreiro solerte, o seguinte:
“Possas, Eumeu, ser tão caro a Zeus pai como a mim és agora,
pois apesar do que sou me distingues por essa maneira.”
Deste-lhe, Eumeu, em resposta, as seguintes palavras aladas:
“Come, infeliz mais que todos, e alegra-te apenas com isso
posto em tua frente, que Zeus umas coisas concede, outras nega,
tal como na alma lhe apraz, pois que pode fazer quanto queira.”


“O coração das mulheres bem sabes como é constituído.
Quer que prospere somente o palácio do novo consorte;
Nem do primeiro marido, que a Morte levou, nem dos filhos
dele provindos se lembra jamais, nem, tampouco, pergunta.”


“Sono demais prejudica.”


(...) “Falou-lhe, então, palas Atena:
“Filho de Laertes, de origem divina, Odisseu engenhoso,
ora convém conversares o filho, sem nada ocultar-lhe,
como deveis combinar a maneira do exício dos moços
e dirigir-vos à muito famosa cidade. Por muito
tempo não hei de ficar afastada, que anseio por lutas.”


“A vergonha é ruim companheira de quem necessita.”


“Os vagabundos e os pobres têm todos a mesma aparência.”


“Zeus pai, nenhum dos eternos te pode vencer em crueldade!
Pouco te importam os homens, conquanto de ti venham todos,
quando entre dores cruéis se debatem, em males sem conta.”


(...) “sempre foste querido dos deuses.
Não se apagou com tua Morte o teu nome: porém para sempre
entre os mortais hás de fruir, grande Aquiles, renome glorioso.”


“Todos os homens precisam da ajuda dos deuses eternos.”