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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Bíblia Sagrada – Livros Sapienciais: Eclesiástico (Ben Sirá)

Editora: Paulus

ISBN: Bíblia do Peregrino (BPe) – 978-85-349-2005-6 / Bíblia de Jerusalém (BJ) – 978-85-349-4282-9 / Bíblia Pastoral (BPa) 978-85-349-0228-1

Tradução, introdução e notas (BPa): Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin

Tradução (BPe): Ivo Storniolo e José Bortolini

Notas (BPe): Luís Alonso Schökel

Opinião: N/A

Páginas: BPe – 111 / BJ – 90 / BPa – 84

Sinopse: Ver aqui

 


A origem da sabedoria1

Toda sabedoria vem do Senhor,

e está com ele eternamente.

A areia do mar, os pingos da chuva,

os dias da eternidade, quem os poderá contar?

A altura do céu, a amplidão da terra,

a profundeza do abismo, quem as poderá explorar?

Antes de tudo foi criada a Sabedoria,

a inteligência e a prudência, antes dos séculos.

A fonte da Sabedoria é a palavra de Deus nos céus;

seus caminhos são as leis eternas.

A quem foi revelada a raiz da sabedoria?

Quem conhece seus projetos?

A ciência da sabedoria a quem apareceu?

a riqueza de seus caminhos quem a compreendeu?

Somente um é sábio, e é por demais terrível2

quando se assenta em seu trono: é o Senhor.

Ele que criou a sabedoria, a conheceu, a enumerou

e a derramou sobre todas as suas obras;

Ele a repartiu entre os seres vivos, conforme a sua generosidade,

e a concedeu a todos aqueles que o amam.

 

O temor de Deus3

O temor do Senhor é glória e honra,

alegria e coroa de júbilo.

Respeitar o Senhor alegra o coração,

dá contentamento, gozo e vida longa.

O temor do Senhor é dom que vem do Senhor;

com efeito, ele o estabeleceu sobre os caminhos do amor.

Para o que teme ao Senhor tudo terminará bem,

no dia de sua morte será abençoado.

O princípio da sabedoria é temer ao Senhor,

e para os fiéis, ela foi criada com eles no seio.

Entre os homens, ela fez um ninho, com alicerce perene,

e permanece junto com os descendentes deles.

A plenitude da sabedoria é temer ao Senhor,

e com seus frutos, embriaga seus fiéis;

ela enche toda a sua casa de coisas desejáveis

 os celeiros com seus produtos.

A coroa da sabedoria é o temor do Senhor,

ela faz florescer a paz e a saúde.

Ambos são dons de Deus, em vista do bem-estar

e para aqueles que o amam a firmeza se alarga.

Deus faz chover a ciência e a inteligência,

e exalta a glória dos que a possuem.

A raiz da sabedoria é temer ao Senhor,

e seus ramos são vida longa.

O temor do Senhor tira os pecados;

Aquele que persevera desvia toda cólera.

 

Paciência e domínio de si

A irritação do ímpio não poderá justificá-lo,

porque o ímpeto de sua cólera é sua ruína.

O homem paciente resistirá até o momento oportuno,

mas depois a alegria brotará para ele.

Até o momento oportuno calará suas razões,

mas os lábios de muitos narrarão sua inteligência.

 

Sabedoria e retidão

Os provérbios instrutivos são o tesouro da sabedoria

mas para o pecador a religião é execrável.

Se desejas a sabedoria, guarda os mandamentos

e o Senhor a dar-te-á em profusão;

porque o temor do Senhor é sabedoria e instrução,

e se compraz na fidelidade e na humildade.

Não desobedeças ao temor do Senhor

e não vás a ele com um coração fingido.

Não sejas hipócrita diante do mundo

e cuida de teus lábios.

Não te eleves para não caíres

e atraíres sobre ti a vergonha,

porque o Senhor revelará os teus segredos

e, te humilhará no meio da assembleia,

pois não te aproximaste do temor do Senhor,

e o teu coração está cheio de fraude.”

(Eclo 1 – BJ / BPa / BPe)

1: A sabedoria se origina em Deus, que a derrama em toda a criação, como segredo do projeto divino. O homem começa a compreender o sentido do universo e da história quando se compromete com Deus e seu projeto. (BPa)

2: Em sentido pleno, só Deus pode ser chamado de sábio, e por isso é assustador e temível: Sl 76. (BPe)

3: O temor do Senhor, para o judeu, é a religião ou a piedade. Percebe-se, desde o começo deste trecho, que a ideia de temor físico, de terror diante do poder terrível de Deus, praticamente desapareceu da teologia judaica. (BJ)

 

 

“Lute até à morte pela verdade,

e o Senhor Deus combaterá por você.”

(Eclo 4,28 – BPa)

 

 

“Não confie em suas riquezas,

nem diga: “sou autossuficiente”.

Não siga o seu instinto nem a sua força,

para satisfazer os seus caprichos.

Não diga: “Quem poderá comigo?”

