Editora: Paulus
ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém
(BJ) – 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) 978-85-349-0228-1
Tradução, introdução e notas (BPa): Ivo Storniolo e Euclides
Martins Balancin
Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini
Notas (BPe): Luís Alonso
Schökel
Opinião: N/A
Páginas: BPe – 111 / BJ – 90 / BPa – 84
Sinopse: Ver aqui
“A origem da sabedoria1
Toda sabedoria vem
do Senhor,
e está com ele
eternamente.
A areia do mar, os
pingos da chuva,
os dias da
eternidade, quem os poderá contar?
A altura do céu, a
amplidão da terra,
a profundeza do
abismo, quem as poderá explorar?
Antes de tudo foi
criada a Sabedoria,
a inteligência e a
prudência, antes dos séculos.
A fonte da
Sabedoria é a palavra de Deus nos céus;
seus caminhos são
as leis eternas.
A quem foi
revelada a raiz da sabedoria?
Quem conhece seus
projetos?
A ciência da
sabedoria a quem apareceu?
a riqueza de seus
caminhos quem a compreendeu?
Somente um é
sábio, e é por demais terrível2
quando se assenta
em seu trono: é o Senhor.
Ele que criou a
sabedoria, a conheceu, a enumerou
e a derramou sobre
todas as suas obras;
Ele a repartiu
entre os seres vivos, conforme a sua generosidade,
e a concedeu a
todos aqueles que o amam.
O temor de Deus3
O temor do Senhor
é glória e honra,
alegria e coroa de
júbilo.
Respeitar o Senhor
alegra o coração,
dá contentamento,
gozo e vida longa.
O temor do Senhor
é dom que vem do Senhor;
com efeito, ele o estabeleceu
sobre os caminhos do amor.
Para o que teme ao
Senhor tudo terminará bem,
no dia de sua
morte será abençoado.
O princípio da
sabedoria é temer ao Senhor,
e para os fiéis,
ela foi criada com eles no seio.
Entre os homens,
ela fez um ninho, com alicerce perene,
e permanece junto
com os descendentes deles.
A plenitude da
sabedoria é temer ao Senhor,
e com seus frutos,
embriaga seus fiéis;
ela enche toda a
sua casa de coisas desejáveis
os celeiros com seus produtos.
A coroa da
sabedoria é o temor do Senhor,
ela faz florescer
a paz e a saúde.
Ambos são dons de
Deus, em vista do bem-estar
e para aqueles que
o amam a firmeza se alarga.
Deus faz chover a
ciência e a inteligência,
e exalta a glória
dos que a possuem.
A raiz da
sabedoria é temer ao Senhor,
e seus ramos são
vida longa.
O temor do Senhor
tira os pecados;
Aquele que
persevera desvia toda cólera.
Paciência e domínio de si
A irritação do
ímpio não poderá justificá-lo,
porque o ímpeto de
sua cólera é sua ruína.
O homem paciente
resistirá até o momento oportuno,
mas depois a
alegria brotará para ele.
Até o momento
oportuno calará suas razões,
mas os lábios de
muitos narrarão sua inteligência.
Sabedoria e retidão
Os provérbios
instrutivos são o tesouro da sabedoria
mas para o pecador
a religião é execrável.
Se desejas a
sabedoria, guarda os mandamentos
e o Senhor a
dar-te-á em profusão;
porque o temor do
Senhor é sabedoria e instrução,
e se compraz na
fidelidade e na humildade.
Não desobedeças ao
temor do Senhor
e não vás a ele
com um coração fingido.
Não sejas
hipócrita diante do mundo
e cuida de teus
lábios.
Não te eleves para
não caíres
e atraíres sobre
ti a vergonha,
porque o Senhor
revelará os teus segredos
e, te humilhará no
meio da assembleia,
pois não te
aproximaste do temor do Senhor,
e o teu coração
está cheio de fraude.”
(Eclo 1 – BJ / BPa
/ BPe)
1: A sabedoria se
origina em Deus, que a derrama em toda a criação, como segredo do projeto
divino. O homem começa a compreender o sentido do universo e da história quando
se compromete com Deus e seu projeto. (BPa)
2: Em sentido
pleno, só Deus pode ser chamado de sábio, e por isso é assustador e temível: Sl
76. (BPe)
3: O temor do
Senhor, para o judeu, é a religião ou a piedade. Percebe-se, desde o começo
deste trecho, que a ideia de temor físico, de terror diante do poder terrível
de Deus, praticamente desapareceu da teologia judaica. (BJ)
“Lute até à morte
pela verdade,
e o Senhor Deus
combaterá por você.”
(Eclo 4,28 – BPa)
“Não confie em
suas riquezas,
nem diga: “sou
autossuficiente”.
Não siga o seu
instinto nem a sua força,
para satisfazer os
seus caprichos.
Não diga: “Quem
poderá comigo?”
Porque o Senhor
castiga, e castigará você.
Não diga: “Pequei,
e nada me aconteceu”,
pois o Senhor é
paciente.
Não fique muito
seguro do perdão,
a ponto de
amontoar pecados,
pensando: “A
misericórdia de Deus é grande, e ele me perdoará todos os meus pecados”.
