segunda-feira, 28 de março de 2011

No coração das perobas – Domingos Pellegrini

Editora: Record
ISBN: 978-85-0106-211-6
Opinião: ★☆☆☆☆
Páginas: 436
Sinopse: No coração das perobas é a história de Juliana Prestes, uma mestranda em história às voltas com a preparação – ou tentativa de – de uma tese inovadora sobre a Coluna Prestes. Assim, em meio a prosa inteligente de Domingos Pellegrini, vencedor do Prêmio Jabuti de 2001, surgem Luiz Carlos Prestes, Miguel Costa, Siqueira Campos e Getúlio Vargas. Nomes da história recente do país transformados em personagens deste romance que é, segundo o autor, um painel das revoluções brasileiras.



“– E daí você foi feliz, mãe?
– Mas o que é ser feliz, filha? Sei é que arranjei alguém pra minha vida, que a vida é dura, mais ainda sem um companheiro.”


Será que meu destino vai ser como o daquela professora de História, de que todos falam tanto, solteirona até os trinta, sapatona antes dos quarenta... Ah, o olho solta lágrima, o ouvido solta cera, o nariz solta caca, o cérebro tem essas ideias de vez em quando. Pare com isso, menina! A vida continua, como dizem... os perdedores.


“– Chegamos cedo?
– Não – a mulher está vestida e pintada para festa – A gente só estava namorando. Namoro de velho é conversar de mão dada...”


“(...) a guerra pra gente era a guerra, pra soldado era a revolução. Perguntei qual a diferença, o cabo disse revolução é guerra com gente do próprio país, e guerra é contra outro país, nunca mais esqueci.
Mas pro povo – disse minha mãe – é tudo guerra.


Gaúcho é sempre alegre quando não tá bravo.”


“– Guerrear enfiado em buraco (trincheira) já é meia sepultura”.


Cuidado, Juliana Prestes, não é pelo homem que você se apaixona, é pelo menino no homem, e você sabe, no começo todos eles são meninos, depois viram homens e...”.


É o povo do seu país, Juliana Prestes. Aceitam qualquer trote, baixam a cabeça para tudo, desviam de todo problema, rodeiam a trombada para ver o sangue e não para ajudar o ferido. Aplaudem e perdoam quase sempre o governo, fogem de quem luta mesmo contra governo ruim. Poucas cidadezinhas receberam bem a coluna Prestes...”.


O bem divide, o mal multiplica, como dizia Venâncio.
O bem aparece, o mal se disfarça.
O bem não precisa do mal, mas o mal não vive sem o bem.
O bem faz bem sem ver a quem, o mal faz mais mal a quem conhece bem.
O bem faz bem a quem faz e a quem recebe, o mal faz mal a alguém e se sente bem.
O bem pode não saber direito por que, nem para que, mas sabe que precisa fazer o bem.
O mal não precisa saber de nada, só que fazer o mal faz ao malvado bem...”.


“– A maior prisão do Brasil é a ignorância.


Na guerra, quem tem coragem vai na frente, quem tem cabeça vai atrás.


Não chorei quando matei um homem pela primeira vez, porque era inimigo matador e em caso assim a cabeça defende o coração, mas chorei quando morreu meu primeiro cavalo, bicho que nunca tem culpa de nada.


“– Se o povo não tivesse medo, não existia tirania.”


