sábado, 26 de janeiro de 2013

O grande livro dos signos & símbolos: marcas que remontam a história do homem, suas crenças, descobertas e a relação com o universo e seus mistérios (Livro 2) – Mark O’ Connell e Raje Airey

Editora: Escala
ISBN: 978-85-389-0088-7
Opinião: ★★★☆☆
Páginas: 158

O MITO E O COSMOS

     Uma ampla lista tem sido utilizada para descrever as origens do universo. a mitologia da criação geralmente reflete a geografia de uma sociedade, a cultura e as crenças e serve para alinhá-la com a natureza e com as pré-condições da vida. Vários temas típicos estão entrelaçados com as mitologias da criação do mundo. 


O PROCESSO CRIATIVO 

     A criação pode ser descrita como um enorme evento cósmico, um processo dividido em fases, no qual as coisas se tornaram diferenciadas, algumas vezes conduzindo a uma hierarquia natural e, em outras, a um inter-relacionamento sagrado entre os aspectos da natureza. Quer a criação mitológica dos seres humanos tenha coincidido com o evento real da criação ou tenha surgido com o passar do tempo, o homem original e a mulher original sempre serão símbolos centrais da humanidade primitiva.


OS DEUSES CRIADORES 

     A criação é realizada de modo ativo através das ações, sonhos ou reflexões de seres divinos. Os Upanishads, escrituras hindus do século IX a.C, descrevem o Eu Divino ou Ser Supremo que criou o universo através da reflexão do nada e de seu próprio encontro. 
     Este ato de auto consciência levou à primeira palavra: “Isto sou eu”. Na mitologia samoana, o deus supremo Tangaroa criou o mundo do nada, apenas pensando nele. 
     As histórias com mais de 150 mil anos contadas pelos aborígines australianos atribuem a criação aos ancestrais que viviam em um espaço e tempo míticos conhecidos como “Era dos Sonhos”. Viviam igual aos humanos, viajando, caçando, amando, lutando e moldando a paisagem por onde passavam. Os aborígines acreditam que cada ser compartilha uma conexão fundamental com a fonte da criação, refletindo seu profundo respeito pela natureza. 
     O Gênesis descreve Deus realizando a criação. Ele completou sua obra no 6° dia com os seres humanos, que deveriam “dominar” toda a vida existente. A cosmologia judaico-cristã coloca a humanidade num lugar especial abaixo de Deus na hierarquia da natureza.


A CRIAÇÃO A PARTIR DO CAOS OU DO VAZIO 
     O termo grego chaos refere-se à escuridão inicial, o universo sem forma. A partir dessa escuridão, surgiu Eros, uma deidade da fertilidade, mais tarde associada ao amor erótico, mas inicialmente o ímpeto criativo por trás da vida e da natureza. Com Eros veio Gaia, a deusa da terra, e Tartarus o deus do submundo. O Filho de Gaia, Urano, a engravidou dando origem aos Titãs e ao Ciclope e depois aos mares, terra e outras características naturais. 
     Uma vez que os oceanos rodeiam o mundo, em muitos mitos de criação, o universo surge do corpo caótico da água. A criação do mundo egípcio a partir da água se ajusta a uma terra que dependia da inundação periódica do Nilo. A partir de Nu, a água original, uma colina de terra seca emergida, seguida pelo primeiro nascer do sol no novo horizonte e, depois, o restante da criação. 
     Os deuses japoneses Izanagi e Izanami agitaram as águas primitivas com uma lança e as gotas se aglutinaram para formar a ilha de Onokoro. O povo de Arunta, na Austrália Central, fala de um mundo coberto por água salgada que foi gradualmente retirada pelo povo do norte, fazendo aparecer a primeira parte da terra. O mito dos xamãs altaicos, da Ásia Central, conta sobre uma época antes da criação quando não havia terra, somente água, sobre a qual pairava um ganso branco, o deus Kara-han.


A CRIAÇÃO A PARTIR DA SEPARAÇÃO 
     O tema da separação explica as origens da vida. Geralmente isso envolve a divisão de um deus do céu e uma deusa da terra, embora em algumas culturas o masculino esteja associado à terra e o feminino ao céu.
A deusa egípcia do céu, Nut, cujo corpo fica arqueado
sobre a terra, foi separada de Geb, o deus terreno.

