Editora: Belas Letras
ISBN: 9788560174454
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 304
Sinopse: Em 11 de
janeiro de 1985, mesmo dia da abertura da primeira edição do Rock in Rio,
Humberto Gessinger subia ao palco do auditório da Faculdade de Arquitetura da
UFRGS de cabelo new wave e bombacha, para o primeiro show de uma banda
que tinha nascido para durar uma noite só. Era para ter se chamado Frumelo
& Os 7 Belos, mas ninguém gostou, então os integrantes da banda
resolveram fazer uma brincadeira com os estudantes de Engenharia e os surfistas
que frequentavam o bar da universidade, que estava a pelo menos 100 quilômetros
do mar. Engenheiros do Hawaii. Vinte e cinco anos depois dessa estreia,
Humberto Gessinger – que acompanhou todas as formações desde o primeiro show –
lança neste livro seu olhar sobre a trajetória do grupo, sobre cada uma das
composições e revela curiosidades e bastidores das gravações. Com fotografias
inéditas, informações sobre cada um dos discos, letras comentadas e um diário
de 1984 a 2009, Pra Ser Sincero é um livro sobre uma banda que era para
ter durado uma noite só, mas que acabou escrevendo um capítulo da história do
rock brasileiro, mesmo estando longe demais das capitais.
“Desde sempre escrevi, com a pior caligrafia
da turma, letras de músicas que não existiam. O violão foi ficando para trás,
acumulando poeira. Quando eu tinha doze anos, meu pai adoeceu. Faleceu quando
eu tinha catorze. Tudo ficou em stand-by, nesse período, lá em
casa. Acumulando poeira. Muita coisa ficou em stand-by para
sempre. Não deu tempo pra ele me ensinar a fazer a barba.
Enquanto meus colegas brigavam com seus pais
na saudável busca de identidade, à noite, eu colocava os chinelos do meu pai
para andar no escuro da casa. Fisicamente não nos parecíamos, mas o som dos
chinelos caminhando era igual. Matava um pouco da saudade.”
“Esse primeiro show parece ter ido bem.
Pintaram convites pra apresentações em outras faculdades e alguns bares. A
banda que montamos pra durar uma única noite estava virando uma banda pra durar
algumas semanas. Já como um trio, tocávamos onde dava pra tocar. Onde não dava,
também tocávamos.
O repertório ia mudando rapidamente. As
colagens performáticas foram dando lugar a um material mais pessoal, saído do
velho caderno. Dos bares, começamos a andar pelo interior. Era algo que as
outras bandas menosprezavam. Ficavam umas tocando para as outras, no mesmo bar.
Dizem as más línguas que são necessários 100 guitarristas gaúchos para gravar
um solo (um para tocar e 99 para dizer que fariam melhor). Não é bem assim, mas
é quase.”
“Toda Forma de Poder, primeira música
do nosso primeiro disco, cometeu quatro pecados capitais: colocou Fidel e
Pinochet na mesma frase, tinha participação de um ícone da MPG, estourou no
Brasil inteiro e entrou numa novela (nessa ordem).”
“As mudanças de formação se tornaram
frequentes na história dos Engenheiros do Hawaii. Não que eu gostasse. Não que
eu evitasse. Num mundo ideal, as pessoas ficariam juntas para sempre. Mas, num
mundo ideal, talvez não se precise de música.”
“Sempre achei que tua maior virtude e teu
maior defeito são irmãos siameses.”
“O mundo pop é muito novidadeiro. A onda é
vir, a cada ano, com outra onda. Como se novidade fosse um valor em si.
Sempre achei empobrecedor pensar assim. Prefiro artistas que abrem poucas
portas e se jogam na sala escura a artistas que abrem todas as portas só pra
dar uma espiadinha.”
“Sempre desconfiei dos atalhos. Não gosto de
seguir literalmente cartilhas. As indústrias que crescem na periferia da
produção artística têm os mesmos vícios de qualquer indústria. Vivem criando
seus presets. Camisas pretas e guitarras pontudas para o heavy
metal. Meninas tocando baixo para os alternativos. Guitarras semiacúsitcas e
terninhos para os retrôs. Bonés dos Yankees e Adidas pros rappers.
Se vacilar, até o tipo de droga, ou a não-utilização de drogas, já vem no
cardápio do estilo. Quando eu acabar de escrever essa frase, os modelos podem
ter mudado, mas a existência de um modelo certamente persistirá.”
“Uma coletânea de videoclips dos
Engenheiros do Hawaii foi lançada nesse ano (2006). Não tenho a menor ideia do
que representam, se representam algo. No início, eram feitos por uma grande
rede de TV, para passar no seu programa de domingo. Depois, viraram simples
peças promocionais. Não sei se deixaram de ser, se agora são obras de arte em
si. Nunca vi muito nexo no formato. Eu paro de zapear, na hora, para ver
qualquer músico tocar ao vivo. Mas colar outras imagens numa música, acho que
só a empobrece.
Convergência? Divirjo. Obra de arte total me
parece uma contradição. Me interessa mais o que é parcial. Não quero ser uma
colcha de retalhos. Quero ser só um retalho na colcha. A soma pode ser menor do
que as partes. Não se trata de empilhar sentidos (Cinco? Bingo!). Se a pomba
desenhada por Picasso voasse, seria um fracasso.”
“Um dos grenais de que me lembro com mais
carinho foi o de 1977. Ganhamos por 1 a 0, quebrando uma série de 123
anos correndo atrás. Meu pai estava internado num hospital perto do Estádio
Olímpico. No fim do jogo, assisti, pela janela do quarto, à caravana das
bandeiras tricolores. Carros e torcedores silenciosos por respeito. Sensação
boa de pertencimento. Consolo de não estar sozinho. A vida seria uma bobagem
sem essas bobagens.”
“Ouço vozes, tenho pavor de cobras e às vezes
tenho medo de começar a flutuar e não conseguir descer. Fico atento às árvores
a aos fios elétricos para me agarrar caso aconteça.”
“Uma possível medida de felicidade seria o
número de relações não capitalistas que um cara tem... tem gente que até com a
mãe tem uma relação de custo/benefício.”
“Não sei me expressar bem, tenho aquela ética
silenciosa do cowboy numa cidade estranha... não faço juras de amor.”
“A tentativa de autoconhecimento é o que me
fez cair na estrada, a busca de um espelho que não esteja embaçado pela minha
própria respiração.”
“Destino? Essa é a questão, tava escrito ou
nós é que escrevemos? Acho que nós escrevemos com a caneta que nos foi dada e
suas limitações... de fato, é lápis e não caneta... qualquer coisa, o tempo
apaga.”
“De cada 10 palavras, sete se perdem.”
“Concreto e Asfalto, para mim, é uma
oração. Gostaria de cantar para Jesus Cristo... ele ia achar uma merda e eu ia
entender.”
esse livro é mto bom!Humberto Gessinger realmente é um gênio,filósofo e poeta...e que mtas vezes não recebe o reconhecimento merecido.
ResponderExcluirGrande HUMBERTO!!!
Chorei, será o primeiro livro da minha lista a ser comprado. O Humberto é muito mestre. E Concreto e Asfalto é uma das que mais gosto.
ResponderExcluircom certeza vai ser o proximo livro a ser comprado por minha pessoas. sou muito fã do Humberto e de tudo que ele escreve,sendo musica ou livros
ResponderExcluirobg pelo site!