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segunda-feira, 10 de junho de 2024

Anne da Ilha, de Lucy Maud Montgomery

Editora: Ciranda Cultural

ISBN: 978-85-380-9334-3

Tradução: Max Welcman

Opinião: ★★★☆☆

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Páginas: 256

Sinopse: Decidida a realizar o seu sonho, Anne se muda para Kingsport e vai morar com sua amiga Priscilla Grant para finalmente terminar os seus estudos em Redmond College. Gilbert Blythe, desejando estudar medicina, também parte para Kingsport e enxerga a oportunidade de revelar seus sentimentos a Anne. O novo ambiente e a vida adulta trazem novos desafios e perdas que mudam as perspectivas e amadurecem a forma como ela enxerga o mundo.



“Apesar de tudo, acho que são as coisas inesperadas que dão tempero à vida.”

 

 

“Ela era mais rica naqueles sonhos do que na realidade, pois o que os olhos veem é passageiro, mas o que não veem é eterno.”

 

 

“Os pioneiros são, geralmente, considerados loucos.”

 

 

“Na verdade, nós, mais velhos, Marilla, sempre acreditamos que as crianças nunca crescem.”

 

 

“– Ah… – suspirou Anne – eu lhe garanto que, enquanto esperava minha vez de me matricular, me senti o menor ser do mundo, isto é, uma gotinha no meio do oceano! É terrível sentir-se insignificante, mas é ainda pior que tentem nos convencer de que nunca poderemos ser mais do que isso. É assim que eu me sinto: como um ser invisível, como se parte desses do “segundo” pudessem me pisar e eu pudesse morrer sem que ninguém desse falta.

– Fique tranquila, Anne. Espere até o próximo ano – disse Priscilla, confortando-a. – Logo você será tão insuportavelmente sofisticada quanto os “segundos”. Estou certa de que é horrível sentir-se assim, mas antes isso do que sentir-se tão grande e desagradável quanto eu. Pensei que ocupando toda Redmond, mesmo por aqueles cinco centímetros de altura que me elevava sobre os demais, eu não teria medo de um “segundo”. O que me assustou, no entanto, foi que eles tenham me elevado à categoria de elefante ou algum espécime um pouco crescido de um ilhéu alimentado com batatas.

– Creio que o problema seja que não perdoamos a grande Redmond por ela não ser a pequena Queen’s – disse Anne, com o que restava de sua antiga filosofia, a fim de cobrir sua nudez de espírito. – Quando a deixamos, estávamos familiarizadas, era nossa casa: conhecíamos todos e tínhamos um lugar na comunidade. Acho que criamos uma inconsciente expectativa de encontrar em Redmond aquilo que tínhamos na Queen’s. E, agora, nos sentimos sem chão sob nossos pés, isto é, sem a base afetiva que nos mantinha de pé. De certo modo, fico feliz que a sra. Lynde e a sra. Wright nunca saberão sobre como eu me sinto. Elas diriam algo como: “Eu bem que te avisei” e estariam convencidas de que este é o começo do fim, quando, na realidade, é apenas o fim do começo.”

 

 

“– Eu nunca vou amar ninguém, até porque estar apaixonada faz de você uma escrava perfeita. Isso dá muito poder ao homem de te machucar. Fico com medo só de pensar nisso.”

 

 

– Tenho certeza de que ninguém pode amadurecer sem que passe por provações e tristezas, embora eu suponha que isso só seja possível de admitirmos quando estamos vivendo em tempos confortáveis.”

 

 

“Quanto à parte financeira... é melhor não falar. Os deuses fazem com que as pessoas que desejam punir tornem-se professoras.”

 

 

“É preciso viver os bons e os maus momentos com alguém para realmente conhecer essa pessoa.”

 

 

– Eu não desistiria de escrever tão prontamente. Vez ou outra escreveria algum conto, mas não os enviaria para os editores. Escreveria, entre outras coisas, sobre pessoas e lugares que fazem parte da minha vivência. Além disso, faria com que minhas personagens falassem o inglês do dia a dia. Deixaria o sol nascer e se pôr sem dar muita importância ao fato. Por fim, se tivesse que introduzir vilões na história, eu lhes daria uma chance. Isso mesmo, Anne, eu lhes daria uma chance. Certamente existem homens terríveis no mundo, mas você teria que andar um bom pedaço para encontrá-los. Apesar de a senhora Lynde acreditar que somos todos maus, a maioria de nós tem um pouco de decência em algum lugar aqui dentro. Não desista, Anne, e continue escrevendo.”