     Nos mitos dos Maori e de outros polinésios, o universo originalmente consistia de uma noite ou escuridão eterna. Eventualmente, Rangi, o pai do céu, e Papa, a mãe da terra, se uniram, criando a terra e muitas descendências divinas. Eles viviam na escuridão até que se decidiu separar os pais. Tu Matauenga, o deus da guerra, cortou os tendões, que sangraram a cor sagrada do ocre vermelho juntando seus pais. Porém, foi somente Tane Mahuta, o deus da floresta, que conseguiu separá-los para permitir que a luz e o ar entrassem entre o Céu e a Terra. M um mito egípcio semelhante, a deusa do céu, Nut, e o deus da terra, Geb, foram separados por sua descendência.


CRIAÇÃO ATRAVÉS DO DESMEMBRAMENTO 
     Um tema comum é a criação que surgiu da morte e do desmembramento de um ser primitivo. De acordo com a mitologia nórdica da criação, Odin, Vili e Ve mataram o gigante Ymir, cujo corpo deu origem ao mundo. Sua carne formou a terra; o mar e os rios fluíram de seu sangue, seus ossos se tornaram as montanhas e as árvores cresceram a partir de seus cabelos. O enorme esqueleto de Ymir se tornou os céus. Parecido com o ser primitivo chinês P'an-Ku. Quando morreu, sua respiração se transformou nos ventos, sua voz nos trovões, seu sangue na água e seus músculos na terra fértil. Seu bom humor fez com que o sol brilhasse e sua raiva produziu o trovão e o raio. O épico babilônico Enuma Elish, composto no século XII a.C, fala do deus Marduk que matou e cortou em duas partes o corpo de Tiamat, a deusa do oceano. As duas metades se tornaram o Céu e a Terra. 
     A mitologia da Indonésia conta sobre uma época antes da criação na qual não havia tempo, nem nascimento, nem morte nem sexo. Aconteceu uma enorme dança cósmica durante a qual um único dançarino foi esmagado e seu corpo rasgado em pedaços. O tempo começou com este assassinato e aconteceu a separação dos sexos. Das partes do corpo do dançarino que foram enterradas surgiram as árvores e as plantas. E, assim, a primeira morte simultaneamente produziu o início do tempo, do crescimento e da procriação.


 O PRIMEIRO HOMEM E A PRIMEIRA MULHER 
     A origem da humanidade é simbolizada com as imagens do “primeiro homem” e da “primeira mulher” representando o projeto da humanidade. Porém, com os seres humanos vem a criação das forças de tormento com as quais eles devem lutar.
A ideia dos primeiros seres humanos, um homem e uma
mulher, é comum entre muitas mitologias do mundo.

     Na mitologia sumeriana do 3° milênio a.C, Enki, o deus da sabedoria, amante da diversão, com sua mãe/amante, a deusa terrena Ninhursag, e outras doze deusas, moldaram os primeiros seres humanos com o barro do leito do rio Eufrates. Como criaram pessoas perfeitas, eles fizeram um concurso para criar pessoas para as quais os outros não encontrariam nenhuma tarefa, fazendo surgir a imperfeição humana. 
     Na história bíblica, Adão (cujo nome significa “feito de barro”) é criado a partir do pó da terra por Jeová, o Deus criador, que sopra a vida no homem. Em seguida, ele recebe uma companhia feminina, Eva, que será a mãe de toda a humanidade. 
     Em ambos os mitos os primeiros seres foram criados a partir da substância da terra, mas existem diferenças. Os seres humanos sumerianos foram criados para serem escravos dos deuses, Adão e Eva foram criados por um Deus e a eles foi dado o domínio e sua tarefa era “dominar” a natureza.


O Sol

O sol é um símbolo típico, adorado
como deidade por muitos povos.
     Como nossa única fonte de luz e calor, o sol é crucial para a vida na terra e é um dos símbolos mais importantes em todas as culturas do mundo. Está tipicamente associado com o poder, manifestando-se tanto como uma deidade suprema quanto em imperadores ou reis. Sua energia ativa é usualmente (embora não sempre) considerada como masculina e associada com o conhecimento imediato e intuitivo ou intelecto cósmico. A contraparte do sol nos céus é a lua (geralmente vista como feminina) e o simbolismo solar e lunar é contrastado por quase todas as culturas. O princípio solar está associado com os animais, pássaros e plantas (tais como o leão, a águia e o girassol), com o ouro, e com as cores, como o amarelo, o laranja e o vermelho.