Porque ele tem
compaixão e cólera, e sua ira recai sobre os pecadores.
Não demore para se
converter ao Senhor,
e não fique
adiando isso de um dia para outro,
porque a ira do
Senhor virá de repente,
e você perecerá no
dia do castigo.
Não confie nas
riquezas injustas, porque elas não o ajudarão no dia da desgraça.
Não peneire o grão
em qualquer vento,
nem te metas por
qualquer trilha.
Sê consequente em
teu pensar
e coerente na
maneira de falar.
Sê rápido para
escutar
e lento para
responder.
Se você for capaz,
responda a seu próximo;
se não for, fique
calado.
Falar pode trazer
honra ou desonra,
e a língua do
homem é a sua ruína.
Não tenha fama de
caluniador,
nem use a língua
para preparar armadilhas,
porque para o
ladrão existe a vergonha,
e para o homem
falso uma condenação severa.
Evite erros
grandes e pequenos,
e de amigo não se
transforme em inimigo.”
(Eclo 5,1-15 – BPa
/ BPe / BJ)
“Amigo fiel é
proteção poderosa,
e quem o
encontrar, terá encontrado um tesouro.
Amigo fiel não tem
preço,
e o seu valor é
incalculável.”1
(Eclo 6,14-15 –
BPa)
1: A verdadeira
amizade não se baseia em interesses, e por isso permanece firme também na
desgraça. Podemos dizer ainda que a amizade é por excelência o sacramento da
relação humana penetrada por Deus. (BPa)
“Não desprezes as
tarefas de um serviço,
pois o trabalho
foi criado por Deus.”
(Eclo 7,15 – BPe)
“Não se junte à
multidão dos pecadores.
Lembre-se: a
cólera divina não tardará.
Humilhe-se
profundamente,
porque o castigo
do injusto é fogo e vermes.”
(Eclo 7,16-17 –
BPa)
“Honra o teu pai
de todo o coração
e não esqueças as
dores de tua mãe.
Lembra-te de que
foste gerado por eles.
O que lhes darás
pelo que te deram?”
(Eclo 7,27-28 –
BJ)
“Não repreenda o
homem que se converteu do pecado.
Lembre-se de que
todos somos culpados.
Não despreze o
homem velho,
porque nós seremos
velhos.”
(Eclo 8,5-6 – BPa
/ BJ)
“Contra o orgulho1
Não guardes rancor
de teu próximo,
sejam quais forem
seus erros,
e não faça nada
levado pela raiva.
O orgulho é odioso
tanto ao Senhor como aos homens,
e ambos olham
injustiça como uma falta.
O poder passa de
uma nação a outra
por causa da
injustiça, da violência e das riquezas.
Nada mais ímpio
que aquele que gosta do dinheiro:
Até sua alma ele
vende!
Por que se orgulha
quem é pó e cinza,
se ainda em vida
suas entranhas apodrecem?
Uma longa doença
desafia o médico,
quem hoje é rei,
amanhã morrerá.
Quando um homem
morre,
herda insetos,
feras e vermes.
O princípio do
orgulho é abandonar o Senhor
e ter o coração
longe do Criador.
Porque o princípio
do orgulho é o pecado
e o que o possui
difunde abominação.
Por isso, o Senhor
pune a pessoa com castigos incríveis,
e a destrói
completamente.
O Senhor derruba o
trono dos poderosos
e faz os
humilhados assentar-se no lugar deles.
O Senhor arranca a
raiz dos orgulhosos
e planta os
humildes em seu lugar.
O Senhor destrói o
território das nações
e o arrasa até os
alicerces.
Ele as extirpa, as
aniquila
e elimina do mundo
a lembrança delas.
O orgulho não foi
feito para o homem,
nem a ira violenta
para os nascidos de mulher.”
(Eclo 10,6-18 – BJ
/ BPa / BPe)
1: O orgulho leva
o homem à autossuficiência e ao endeusamento de si próprio, falsificando sua
condição fundamental de criatura. A consequência social é grave: a injustiça se
multiplica, criando relações de desigualdade e opressão. Deus, porém, não fica
indiferente: ele inverte a situação, reconduzindo o povo ao seu projeto de
partilha e fraternidade. (BPa)
“Não levante peso
muito grande para você,
e não conviva com
alguém mais forte ou mais rico que você.
Pode, por acaso, a
panela de barro
se juntar com a
panela de ferro?
Haverá um choque,
e a primeira se quebrará.
O rico comete
injustiça, e ainda ameaça;
o pobre é
injustiçado, e ainda precisa pedir desculpas.1
Enquanto você for
útil, o rico o explorará,
mas quando você
precisar, ele o abandonará.2
Se você possuir
bens, ele viverá com você,
e o explorará sem
remorso.
Enquanto ele
precisar, adulará você,
Com sorrisos te
infundirá confiança.
Dirá coisas
bonitas e perguntará:
“Do que você
precisa?”
e com seus
banquetes te envergonhará;
até despojá-lo por
duas ou três vezes,
por fim rir-se-á
de ti.
