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terça-feira, 27 de novembro de 2007

Amêndoa: um relato erótico – Nedjma

Editora: Objetiva

ISBN: 978-85-7302-636-8

Tradução: Adalgisa Campos da Silva

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 208

Sinopse: No Marrocos da segunda metade do século XX, Badra conta a história de sua vida, decidida a não medir palavras ou sensações e a honrar a milenar, tradição árabe de escrita erótica. Testemunho excepcional de uma mulher de origem árabe que ousa transgredir o tabu do sexo e do silêncio, A Amêndoa assinala um verdadeiro acontecimento: pela primeira vez uma mulher muçulmana se exprime com liberdade sobre sua vida íntima. Badra tem 50, anos e corajosamente decidiu revelar sua trajetória. De sua infância, quando corria descalça, curiosa e despreocupada em sua aldeia. De sua, adolescência, quando foi casada contra sua vontade, por conveniência, com um homem muito mais velho, que não demonstrou nenhum respeito ou carinho, por sua juventude ou virgindade. De sua fuga para Tânger, que lhe abriu um mundo novo onde as mulheres não viviam apenas para seus maridos. E, principalmente sua história com Driss, seu mestre e seu carrasco, homem da alta sociedade que se apaixona intensamente pela tímida e ardente, provinciana, e que lhe apresenta um amor total, arrebatado, profundamente sensual. Num relato perturbador e libertino, o livro abre uma janela para a, intimidade da mulher muçulmana. Com uma mistura de sensualidade e revolta, a autora mostra que por baixo dos véus e das proibições existe um mundo de desejos e sentimentos esperando para ser libertado. Uma obra cheia de volúpia, incandescente, radiosa, mas que é também um ato político: uma, reconquista da palavra e do corpo das mulheres árabes.



“No Livro de Contabilidade que o Eterno mantém, os homens certamente estão inscritos no capítulo dos Fanfarrões.”

 

 

“Eu até disse a mim mesma que a liberdade era mais embriagadora que a primavera.”

 

 

“O pecado! Eles (os religiosos) só têm esta palavra na boca.”

 

 

“Felicidade? Felicidade é fazer amor por amor. É o coração quase explodindo de tanto palpitar quando um olhar único pousa em sua boca, quando uma mão deixa um pouco de seu suor atrás de seu joelho esquerdo. É a saliva do ser amado que lhe escorre na garganta, doce, transparente. É o pescoço que se alonga, desfaz seus nós e seus cansaços, vira o infinito porque uma língua o percorrem em toda sua extensão. É o lóbulo da orelha que pulsa como um quadril. São as costas que deliram e inventam sons e arrepios para dizer “eu te amo”. É a perna que levanta, aquiescente, a calcinha que cai como uma folha, inútil e incômoda. É uma mão que penetra a floresta dos cabelos, desperta as raízes da cabeça e as rega, generosamente, com sua ternura. É o terror de dever se abrir e a incrível força de se oferecer, quando tudo no mundo é pretexto para chorar. Felicidade é Driss, teso pela primeira vez dentro de mim, e cujas lágrimas pingavam no meu ombro. Felicidade era ele. Era eu.

O resto eram apenas fossas comuns e descargas públicas.”

 

 

“Com cuidado, depois cada vez mais freneticamente, torno a explorá-lo, coroado de uma virgindade desprezível e magnífica. Ele quer isso. Não tenho Driss nem a cenoura de Bornia na mão. Pego-o e colho-o, severa. Ele pede mais. A extremidade do clitóris desponta, solta, como uma língua de fogo. Sucumbo. Quero isso. Quero a mim. Com o polegar, provoco a ereção sublime. Meu clitóris se escora no indicador caridoso e compreensivo que sustenta sua rigidez. Sua embriaguez. Comprimo essa massa de água e fogo para puni-la. Meu sexo me venceu. Está feliz e vibro até os dedos dos pés com sua felicidade. Mais que tudo, é a superfície macia e branca que me emociona. Gozo com e por esse sexo nu que caçoa de mim. Ele é tão lindo que compreendo que queiram enfiar a língua nele. Não me masturbo: faço amor com o bicho abençoado que goza sem vergonha nos meus dedos. Ele não para de escorrer e eu de lhe dizer: “Mais... Mais.” É de morrer de rir: apaixonei-me por minha própria boceta. Em uma noite, dei um passo de sete léguas, atravessei o espelho para finalmente me encontrar.”

 

 

“Se nunca pude pôr um filho no mundo, foi por não ter encontrado o pai que o protegesse dele.”

 

 

“Uma boceta tem mais necessidade de duas picas que uma pica de duas bocetas.”

 

 

“Cada boceta traz, desde que nasce, os nomes de quem vai comê-la.”

 

 

“– Por que você não se casou?

– Pelas mesmas razões que você, imagino. Liberdade demais, orgulho demais, tudo demais.”

 

 

“Diante dos pecados de uma mulher, os anjos são somente homens iguais aos outros.”

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