O OLHO DO MUNDO

O Olho de Hórus era um símbolo de realeza e
imortalidade, além de ser um talismã para proteção.
     Em muitas culturas, o sol está ligado a um olho divino que vê todas as coisas. Era o “olho” do deus grego Zeus (e seu equivalente romano, Júpiter), o deus egípcio Hórus, o hindu Varuna, o nórdico Odin e o islâmico Alá. O povo Samoano da região ártica considera o sol e a lua como os dois olhos de Num (os céus), O sol sendo o olho bom e a lua o olho mal. De acordo com o mito do povo Fulani, do oeste da África, quando Gueno (a deidade suprema) havia terminado a obra da criação, ele retirou um de seus olhos e o colocou nos céus, transformando-o no sol. Então, ele se tornou o rei de um só olho, um que era suficiente para ver e o outro que proporcionava luz e calor. Em muitas tradições o sol é poeticamente mencionado como “o olho do dia”.


DEIDADES SOLARES

Apolo, o deus do sol da antiguidade clássica,
conduz sua carruagem solar pelo céu.
     A ligação entre o sol e a divindade é típica e muitas culturas cultuam as deidades solares, incluindo Shamash (Babilônia), Ra (Egito), Mitra (Pérsia) e Apolo (Grécia e Roma). Nas tradições orientais, o sol é o emblema do deus hindu Vishnu e de Buda, a quem alguns escritores chineses se referem como “Buda-Sol” ou “Homem Dourado”. O Alto Sacerdote Judeu usava um disco dourado em seu peito como um símbolo do sol divino e Cristo é, algumas vezes, comparado com o sol espiritual no coração do mundo e é chamado de Sol Justitiae (Sol da Justiça) ou Sol Invictus (Sol Invencível), com os doze discípulos comparados aos raios do sol.
Uma auréola de raios de sol
ao redor de Amaterasu, a
deusa do sol do Japão.
     Embora o sol geralmente seja considerado como masculino, em algumas culturas (africana, nativo americana, maori, aborígine australiana, japonesa e germânica) a deidade solar é feminina, porque o princípio feminino é visto como ativo através de seus poderes revigorantes. A deusa do sol do Japão, Amaterasu, se recolhe em uma caverna em protesto pela negligência de seu irmão, o deus da tempestade, em cumprir suas tarefas e é induzida a sair por outros deuses que fazem muito barulho. Na cosmologia do povo Dogon, de Mali, o sol é descrito como o pote de cerâmica aquecido (um símbolo do útero) rodeado por uma espiral de cobre vermelho, representando sêmen que o tornará fértil.


  PODER TEMPORAL
      Muitas culturas e seus governantes têm reclamado a descendência do sol, incluindo os Incas, os faraós do antigo Egito, os chineses e os japoneses. Dizem que a família imperial japonesa é descendente direta da deusa do sol Amaterasu e o sol nascente (representado por um disco vermelho) não é somente o emblema nacional japonês, mas também o nome do país (Nihon). 
     O sol nascente geralmente é considerado um símbolo de esperança e novos começos em contraste com o sol raiado que significa iluminação. Na China, o sol era um símbolo do imperador que usava um desenho do sol (um círculo contendo um corvo de três pernas) em seus mantos. O simbolismo do sol é um tema comum em toda a realeza. Ele aparece nos tronos do povo Kubu, no sudeste da África, ao passo que o povo Ashanti, do oeste da África, usa um disco dourado para representar a alma do rei. Espelhando-se no deus do sol, Apolo, o rei francês Luís XIV (1638-1715) era conhecido como o “Rei do Sol” e a vida da corte acontecia em torno dele, assim como os planetas ao redor do sol, em seu palácio opulento em Versalhes.


 O NASCER E O PÔR DO SOL
O pôr do sol simboliza a velhice, o
fim e a morte em muitas culturas.

     O desaparecimento do sol em cada noite e seu aparente renascimento na manhã seguinte o torna um potente símbolo da morte, da ressurreição e da imortalidade. Isso forma a base de muitos mitos e rituais sagrados. No antigo Egito, o deus sol Ra fazia uma terrível jornada todas as noites para o submundo, encontrando seu inimigo mortal, a cobra monstro Apophis, antes de sair novamente no leste. Se Apophis alguma vez derrotasse Ra, o sol não nasceria e a terra seria inundada pela escuridão. Na tradição cherokee nativa americana, o sol é feminino e, quando sua filha morre de uma mordida de cobra, o sol cobre o rosto dela de tristeza e o mundo fica escuro. Para consolá-la, o povo dança e canta, quando ela descobre seu rosto e o mundo se torna claro. A Dança do Sol dos Índios das Planícies está ligada a esse simbolismo.


