domingo, 29 de setembro de 2013

Jogos Sagrados – Vikram Chandra

Editora: Companhia das Letras

ISBN: 978-85-359-1310-1

Tradução: Celso Nogueira

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 986

Sinopse: O herói e o vilão de Jogos sagrados não se conhecem pessoalmente; trocam umas poucas palavras pelo interfone, tamanha a distância que separa o humilde inspetor Sartaj Singh de Ganesh Gaitonde, chefão da máfia de Mumbai. A suspeita morte do gângster no bunker que mandou construir em Mumbai marca o início da investigação que levará o detetive Singh a uma jornada pelas contradições e mistérios da Índia moderna, onde tradição e mudança se chocam diariamente.



“– Se pretende viver na cidade, precisa antecipar três rodadas, e ver através de uma mentira para conhecer a verdade, e ver através da verdade para ver a mentira.”

 

 

“Mas eu sabia, lá no fundo, que sem terra o sujeito não valia nada. A gente pode morrer por amor, pode morrer por amizade, pode morrer por dinheiro, mas, no final das contas, a única coisa real neste mundo é a terra.”

 

 

“Mas por que Chotta Badriya me seguiu até as portas da morte? Ele mal me conhecia, sabia dos riscos insanos de meu plano, e mesmo assim me acompanhou. Eu acho que ele foi comigo porque eu mandei. A maioria dos homens quer ser conduzida, e só poucos sabem liderar. Eu tinha um problema, uma escolha e uma decisão a tomar. Decidi, Chotta Badriya e outros me seguiram. Os que não conseguem decidir são barro mole nas mãos de quem consegue.”

 

 

“A comida é o maior e mais confiável dos prazeres.”

 

 

“Um homem sóbrio tem prioridades, vive alerta e atento. Não precisa de uísque e rum. Basta-lhe a vida.”

 

 

“Patriosh Shah me dava lições diárias sobre o poder de seu dândi-swami. “Você viu como seu apelo foi atendido. Você pediu, ele deu. Como pode se recusar a acreditar?”. Eu me sentia tentado a acreditar. Mas, no início da vida, vira como a crença era uma podridão interna que esvaziava um homem e o transformava num eunuco. Sabia ser a fé uma muleta conveniente para fracos e covardes. Não, eu não queria ser contaminado por essa doença.”

 

 

“Era bom para os dois policiais Sartaj Singh e Katekar ficarem ali debaixo de uma thela, reclamando. Eles já haviam se queixado da prefeitura, das corporações, das transferências de funcionários públicos e policiais honestos, do preço da manga, do trânsito, do excesso de construções, dos prédios que caíam, dos bueiros entupidos, do parlamento rebelde e selvagem, da extorsão dos Rakshaks, dos filmes ruins, da falta de programas interessantes na televisão, da interferência norte-americana nos assuntos subcontinetais, do desaparecimento de Rimzim das barracas que vendiam refrigerantes, das disputas interestaduais a respeito das águas dos rios, da falta de boas escolas que ensinassem inglês para quem não tivesse um pai disposto a gastar um caminhão de dinheiro, da maneira como retratavam os policiais nos filmes, das horas extras sem pagamento de adicional, do trabalho e do trabalho. Depois que a pessoa reclama de tudo, resta sempre o trabalho, com suas horas aleatórias, monotonia, complicações políticas, falta de reconhecimento e exaustão.”

 

 

““O propósito, o sentido, o intento e a metodologia do serviço secreto é o discernimento de padrões.” Os alunos esperam, ávidos, pela revelação que lhes trará conhecimento, aguçando-lhes a compreensão para que, preparados, sobrevivam e triunfem. “A capacidade de identificar um método, ordem, projeto, é o maior talento que um agente secreto pode possuir”, declara K.D. Yadav, alcançando o fundo da sala. “O velho ditado se aplica: uma vez é o acaso, duas é coincidência, três é ação inimiga”.”

 

 

“Existem sadhus (milagres), mesmo. Reais e falsos. Ambos são úteis.”

 

 

“Para jogar esse jogo direito, é preciso controlar homens maus, levá-los a fazer coisas ruins que acabariam se tornando coisas boas. Era necessário. Só quem nunca esteve num campo de batalha exige virtude impoluta e feitos impecáveis.”

 

 

“O que a quase meia idade lhe fizera, corroera seu fervor revolucionário com – com o quê? – longas horas de serviço, contas, o trânsito insuportável, a poluição venenosa que aplicava um filme negro em seu rosto e nos braços. E pelas derrotas profissionais, pelo divórcio, pela abrupta amputação do amor, pela compreensão profunda de que o futuro não era um prado interminável, e sim um vale estreito cercado pela noite.”

 

 

“Eu sabia até a medula dos ossos que todos os presentes são traições, que nascer é ser enganado, que nada nos é concedido sem que algo maior nos seja tirado”.

 

 

“O dinheiro cria beleza, o dinheiro liberta, o dinheiro torna a moralidade possível.”

 

 

“Os escritores são especialmente suscetíveis ao elogio. Já trabalhei com políticos, homens santos e gângsteres, e posso afirmar que nenhum deles poderia competir com escritores em matéria de ego inflado e insegurança de rato.”

 

 

“O amor, Sartaj pensou zombeteiro, era uma armadilha inescapável. Capturado em suas barras, nos debatemos, salvamos uns aos outros e destruímos uns aos outros.”

Um comentário:

Doney disse...

Um aspecto negativo a se destacar sobre o livro, é que há muitas palavras em dialetos diversos (hindi, urdu, sânscrito) no meio da obra e, ao invés de colocar as tradução na própria página, por economia de espaço, a editora preferiu colocá-las juntas no final do livro. O problema é que em um livro que tem quase mil páginas, você toda hora ter de parar a leitura, ir até o final do livro e procurar o significado da palavra, e depois reencontrar onde estava e recomeçar e leitura, torna-se cansativo. Ademais, há inúmeras palavras (como kurta, chappal, pathan, yaar, tamasha, jhakaas, dentre muitas outras), que não têm o significado descrito no glossário – o que é bem frustrante, interromper a leitura para procurar uma palavra, e não encontrá-la.
Por outro lado, a despeito de o livro só ter recebido três estrelas, há boas partes (especialmente as que tratam do vilão Ganesh Gaitonde) que mereciam nota melhor.