Por fim, vendo
você, passará adiante
e sacudirá contra
você a cabeça.
Todo ser vivo
gosta do seu semelhante,
e todo homem gosta
do seu próximo.
Todo animal se une
com os de sua espécie,
e todo homem se
associa com seu semelhante.
O lobo não se
junta com o cordeiro,
nem o perverso com
o justo,
nem o rico com o
necessitado.
Que paz pode haver
entre a hiena e o cão?
E que paz pode
haver entre o rico e o pobre?3
Os leões caçam os
asnos selvagens,
e os ricos caçam
os pobres.
Para o orgulhoso a
humildade é humilhação,
e para o rico o
pobre é detestável.4
Quando o rico
tropeça, seus amigos o sustentam;
quando o pobre
cai, seus amigos o empurram.
Quando o rico
comete um erro, muitos o defendem;
e se ele diz
tolices, os outros o aprovam.
Quando o pobre
erra, todos o condenam;
e quando fala com
bom senso, ninguém o escuta.
Quando o rico
fala, todos se calam
e elevam até às
nuvens o seu talento;
quando o pobre
fala, as pessoas perguntam:
“Quem é esse
fulano?”
E quando tropeça,
o ajudam a cair.
A riqueza é boa
quando nela não há pecado;
mas a pobreza é
má, na opinião do injusto.”
(Eclo 13,2-7.15-24
– BPa / BJ / BPe)
1: O rico e o
pobre têm consciência diferente sobre si e sobre a vida. O autor adverte os
pobres, mostrando que a convivência com os ricos só é possível quando estes
exploram os pobres. Na realidade, só o pobre sabe ser gratuito na relação.
(BPa)
2: Como animal que
se torna inválido para os trabalhos do campo. (BPe)
3: A comparação
animal falha neste ponto. O homem deveria aceitar sem distinção qualquer homem,
e no entanto cria divisões, como se entre os que têm a mesma natureza houvesse
mais de uma espécie: Pr 22,2. É a atitude do rico que crê pertencer a uma
espécie superior. A comparação animal, comum a escritores sapienciais, com Bem
Sirac adquire um tom de ironia cruel. (BPe)
4: O autor
descreve os preconceitos de uma sociedade desigual. O rico é sempre considerado
bom, educado, culto e digno de respeito; o pobre é sempre tido como preguiçoso,
sem valor, imoral, um peso que não merece ser levado a sério. Quem se dá ao
trabalho de conferir tais preconceitos, acaba descobrindo que as coisas são
exatamente o contrário. É no confronto social que ricos e pobres podem
compreender o porquê de sua própria situação. (BPa)
“Não digas: “É o
Senhor que me faz pecar”1,
porque ele não faz
aquilo que odeia.
Não digas: “É ele
que me faz errar”,
porque ele não tem
necessidade de um homem pecador.
O Senhor odeia
toda espécie de abominação
e nenhuma delas é
desejada por quem teme ao Senhor
Desde o princípio
ele criou o homem
e o entregou ao
poder de suas próprias decisões.
Se você quiser,
observará os mandamentos,
e sua fidelidade
vai depender da boa vontade que você mesmo tiver.
Ele colocou diante
de ti o fogo e a água;
para o que
quiseres estenderás tua mão.
Diante dos homens
está a vida e a morte,
ser-te-á dado o
que preferires.”
(Eclo 15,11-17 –
BJ / BPa)
1: Os inúmeros
males que afligem a pessoa e a sociedade desafiam qualquer explicação. Podem
até fazer com que as pessoas cheguem a afirmar que, em última análise, “foi
Deus quem fez as coisas assim”. No entanto, ele criou a humanidade livre, e
isso comprova a grandeza, tanto de Deus como do ser humano. De fato, ser livre
significa tomar decisões pessoais e coletivas para encaminhar a sociedade e a
história. Os erros e acertos, em primeiro lugar, são mérito e responsabilidade
do próprio homem, sempre convidado a rever seus projetos à luz do projeto de
Deus, que só quer liberdade e vida para todos. (BPa)
“É melhor morrer
estéril que ter descendentes arrogantes1.”
(Eclo 16,3b – BPe)
1: BJ adjetiva “ímpios”
e BPa “injustos”.
“Aquele que vive
eternamente criou o universo inteiro.
o Senhor é o único
sem mancha, e não há outros fora dele.
Dirige o universo
com a palma da mão,
e todos cumprem
sua vontade,
é rei universal e
poderoso
que separa o santo
do profano
A ninguém foi dado
o poder de anunciar suas obras
quem rastreará as
suas grandezas?
Quem poderá medir
sua grandeza,
e quem poderá
detalhar suas misericórdias?
Aí não há nada a
tirar nem a acrescentar,
e ninguém é capaz
de investigar as maravilhas do Senhor.
Quando um homem
acabou, então é que começa,
e quando para,
fica perplexo.1
O que é o homem?
Para que é útil?
Qual é o seu bem e
qual é o seu mal?
A duração de sua
vida: cem anos quando muito.
Ninguém pode
prever a hora do último sono para cada um.
Como uma gota do
mar, um grão de areia,
assim são seus
poucos anos perante um dia da eternidade.