Porque o Senhor castiga, e castigará você.

Não diga: “Pequei, e nada me aconteceu”,

pois o Senhor é paciente.

Não fique muito seguro do perdão,

a ponto de amontoar pecados,

pensando: “A misericórdia de Deus é grande, e ele me perdoará todos os meus pecados”.

Porque ele tem compaixão e cólera, e sua ira recai sobre os pecadores.

Não demore para se converter ao Senhor,

e não fique adiando isso de um dia para outro,

porque a ira do Senhor virá de repente,

e você perecerá no dia do castigo.

Não confie nas riquezas injustas, porque elas não o ajudarão no dia da desgraça.

 

Não peneire o grão em qualquer vento,

nem te metas por qualquer trilha.

Sê consequente em teu pensar

e coerente na maneira de falar.

Sê rápido para escutar

e lento para responder.

Se você for capaz, responda a seu próximo;

se não for, fique calado.

Falar pode trazer honra ou desonra,

e a língua do homem é a sua ruína.

Não tenha fama de caluniador,

nem use a língua para preparar armadilhas,

porque para o ladrão existe a vergonha,

e para o homem falso uma condenação severa.

Evite erros grandes e pequenos,

e de amigo não se transforme em inimigo.”

(Eclo 5,1-15 – BPa / BPe / BJ)

 

 

“Amigo fiel é proteção poderosa,

e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro.

Amigo fiel não tem preço,

e o seu valor é incalculável.”1

(Eclo 6,14-15 – BPa)

1: A verdadeira amizade não se baseia em interesses, e por isso permanece firme também na desgraça. Podemos dizer ainda que a amizade é por excelência o sacramento da relação humana penetrada por Deus. (BPa)

 

 

“Não desprezes as tarefas de um serviço,

pois o trabalho foi criado por Deus.”

(Eclo 7,15 – BPe)

 

 

“Não se junte à multidão dos pecadores.

Lembre-se: a cólera divina não tardará.

Humilhe-se profundamente,

porque o castigo do injusto é fogo e vermes.”

(Eclo 7,16-17 – BPa)

 

 

“Honra o teu pai de todo o coração

e não esqueças as dores de tua mãe.

Lembra-te de que foste gerado por eles.

O que lhes darás pelo que te deram?”

(Eclo 7,27-28 – BJ)

 

 

“Não repreenda o homem que se converteu do pecado.

Lembre-se de que todos somos culpados.

Não despreze o homem velho,

porque nós seremos velhos.”

(Eclo 8,5-6 – BPa / BJ)

 

 

Contra o orgulho1

Não guardes rancor de teu próximo,

sejam quais forem seus erros,

e não faça nada levado pela raiva.

 

O orgulho é odioso tanto ao Senhor como aos homens,

e ambos olham injustiça como uma falta.

O poder passa de uma nação a outra

por causa da injustiça, da violência e das riquezas.

Nada mais ímpio que aquele que gosta do dinheiro:

Até sua alma ele vende!

Por que se orgulha quem é pó e cinza,

se ainda em vida suas entranhas apodrecem?

Uma longa doença desafia o médico,

quem hoje é rei, amanhã morrerá.

Quando um homem morre,

herda insetos, feras e vermes.

 

O princípio do orgulho é abandonar o Senhor

e ter o coração longe do Criador.

Porque o princípio do orgulho é o pecado

e o que o possui difunde abominação.

Por isso, o Senhor pune a pessoa com castigos incríveis,

e a destrói completamente.

O Senhor derruba o trono dos poderosos

e faz os humilhados assentar-se no lugar deles.

O Senhor arranca a raiz dos orgulhosos

e planta os humildes em seu lugar.

O Senhor destrói o território das nações

e o arrasa até os alicerces.

Ele as extirpa, as aniquila

e elimina do mundo a lembrança delas.

 

O orgulho não foi feito para o homem,

nem a ira violenta para os nascidos de mulher.”

(Eclo 10,6-18 – BJ / BPa / BPe)

1: O orgulho leva o homem à autossuficiência e ao endeusamento de si próprio, falsificando sua condição fundamental de criatura. A consequência social é grave: a injustiça se multiplica, criando relações de desigualdade e opressão. Deus, porém, não fica indiferente: ele inverte a situação, reconduzindo o povo ao seu projeto de partilha e fraternidade. (BPa)


 

“Não levante peso muito grande para você,

e não conviva com alguém mais forte ou mais rico que você.

Pode, por acaso, a panela de barro

se juntar com a panela de ferro?

Haverá um choque, e a primeira se quebrará.

O rico comete injustiça, e ainda ameaça;

o pobre é injustiçado, e ainda precisa pedir desculpas.1

Enquanto você for útil, o rico o explorará,

mas quando você precisar, ele o abandonará.2

Se você possuir bens, ele viverá com você,

e o explorará sem remorso.

Enquanto ele precisar, adulará você,

Com sorrisos te infundirá confiança.