Quando li que Che Guevara lia poesia pro pessoal de noite em redor do fogo, pensei olha o Siqueira aí, lendo antes de dormir num canto qualquer, num colchão no chão ou numa rede esticada num quarto, de repente parava e lia um trecho do livro, ou perguntava por exemplo:
Sabiam que a Floresta da Tijuca foi toda plantada?! É uma floresta artificial! Se conseguimos até fazer uma floresta como aquela, o que é que não podemos fazer?!
Podia ser medicina, economia, política, ciências, poesia, ele pegava livros por onde passava, ia lendo, deixando em outro lugar para alguém devolver, mas a pessoa, geralmente mulher, quase sempre pedia para ele assinar no livro e guardava para si... Li que, devido a ele não ter namorada nem procurar mulher, podia ser menos homem, homem que gosta de homem, mas o que acontecia era que ele era casado, casado com a revolução. Tem gente que casa com a rotina, tem gente que casa com a segurança, basta ver tanta casa tão fechada e gradeada que parece prisão, e tem gente que casa com a religião, com o trabalho, com a vigarice, com a preguiça, com o ciúme, e Antonio de Siqueira Campos era casado com a revolução.


“Juliano Siqueira abre os braços para o baú agora na sala – É tudo seu! Já era tempo de eu entregar isto a alguém, antes de ir pro céu encontrar os amigos, como dizia o Venâncio, ou ir pro inferno encontrar os inimigos...”.


Cada trecho da viagem era com um guia diferente, questão de segurança, embora fosse muito mais seguro a gente ir sozinho. Eram todos cheios de medo, olhando tanto em volta que dava na vista. A um Franciscão falou calma, rapaz:
Se você perde a calma, perdeu tudo...”.


“– Eu jamais vou dizer que te amo, Juliana Prestes, porque essa história de ficar falando eu te amo, eu te amo, é o começo do fim e eu quero você para sempre.


“Querem saber duma coisa? – Juliano Siqueira começa calmo e vai se inflamando – O que funciona é chamar a imprensa e fazer barulho, queimar pneu, invadir, quebrar, brigar com a polícia se for preciso, aí ouvem a gente! É ou não é?! Morre criança atropelada, o povo faz arruaça, pára a rodovia, aí fazem a passarela. Quer terra? Invade primeiro e conversa depois. Quer casa? Invade prédio abandonado e vai ficando... Quer mais médico no posto? Quebra o posto que aí reformam e botam mais médico. (...)
– Povo cordeiro, só sabe sofrer e apanhar.”


“De paletó e com os primeiros sapatos que comprou na vida, Juliano Siqueira andaria pelo centro de São Paulo vendo as luzes, os bondes, as luzes no asfalto molhado, as luzes na garoa, as luzes dos palacetes, os prédios iluminados, viu que cidade é luz. E miséria.”


“Todo mundo gosta de viver bem, e quando recebeu o segundo salário das três irmãs, já tinha aprendido a gostar de gastar dinheiro, que é a única coisa boa do dinheiro, já que ganhar é difícil e guardar mais ainda. Então tomou banho no meio duma tarde, vestiu o melhor dos paletós, foi engraxar os sapatos e, vendo de cima a cabeça do engraxate, lembrou de quando tinha sido engraxate em Foz. Ficou se vendo ali naquele menino que, no entanto, levaria outra vida, teria outro destino, e então compreendeu, ali, vendo o guri cuspir no sapato antes de estapear com o pano para dar brilho, compreendeu que tem dois tipos de gente o mundo:
– Quem espera e quem faz. Quem abre caminho e quem depois usa a estrada. Quem não se conforma e quem nem percebe que é conformado...
– Ou os que fazem e os que sofrem a História...
Ele fica pensando no que ela falou, depois fala que não foi bem isso que quis dizer...
– ... e, além disso, tem também os que nem fazem nem sofrem, só se aproveitam, né...”.


“Ele encostou num tronco e começou a chorar, bestamente como se chora quando menos se espera, represa que rompe, ponte que desaba, fruto que amadurece até cair, um dia cai, um dia se chora tudo que se guardou, pra que não apodreça no peito, como nenhuma fruta apodrece na árvore.”


“– O que é revolução?
– É a evolução com pressa.”


Sabe, moça, vendo você mexer nessa papelada desmanchando de velha, lembrei duma quadra que o Venâncio volta e meia cantarolava:

Nada como matar tempo
sem nem saber até quando
sabendo que todo o tempo
o tempo está nos matando

Venâncio falava muita poesia, acho que inventava na hora, que às vezes algum pedia pra repetir uma quadra sobre isso ou aquilo, ele já tinha esquecido. (...)