Por isso o Senhor
os trata com paciência
e sobre eles
derrama a sua misericórdia.
Ele vê e reconhece
que o fim deles é miserável,
e por isso
multiplica para eles o seu perdão.
A misericórdia do
homem é para com o seu próximo,
mas a do Senhor é
para com toda carne:
admoesta, corrige,
ensina,
reconduz, como o
pastor, o seu rebanho.
Ele tem piedade
dos que aceitam a disciplina
e dos que se
esforçam para lhe cumprir os mandamentos.2
Filho, não
mistures a repreensão com teus benefícios,
nem ofendas com
palavras quando dás esmolas.
Porventura o
orvalho não abranda o calor?
Assim, a palavra é
melhor do que o presente.
Não é isso? Uma
palavra não vale mais do que um rico presente?
Mas o homem
caridoso une as duas coisas.
O insensato não dá
nada e faz afronta,
e o presente dado
de má vontade faz chorar.
Antes de falar,
informa-te;
cuida-te para não
ficar doente.
Diante do
julgamento, examina-te a ti mesmo,
na hora do
veredito encontrarás perdão.
Antes de
adoeceres, humilha-te;
E quando pecares
mostra arrependimento.
Que nada impeça
você de cumprir logo uma promessa;
não espere até à
morte para cumpri-la.
Antes de fazeres
uma promessa, prepara-te,
e não sejas como
um homem que tenta o Senhor.
Lembra-te da ira
dos últimos dias,
da hora da
vingança, quando Deus virar a sua face.
No tempo da
abundância, lembra-te do tempo da fome;
nos dias de
riqueza, lembra-te da pobreza e da miséria.
Entre a manhã e a
tarde o tempo muda,
tudo é rápido
diante do Senhor.
O homem sábio
sempre age com cautela,
e evita a
negligência quando o pecado se espalha.
Todo homem
inteligente conhece a sabedoria
e presta homenagem
àquele que a encontrou.
Os que sabem falar
bem, tornam-se sábios
e derramam como
chuva provérbios refinados.
Mais vale a
confiança no único Mestre
do que ligar-se
com coação morto a um morto!
Não te deixes
levar por tuas paixões3
e refreia os teus
desejos.
Se cedes ao desejo
da paixão,
ela fará de ti
objeto de alegria para teus inimigos.
Não te deleites em
existência voluptuosa,
não te ligues a
tal sociedade.
Não te empobreças
banqueteando com dinheiro emprestado,
quando nada tens
no bolso.
Pois isso seria
maquinar contra a própria vida.”
(Eclo 18 – BJ /
BPa / BPe)
1: Quando o home
tiver esgotado suas possibilidades para conhecer a Deus e suas maravilhas, ele
não está senão no começo. Essas constatações recordam as de Coélet
(Eclesiastes), mas a conclusão é totalmente diversa: para Bem Sirá, a fraqueza
do homem não faz senão sublinhar a grandeza de Deus. (BJ)
2: A fragilidade
da condição humana faz descobrir o quanto é grande a compreensão e a
misericórdia de Deus. Ele está sempre aberto para compreender e perdoar, e para
ensinar o caminho da justiça e da vida. (BPa)
3: Aspecto
importante da sabedoria é a sobriedade e o domínio sobre os impulsos
instintivos. (BPa)
“O que confia
rapidamente é um coração leviano,
o que peca
prejudica-se a si mesmo.
O que se deleita
com o mal será condenado,
o que odeia a
tagarelice escapa do mal,
e aquele que
resiste aos prazeres coroa a própria vida.
Aquele que refreia
sua língua viverá sem disputas.
Não repitas jamais
um boato
e não serás em
nada prejudicado.
Não contes nada de
amigo nem de um inimigo,
e, se não incorres
em culpa, nada reveles.
Caso contrário,
quem ouvir, não confiará mais em ti
e chegado o
momento, te odiará.
Ouviste alguma
coisa? Sê como um túmulo.
Aguenta, pois não
arrebentarás.
O insensato se
abala por causa de um segredo,
como uma mulher ao
dar à luz uma criança.
Como uma flecha
fincada na coxa,
assim é um segredo
nas entranhas do insensato.1
Pergunte ao teu
amigo: ele pode não ter feito nada,
e, se o fez, pode
não o repetir.
Pergunte ao teu
próximo: ele pode não ter dito nada,
e, se o disse,
pode não o repetir.
Pergunte ao teu
amigo, porque frequentemente se calunia;
não acredites em
tudo o que se diz.
Há quem deslize
sem querer;
quem nunca pecou
com a própria língua?
Pergunte ao teu
próximo antes de o ameaçares,
dá lugar à lei do
Altíssimo.”
(Eclo 19,4-17 – BJ
/ BPa / BPe)
1: A comparação é
facilitada pela concepção hebraica, que considera as entranhas como depósito de
informações (Pr 18,8). O autor tacha de insensatez a falta de domínio. (BPe)
“O homem se
conhece pelo aspecto,
reconheces o
sensato ao encontrá-lo;
a maneira de
vestir, de rir, de caminhar
manifestam o
caráter de um homem.”
