quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pedro Páramo – Juan Rulfo

Editora: BestBolso
ISBN: 978-85-7799-116-7
Tradução: Eric Nepomuceno
Opinião: ★★★★☆
Páginas: 140
Sinopse: Romance mais aclamado da literatura mexicana, Pedro Páramo é o primeiro de dois livros lançados em toda a vida de Juan Rulfo. O enredo, simples, trata da promessa feita por um filho à mãe moribunda, que lhe pede que saia em busca do pai, Pedro Páramo, um malvado lendário e assassino. Juan Preciado, o filho, não encontra pessoas, mas defuntos repletos de memórias, que lhe falam da crueldade implacável do pai. Vergonha é o que Juan sente. Alegoricamente, é o México ferido que grita suas chagas e suas revoluções, por meio de uma aldeia seca e vazia onde apenas os mortos sobrevivem para narrar os horrores da história. O realismo fantástico como hoje se conhece não teria existido sem Pedro Páramo; é dessa fonte que beberam o colombiano Gabriel Garcia Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, que também narram odisseias latino-americanas.

“– Faz calor aqui – eu disse.
– Pois é, mas isso não é nada – respondeu o outro. – Fique tranquilo. Quando chegarmos a Comala, o senhor vai ver o que é calor forte. Aquilo fica em cima das brasas da terra, bem na boca do inferno. Digo eu que muitos dos que morrem por lá, quando chegam ao inferno voltam para buscar um cobertor.”


“Só eu entendo como o céu está longe de nós.”


“– Esta cidade está cheia de ecos. Parece até que estão trancados no oco das paredes ou debaixo das pedras. Quando você caminha, sente que vão pisando seus passos. Ouve rangidos. Risos. Umas risadas já muito velhas, como cansadas de rir. E vozes já desgastadas pelo uso. Você ouve tudo isso. Acho que vai chegar o dia em que esses sons se apagarão.”


“– Ainda falta uma coisa. A visão de Deus. A luz suave de seu céu infinito. O gozo dos querubins e o canto dos serafins. A alegria dos olhos de Deus, a última e fugaz visão dos condenados à pena eterna. E não apenas isso, mas tudo conjugado com uma dor terrena. O tutano dos nossos ossos convertidos em lume e as veias do nosso sangue em fogo, fazendo-nos contorcer de uma dor incrível; que não míngua nunca; atiçado sempre pela ira do senhor.”

Um comentário:

Doney disse...

Só muitos anos depois da leitura vim a saber que "Páramo" é uma palavra.
Páramo: s. m. 1. Campo deserto, raso e inculto, exposto a todos os ventos. 2.  [Figurado] Qualquer lugar extremamente frio e desabrigado. 3.  [Antigo] Amádigo.