sábado, 26 de fevereiro de 2011

Aléxandros: As areias de Amon, de Valerio Massimo Manfredi

Editora: Rocco

ISBN: 978-85-3251-037-2

Tradução: Mario Fondelli

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 352

Sinopse: Este é o segundo volume da trilogia que conta a história do belo príncipe da Macedônia que seria conhecido como Alexandre, O Grande. O primeiro livro, O sonho de Olympias, fala do nascimento à adolescência. Em As areias de Amon, entra em cena o grande general Alexandre Magno, que desafia e enfrenta o exército persa e parte para a conquista do Extremo Oriente. Vence a primeira batalha em Granico, mas seu mais feroz adversário, o mercenário general Mêmnon, consegue fugir do massacre, e desafia o jovem rei macedônio para um duelo “até a última gota de sangue”. Um desafio que além de luta pelo poder envolve uma rivalidade no amor. Anteriormente, Alexandre havia capturado Barsine, a estonteante esposa persa de Mêmnon, por quem acabou se apaixonando perdidamente. Entretanto, num gesto de grandeza, concedeu-lhe a liberdade e permitiu-lhe voltar para seu povo. O duelo dramático acontece em Halicarnasso. Mêmnon morre em circunstâncias misteriosas, mas não sem antes ter se encontrado com Barsine pela última vez. Seus guerreiros companheiros erguem uma pira em sua homenagem em meio à estepe gelada e, a seguir, se suicidam. Alexandre segue seu destino. Um oráculo antigo dizia que aquele que soltasse o nó que atava a canga e o timão da carruagem do rei Górdio teria o domínio da Ásia. O príncipe da Macedônia corta o complicado nó com um golpe de espada, liberando inconscientemente misteriosas e incontroláveis forças. A aventurosa marcha de Alexandre prossegue, e o jovem conquistador encontra-se face a face com o grande rei dos persas, Dario, em Isso, onde o inimigo é derrotado e foge do campo de batalha. Alexandre logo vem a saber que Barsine está entre os prisioneiros. A bela viúva, ainda muito abalada pela morte do marido, mas, ao mesmo tempo, dominada pelos encantos do jovem rei, fica dividida entre a lembrança de uma paixão perdida e a força de um novo amor, que ainda reluta em aceitar. Ainda resta conquistar Tiro, cercada por altas muralhas, e Gaza, com suas torres cobertas de betume. Acontecem, então, as mais espetaculares batalhas de todos os tempos, por terra e por mar, com máquinas monstruosas, ataques debaixo da água e navios em fogo. Nada resiste aos exércitos de Alexandre. Finalmente, ele chega ao Egito misterioso, onde o aguarda o oráculo de Amon, em meio às areias escaldantes do deserto. E lá, na terra dos faraós, é recebido como um deles, o verdadeiro filho do sol.


 

“À esquerda, com seus santuários e monumentos, havia a acrópole; naquele mesmo instante a fumaça de algum sacrifício subia do altar para o céu claro, pedindo aos deuses a graça de derrotar o inimigo.

– Os nossos sacerdotes também ofereceram um sacrifício – observou Cratero. – Fico imaginando em quem os deuses acreditarão mais.

Alexandre virou-se para ele.

– No mais forte.”

 

 

“– Será possível que nem as mães chorem os filhos tombados em combate? – Alexandre perguntou a Eumênio, que se aproximara.

– Claro que sim – replicou o secretário. – Ninguém chora por um mercenário. Não tem mãe nem pai, e nem mesmo amigos. Só tem a sua lança com a qual ganha o pão mais duro e mais amargo.”

 

 

“(...) – E a coisa não te amedronta? – perguntou Eumênio a Alexandre.

– Nunca receio algo que ainda não aconteceu.”

 

 

“– Parece-me impossível – disse Alexandre. – Sempre foi-me fiel: já o vi arriscar muitas vezes a sua vida por mim.

Parmênio sacudiu a cabeça.