(Eclo 19,29-30 –
BPe)
“Eunuco que
suspira por deflorar uma donzela
é quem faz justiça
com a violência.”1
(Eclo 20,4 – BPe)
1: Aqui trata mais
de resultados que de aparências. Boas intenções e ações não ponderadas produzem
resultados opostos ou estéreis, p. ex., repreender fora de hora, repreender o
teimoso, impor justiça à força; recordamos Moisés matando o egípcio (Ex 2). A
comparação está também em Eclo 30,20: o violento é estéril para a justiça.
(BPe)
“Na desgraça um
homem pode encontrar salvação
e a fortuna pode
provocar a ruína.
Há presentes que
não te serve para nada
e há presentes que
rendem o dobro.
Às vezes a glória
traz a humilhação
e há quem da
humilhação levanta a cabeça.
Há quem compre
muitas coisas por um preço baixo
e depois o paga
sete vezes mais.
O sábio com as
suas palavras torna-se amável,
mas as gentilezas
do estulto são derramadas em vão.
O presente do
insensato não te serve para nada,
como o do ciumento
quando a isso é constrangido,
porque ele espera
avidamente receber sete vezes mais.
Ele dá pouco e
reclama muito,
gritando como um leiloeiro.
Empresta hoje,
amanhã pede de volta.
É um homem odioso.
O insensato diz:
“Não tenho amigo,
não há quem
agradeça meus favores”.
Até os que comem
do seu pão falam mal dele.
Quantas e quantas
vezes se riem dele!1
É melhor
escorregar no chão do que na língua.”
(Eclo 20,9-18a –
BJ / BPa / BPe)
1: As três Bíblias
compreendem que o insensato para de falar em momento distinto, o que altera o
sentido do vv. seguinte.
“A injustiça é
espada de dois gumes
e sua ferida é
incurável.”
(Eclo 21,3 – BPe)
“Quem constrói a
própria casa com dinheiro de outros,
ajunta pedras para
sua própria sepultura.
Um bando de
malfeitores é um fardo de estopa,
Seu fim será a
chama e o fogo.
O caminho dos
pecadores é bem pavimentado,
mas desemboca nas
profundezas da mansão dos mortos.
Quem observa a Lei
torna-se capaz de controlar seu próprio pensamento,
e a sabedoria é a
perfeição do temor ao Senhor.
A mente do
insensato é como vaso rachado:
não guarda nenhum
conhecimento.
Quando o
inteligente ouve uma palavra sábia,
ele a louva e
acrescenta outra;
o imbecil a ouve,
a despreza e a joga para trás das costas.”1
A sabedoria é
prisão para o néscio;
A prudência é
cárcere para o insensato;
a instrução é para
o néscio como grilhões nos pés ,
como algema na mão
direita.
Para o sábio a
instrução é joia de ouro,
um bracelete no
braço direito.
O néscio tem a
mente nos lábios;
o sábio tem os
lábios na mente.
Quando o injusto
amaldiçoa Satanás,
está amaldiçoando
a si próprio.”2
(Eclo
21,8-11.14-15.18-19.21.26-27 – BPa / BPe / BJ)
1: Para ter a
sabedoria é necessário um ponto que unifique os próprios pensamentos e ações.
Tal polo unificador é o projeto de Javé (observar a Lei). Então, tudo o que a
pessoa disser ou fizer será fonte de vida, pois saberá acolher, refletir e
discernir o que está de acordo, ou não, com esse projeto. O insensato ou
imbecil é aquele que, sem esse ponto unificador, não consegue reter ou
transmitir nada, pois tudo fica fragmentado em seus pensamentos e ações. Sem
esse projeto de vida, ele não sabe respeitar a intimidade alheia, nem percebe
que o seu comportamento é desagregador (vv. 22-24). (BPa)
2: O ímpio ou
perverso não deve lançar a culpa em Satanás, como Eva no paraíso, porque ele é
“Satã” para si mesmo, traz dentro de si a malícia de Satã: cf. Rm 7,14-23.
Outros comentaristas, mudando o texto, o referem à maldição injusta que recai
sobre quem a pronuncia. (BPe)
O autor identifica
Satã (o tentador, cf. Jó 1-2) com o instinto mau, que é interior. Julgando
maldizer a um ser exterior, é a sua própria vontade perversa que o homem
maldiz. (BJ)
“Ensinar o imbecil
é como emendar cacos,
ou acordar alguém
que dorme sono profundo.
Falar ao imbecil é
como falar a quem está dormindo;
no fim ele
pergunta: “O que é que foi mesmo?”
O luto pelo morto
dura sete dias,
mas para o imbecil
e para o injusto dura a vida inteira.
O que é mais
pesado que o chumbo?
Qual é o seu nome,
senão “insensato”?
Areia, sal e barra
de ferro
são mais fáceis de
carregar do que um insensato.”
(Eclo
22,9-10.12.14-15 – BPa / BJ / BPe)1
1: Numeração dos
vv. de BJ e BPe.
“Quem se vinga
sofrerá a vingança do Senhor,
que severamente
lhe pedirá contas de seus pecados.