 

 

– Sempre fica algo inacabado – comentou a senhora Lynde, com os olhos cheios de lágrimas. – Mas suponho que sempre haja alguém que o termine.”

 

 

“– O preço das coisas está aumentando escandalosamente – suspirou Stella.

– Não se importe com isso, Stella. Graças a Deus, o ar e a salvação ainda são gratuitos – comentou tia Jamesina.”

 

 

– E pensar que este é meu vigésimo aniversário e que nunca vou ser adolescente novamente – comentou Anne para tia Jamesina. Estava ela encolhida no tapete em frente à lareira com Rusty no colo, enquanto a meiga senhora lia em sua cadeira favorita. Estavam as duas sozinhas na sala. Stella e Priscilla haviam ido a uma reunião do comitê e Phil estava em seu quarto, arrumando-se para um baile.

 – Suponho que você esteja um pouco triste – disse tia Jamesina. – Com a chegada dos vinte anos, encerra-se uma fase encantadora da vida. De minha parte, estou contente por não ter nunca saído totalmente dessa idade.

Anne sorriu.

– E a senhora nunca sairá, tia. Mesmo quando completar cem, ainda terá dezoito. Sim, é verdade que me sinto triste e um tanto insatisfeita também. Senhorita Stacy me disse, há muito tempo, que aos vinte anos o meu caráter já estaria definido, para o bem ou para o mal, mas sinto que isso ainda não aconteceu comigo, pelo contrário, sinto que meu caráter está incompleto e cheio de falhas.

– Assim como o de todos, Anne – replicou tia Jamesina, animadamente. – O meu, por exemplo, está partido em uma centena de lugares. Essa senhorita Stacy provavelmente quis dizer que, aos vinte anos, o seu caráter já teria se inclinado permanentemente para uma ou outra direção, e que assim seguiria desenvolvendo-se nessa linha. Não se preocupe com isso, nem tenha pressa, Anne. Cumpra o seu dever para com Deus, com seu vizinho, consigo mesma e divirta-se! Esta minha filosofia de vida sempre funcionou muito bem.”

 

 

– Não deveria ser difícil de decidir – censurou tia Jamesina.

– Nasci como uma gangorra, tia, e nada pode me impedir de balançar.

– Deveria ser mais sensata, Philippa – retrucou a tia.

– É melhor ser sensata, é óbvio – concordou Phil –, mas os sensatos perdem toda a diversão.”

 

 

“– Você deve pagar o preço por crescer, Paul e abandonar o mundo da fantasia.

– Vocês dois estão falando mais bobagens do que de costume – disse a velha sra. Irving, de forma indulgente, mas severa.

– Ah, não, não estamos – retorquiu Anne, balançando a cabeça gravemente. – Estamos ficando muito, muito sensatos... o que é uma lástima. Quando aprendemos que a linguagem nos foi dada para que possamos esconder nossos pensamentos, nos tornamos menos interessantes.”

 

 

“– Ande! Saia e tome um pouco de ar fresco – repetiu tia Jamesina –, mas leve o guarda-chuva, pois creio que vai chover, já posso ouvir meu joelho ranger. Estou atacada do reumatismo na minha perna.

– Somente as pessoas idosas deveriam ter reumatismo, tia.

– Qualquer um pode ter reumatismo nas pernas, Anne. Porém, só os idosos sofrem de reumatismo no espírito. Graças a Deus, deste eu nunca sofri! Quando você tiver reumatismo no espírito, é melhor que saia para escolher seu caixão.”

 

 

“Muitos homens haviam morrido por inúmeras causas e sido devorados por vermes, mas nunca por amor.”

 

 

“– Você é muito mais indulgente do que eu jamais poderei ser – comentou Anne, um pouco zangada.

– Você irá pensar diferente quando tiver a minha idade – redarguiu a complacente Janet. – Esta é uma das coisas que aprendemos conforme envelhecemos: como perdoar. E é muito mais fácil de aceitar aos quarenta anos do que aos vinte.”