Dirá coisas bonitas e perguntará:

“Do que você precisa?”

e com seus banquetes te envergonhará;

até despojá-lo por duas ou três vezes,

por fim rir-se-á de ti.

Por fim, vendo você, passará adiante

e sacudirá contra você a cabeça.

 

Todo ser vivo gosta do seu semelhante,

e todo homem gosta do seu próximo.

Todo animal se une com os de sua espécie,

e todo homem se associa com seu semelhante.

O lobo não se junta com o cordeiro,

nem o perverso com o justo,

nem o rico com o necessitado.

Que paz pode haver entre a hiena e o cão?

E que paz pode haver entre o rico e o pobre?3

Os leões caçam os asnos selvagens,

e os ricos caçam os pobres.

Para o orgulhoso a humildade é humilhação,

e para o rico o pobre é detestável.4

Quando o rico tropeça, seus amigos o sustentam;

quando o pobre cai, seus amigos o empurram.

Quando o rico comete um erro, muitos o defendem;

e se ele diz tolices, os outros o aprovam.

Quando o pobre erra, todos o condenam;

e quando fala com bom senso, ninguém o escuta.

Quando o rico fala, todos se calam

e elevam até às nuvens o seu talento;

quando o pobre fala, as pessoas perguntam:

“Quem é esse fulano?”

E quando tropeça, o ajudam a cair.

A riqueza é boa quando nela não há pecado;

mas a pobreza é má, na opinião do injusto.”

(Eclo 13,2-7.15-24 – BPa / BJ / BPe)

1: O rico e o pobre têm consciência diferente sobre si e sobre a vida. O autor adverte os pobres, mostrando que a convivência com os ricos só é possível quando estes exploram os pobres. Na realidade, só o pobre sabe ser gratuito na relação. (BPa)

2: Como animal que se torna inválido para os trabalhos do campo. (BPe)

3: A comparação animal falha neste ponto. O homem deveria aceitar sem distinção qualquer homem, e no entanto cria divisões, como se entre os que têm a mesma natureza houvesse mais de uma espécie: Pr 22,2. É a atitude do rico que crê pertencer a uma espécie superior. A comparação animal, comum a escritores sapienciais, com Bem Sirac adquire um tom de ironia cruel. (BPe)

4: O autor descreve os preconceitos de uma sociedade desigual. O rico é sempre considerado bom, educado, culto e digno de respeito; o pobre é sempre tido como preguiçoso, sem valor, imoral, um peso que não merece ser levado a sério. Quem se dá ao trabalho de conferir tais preconceitos, acaba descobrindo que as coisas são exatamente o contrário. É no confronto social que ricos e pobres podem compreender o porquê de sua própria situação. (BPa)

 

 

“Não digas: “É o Senhor que me faz pecar”1,

porque ele não faz aquilo que odeia.

Não digas: “É ele que me faz errar”,

porque ele não tem necessidade de um homem pecador.

O Senhor odeia toda espécie de abominação

e nenhuma delas é desejada por quem teme ao Senhor

Desde o princípio ele criou o homem

e o entregou ao poder de suas próprias decisões.

Se você quiser, observará os mandamentos,

e sua fidelidade vai depender da boa vontade que você mesmo tiver.

Ele colocou diante de ti o fogo e a água;

para o que quiseres estenderás tua mão.

Diante dos homens está a vida e a morte,

ser-te-á dado o que preferires.”

(Eclo 15,11-17 – BJ / BPa)

1: Os inúmeros males que afligem a pessoa e a sociedade desafiam qualquer explicação. Podem até fazer com que as pessoas cheguem a afirmar que, em última análise, “foi Deus quem fez as coisas assim”. No entanto, ele criou a humanidade livre, e isso comprova a grandeza, tanto de Deus como do ser humano. De fato, ser livre significa tomar decisões pessoais e coletivas para encaminhar a sociedade e a história. Os erros e acertos, em primeiro lugar, são mérito e responsabilidade do próprio homem, sempre convidado a rever seus projetos à luz do projeto de Deus, que só quer liberdade e vida para todos. (BPa)

 

 

“É melhor morrer estéril que ter descendentes arrogantes1.”

(Eclo 16,3b – BPe)

1: BJ adjetiva “ímpios” e BPa “injustos”.

 

 

“Aquele que vive eternamente criou o universo inteiro.

o Senhor é o único sem mancha, e não há outros fora dele.

Dirige o universo com a palma da mão,

e todos cumprem sua vontade,

é rei universal e poderoso

que separa o santo do profano

A ninguém foi dado o poder de anunciar suas obras

quem rastreará as suas grandezas?

Quem poderá medir sua grandeza,

e quem poderá detalhar suas misericórdias?

Aí não há nada a tirar nem a acrescentar,

e ninguém é capaz de investigar as maravilhas do Senhor.

Quando um homem acabou, então é que começa,

e quando para, fica perplexo.1

 

O que é o homem? Para que é útil?

Qual é o seu bem e qual é o seu mal?

A duração de sua vida: cem anos quando muito.