Perdoe a injustiça
que o seu próximo cometeu
e, quando você
pedir, Deus também perdoará os pecados que você tiver cometido.1
Se um homem guarda
rancor contra outro,
como poderá pedir
que Deus o cure?
Se não usa de
misericórdia para com o seu semelhante,
como se atreve a
pedir perdão de seus próprios pecados?
Se ele, que é
carne, guarda rancor,
quem perdoará os
seus pecados?
Lembre-se do seu
fim, e pare de odiar.
Lembre-se da
corrupção e da morte, e persevere nos mandamentos.
Lembre-se dos
mandamentos,
e não guarde
rancor contra o seu próximo.
Lembre-se da
aliança com o Altíssimo,
e não leve em
conta a ofensa que fizeram a você.”2
(Eclo 28,1-7 –
BPa)
1: Somente Deus
conhece o mais fundo da nossa vida e história. Por isso, só ele pode avaliar e
julgar nossos atos, fazendo justiça. O texto leva diretamente ao “Pai nosso”:
“Perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos aqueles que
nos devem” (Lc 11,4). “e vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também
não perdoará os males que vocês tiverem feito” (Mt 6,15). (BPa)
2: Os primeiros
versos dão a motivação suprema: Deus se vinga do vingativo e perdoa quem perdoa;
depois, a motivação desenvolve o aspecto humano da solidariedade; finalmente, o
fim do homem e os mandamentos da aliança são o motivo. (BPe)
“A chicotada deixa
marca,
mas o golpe da
língua quebra os ossos.
Muitos já caíram
pelo fio da espada,
mas não foram
tantos como as vítimas da língua.
Feliz de quem se
protege dela
e não se expõe ao
seu furor.
Feliz quem não
arrastou o jugo dela,
nem foi enredado
em suas cadeias.
De fato, o jugo
dela é de ferro,
e suas cadeias são
de bronze.
A morte que ela
provoca é terrível,
e é preferível
estar no túmulo.”
(Eclo 28,17-21 –
BPa)
“Não te deixes
vencer pela tristeza
nem se abater por
tua própria culpa:
Alegria do coração
é vida para o homem,
e a alegria lhe
prolonga a vida.
Consola-te,
recupera o ânimo e afasta de ti o sofrimento,
Pois a melancolia
já arruinou muita gente,
e nada se ganha
com o sofrimento.
Ciúmes e cólera
encurtam os anos,
e as preocupações
fazem envelhecer antes do tempo.
Coração alegre é
grande banquete
que traz proveito
a quem o come.”
(Eclo 30,21-25 –
BPe / BPa)
“Não banque o
valente com o vinho,
pois o álcool já
arruinou muita gente.
A fornalha põe à
prova a têmpera do metal,
assim o vinho
prova os corações nas brigas dos arrogantes.
O vinho traz vida
para os homens,
desde que você o
beba com moderação.
Que vida existe
quando falta vinho?
Ele foi criado
para alegrar as pessoas.
Bebido em tempo
certo e na medida certa,
o vinho traz gozo
para o coração e alegria para a alma.
Todavia, bebido em
excesso, por vício ou desafio,
o vinho traz
amargura para a alma.
A embriaguez
aumenta a ira do insensato para sua própria ruína,
diminuindo-lhe as
forças e provocando ferimentos.
Num banquete, não
repreenda o próximo,
nem zombe por ele
estar alegre;
não o reprove com
palavras,
nem o atormente
com reclamações.1”
(Eclo 31,25-32 –
BPa / BJ)2
1: A razão pode
ser dupla: para não provocar rixas, e por compreensão com o próximo. (BPe)
2: Tratativa
similar em Pr 23,29-35.
“A esperança do
néscio é vã e enganosa,
os sonhos dão asas
aos estultos;
caça sombras ou
persegue ventos,
quem confia nos
sonhos.
As visões do sonho
são para a realidade
aquilo que um
rosto verdadeiro é para o espelho.”1
(Eclo 34,1-3 –
BPe)
1: No AT, Deus às
vezes usa dos sonhos para instruir os homens: Gn 28,10-17; 31,10-13.24;
37,5-11; 41,1-36 etc. Cf. Nm 12,6; Ver também Mt 1,20-23; 2,13.22. Mas o
recurso aos sonhos como meios ordinários de adivinhação é censurado pelos
profetas e pelos legisladores: Jr 29,8; Ecl 5,6; Lv 19,26; Dt 13,2-6; 18,9-14.
Ben Sirá adota essa última atitude, embora reconheça a possibilidade de sonhos
autenticamente divinos (v. 6). (BJ)
“A beleza da
mulher ilumina o rosto
e supera todos os
desejos do homem.
Se nos lábios dela
existe bondade e doçura,
o seu marido é o
mais feliz dos homens.
Quem adquire
esposa tem o começo da fortuna,
pois ela é
auxiliar semelhante a ele e coluna de apoio.
Onde não há cerca,
a propriedade é saqueada,
e onde não há
mulher, o homem vagueia gemendo.
Quem confia num
ágil ladrão
que salta de
cidade em cidade?
