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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma Temporada no Inferno – Jean-Nicolas Arthur Rimbaud

Editora: Livro distribuído
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 103
Sinopse: “A última palavra do desespero, da revolta, da maldição. A poesia tudo deve a Rimbaud. Até agora ninguém o superou em audácia e imaginação.” (Henry Miller)
Embora tenha parado de escrever aos 21 anos, Arthur Rimbaud (1854-1891) foi uma das vozes poéticas mais talentosas já vistas, e sua pequena obra influenciou os maiores escritores dos séculos XIX e XX. Uma temporada no inferno, de 1873 é o visceral relato em prosa poética do homem perscrutando as suas profundezas e origens. De uma riqueza imagética sem precedentes na literatura, os textos deste livro visitam sonhos e terras distantes, desejo de solidão e sede de conhecimento, o passado ancestral e a busca pelo desconhecido. Deles emerge o homem rebelde e aventureiro, vivendo – como dizia Verlaine a respeito de Rimbaud – a própria “vida inimitável”.


““Sempre serás hiena, etc...” exclama o demônio que me coroou de tão amáveis papoulas. “Vence a morte com todos os teus apetites, com todo o teu egoísmo e todos os pecados capitais”.”


“Não ignoro que fui sempre de raça inferior. Não posso compreender a revolta. Minha raça só se rebelará para saquear: como os lobos ao animal que não mataram.”


“A quem me alugar? Que besta é preciso adorar? Que santa imagem atacar? Que corações destruirei? Que mentira devo sustentar? Sobre que sangue caminhar?”


“O sono em meio às riquezas é impossível.”


“O tédio já não é o meu amor. As cóleras, a libertinagem, a loucura, – dos quais conheço todos os impulsos e todas as consequências – todo o meu fardo está deposto. Apreciemos sem vertigem a extensão de minha inocência.”


“Não sou prisioneiro de minha razão. Disse: Deus. Quero a liberdade na salvação: como alcançá-la? Os gostos fúteis abandonaram-me. Já não preciso de sacrifícios nem de amor divino. Não tenho saudades do século dos corações sensíveis. Cada um tem sua razão, desprezo e caridade: retenho meu lugar no alto desta angélica escala de bom senso.”


“E é ainda a vida! - Se a condenação é eterna! Um homem que quer mutilar-se está condenado, não é assim? Acredito-me no inferno, logo estou nele. É o cumprimento do catecismo. Sou escravo de meu batismo. Pais, fizestes a minha desgraça e a vossa! Pobre inocente! - O inferno nada pode contra os pagãos. - É a vida. Mais tarde, as delícias da condenação serão mais profundas. Um crime, depressa, que as leis humanas me precipitem no nada.”


“Deveria ter o meu inferno pela cólera, meu inferno pelo orgulho, – e o inferno da preguiça; um concerto de infernos. Morro. De cansaço. É o túmulo, vou para os vermes, horror de horrores! Satã, farsante, queres dissolver-me com teus feitiços? Exijo. Exijo! Um golpe de tridente, uma gota de fogo.”


“Ele diz: “Não amo as mulheres: sabemos que o amor está por ser reinventado. Já não podem desejar senão uma posição segura. Alcançada, o coração e a beleza são postos à margem: não resta senão álgido desdém, o alimento do casamento, hoje (...)”.”


“Declara-me que sente remorsos, que tem esperanças: isto não deve importar-me. Fala com Deus? Talvez devesse eu mesma dirigir-me a Deus. Estou no mais profundo abismo, e não sei mais rezar.”


“A moral é uma fraqueza do cérebro.”


“Tive que viajar, distrair os encantamentos concentrados em meu cérebro. Do mar, que eu amava como se ele me fosse lavar de uma mancha, via emergir a cruz consoladora. Eu havia sido condenado pelo arco-íris. A Felicidade era a minha fatalidade, o meu remorso, o meu verme: a minha vida sempre seria demasiado imensa para dedicá-la à força e à beleza.”


“– Tive razão ao desprezar esses bons sujeitos que não perderiam ocasião de uma carícia, parasitas do asseio e da saúde de nossas mulheres, hoje que elas tão pouco se entendem conosco. Tive razão de todos os meus desprezos: por isso me evado! Evado-me? Eu me explico. Ainda ontem suspirava: “Céus! somos tantos os condenados cá em baixo! Quanto a mim faz tanto tempo que pertenço a essa legião! Conheço-os um por um. Aliás nos reconhecemos sempre; detestamo-nos. Ignoramos a caridade Somos, porém, corteses; nossas relações com o mundo corretíssimas”. É assombroso. O mundo! Os mercadores, os ingênuos! – Não estamos desonrados. – Mas os eleitos, como nos receberiam?”


“– Mas compreendo que meu espírito dorme. Se estivesse sempre desperto, a partir deste instante, alcançaríamos logo a verdade que provavelmente nos rodeia com seus anjos em pranto!...”


“Mas por que ter saudades de um eterno sol, se estamos empenhados na descoberta da claridade divina, – longe dos que morrem nas estações?”

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