O SOL PRETO
Em muitas tradições, um eclipse solar era visto com
assombro e medo, como símbolo de má sorte.

     Algumas culturas mencionam um sol preto. Os astecas o mostravam sendo carregado nas costas do deus do submundo, enquanto os maias o descreviam como um jaguar. Assim como a antítese do sol do meio-dia no auge do poder criativo que garante a vida, o sol preto está associado à morte e à destruição, prenunciando o desencadeamento do desastre. Os eclipses solares são, portanto, quase universalmente considerados como maus presságios, introduzindo eventos cataclísmicos que encerram um ciclo; por exemplo, no momento da crucificação de Cristo, o sol escureceu. Na alquimia, um sol preto representa uma matéria primitiva, não desenvolvida, que ainda deve ser refinada. Para o psicólogo, é um símbolo de inconsciência elementar.

 SIMBOLISMO PSICOLÓGICO
O leão é um símbolo solar, um sinal de poder e liderança.

     O sol é frequentemente associado com o princípio da autoridade, da qual o pai é a primeira personificação. Está ligado à individualidade, ao desejo, ao ego e à personalidade; no nível mais alto, lutando pela integração psíquica ou iluminação e no nível inferior cedendo à egomania, ao orgulho excessivo e ao autoritarismo.
     O sol também está ligado à energia criativa, à saúde e à vitalidade, influenciando tanto o desenvolvimento físico quanto o psicológico. Como personificação da energia masculina, ele pode ser visto como representação da intenção e pode aparecer em sonhos e mitos como um imperador, um rei, deus ou figura de herói.


HIERARQUIA ANGELICAL

Uma multidão celestial de anjos se preparando
para a batalha. Muitas religiões falam sobre a
batalha entre as forças angelicais do bem
e as forças demoníacas do mal.

     Os teólogos medievais descreveram uma hierarquia celestial de anjos. Na primeira esfera, estão os conselheiros celestiais: serafim, querubim e tronos. Na segunda esfera estão os anjos que trabalham como governadores celestiais: domínios, virtudes e poderes. Na ordem mais baixa dos anjos, mais familiar aos seres humanos, estão os mensageiros celestiais, encontrados na terceira esfera: principados, arcanjos e anjos.
     Os serafins, cujo nome significa “queimar” em hebraico, são anjos que literalmente queimam com a paixão pelo criador, envolvendo Deus com suas asas e nunca revelando Sua presença. Eles continuamente cantam suas orações e regularizam os céus com a música das esferas. Os querubins, cujo nome pode ser derivado de uma palavra assíria que significa “estar próximo”, são os guardiões da luz que brilha dos céus e toca a vida dos seres humanos. Depois da queda, dizem que Deus colocou os querubins a leste do Jardim do Éden, entre o jardim e o reino humano, para proteger a Árvore da Vida com suas espadas flamejantes.
     Chamados nos textos antigos de “senhores da flama” porque eram formados de pura luz ou energia, os arcanjos são os agentes através dos quais o desejo criativo de Deus é executado. Eles trazem orientação carinhosa, proteção e mensagens divinas para a humanidade. Os nomes dos arcanjos são Uriel, Tzadkiel, Khamel, Rafael, Haniel Miguel e Gabriel.


     “Muitas tradições antigas viam o corpo humano como um microcosmo, contendo uma miniatura de todos os estágios da criação. Os chineses consideravam o corpo como yin e yang, um símbolo de perfeito equilíbrio e totalidade. Em algumas tradições, o corpo é considerado um “templo da alma”, que fica entre o Céu e a Terra, auxiliando cada pessoa a perceber seu propósito divino e potencial único. Outras tradições o consideram um inimigo a ser superado, o repositório dos instintos básicos e paixões que ameaçam reduzir a humanidade ao nível do mundo animal.”

 

     “O anel de casamento surgiu nos tempos dos egípcios, quando as noivas ganhavam círculos de cânhamo ou junco. Os anglo-saxões usavam um anel como símbolo de promessa de amor e o anel de ouro de casamento se tornou um símbolo do amor e da unidade. Os egípcios e os romanos acreditavam que a veia no terceiro dedo (vena amoris) estava conectada ao coração, portanto, usar um anel de casamento neste dedo simboliza a ligação dos corações do casal.”