Editora: Objetiva
ISBN: 978-85-7302-636-8
Tradução: Adalgisa Campos da Silva
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 208
Sinopse: No Marrocos da segunda metade do século XX,
Badra conta a história de sua vida, decidida a não medir palavras ou sensações
e a honrar a milenar, tradição árabe de escrita erótica. Testemunho excepcional
de uma mulher de origem árabe que ousa transgredir o tabu do sexo e do
silêncio, A Amêndoa assinala um verdadeiro acontecimento: pela
primeira vez uma mulher muçulmana se exprime com liberdade sobre sua vida
íntima. Badra tem 50, anos e corajosamente decidiu revelar sua trajetória. De
sua infância, quando corria descalça, curiosa e despreocupada em sua aldeia. De
sua, adolescência, quando foi casada contra sua vontade, por conveniência, com
um homem muito mais velho, que não demonstrou nenhum respeito ou carinho, por
sua juventude ou virgindade. De sua fuga para Tânger, que lhe abriu um mundo novo
onde as mulheres não viviam apenas para seus maridos. E, principalmente sua
história com Driss, seu mestre e seu carrasco, homem da alta sociedade que se
apaixona intensamente pela tímida e ardente, provinciana, e que lhe apresenta
um amor total, arrebatado, profundamente sensual. Num relato perturbador e
libertino, o livro abre uma janela para a, intimidade da mulher muçulmana. Com
uma mistura de sensualidade e revolta, a autora mostra que por baixo dos véus e
das proibições existe um mundo de desejos e sentimentos esperando para ser
libertado. Uma obra cheia de volúpia, incandescente, radiosa, mas que é também
um ato político: uma, reconquista da palavra e do corpo das mulheres árabes.
“No Livro de
Contabilidade que o Eterno mantém, os homens certamente estão inscritos no
capítulo dos Fanfarrões.”
“Eu até disse a
mim mesma que a liberdade era mais embriagadora que a primavera.”
“O pecado! Eles
(os religiosos) só têm esta palavra na boca.”
“Felicidade?
Felicidade é fazer amor por amor. É o coração quase explodindo de tanto
palpitar quando um olhar único pousa em sua boca, quando uma mão deixa um pouco
de seu suor atrás de seu joelho esquerdo. É a saliva do ser amado que lhe
escorre na garganta, doce, transparente. É o pescoço que se alonga, desfaz seus
nós e seus cansaços, vira o infinito porque uma língua o percorrem em toda sua
extensão. É o lóbulo da orelha que pulsa como um quadril. São as costas que
deliram e inventam sons e arrepios para dizer “eu te amo”. É a perna que
levanta, aquiescente, a calcinha que cai como uma folha, inútil e incômoda. É
uma mão que penetra a floresta dos cabelos, desperta as raízes da cabeça e as
rega, generosamente, com sua ternura. É o terror de dever se abrir e a incrível
força de se oferecer, quando tudo no mundo é pretexto para chorar. Felicidade é
Driss, teso pela primeira vez dentro de mim, e cujas lágrimas pingavam no meu
ombro. Felicidade era ele. Era eu.
O resto eram
apenas fossas comuns e descargas públicas.”
“Com cuidado,
depois cada vez mais freneticamente, torno a explorá-lo, coroado de uma
virgindade desprezível e magnífica. Ele quer isso. Não tenho Driss nem a
cenoura de Bornia na mão. Pego-o e colho-o, severa. Ele pede mais. A
extremidade do clitóris desponta, solta, como uma língua de fogo. Sucumbo.
Quero isso. Quero a mim. Com o polegar, provoco a ereção sublime. Meu clitóris
se escora no indicador caridoso e compreensivo que sustenta sua rigidez. Sua
embriaguez. Comprimo essa massa de água e fogo para puni-la. Meu sexo me
venceu. Está feliz e vibro até os dedos dos pés com sua felicidade. Mais que
tudo, é a superfície macia e branca que me emociona. Gozo com e por esse sexo
nu que caçoa de mim. Ele é tão lindo que compreendo que queiram enfiar a língua
nele. Não me masturbo: faço amor com o bicho abençoado que goza sem vergonha
nos meus dedos. Ele não para de escorrer e eu de lhe dizer: “Mais... Mais.” É
de morrer de rir: apaixonei-me por minha própria boceta. Em uma noite, dei um
passo de sete léguas, atravessei o espelho para finalmente me encontrar.”
“Se nunca pude pôr
um filho no mundo, foi por não ter encontrado o pai que o protegesse dele.”
“Uma boceta tem
mais necessidade de duas picas que uma pica de duas bocetas.”
“Cada boceta traz,
desde que nasce, os nomes de quem vai comê-la.”
“– Por que você
não se casou?
– Pelas mesmas
razões que você, imagino. Liberdade demais, orgulho demais, tudo demais.”
“Diante dos
pecados de uma mulher, os anjos são somente homens iguais aos outros.”