Eu vivo entre o meu povo
que é e não é feliz
povo que diz o que faz
porém não faz o que diz
é honesto e é desonesto
povo que presta e não presta
sempre pronto a ser povo
que ama e depois detesta
povo que aplaude e lincha
às vezes é muito gente
às vezes é muito bicho
por isso digo de novo
jamais me queira perfeito
eu sou assim deste jeito
pois vivo entre meu povo...


E virei comunista acho que na melhor época do movimento comunista no Brasil, quando o partido era cheio de gente generosa e patriota, gente de bem e de brio, acreditando num mundo melhor e prontos a morrer por isso, e morriam, e hoje, quando se vê o que o comunismo deixou no mundo, o que eu sinto é que morreram à toa. Porque muito antes do Muro de Berlim se desmanchar, que não caiu, se desmanchou, só quem queria ser cego não via que a tal ditadura do proletariado só tinha levado ditadura pro proletariado.


“– Neste país, só gaúcho e nordestino entram em luta pra valer, o resto só faz de conta!

quarta-feira, 16 de março de 2011

A mulher marcada, de Håkan Nesser

Editora: Suma de letras

ISBN: 978-85-60280-21-6

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 288

Sinopse: Um homem é assassinado em frente à sua casa com dois tiros no peito e dois na região genital. Entretanto, nada é roubado de sua residência. Inicialmente o caso parece um incidente isolado e só atrai a atenção da imprensa local. Porém, dias depois mais dois homens são encontrados mortos nas mesmas circunstâncias. Quando surge a suspeita de que os crimes tenham sido cometidos por um assassino em série, o comissário Van Veeteren é convocado para ajudar os investigadores locais a solucionar o caso.

Com o avanço das investigações, o experiente policial sueco vai montando um difícil quebra-cabeça que reúne coincidências envolvendo as vítimas, como o fato de terem estudado juntas em uma escola militar. Além disso, Van Veeteren descobre que, antes de morrerem, elas receberam uma ligação telefônica com uma famosa canção dos anos 60 tocando ao fundo.

Pistas desconexas tornam a investigação um desafio complexo para Veeteren, que terá que correr contra o tempo para desvendar mistérios do passado, antes que outros assassinatos ocorram na pequena Maardam.



“O dia prometia apenas uma neve branda. Mas, perto da hora do almoço, os intensos ventos marítimos transformaram a garoa em uma torturante chuva inclinada da pior espécie. O vento atravessava a medula e os ossos e fez com que os donos dos bares do cais do porto fechassem as portas uma hora mais cedo que o habitual. (...)

Para piorar, o cemitério ficava na região sudoeste, em um terreno cheio de elevações e buracos, sujeito a todo tipo de intempérie. Quando o pequeno grupo finalmente chegou à cova recém-cavada e enlameada, alguns pensamentos vieram-lhe à mente.

Lá embaixo, pelo menos, estaria abrigada do vento. Dentro da cova não era preciso suportar esse vento e essa maldita chuva. Há um lado bom em tudo.”

 

 

“Não chore! Seja lá o que fizer, não chore no meu enterro. Lágrimas nunca me ajudaram em nada, acredite em mim. Chorei rios na minha vida. É melhor agir, minha filha!”

 

 

“Quando estava na metade do caminho da delegacia, teve outro problema. Tinha começado a chover novamente e ele entendeu que se não consertasse aquele maldito limpador de para-brisas, algo poderia acontecer.

Ao mesmo tempo, ele sabia que assim que resolvesse um dos problemas, logo surgiria outro.

Era simplesmente um desses carros.

Lembrava um pouco a própria vida.”