Assim é o homem
que não tem ninho
e se deita onde a
noite o surpreende.”1
(Eclo 36,27-31 –
BPa / BPe / BJ)2
1: Mesmo
tributário do regime patriarcal, o autor sabe reconhecer a importância que a
mulher tem para o homem. Sem ela, o homem não cria raízes. (BPa)
2: Numeração dos
vv. de BJ e BPe.
“O pensamento
precede a toda ação
e a reflexão a
toda tarefa.
A mente é a raiz
de toda conduta,
e produz quatro
ramos:
bem e mal, vida e
morte,
e o que os domina
é a língua.”
(Eclo 37,16-18 –
BPe / BJ)
“Filho meu,
derrama tuas lágrimas pelo morto,
entoa um lamento
fúnebre para mostrar a tua dor,
depois enterra o
cadáver segundo o costume
e não deixes de
honrar a sua sepultura.1
Chora amargamente,
bate no peito,
observa o luto
segundo merece o morto,
um ou dois dias,
por causa da maledicência do povo,
depois consola-te
de tua tristeza.
Porque a tristeza
leva à morte,
e qualquer aflição
do coração consome as forças.
Com a desgraça
persiste a dor,
uma vida triste é
insuportável.
Não abandones teu
coração à tristeza, afasta-a.
Lembra-te de teu
próprio fim.2
Não esqueças: não
há volta,
Tua tristeza em
nada servirá ao morto,
e você acabará se
prejudicando.
Lembre-se: a sorte
dele será também a tua.
eu ontem, tu hoje!
Quando o morto
repousa, pare de pensar nele.
Consola-te, porque
o espírito dele já partiu.”
(Eclo 38,16-23 –
BJ / BPa / BPe)
1: Tocar num
cadáver produzia impureza legal; isso, porém, não justifica faltar aos ritos
fúnebres. (BPe)
2: Desaconselha a
recordação obsessiva, deprimente. (BPe)
“Vou expor agora
as minhas reflexões,
pois estou repleto
delas como a lua cheia.1
Escutem-me, filhos
piedosos,
e cresçam como
roseira plantada à beira d’água corrente.
Espalhem bom
perfume como incenso e floresçam como lírio.
Espalhem perfume e
entoem um canto,
bendizendo ao
Senhor por todas as suas obras.
Engrandeçam o nome
do Senhor
e proclamem os
louvores dele com seus cânticos e cítaras.
Vocês o louvarão
assim:
Como são
magníficas todas as obras do Senhor!
Todas as suas
ordens são executadas pontualmente.
Não é preciso
dizer: “O que é isto? Por que aquilo?”
Todas as coisas
serão esclarecidas a seu tempo.
A uma ordem dele,
a água parou e se juntou
à sua voz, se
formaram os reservatórios de água.
Sob sua ordem,
tudo o que ele deseja é realizado,
e não há quem
possa impedir sua obra de salvação.
Diante dele estão
todas as obras dos homens,
e nada consegue
esconder-se de seus olhos.
Seu olhar se
estende de eternidade em eternidade,
e para ele nada é
extraordinário.
Não é preciso
dizer: “O que é isto? Por que aquilo?”
Pois todas as
coisas foram criadas para uma finalidade.
Sua bênção
transborda como rio
e rega a terra
como um dilúvio.
Dessa forma, as
nações fazem experiência de sua ira,
tal e qual como
transformou as águas em deserto salgado.
Seus caminhos são
retos para os homens honrados,
mas para os
injustos estão cheios de obstáculos.
Desde o princípio,
as coisas boas foram criadas para os bons,
assim como os
males foram criados para os pecadores.
Para a vida do
homem, as coisas de primeira necessidade
são a água, o
fogo, o ferro, o sal, a farinha de trigo,
o leite, o mel, o
suco de uva, o óleo e a roupa.
Todas essas coisas
são boas para os fiéis,
mas para os
pecadores se tornam más.
Há ventos que
foram criados para castigar
e que,
enfurecendo, se tornam flagelo.
Quando chegar o
fim, eles desencadearão sua violência,
e aplacarão o
furor do seu Criador.
Fogo e granizo,
fome e morte
foram criados para
castigar.
Os dentes das
feras, os escorpiões,
as cobras e a
espada vingadora
existem para
arruinar os injustos.
A uma ordem do
Senhor, essas coisas se alegram
e estão prontas na
terra para qualquer necessidade.
No tempo oportuno,
não transgredirão a ordem recebida.
Por isso, desde o
início tive certeza3
e, depois de
refletir, coloquei por escrito:
“Todas as obras do
Senhor são boas,
e ele prevê todas
as necessidades no momento certo”.
Não se pode dizer:
“Isto é pior do que aquilo”,
porque no momento
certo
todas as coisas
serão reconhecidas como boas.
Agora, cantem
hinos com o coração e com a boca,
e bendigam o nome
do Senhor.”