– O poder corrompe muitos homens – observou. Mas dentro de si pensava “todos”.”

 

 

“Esperaram o alvorecer para subir e ficar com o corpo para os ritos fúnebres.

– Colocá-lo-emos sobre a pira conforme os nossos costumes – disse o mais velho entre eles, o que nascera em Tegéia. – Abandonar o corpo como comida para cães e pássaros é para nós uma vergonha insuportável: isto faz-te entender quão diferentes nós gregos somos de vocês, persas. – E Barsine entendeu. Entendeu que naquela hora suprema devia ficar de lado e deixar que Mêmnon voltasse às origens e recebesse as honras funerárias segundo as tradições do seu povo.

Ergueram uma pira no meio de uma planície embranquecida pela geada e colocaram nela o corpo de seu comandante vestido com sua armadura e o elmo enfeitado com a rosa prateada de Rodes.

E atearam o fogo.

O vento que varria o planalto atiçou as chamas que se levantaram vorazes destruindo rapidamente os restos mortais do grande guerreiro. Os seus soldados, perfilados e empunhando as lanças, gritaram dez vezes o seu nome ao céu frio e cinzento que pesava sobre aquela imensidão deserta como uma mortalha, e quando o último eco daquele brado se calou, perceberam que haviam ficado completamente sós no mundo, que já não tinham mãe nem pai, nem irmão nem família, que não tinham casa nem um lugar para onde voltar.

– Jurei que iria com ele para qualquer lugar – disse então o mais velho entre eles –, até para o reino de Hades. – Ajoelhou-se, desembainhou a espada apontando-a contra o próprio coração e jogou-se em cima dela.

– Eu também – repetiu o companheiro sacando por sua vez a arma.

– E nós também – disseram os outros dois. Tombaram um depois do outro esvaindo-se em seu próprio sangue, enquanto o primeiro canto do galo rompia o silêncio espectral da alvorada como um toque de clarim.”

 

 

“O templo era um santuário indígena extremamente antigo que abrigava um simulacro da deusa esculpido em madeira e carcomido pelos carunchos, enfeitado com uma incrível quantidade de jóias e talismãs oferecidos pela multissecular fé dos crentes. Nas paredes viam-se penduradas relíquias e oferendas de toda espécie e muitas representações de membros humanos em terracota e madeira que testemunhavam curas ou súplicas para obtê-las.

Havia mãos e pés com os sinais da sarna pintados com cores vivas, olhos, narizes e orelhas, úteros certamente estéreis que invocavam a fertilidade e membros masculinos que, da mesma forma, não eram capazes de desempenhar as suas funções.

Cada um desses objetos era o sinal das numerosas aflições, dores e misérias que desde o começo dos tempos atormentavam o gênero humano, desde que o insensato Epimeteu abriu a caixa de Pandora e deixara sair todos os males que invadem o mundo.

– Só deixando no fundo a esperança – lembrou Eumênio, olhando em volta. – E o que mais são todos estes objetos senão a manifestação de uma esperança quase sempre frustrada e mesmo assim companheira preciosa, para não dizer indispensável, dos homens?”

 

 

“Alexandre mostrou a Calístenes a mensagem que uma embaixada do Grande Rei acabava de trazer:

Dario, Rei dos Reis, senhor dos quatro cantos da terra, luz dos arianos, a Alexandre, rei dos macedônios, salve!

Teu pai Filipe foi o primeiro a ofender os persas na época do rei Arxes, embora não tivesse sofrido prejuízo algum da parte deles. Quando me tornei rei, tu não enviaste embaixada alguma para confirmar a antiga amizade e aliança, e invadiste a Ásia causando-nos graves danos. Tive, portanto, de enfrentar-te em batalha para defender o meu país e reconquistar os meus antigos domínios. O resultado do embate foi aquele que os deuses escolheram, mas dirijo-me a ti de soberano a soberano para que libertes os meus filhos, a minha mãe e a minha esposa. Estou pronto a estipular um tratado de amizade e aliança: peço-te, portanto, que envies de volta um mensageiro junto com a minha embaixada para que possamos determinar os termos das negociações.