Ninguém pode prever a hora do último sono para cada um.

Como uma gota do mar, um grão de areia,

assim são seus poucos anos perante um dia da eternidade.

Por isso o Senhor os trata com paciência

e sobre eles derrama a sua misericórdia.

Ele vê e reconhece que o fim deles é miserável,

e por isso multiplica para eles o seu perdão.

A misericórdia do homem é para com o seu próximo,

mas a do Senhor é para com toda carne:

admoesta, corrige, ensina,

reconduz, como o pastor, o seu rebanho.

Ele tem piedade dos que aceitam a disciplina

e dos que se esforçam para lhe cumprir os mandamentos.2

 

Filho, não mistures a repreensão com teus benefícios,

nem ofendas com palavras quando dás esmolas.

Porventura o orvalho não abranda o calor?

Assim, a palavra é melhor do que o presente.

Não é isso? Uma palavra não vale mais do que um rico presente?

Mas o homem caridoso une as duas coisas.

O insensato não dá nada e faz afronta,

e o presente dado de má vontade faz chorar.

 

Antes de falar, informa-te;

cuida-te para não ficar doente.

Diante do julgamento, examina-te a ti mesmo,

na hora do veredito encontrarás perdão.

Antes de adoeceres, humilha-te;

E quando pecares mostra arrependimento.

Que nada impeça você de cumprir logo uma promessa;

não espere até à morte para cumpri-la.

Antes de fazeres uma promessa, prepara-te,

e não sejas como um homem que tenta o Senhor.

Lembra-te da ira dos últimos dias,

da hora da vingança, quando Deus virar a sua face.

No tempo da abundância, lembra-te do tempo da fome;

nos dias de riqueza, lembra-te da pobreza e da miséria.

Entre a manhã e a tarde o tempo muda,

tudo é rápido diante do Senhor.

O homem sábio sempre age com cautela,

e evita a negligência quando o pecado se espalha.

Todo homem inteligente conhece a sabedoria

e presta homenagem àquele que a encontrou.

Os que sabem falar bem, tornam-se sábios

e derramam como chuva provérbios refinados.

Mais vale a confiança no único Mestre

do que ligar-se com coação morto a um morto!

 

Não te deixes levar por tuas paixões3

e refreia os teus desejos.

Se cedes ao desejo da paixão,

ela fará de ti objeto de alegria para teus inimigos.

Não te deleites em existência voluptuosa,

não te ligues a tal sociedade.

Não te empobreças banqueteando com dinheiro emprestado,

quando nada tens no bolso.

Pois isso seria maquinar contra a própria vida.”

(Eclo 18 – BJ / BPa / BPe)

1: Quando o home tiver esgotado suas possibilidades para conhecer a Deus e suas maravilhas, ele não está senão no começo. Essas constatações recordam as de Coélet (Eclesiastes), mas a conclusão é totalmente diversa: para Bem Sirá, a fraqueza do homem não faz senão sublinhar a grandeza de Deus. (BJ)

2: A fragilidade da condição humana faz descobrir o quanto é grande a compreensão e a misericórdia de Deus. Ele está sempre aberto para compreender e perdoar, e para ensinar o caminho da justiça e da vida. (BPa)

3: Aspecto importante da sabedoria é a sobriedade e o domínio sobre os impulsos instintivos. (BPa)

 

 

“O que confia rapidamente é um coração leviano,

o que peca prejudica-se a si mesmo.

O que se deleita com o mal será condenado,

o que odeia a tagarelice escapa do mal,

e aquele que resiste aos prazeres coroa a própria vida.

Aquele que refreia sua língua viverá sem disputas.

Não repitas jamais um boato

e não serás em nada prejudicado.

Não contes nada de amigo nem de um inimigo,

e, se não incorres em culpa, nada reveles.

Caso contrário, quem ouvir, não confiará mais em ti

e chegado o momento, te odiará.

Ouviste alguma coisa? Sê como um túmulo.

Aguenta, pois não arrebentarás.

O insensato se abala por causa de um segredo,

como uma mulher ao dar à luz uma criança.

Como uma flecha fincada na coxa,

assim é um segredo nas entranhas do insensato.1

 

Pergunte ao teu amigo: ele pode não ter feito nada,

e, se o fez, pode não o repetir.

Pergunte ao teu próximo: ele pode não ter dito nada,

e, se o disse, pode não o repetir.

Pergunte ao teu amigo, porque frequentemente se calunia;

não acredites em tudo o que se diz.

Há quem deslize sem querer;

quem nunca pecou com a própria língua?

Pergunte ao teu próximo antes de o ameaçares,

dá lugar à lei do Altíssimo.”

(Eclo 19,4-17 – BJ / BPa / BPe)

1: A comparação é facilitada pela concepção hebraica, que considera as entranhas como depósito de informações (Pr 18,8). O autor tacha de insensatez a falta de domínio. (BPe)

 

 

“O homem se conhece pelo aspecto,

reconheces o sensato ao encontrá-lo;

a maneira de vestir, de rir, de caminhar

manifestam o caráter de um homem.”