(Eclo 39,16-35 –
BPa / BJ / BPe)
1: Grande hino de
louvor, proclamando a grandeza de Deus, manifestada na criação. No universo,
tudo tem sua finalidade e, no momento certo, o homem pode reconhecer a bondade
de todas as coisas. Tudo isso é convite para discernir e construir aquela
harmonia que deve presidir as relações humanas. Se o homem é capaz de ver a
ordem e a perfeição da natureza, é também capaz de realizá-las no mundo humano.
(BPa)
2: Os caminhos de
Deus são os mesmos: é o homem quem introduz a distinção e perturba a ordem
criada. (BPe)
3: Depois da
reflexão e do estudo, o autor afirma sua convicção, que deseja comunicar a
outros. O tema inicial retorna com nova força, a objeção é de novo rejeitada, a
teodiceia desemboca e termina em hino. Quão distante está essa discussão
tranquila da dramaticidade de Jó que, sendo inocente, sentiu na carne a
desgraça! Ben Sirac afirma a conexão da desgraça com o pecado, mas não desce ao
plano individual do grande problema, nem resolve seu último paradoxo. (BPe)
“Deus designou uma
grande fadiga,1
e jugo pesado foi
dado aos filhos de Adão,
desde o dia em que
saem do ventre materno
até o dia em que
voltam para a mãe de todos.
O objeto de seus
pensamentos, o temor de seu coração,
é a espera
angustiante do dia da morte.
Desde aquele que
se assenta em trono glorioso
até o miserável
sentado na terra e na cinza;
desde aquele que
veste púrpura e coroa
até o que se veste
com pano grosseiro,
tudo é raiva,
inveja, ansiedade, inquietação,
medo da morte,
ressentimento e brigas.
Mesmo quando o
homem repousa na cama,
o sonho noturno
lhe perturba os pensamentos.
Por um pouco,
quase nada, ele repousa.
Mas no sono, como
em pleno dia,
fica perturbado
pelos fantasmas de sua mente,
como quem fugiu da
linha de batalha.
No momento em que
está para salvar-se, acorda,
surpreendido de
que seu terror não tinha motivo.2
Isso acontece a
toda criatura, desde o homem até o animal,
mas para o pecador
é sete vezes pior:
morte, sangue,
luta, espada,
miséria, fome,
destruição e flagelos.
A desgraça foi
criada para os injustos,
e foi por causa
deles que aconteceu o dilúvio.
Tudo o que vem da
terra volta para a terra,
e tudo o que vem
da água volta para o mar.3
Toda corrupção e
injustiça desaparecerão,
mas a fidelidade
permanecerá para sempre.
A riqueza dos
injustos desaparecerá como torrente,
como trovão que
ribomba no meio da tempestade.
Assim como o
injusto se alegrará abrindo as mãos,
também os
transgressores cairão na ruína.
Os brotos dos
injustos não multiplicarão seus ramos,
porque são como
raízes impuras sobre pedra dura.
São como caniço na
margem do rio, à beira d’água,
que é arrancado
antes de qualquer outra erva.
A bondade é como
paraíso de bênçãos,
e a misericórdia
permanece para sempre.
Doce é a vida do
homem independente e do trabalhador;4
melhor do que a
dos dois é aquele que encontra um tesouro.
Os filhos e a
fundação de uma cidade perpetuam o nome,
porém acima dos
dois está a mulher irrepreensível.
Vinho e a arte
alegram o coração;
mas acima das duas
está o amor à sabedoria.
Flauta e harpa
tornam agradável o canto,
mas acima dos dois
está a voz melodiosa.
A graça e a beleza
agradam aos olhos,
mas acima delas
está o verde dos campos.
O amigo e o
companheiro são encontrados no momento oportuno,
mas acima dos dois
está a mulher com o homem.
Irmãos e ajuda são
úteis no tempo da aflição,
mas acima dos dois
está a esmola que liberta.
Ouro e prata dão
firmeza aos pés,
mas acima dos dois
estima-se o conselho.
Riqueza e força
engrandecem o coração,
mas acima delas
está o temor do Senhor.
Com o temor do
Senhor nada falta,
e além dele não é
preciso buscar outra ajuda.
O temor do Senhor
é como paraíso de bênçãos,
e sua proteção
está acima de qualquer glória.”
(Eclo 40,1-27 –
BPa / BJ / BPe)
1: O Eclesiastes
poderia assinar esses vinte versos. Soam estranhos no livro de Ben Sirac, e
muito mais depois do hino à bondade da criação. (BPe)
2: Até o descanso
natural do sono se torna fonte de temores. A descrição é psicológica como Is
29,8. O vazio do sonho, afirmado em 34,1-8, não diminui seu poder de
aterrorizar; antes, torna o sofrimento mais desesperador. (BPe)
3: O fim, quando
Deus retira seu alento vital, iguala todos: Ecl 12,7; Sl 104,29. (BPe)
4: Há muitas
realidades que dão brilho e alegria à vida, como a independência econômica, os
filhos, a fama, os prazeres. Todavia, o verdadeiro sentido da vida só é
descoberto quando o homem teme a Deus. Não se trata de ter medo, mas de
reconhecer que só Deus é absoluto, só a ele o homem deve adorar. Qualquer outra
realidade é relativa, e só adquire sentido verdadeiro dentro das relações
humanas. (BPa)