Calístenes fechou a carta.

– Na prática, diz que és culpado de tudo, reivindica o seu direito de defender-se, mas reconhece a derrota e está disposto a tornar-te teu amigo e aliado desde que lhe devolvas a família. O que tencionas fazer?

Nesse mesmo momento Eumênio voltou com a cópia da resposta que havia preparado para o rei e Alexandre pediu que a lesse. O secretário pigarreou e começou:

Alexandre, rei dos macedônios, a Dario, rei dos persas, salve!

Os teus antepassados invadiram a Macedônia e o resto da Grécia causando-nos graves prejuízos sem motivo algum. Eu fui nomeado comandante supremo dos gregos e invadi a Ásia para vingar a vossa agressão. Fostes vós, os persas, que assististes Perinto contra o meu pai e invadistes a Trácia, que é um nosso território.

Alexandre deteve-o.

– Acrescenta o que vou ditar-te agora:

O meu pai, o rei Filipe foi vítima de uma conspiração que tu apoiaste e umas cartas escritas por ti provam isto.

Além do mais conquistaste o trono com a fraude, corrompeste os gregos para que se levantassem contra mim e tudo fizeste para destruir a paz por mim tão penosamente conseguida. Venci os teus generais e, com a ajuda dos deuses, triunfei sobre ti em campo aberto e sou, portanto, responsável por aqueles entre os teus soldados que passaram para o meu lado, assim como pelas pessoas que estão perto de mim. És tu, então, que deves me tratar como senhor da Ásia. Pede o que consideras oportuno, vindo em pessoa ou mandando os teus enviados. Pede pela tua mulher, por tua mãe e teus filhos, e eu outorgarei desde que consigas me convencer. No futuro, se quiseres te endereçar a mim, dirige-te ao Rei da Ásia e não a um teu igual, e terás de fazer o teu pedido a quem está agora de posse de tudo aquilo que antes era teu. Se assim não fizeres, tomarei contra ti as providências cabíveis contra quem violou as leis e as normas das nações. Se, no entanto, reivindicares a tua condição de soberano, então desce em campo, luta para defendê-la e não fujas, pois eu irei ao teu encalço em qualquer lugar aonde fores.

– Não lhe deixas muitas escolhas – comentou Calístenes.

– Não, de fato – replicou Alexandre –, e se for homem e rei deverá reagir.”

 

 

“– É o destino de toda mulher bela e desejável: ela sabe que é uma presa e sabe que só oferecendo o amor ou sujeitando-se ao ímpeto do macho pode esperar salvação e amparo para si e para as suas criaturas.”

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Aléxandros: O sonho de Olympias, de Valerio Massimo Manfredi