(Eclo 19,29-30 – BPe)

 

 

“Eunuco que suspira por deflorar uma donzela

é quem faz justiça com a violência.”1

(Eclo 20,4 – BPe)

1: Aqui trata mais de resultados que de aparências. Boas intenções e ações não ponderadas produzem resultados opostos ou estéreis, p. ex., repreender fora de hora, repreender o teimoso, impor justiça à força; recordamos Moisés matando o egípcio (Ex 2). A comparação está também em Eclo 30,20: o violento é estéril para a justiça. (BPe)

 

 

“Na desgraça um homem pode encontrar salvação

e a fortuna pode provocar a ruína.

 

Há presentes que não te serve para nada

e há presentes que rendem o dobro.

 

Às vezes a glória traz a humilhação

e há quem da humilhação levanta a cabeça.

 

Há quem compre muitas coisas por um preço baixo

e depois o paga sete vezes mais.

 

O sábio com as suas palavras torna-se amável,

mas as gentilezas do estulto são derramadas em vão.

 

O presente do insensato não te serve para nada,

como o do ciumento quando a isso é constrangido,

porque ele espera avidamente receber sete vezes mais.

Ele dá pouco e reclama muito,

gritando como um leiloeiro.

Empresta hoje, amanhã pede de volta.

É um homem odioso.

O insensato diz: “Não tenho amigo,

não há quem agradeça meus favores”.

Até os que comem do seu pão falam mal dele.

Quantas e quantas vezes se riem dele!1

 

É melhor escorregar no chão do que na língua.”

(Eclo 20,9-18a – BJ / BPa / BPe)

1: As três Bíblias compreendem que o insensato para de falar em momento distinto, o que altera o sentido do vv. seguinte.

 

 

“A injustiça é espada de dois gumes

e sua ferida é incurável.”

(Eclo 21,3 – BPe)

 

 

“Quem constrói a própria casa com dinheiro de outros,

ajunta pedras para sua própria sepultura.

 

Um bando de malfeitores é um fardo de estopa,

Seu fim será a chama e o fogo.

 

O caminho dos pecadores é bem pavimentado,

mas desemboca nas profundezas da mansão dos mortos.

 

Quem observa a Lei torna-se capaz de controlar seu próprio pensamento,

e a sabedoria é a perfeição do temor ao Senhor.

 

A mente do insensato é como vaso rachado:

não guarda nenhum conhecimento.

 

Quando o inteligente ouve uma palavra sábia,

ele a louva e acrescenta outra;

o imbecil a ouve, a despreza e a joga para trás das costas.”1

 

A sabedoria é prisão para o néscio;

A prudência é cárcere para o insensato;

a instrução é para o néscio como grilhões nos pés ,

como algema na mão direita.

Para o sábio a instrução é joia de ouro,

um bracelete no braço direito.

 

O néscio tem a mente nos lábios;

o sábio tem os lábios na mente.

 

Quando o injusto amaldiçoa Satanás,

está amaldiçoando a si próprio.”2

(Eclo 21,8-11.14-15.18-19.21.26-27 – BPa / BPe / BJ)

1: Para ter a sabedoria é necessário um ponto que unifique os próprios pensamentos e ações. Tal polo unificador é o projeto de Javé (observar a Lei). Então, tudo o que a pessoa disser ou fizer será fonte de vida, pois saberá acolher, refletir e discernir o que está de acordo, ou não, com esse projeto. O insensato ou imbecil é aquele que, sem esse ponto unificador, não consegue reter ou transmitir nada, pois tudo fica fragmentado em seus pensamentos e ações. Sem esse projeto de vida, ele não sabe respeitar a intimidade alheia, nem percebe que o seu comportamento é desagregador (vv. 22-24). (BPa)

2: O ímpio ou perverso não deve lançar a culpa em Satanás, como Eva no paraíso, porque ele é “Satã” para si mesmo, traz dentro de si a malícia de Satã: cf. Rm 7,14-23. Outros comentaristas, mudando o texto, o referem à maldição injusta que recai sobre quem a pronuncia. (BPe)

O autor identifica Satã (o tentador, cf. Jó 1-2) com o instinto mau, que é interior. Julgando maldizer a um ser exterior, é a sua própria vontade perversa que o homem maldiz. (BJ)

 

 

“Ensinar o imbecil é como emendar cacos,

ou acordar alguém que dorme sono profundo.

Falar ao imbecil é como falar a quem está dormindo;

no fim ele pergunta: “O que é que foi mesmo?”

 

O luto pelo morto dura sete dias,

mas para o imbecil e para o injusto dura a vida inteira.

 

O que é mais pesado que o chumbo?

Qual é o seu nome, senão “insensato”?

Areia, sal e barra de ferro

são mais fáceis de carregar do que um insensato.”

(Eclo 22,9-10.12.14-15 – BPa / BJ / BPe)1

1: Numeração dos vv. de BJ e BPe.