 

 

“– Acho que não posso ajudar muito. Não encontro nenhum elo entre eles. Acho que Maasleitner andava um pouco com Van Der Heukken e Biedersen. Pelo menos é o que eu me lembro. A senhorita entende que faz mais de trinta anos?

– Claro – a policial respondeu. – Mas sempre tive a impressão de que o serviço militar deixa marcas permanentes em todos os rapazes.

Tomaszewski sorriu.

– Certamente em alguns – respondeu. Mas a maioria de nós tenta esquecer o mais rápido possível.”

 

 

“– Por que você resolveu ser policial? – perguntou Ewa moreno.

– Quem não consegue ser nada na vida vira policial – disse Jung.”

Hi, dad! – Uma história sobre Frank S. Land e a Ordem Demolay – Herbert Ewing Duncan

Editora: Supremo Conselho Internacional da Ordem Demolay
ISBN: 0-913504-69-6
Opinião: ★☆☆☆☆
Páginas: 226
Sinopse: É um livro que fala sobre a história da Ordem DeMolay, ele é escrito de forma que o leitor vive a história de criação dessa grandiosa Organização. É praticamente uma biografia de Frank Sherman Land, contando sua história de vida com a Ordem. Ele é um livro que todo DeMolay precisa ler para saber o quão grande é a organização que ele faz parte, além de descobrir os vários obstáculos que os primeiros passaram para transformá-la nessa belíssima ordem que temos hoje. Recomendado também para aqueles que não são filiados a nenhuma ordem maçônica e querem conhecer a origem dessa magnifica ordem.



“O tio Land diria num discurso a um grupo nacional de jovens consultores: ‘– Procure o rapaz quieto para liderar. Eu vi muitos crescerem na habilidade de inspirar e liderar os outros. O garoto que é muito agressivo, que tende a forçar seu caminho, geralmente se queima antes de atingir o topo. Observe o jovem quieto, sensível e consciente que se envergonha de assumir um posto de importância e então, quando o desafio aparecer – observe-o. Ele terá a habilidade de liderar. Ele se transformará num homem de sucesso. Vocês se orgulharão dele’.”


(Discurso anual do Potentado Imperial feito por Frank S. Land em 1º de julho de 1954)
 “A razão pela qual não é cedo o suficiente na vida para avaliar eventos, é que estamos muito ocupados tentando acompanhar a corrida pelas coisas materiais. Assim fazendo, perdemos as coisas maiores de vista... as reais coisas da vida.
Tornamo-nos egoístas. Tornamo-nos presunçosos e condescendentes. Nada importa a não ser o sucesso pessoal... a glória pessoal.
E assim... o germe da apatia cava seu caminho em nosso ser, e mesmo em pequenas doses... a apatia invariavelmente gera a destruição. Aquele único aviso foi o mais pertinente de todos vindos dos lábios de Sir Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial. Sir Winston precaveu os aliados de que a apatia era de longe muito pior do que todos os Hitlers!
A apatia nada mais é do que a tendência a “deixar George fazer”. É preguiça no enésimo grau. É fugir a responsabilidade. É a aceitação do assim chamado inevitável.
A grande ameaça hoje à Maçonaria hoje é a apatia. E não deixe que ninguém o engane. A Maçonaria pode ser destruída... Pode ser varrida da face da terra... e tudo por nada mais inocente e mais venenoso do que o cavalo de Tróia chamado apatia!”


“– No pensamento de Frank S. Land a Ordem Demolay não era um reformatório para meninos que necessitassem de instrução; não era uma escola de adestramento para garotos-problema, para levá-los de volta ao caminho dos altos ideais, e sim uma seleção de jovens que têm altos ideais ou um alto potencial para serem líderes em suas comunidades. Jamais teve o sentido de ser um reformatório.” 


“As virtudes que eram verdadeiras quando os homens cavalgavam sobre a terra com armaduras e montados em cavalos são as mesmas de hoje quando um jovem revestido de armadura orbita sobre a terra.”