Editora: Rocco

ISBN: 978-85-3251-015-0

Tradução: Mario Fondelli

Opinião: ★★★☆☆

Páginas: 312

Sinopse: Aléxandros é a história do jovem e belo príncipe da Macedônia que seria um dia conhecido como Alexandre, o Grande, pelas numerosas conquistas no mundo antigo. Nascido em meados do século IV a.C., filho do rei Filipe II e de Olympias, princesa de Epiro, ele cresce na corte cercado por jovens de sua idade e é educado de acordo com as tradições da dinastia, com ênfase na coragem, força de espírito, resistência à dor, ao frio, ao cansaço e à fome. O jovem Alexandre tem também o privilégio de aprender com uma das mentes mais brilhantes da Antiguidade: o filósofo Aristóteles, fundador do conceito de lógica, que recebe do rei Filipe quantias exorbitantes para revelar os segredos mais profundos de sua imensa sabedoria ao príncipe e também a alguns privilegiados amigos mais próximos. Esse grupo selecionado cresce num local longínquo e belo, na escola construída em Mésia especialmente para eles em meio às florestas e campos da Eordéia. Em seu retiro, os jovens estudantes fazem o juramento de nunca se separar e seguir seu príncipe na aventura mais extraordinária de todos os tempos: a conquista do mundo! A morte do pai marca o fim da adolescência de Alexandre, endurecendo seu coração: o rei é misteriosamente apunhalado no dia do casamento de sua irmã. Com a ausência de Filipe II, o Império se despedaça. Ninguém acredita que Alexandre será capaz de mantê-lo de pé. O rapaz, entretanto, reage com inusitado vigor e destrói os bárbaros do norte numa apoteótica batalha numa ilha do Danúbio, sob violenta tempestade de neve. Ele alcança as muralhas de Tebas em treze dias. A cidade cantada por Homero é arrasada em duas semanas. Sua fama corre o mundo e começam a chegar embaixadores dos mais variados países implorando por sua amizade. Ambicioso, Alexandre parte para a conquista do Extremo Oriente. Seus companheiros, que estiveram com ele em todas as horas, acreditam que o sol se levanta nos estreitos que dividem a Ásia e a Europa para iluminar seu olhar e inflamar seus sonhos. Alexandre, O Grande, tudo pode.



“– O poder e a glória de um rei só se justificam se ele estiver pronto a sacrificar a vida, quando chega a hora.”

 

 

“Temos atrás de nós planícies imensas percorridas por povos nômades, bárbaros e selvagens, e diante de nós as cidades dos gregos que se espelham no mar, que alcançaram os mais altos níveis de excelência nas artes, nas ciências, na poesia, na técnica, na política. Somos como aqueles que sentam diante de uma fogueira numa noite de inverno: o nosso rosto é iluminado e o peito é aquecido pelo fogo, mas atrás de nós só há frio e escuridão.”

 

 

“– Teu pai é um rei, meu filho, e os reis não são como os outros homens: precisam casar toda vez que o interesse do povo o requer, uma, duas, três vezes, e repudiar as mulheres pelo mesmo motivo. Devem lutar em guerras intermináveis, tramar, fazer e desfazer alianças, trair amigos e irmãos, se necessário. Achas que há lugar para uma mulher como eu no coração de um homem desses? Mas não precisas ter pena. Continuo sendo uma rainha e a mãe de Alexandre.”

 

 

“– Ler as façanhas dos heróis do passado é fundamental na educação de um jovem, assim como assistir à representação das tragédias – continuou o filósofo. – O leitor ou o espectador são levados a admirar as grandes e nobres proezas, a generosidade do comportamento de quem sofreu e deu a vida pela própria comunidade ou pelos próprios ideais ou expiou até o fim os erros seus ou dos antepassados.”

 

 

“– Lembra-te disto, Alexandre: eu nunca combato pelo mero prazer de lutar. Para mim, a guerra é apenas política feita por outros meios”.

 

 

“A ira de Filipe explodiu principalmente contra os tebanos, pelos quais se sentia traído. Vendeu os prisioneiros como escravos e recusou-se a devolver os mortos para que fossem sepultados. Quem o fez desistir foi Alexandre.

– Pai, tu mesmo disseste que é preciso ser clemente toda vez que isto for possível. – fez-lhe notar depois que sua fúria amainara. – Até Aquiles devolveu o cadáver de Heitor ao velho rei Príamo, que implorava em prantos. Estes homens lutaram como leões e deram a vida pela sua cidade. Merecem respeito. E além do mais, qual vantagem levaria ao atormentar os mortos?”

– Pai, tu mesmo disseste que é preciso ser clemente toda vez que isto for possível. – fez-lhe notar depois que sua fúria amainara. – Até Aquiles devolveu o cadáver de Heitor ao velho rei Príamo, que implorava em prantos. Estes homens lutaram como leões e deram a vida pela sua cidade. Merecem respeito. E além do mais, qual vantagem levaria ao atormentar os mortos?”