 

 

“Quem se vinga sofrerá a vingança do Senhor,

que severamente lhe pedirá contas de seus pecados.

Perdoe a injustiça que o seu próximo cometeu

e, quando você pedir, Deus também perdoará os pecados que você tiver cometido.1

Se um homem guarda rancor contra outro,

como poderá pedir que Deus o cure?

Se não usa de misericórdia para com o seu semelhante,

como se atreve a pedir perdão de seus próprios pecados?

Se ele, que é carne, guarda rancor,

quem perdoará os seus pecados?

 

Lembre-se do seu fim, e pare de odiar.

Lembre-se da corrupção e da morte, e persevere nos mandamentos.

Lembre-se dos mandamentos,

e não guarde rancor contra o seu próximo.

Lembre-se da aliança com o Altíssimo,

e não leve em conta a ofensa que fizeram a você.”2

(Eclo 28,1-7 – BPa)

1: Somente Deus conhece o mais fundo da nossa vida e história. Por isso, só ele pode avaliar e julgar nossos atos, fazendo justiça. O texto leva diretamente ao “Pai nosso”: “Perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos aqueles que nos devem” (Lc 11,4). “e vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também não perdoará os males que vocês tiverem feito” (Mt 6,15). (BPa)

2: Os primeiros versos dão a motivação suprema: Deus se vinga do vingativo e perdoa quem perdoa; depois, a motivação desenvolve o aspecto humano da solidariedade; finalmente, o fim do homem e os mandamentos da aliança são o motivo. (BPe)

 


“A chicotada deixa marca,

mas o golpe da língua quebra os ossos.

Muitos já caíram pelo fio da espada,

mas não foram tantos como as vítimas da língua.

Feliz de quem se protege dela

e não se expõe ao seu furor.

Feliz quem não arrastou o jugo dela,

nem foi enredado em suas cadeias.

De fato, o jugo dela é de ferro,

e suas cadeias são de bronze.

A morte que ela provoca é terrível,

e é preferível estar no túmulo.”

(Eclo 28,17-21 – BPa)

 

 

“Não te deixes vencer pela tristeza

nem se abater por tua própria culpa:

Alegria do coração é vida para o homem,

e a alegria lhe prolonga a vida.

Consola-te, recupera o ânimo e afasta de ti o sofrimento,

Pois a melancolia já arruinou muita gente,

e nada se ganha com o sofrimento.

Ciúmes e cólera encurtam os anos,

e as preocupações fazem envelhecer antes do tempo.

Coração alegre é grande banquete

que traz proveito a quem o come.”

(Eclo 30,21-25 – BPe / BPa)

 

 

“Não banque o valente com o vinho,

pois o álcool já arruinou muita gente.

A fornalha põe à prova a têmpera do metal,

assim o vinho prova os corações nas brigas dos arrogantes.

O vinho traz vida para os homens,

desde que você o beba com moderação.

Que vida existe quando falta vinho?

Ele foi criado para alegrar as pessoas.

Bebido em tempo certo e na medida certa,

o vinho traz gozo para o coração e alegria para a alma.

Todavia, bebido em excesso, por vício ou desafio,

o vinho traz amargura para a alma.

A embriaguez aumenta a ira do insensato para sua própria ruína,

diminuindo-lhe as forças e provocando ferimentos.

Num banquete, não repreenda o próximo,

nem zombe por ele estar alegre;

não o reprove com palavras,

nem o atormente com reclamações.1

(Eclo 31,25-32 – BPa / BJ)2

1: A razão pode ser dupla: para não provocar rixas, e por compreensão com o próximo. (BPe)

2: Tratativa similar em Pr 23,29-35.

 

 

“A esperança do néscio é vã e enganosa,

os sonhos dão asas aos estultos;

caça sombras ou persegue ventos,

quem confia nos sonhos.

As visões do sonho são para a realidade

aquilo que um rosto verdadeiro é para o espelho.”1

(Eclo 34,1-3 – BPe)

1: No AT, Deus às vezes usa dos sonhos para instruir os homens: Gn 28,10-17; 31,10-13.24; 37,5-11; 41,1-36 etc. Cf. Nm 12,6; Ver também Mt 1,20-23; 2,13.22. Mas o recurso aos sonhos como meios ordinários de adivinhação é censurado pelos profetas e pelos legisladores: Jr 29,8; Ecl 5,6; Lv 19,26; Dt 13,2-6; 18,9-14. Ben Sirá adota essa última atitude, embora reconheça a possibilidade de sonhos autenticamente divinos (v. 6). (BJ)

 

 

“A beleza da mulher ilumina o rosto

e supera todos os desejos do homem.

Se nos lábios dela existe bondade e doçura,

o seu marido é o mais feliz dos homens.

Quem adquire esposa tem o começo da fortuna,

pois ela é auxiliar semelhante a ele e coluna de apoio.

Onde não há cerca, a propriedade é saqueada,

e onde não há mulher, o homem vagueia gemendo.

Quem confia num ágil ladrão

que salta de cidade em cidade?

Assim é o homem que não tem ninho

e se deita onde a noite o surpreende.”1

(Eclo 36,27-31 – BPa / BPe / BJ)2

1: Mesmo tributário do regime patriarcal, o autor sabe reconhecer a importância que a mulher tem para o homem. Sem ela, o homem não cria raízes. (BPa)

2: Numeração dos vv. de BJ e BPe.

 

 

“O pensamento precede a toda ação

e a reflexão a toda tarefa.

A mente é a raiz de toda conduta,

e produz quatro ramos:

bem e mal, vida e morte,

e o que os domina é a língua.”

(Eclo 37,16-18 – BPe / BJ)

 

 

“Filho meu, derrama tuas lágrimas pelo morto,

entoa um lamento fúnebre para mostrar a tua dor,

depois enterra o cadáver segundo o costume

e não deixes de honrar a sua sepultura.1

Chora amargamente, bate no peito,

observa o luto segundo merece o morto,

um ou dois dias, por causa da maledicência do povo,

depois consola-te de tua tristeza.

Porque a tristeza leva à morte,

e qualquer aflição do coração consome as forças.

Com a desgraça persiste a dor,

uma vida triste é insuportável.

Não abandones teu coração à tristeza, afasta-a.

Lembra-te de teu próprio fim.2

Não esqueças: não há volta,

Tua tristeza em nada servirá ao morto,

e você acabará se prejudicando.

Lembre-se: a sorte dele será também a tua.

eu ontem, tu hoje!

Quando o morto repousa, pare de pensar nele.

Consola-te, porque o espírito dele já partiu.”

(Eclo 38,16-23 – BJ / BPa / BPe)

1: Tocar num cadáver produzia impureza legal; isso, porém, não justifica faltar aos ritos fúnebres. (BPe)

2: Desaconselha a recordação obsessiva, deprimente. (BPe)

 

 

“Vou expor agora as minhas reflexões,

pois estou repleto delas como a lua cheia.1

Escutem-me, filhos piedosos,

e cresçam como roseira plantada à beira d’água corrente.

Espalhem bom perfume como incenso e floresçam como lírio.

Espalhem perfume e entoem um canto,

bendizendo ao Senhor por todas as suas obras.

Engrandeçam o nome do Senhor

e proclamem os louvores dele com seus cânticos e cítaras.

Vocês o louvarão assim:

Como são magníficas todas as obras do Senhor!

Todas as suas ordens são executadas pontualmente.

Não é preciso dizer: “O que é isto? Por que aquilo?”

Todas as coisas serão esclarecidas a seu tempo.

A uma ordem dele, a água parou e se juntou

à sua voz, se formaram os reservatórios de água.

Sob sua ordem, tudo o que ele deseja é realizado,

e não há quem possa impedir sua obra de salvação.

Diante dele estão todas as obras dos homens,

e nada consegue esconder-se de seus olhos.

Seu olhar se estende de eternidade em eternidade,

e para ele nada é extraordinário.

Não é preciso dizer: “O que é isto? Por que aquilo?”

Pois todas as coisas foram criadas para uma finalidade.

Sua bênção transborda como rio

e rega a terra como um dilúvio.

Dessa forma, as nações fazem experiência de sua ira,

tal e qual como transformou as águas em deserto salgado.

Seus caminhos são retos para os homens honrados,

mas para os injustos estão cheios de obstáculos.

Desde o princípio, as coisas boas foram criadas para os bons,

assim como os males foram criados para os pecadores.

 

Para a vida do homem, as coisas de primeira necessidade

são a água, o fogo, o ferro, o sal, a farinha de trigo,

o leite, o mel, o suco de uva, o óleo e a roupa.

Todas essas coisas são boas para os fiéis,

mas para os pecadores se tornam más.

Há ventos que foram criados para castigar

e que, enfurecendo, se tornam flagelo.

Quando chegar o fim, eles desencadearão sua violência,

e aplacarão o furor do seu Criador.

Fogo e granizo, fome e morte

foram criados para castigar.

Os dentes das feras, os escorpiões,

as cobras e a espada vingadora

existem para arruinar os injustos.

 

A uma ordem do Senhor, essas coisas se alegram

e estão prontas na terra para qualquer necessidade.

No tempo oportuno, não transgredirão a ordem recebida.

 

Por isso, desde o início tive certeza3

e, depois de refletir, coloquei por escrito:

“Todas as obras do Senhor são boas,

e ele prevê todas as necessidades no momento certo”.

Não se pode dizer: “Isto é pior do que aquilo”,

porque no momento certo

todas as coisas serão reconhecidas como boas.

Agora, cantem hinos com o coração e com a boca,

e bendigam o nome do Senhor.”

(Eclo 39,16-35 – BPa / BJ / BPe)

1: Grande hino de louvor, proclamando a grandeza de Deus, manifestada na criação. No universo, tudo tem sua finalidade e, no momento certo, o homem pode reconhecer a bondade de todas as coisas. Tudo isso é convite para discernir e construir aquela harmonia que deve presidir as relações humanas. Se o homem é capaz de ver a ordem e a perfeição da natureza, é também capaz de realizá-las no mundo humano. (BPa)

2: Os caminhos de Deus são os mesmos: é o homem quem introduz a distinção e perturba a ordem criada. (BPe)

3: Depois da reflexão e do estudo, o autor afirma sua convicção, que deseja comunicar a outros. O tema inicial retorna com nova força, a objeção é de novo rejeitada, a teodiceia desemboca e termina em hino. Quão distante está essa discussão tranquila da dramaticidade de Jó que, sendo inocente, sentiu na carne a desgraça! Ben Sirac afirma a conexão da desgraça com o pecado, mas não desce ao plano individual do grande problema, nem resolve seu último paradoxo. (BPe)

 

 

“Deus designou uma grande fadiga,1

e jugo pesado foi dado aos filhos de Adão,

desde o dia em que saem do ventre materno

até o dia em que voltam para a mãe de todos.

O objeto de seus pensamentos, o temor de seu coração,

é a espera angustiante do dia da morte.

Desde aquele que se assenta em trono glorioso

até o miserável sentado na terra e na cinza;

desde aquele que veste púrpura e coroa

até o que se veste com pano grosseiro,

tudo é raiva, inveja, ansiedade, inquietação,

medo da morte, ressentimento e brigas.

Mesmo quando o homem repousa na cama,

o sonho noturno lhe perturba os pensamentos.

Por um pouco, quase nada, ele repousa.

Mas no sono, como em pleno dia,

fica perturbado pelos fantasmas de sua mente,

como quem fugiu da linha de batalha.

No momento em que está para salvar-se, acorda,

surpreendido de que seu terror não tinha motivo.2

Isso acontece a toda criatura, desde o homem até o animal,

mas para o pecador é sete vezes pior:

morte, sangue, luta, espada,

miséria, fome, destruição e flagelos.

A desgraça foi criada para os injustos,

e foi por causa deles que aconteceu o dilúvio.

Tudo o que vem da terra volta para a terra,

e tudo o que vem da água volta para o mar.3

 

Toda corrupção e injustiça desaparecerão,

mas a fidelidade permanecerá para sempre.

A riqueza dos injustos desaparecerá como torrente,

como trovão que ribomba no meio da tempestade.

Assim como o injusto se alegrará abrindo as mãos,

também os transgressores cairão na ruína.

Os brotos dos injustos não multiplicarão seus ramos,

porque são como raízes impuras sobre pedra dura.

São como caniço na margem do rio, à beira d’água,

que é arrancado antes de qualquer outra erva.

A bondade é como paraíso de bênçãos,

e a misericórdia permanece para sempre.

 

Doce é a vida do homem independente e do trabalhador;4

melhor do que a dos dois é aquele que encontra um tesouro.

Os filhos e a fundação de uma cidade perpetuam o nome,

porém acima dos dois está a mulher irrepreensível.

Vinho e a arte alegram o coração;

mas acima das duas está o amor à sabedoria.

Flauta e harpa tornam agradável o canto,

mas acima dos dois está a voz melodiosa.

A graça e a beleza agradam aos olhos,

mas acima delas está o verde dos campos.

O amigo e o companheiro são encontrados no momento oportuno,

mas acima dos dois está a mulher com o homem.

Irmãos e ajuda são úteis no tempo da aflição,

mas acima dos dois está a esmola que liberta.

Ouro e prata dão firmeza aos pés,

mas acima dos dois estima-se o conselho.

Riqueza e força engrandecem o coração,

mas acima delas está o temor do Senhor.

Com o temor do Senhor nada falta,

e além dele não é preciso buscar outra ajuda.

O temor do Senhor é como paraíso de bênçãos,

e sua proteção está acima de qualquer glória.”

(Eclo 40,1-27 – BPa / BJ / BPe)

1: O Eclesiastes poderia assinar esses vinte versos. Soam estranhos no livro de Ben Sirac, e muito mais depois do hino à bondade da criação. (BPe)

2: Até o descanso natural do sono se torna fonte de temores. A descrição é psicológica como Is 29,8. O vazio do sonho, afirmado em 34,1-8, não diminui seu poder de aterrorizar; antes, torna o sofrimento mais desesperador. (BPe)

3: O fim, quando Deus retira seu alento vital, iguala todos: Ecl 12,7; Sl 104,29. (BPe)

4: Há muitas realidades que dão brilho e alegria à vida, como a independência econômica, os filhos, a fama, os prazeres. Todavia, o verdadeiro sentido da vida só é descoberto quando o homem teme a Deus. Não se trata de ter medo, mas de reconhecer que só Deus é absoluto, só a ele o homem deve adorar. Qualquer outra realidade é relativa, e só adquire sentido verdadeiro dentro das relações humanas. (BPa)